sábado, 18 de maio de 2019

Terapia do Theo


Era dia de passar o dia com ela. Responsável por eu estar aqui.

Acordei cedo, como de costume e lá fui eu no transporte público. Tenho gostado de aproveitar os direitos que consegui.

Ouvindo minhas músicas (trilhas spotify) e deixando a cabeça passear ao longo das paisagens pelo caminho. Um dos momentos que têm me ajudado a controlar a ansiedade por ver o tempo terminando e com uma lista enorme de coisas para fazer...

Bom vê-la apesar de sentada sobre uma cadeira de rodas. As articulações inferiores já acabaram e as dores andaram acompanhando ela por um bom tempo até que eu pudesse, de alguma forma, amenizar um pouco isto.

No meio de nossa extensa conversa, como sempre, ela lembrou que deveríamos "limpar" o cupuaçu que havíamos ganho. Minha irmã que tem em casa pés produzindo, trouxe para ela dividir comigo.

Sentamos e, de posse de tesoura, potes e paciência, conversávamos sobre a vida e suas atribulações enquanto eu ia retirando a polpa de cada semente (ou amêndoa como alguns chamam). Lá pelo andar da conversa, lembrei de cacau, não sei porque, mas falei que, se algum dia tivesse a oportunidade gostaria de aprender a fazer chocolate. Apenas aprender. Nada diferente disto. E, provar do resultado do aprendizado.

A senhora que ajuda ela na limpeza da casa ouviu. E ficou calada. Nesse dia ela estava lá cuidando da casa pra minha mãe.

Na volta dela, levou uma dessas bolsas que agora vendem no supermercado cheia de frutos de cacau. Pequenos, é certo, mas frutos maduros.

E, quando voltei para passar o "meu" dia com ela, soube do presente! Os olhos brilharam como ela me disse. E fui logo cuidar deles.

Com uma faca de lâmina longa, cortei o primeiro fruto: já estava com suas amêndoas germinando. Separei. E fui assim, abrindo todos e separando os já em germinação.

Guardei no refrigerador (ou geladeira como muitos chamam) até a hora de voltar para meu abrigo.

No abrigo, coloquei em um pote plástico desses que originalmente guardam os sorvetes industrializados. Seriam seis ou sete dias tensos. Havia aprendido na internet para fazer isto ou numa caixa de madeira ou em um isopor. Vou fazer uma caixa de madeira como vi em alguns vídeos. Em todos estes seis dias eu abria e olhava o processo de maturação das sementes. A partir do terceiro dia, dava uma revirada neles com a mão. E voltavam à sua casinha fechada num cantinho que gosto de fermentar pães.

No início do sétimo dia, outros tantos para secá-los ao sol. Parecem crianças pois não devem pegar o sol das 12 às 14/15 horas. E, de noite, cobertos para não pegarem o sereno da madrugada. A cada recolhimento, nova mexida com as mãos mesmo. Mas, cadê o sol? Estava chegando uma frente fria por aqui. E ela veio de mala e cuia pra passar uma temporadinha...

Bom que ainda soprava um ventinho e, aprendi que também poderia "secar" as amêndoas. E foi assim. Apenas no quarto dia elas puderam tomar um sol bem forte. Mas, porque fizeram um passeio junto comigo até a casa de minha mãe. OK. De noite voltando pra caixinha, voltamos para nosso abrigo. As amêndoas já bem mais secas e soltas dentro da caixinha. Já até faziam barulho deslizando de um lado para o outro.

Chegou o dia da trabalheira. Torrar as sementes (ou amêndoas). Qual temperatura de forno caseiro? Qual o tempo? Cada instrução de dizia de um jeito. Fora as copiadas de um lado para outro... Bem, Nessa primeira vez adotei 200 ºC. Mas fiquei de olho apesar das instruções de quando estivesse no "ponto" começariam a estalar a fina película que cobre cada agora "grão" de cacau. No primeiro, o coração disparou... Sentei no chão em frente ao fogão com a luz acesa. Seriam como pipocas? Não, não eram. Apenas um estalido e uma pequena movimentação. Retirei o tabuleiro do forno e mexi-as com uma espátula de bambu. Voltei até os próximos estalos e a coloração mais escura. Não demorou muito. Acho que por volta de 15 minutos. Mas, isso não é científico: forno caseiro é emoção pura...

Ok. Tentativa de retirar a película com as mãos, ainda quentes. Não deu muito certo. Usei a instrução de dona Diva: coloquei algumas sobre um pano de prato. Nada! E, com o tempo passando elas foram esfriando e o elas foram ficando mais fáceis de retirar pois "descolavam" da amêndoa". Sentei. Amigos, depois dos setenta muitas coisas já não fazemos das formas ditas convencionais..

E lá fui eu, amêndoa por amêndoa, tirando a película e ouvindo músicas. O tempo passou e eu só percebi isto quando faltavam três ou duas amêndoas para terminar. Se eu tivesse uma terapêuta ela se orgulharia desta terapia que achei...

Algumas quebraram-se. Outras permaneceram integrais. Novamente a dúvida: o que fazer? Decidi que processaria tudo junto. Afinal, pouca quantidade. Se separasse umas das outras ficaria com duas porções que não me dariam alternativas.

Primeira tentativa foi no processador de alimentos. Não ficaram moídas com grãos pequenos... Então, fui tentar no liquidificador. Melhor! Grânulos mais finos! Depois passei numa peneira. Ai, sim, para separar em duas porções. O mais fino, rendeu aproximadamente 90 gramas! Apenas isto! Mas uma alegria enorme. Coloquei no cofre do Banco até que eu me decida o que fazer com este pó de um cheiro diferente e intenso. Os granulados maiores dei para a filha usar nos seus cookies surradebrownie

Então, foi assim essa minha "primeira vez". Como em todas, é preciso melhorar. Mas, como a do sutiã, a gente não esquece...

O vídeo de divulgação...




F A C I L I D A D E S
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4 comentários:

Lourdes disse...

Carlinhos vc realmente é o "cara", escreve parecendo um poeta e no fogão tem um 10! Não importa: teclando ou cozinhando vc é o "cara"! Parabéns!

Fatima Menezes disse...

Ai que lindo!!! Viajei junto tentando sentir toda a experiência... e foi ótimo!!! A produção de alimentos de forma artesanal é encantadora e trabalhosa ufa!!! Bjks

Carlos Alberto de Lima disse...

Obrigado, querida.

Carlos Alberto de Lima disse...

Bota trabalhosa, mestra! Mas, muito prazeirosa.
Obrigado.