sábado, 8 de junho de 2019

A tristeza do padeiro

No início deste século, diante a forte tendência de precisar arranjar uma nova atividade para seguir em frente até o final da linha aquele indivíduo que passou por muitos anos vivendo de tecnologia e computadores, resolveu que iria aprender a fazer pães.

Como assim? É, pensou ele: se o pão é considerado um alimento sagrado que alimentou povos durante muito tempo da antiguidade, que Cristo, o Jesus repartiu o último alimento sólido que deu aos seus amigos mais próximos e que a Igreja Católica o adotou como símbolo do amor, repartindo-o através das hóstias consagradas a cada missa, ele poderia pensar seriamente nisso.

E lá foi ele procurar onde aprender. Descobriu que havia um curso perto de onde morava. Uma entidade ligada aos comerciantes oferecia dois tipos de cursos: um de curta e outro de longa duração. Qual dos dois? Conversou até com o professor e a diferença básica era que no de loga, a prática e a correção dos possíveis erros seria constante... Resolveu começar pelo de curta duração.

Sábados inteiros dedicados a aprender todas as técnicas e cálculos. Por a mão na massa sob supervisão do professor. E assim seguiu aprendendo. Saia da aula e já ia para sua cozinha tentar reproduzir num forno caseiro aquilo que vira em fornos industriais à gás e à eletricidade.E ainda havia um moderno, com ventilação forçada!

A animação foi tanta que depois ainda foi fazer o curso de confeiteiro nesta mesma instituição.

De lá para os anos seguintes, muita farinha passou pela bancada de sua pia. Investimento em equipamentos e acessórios. Pesquisas para poder fabricar em casa, num forno caseiro e com equipamentos de até uma certa forma, amadores.

Consumidas muitas horas de pesquisas na internet. Livros que se amontoavam numa nova prateleira dedicada a eles.

A obsessão em busca do quase perfeito. Não se contentava em fazer o que ops muitos faziam. Queria fazer o que poucos ou nenhum havia conseguido... Pesquisou até como o pão era feito pelas avós portuguesas, no oriente médio onde era comum o padeiro da comunidade pois todos faziam seus próprios pães.

Buscou adaptar uma maneira de criar vapor no forno de casa. Até pedras de aquário comprou para colocá-las em um tabuleiro no fundo do forno para depois jogar água gelada. Fazia seus pães no meio de muita alegria. Seus dias eram impulsionados pelas conquistas.

Começou a falar para os vizinhos que ficavam enebriados com o cheiro do pão quentinho saindo do forno. Tinha uma vizinha que só falava nisso mas nunca comprou um pão sequer!

Mas, começou a vender uns aqui outros acolá até que quando não tinha mais o sustento de um contracheque uma amiga perguntou se queria participar de uma "feirinha" que ela estava organizando na firma que trabalhava. Agradeceu e mergulhou de cabeça no projeto: chegou a fazer 50 pães de forma, dúzia de ciabattas que montava sanduíches para os feirantes e clientes. No começo uma alegria só. Montou uma forma de facilitar os clientes em seus pedidos: um talão de pedidos na internet. Mandava emails para os cadastrados com as novidades da semana. Muitos encomendavam. Outros compravam durante o passeio na feirinha após almoço. Voltava com os cestos vazios durante um bom tempo.

Os pedidos foram diminuindo. A produção acompanhando, solidária... A animação do inicio foi caindo até que não haviam encomendas e a venda foi zerada durante a feirinha. A decisão dura mas sensata foi de parar. Mas ele tomou. Voltou triste para casa com o cesto cheio de pães não vendidos. Passou na casa da sua mãe e deixou alguns para ela. Lá, pode deixar cair umas lágrimas pela situação.

Buscou, nos dias seguintes, novas formas de estimular uma possível clientela. Várias tentativas foram feitas. Passou a fazer, apenas, para consumo próprio.

Pesquisou a produção do fermento natural quando ninguém ainda falava. Era tudo à boca pequena. Criou seu Tamagoshi. Fazia seus pães mas acabou percebendo que era muito trabalho para fazer um ou dois pães por semana.

Investiu noutra técnica: a briga e a longa fermentação. No início, 16 horas. Depois 24 horas e até se aventurou em 48 horas e uma vez o de 72 horas baseado na técnica de um velho padeiro francês. Delicioso. Mas a que custo? O cliente pagaria? Não falava francês nem morava em Paris... Só os de casa provaram desta iguaria.

Os dias foram passando. As mídias sociais chegaram. Nova tentativa. Usava-as para divulgar seus pães e nada acontecia. Ou melhor, acontecia o de sempre, nada! Via diariamente muitos outros novos padeiros "chegando no pedaço" e sentando na janela. Com o dinheiro que tinham compravam equipamentos que estavam na lista de desejos dele. Criaram espaços de produção e vendas semelhantes aos que ele havia imaginado para si.

Um dia, conversando assim meio descompromissado, com sua melhor terapeuta, ela lhe disse "ainda não é isso que você veio fazer nessa vida!". Reflexões...

Um padeiro não pode morrer. Um padeiro precisa continuar a conviver com farinha, fermento, sal e água. Isso é como se fosse o ar que ele respira.

O padeiro desta história está na UTI. Monitorado pelas mídias sociais, pelos amigos e pelos outros padeiros com os quais ele passou a conviver virtualmente. Ele não quer morrer. Ele quer voltar a sentir alegria de fazer.

F A C I L I D A D E S
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6 comentários:

Unknown disse...

As fases da vida sao obstaculos que temos que ultrapassar da melhor maneira possivel.

Lourdes disse...

A sua história sempre acaba com algo pra se deliciar. É um dom divino que vc tem, não perca!

Medina disse...

O mundo dos pães vomo de quakqywr fermentado é fascinante. São seres vivos. Mesmo que não tenha retorno financeiro,vale manter o espirito neste empreendimento. Gera retorno na saúde e no prazer.

Unknown disse...

Carlos vc não pode desanimar ,pois sua vida e seu progresso está nos quitutes que faz com muito amor e carinho.Va em frente!!!

Fatima Menezes disse...

E o pão é maravilhoso! Sou uma das clientes que tive a honra de experimentar!!!! 👏👏👏

Unknown disse...

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