sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Serra e Hortelã

Não necessariamente nesta ordem. Aliás, invertida.

Outro dia, fui visitar um lugar onde idosos terminam suas vidas. De início, imaginei um monte de coisas mas, ao sair do carro no estacionamento deparei com uma coisa que sempre mexeu comigo: uma horta. Talvez porque via na casa do meu avô materno o cuidado e o prazer que ele tinha.

Fui me aproximando sem perceber nada à volta: olhar fixo e cabeça no passado.

Mais perto, percebi o quanto o sol deste últimos dias havia machucado todas aquelas sensíveis folhas. Os repolhos já bem atingidos e as alfaces, quase todas perdidas.

No meio delas um preto velho. Isso mesmo! Um idoso representante da raça negra. Ali, agachado, recolhendo as folhas mortas. Chamei por ele para saber como fazer para chegar ai, pertinho dele.

Fui até lá. E, é claro que a primeira pergunta foi: porque isso tudo morrendo aqui? Porque nenhuma "cobertura" que pudesse amenizar a ação do sol.

- Ah, senhor, os homens ~dizem que não têm dinheiro pra isso... Não acredito (disse eu assim sem pensar que ele não tinha a menor necessidade de mentir. Ainda mais para mim.

- É verdade, senhor. Tenho pedido mas eles não querem gastar dinheiro com isto porque acham mais importantes outras coisas. Mas neste final de semana vamos fazer um mutirão pra refazer ela em outro local, mais protegido.

Fiquei ali, em pé, olhando cada um dos pés ali fincados na terra e morrendo. Deu dó. Deu vontade de ajudar ele de alguma forma. Pelo menos alguma coisa dali deveria ser preservada...

E não é que meus olhares brilharam ao ver um canteiro de hortelã daquelas de folhas pequeninas que não mais se vê nas feiras-livres e mercados desta cidade? Rapidamente pedi-lhe para tirar uma muda para que eu pudesse replantá-las.

Bem, fui fazer o que tinha ido fazer: conhecer a cozinha e conversar com a nutricionista e, na saída passei de volta.

Ele não só me arrumou uma mais várias mudinhas tirdas dali com carinho pelas suas calejadas e cansadas mãos. E ainda arrumou um saco plástico para elas não serem vistas como fujitivas...

Rapidinho (mas com segurança) cheguei em casa de minha mãe. Dividi com ela as mudas e ela arrumou um lugar fresco e ao abrigo de um pouco de água para ela replantar ao anoitecer.

Fui ao quintal e peguei um pouco de uma terra maravilhosa para plantar a minha mudinha.

Trateia-com carinho e hoje ela viceja na janelinha da minha cozinha firme e feliz pela minha mão que todos os dias a acaricia e verifica a umidade da terra.

Fiquei feliz.

Quando for de novo na casa da minha mãe vou passar de novo naquela horta pra pegar mais outra mudinha...

Ah, a serra, onde fica nosso tudo?

É que eu estou indo para terê, de tarde. Não sei o me me espera por lá além de um "curso de comida espanhola". Certamente não é o Adriá quem estará mexendo com as panelas...

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