sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Naquela casa não tinha nada...


E foi preciso ousadia...

Sábado chuvoso. A casa, no meio do mato. A estrada até lá que outrora era maravilhosa e que acompanhava a velha Estrada de Ferro Central do Brasil só está disponível apenas para tratores, cavalos, motos (?) e afins... Agora, a nova, cascalho quase puro com pó-de-pedra formam a sub-base para uma quem sabe futura estrada. Já é um dos lugares onde o progresso necessário destrói o passado glorioso.

Gentes? Muito poucas ainda resistem... Do passado que conheci apenas uma capela quase caindo e a casa-sede que já tem pedaços do telhado em fibrocimento ao invés das originais francesas ou caneladas nas pernas dos escravos.

Na cozinha onde outrora reinava imponente um 6 bocas à lenha, com trempe vinda da Inglaterra, hoje um velho e surrado Dako serve de fogo para a comidinha.

A fartura daqueles tempos foi trocada pela espartana forma de comeres e beberes: já não se fazem mais as goiabadas, as geléias de jaboticabas (apesar das jaboticabeiras formarem uma impassível fila indiana às margens do quase seco córrego dágua que ainda insiste em derramar seu precioso liquido através de uma cano de ferro no local usado para lavagem das roupas mais sujas...

Na despensa, vasilhas quase vazias e prateleiras com muitos espaços. Apesar disso, a luz elétrica substituiu o gerador a óleo dísel e depois a mini-usina elétrica. Já há uma pequena geladeira...

E, o que fazer com uma posta de um pouco mais de meio quilo de salmão, levada do Rio? Procura incessante e nervosa pelas prateleiras e armários: NADA! Socorro pedido àquela que de tudo lá cuida, veio a resposta: só o sal servia... Então, que seja assim. Bem básico mesmo. Só o sal? Não. Ainda achei uma pequena latinha de azeite espanhol. Um carbonellzinho que ainda resisitia à sua validade!!!

Assim o salmão foi ao forno do cambaleante e resistente DAKO. Antes de ressecá-lo foi retirado. E, para surpresa dos que lá jantariam, seu perfume espalhou-se pela casa toda! Nove pares de olhos ávidos por descobrir como estava o dono do perfume!

Mas servi-lo assim, sem nada mais? Achamos uma latinha de creme de leite, escondida por trás de algumas coisas por lá... Paciência: era o que tínhamos. Devidamente aberta, foi ao fogo para aquecer bem (sem ferver). Depois, enquanto mexia, ia derramando o suco de laranja... Engrossado, desligado, uma bela porção da maravilhosa manteiga da cidade: SAPUCAIENSE (de fazer inveja a tantas outras). Geladinha para dar untuosidade. Corrigido o sal, foi dado como pronto.

Eu preferi comer a minha porção sobre um angu-meio-mole-meio-duro feito por quem cuida da casa. Sobre o salmão o molhinho...

Outros preferiram outros acompanhamentos...



3 comentários:

Lili disse...

Vim encher meu farnel com gostosuras! Mas a pergunta que não se cala: será que esse salmão era real? :) Lembrei-me dos desenhos do Tom e Jerry, onde o Tom isolado pela neve, faminto, recorta e frita um peixe de papel. (ou será o Pica-pau?)
Abraços

carlinhos de lima disse...

Pois eu afirmo com convicção que é a mais pura e singela verdade.

E, no almoço do dia seguinte, um chester-cópia foi devidamente partido nas juntas e também tomou o caminho do forno... com o repeteco do molho!

Adriana disse...

Voce consegue fazer de "tropeços"delicias.