segunda-feira, 10 de março de 2008

Um bolo como os de fazenda


Não tem sido novidade que gosto de pesquisar preparos de pratos. Não gosto e não me propus a ficar transcrevendo receitas aqui.

Certamente quem acabou reforçando isto foi a Joana Gallo, à beira do fogão do Senac Bistrô, numa das aulas que participei.

E, em tempos de comemorações da chegada da Família Real, me vi voltado às minhas andanças por uma fazenda que ainda sobrevive nos dias de hoje. Meia morta, por assim dizer, mas ainda conseguimos saber coisas do tempo do início do século passado.

Os poucos sobreviventes ainda conseguem lembrar-se.

E, juntando tudo isso, fui para a cozinha neste domingo.

É claro que o fubá de milho que usei não é aquele que aprendi a comer, colhido maduro na roça e guardado na própria espiga. Na época do uso, passava por uma máquina que debulhava e moia. Era um fubá meio grosso. Estranho para muitas pessoas da cidade que se acostumaram aos industrializados quase sem cor.

Aquele éra de um amarelo vivo, cheio de luz e energia. Era simplesmente diferente. Era carregado até a sede num carro de boi que fazia questão de gemer por todo o trajeto. Paciência. Aliás era a virtude de todos.

Usei um desses metidos a besta que existem nas prateleiras de nossos supermercados.

Apesar de ter usado ingredientes que não seriam os que exatamente os ideais, tentei ser o mais coerente e pude fazer minhas relembranças. Assim, o açúcar usado foi o mascavo. E, o coco, maduro, com aguinha dentro (todinha bebida, é claro) que deu um belo trabalho para torná-lo aquela delícia.

Primeiro que tudo, com a ajuda de um saca-rolhas, abri o coco usando aquelas três marquinhas da embalagem original. Não tinha dedinhos de macaco, então, o saca-rolhas. Vocês já viram como eles furam os cocos secos para beberem a água? Do copo para minha bela barriguinha.

Peguei um martelo que normalmente uso para pregar pregos. É, dirão vocês, naquela época ainda não existiam martelos. OK, pode usar o que você achar que deve, até jogá-lo fortemente contra o chão... Mas lembre-se que poderão existir métodos mais higiênicos para fazer isto. E certamente os "profissionais" do coco poderão te dar orientações.

Depois de quebrado foi hora de retirar a polpa da dura casca. Depois, retirar a membrana que fica agarradinha à polpa. Sempre foi a parte mais chata mas com a ajuda de uma faquinha nem tão afiada assim (é bom evitar o máximo o risco de acidentes), retirei toda.

Passei sob água corrente para tirar eventuais sugidades (gostaram nutricionistas-leitoras?). Passei por um ralador médio. Quaria que ficassem com a aparência daqueles que compramos nas feiras-livres.

Raladinho, guardei a metade para outra finalidade. Cobri a vasilha com filme plástico para evitar o ressecamento enquanto fazia o restante.

Acenda o forno a 180ºC.

Os três ovos meio-orgânicos (não posso jurar que eram pouis não conheço as fornecedoras apesar do registro indicar nacionalidade francesa). Voltaram à temperatura ambiente. Separadas as claras das gemas, estas perderam seu invólucro através da gravidade por ação de uma peneira de plástico.

A manteiga, sem sal, aquela do avião, foi retirada do refrigerador uma hora antes. Apenas 100g.

Num bowl, coloquei uma xícara de açúcar mascavo e a manteiga. Com a ajuda de uma colher de pau moram incorporados até que surgisse um creme esbranquiçado. Coloquei as três gemas penairadas. Continuei a bater até ficar um creme aerado.

Nesse ponto, duas xícaras de fubá de milho foram misturadas à parte com 1/2 xícara de farinha de trigo. Enquanto vai colocando, aos poucos, a mistura da farinha e fubá no crme, também adicione, aos poucos, 1 e meia xícara de leite integral.

Depois de misturada toda a farinha e o leite, chegou a hora de uma pitada de sal, uma colherinha de café de canela em pó e outra de sementes de erva-doce.

Agora uma colher de sobremesa de fermento químico.

Numa outra tigela, bata as claras em neve (picos firmes) com uma pitada de sal. Adicione o meio coco ralado à mistura. Adicione, lentamente em movimento de "8" as claras.

Eu usei uma forma com buraco no meio, antiaderente. Então apenas passei um pouco de manteiga (bem pouca) nas paredes internas da forma. Coloquei a massa ali e levei ao forno.

Claro que o palitinho foi fundamental para saber quando estava sequinho. Cada forno tem a sua própria personalidade...

Depois de frio, a galara já estava em volta porque o cheirinho foi longe...

Bem, consegui tirar esse pedacinho pra vocês poderem ver como ele ficou. Ai, para a foto, ele ganhou uma caldinha morna de acerolas...

[clique sobre a imagem para ampliar]


9 comentários:

Li disse...

Carlinhossssssss!!!!!!
Lindo bolinho !
Sempre gostei de bolo de fubá!!!!!
Fica meio areadinho, né???????
É areado de areia, mesmo!
Nem muito doce, mas não chega a ser salgado.....
Fiquei com vontade.....
Achei q hoje teríamos aqui uma matéria sobre os gêmeos.....hehehe
Beijas!
Li

Laurinha disse...

Que delícia de texto!
Ah, o bolo também!
Beijinhos,

Neide Rigo disse...

Carlinhos,
deu água na boca. Também furo o coco com prego. E obrigada pela parte que me toca (nutricionistas-leitoras) rss.

Luciana Macêdo disse...

Uns dias atrás também participei de uma luta com o coco, mas no final eu venci, quero dizer, o meu marido venceu.
Bolo de fubá tem aroma de fazenda, realmente tem o seu lugar na hora do cafezinho. Ainda não experimentei com a calda,mas deve ficar muito bom.
Bjs!

Karla Maria disse...

Que belo texto.
Lembrei de qdo cheguei aqui na Bahia e uma quituteira famosa me deu a sua receita de Torta de Tapioca com o côco "ralado de costas" e eu fiquei louca sem saber como era esse bendito côco já que ralar de costas eu não ia conseguir, acredita que não fiz até descobrir como era. rsrsrs
Até hoje dou risadas.
Alguém sabe como é?

carlinhos de lima disse...

Pois é...
Eles chamam de "ralado de costas" ao coco ralado com a sua casca (ou seja, a membrana que vem agarradinha na polpa).

Então, agora já poderás fazer sua torta. E, ai, nos contar como ela é...

Karla Maria disse...

Carlinhos,
desde que aprendi tenho feito a torta que é uma delícia.

http://karla-asmarias.blogspot.com/2007/09/torta-de-tapioca.html

Amo bolo de fubá.

Beijo

Karla Maria disse...

O leite de côco é puro, do côco ralado de costas.
Vou alterar lá.
Bj

Adriana disse...

Ora Carlinhos,voce não só tem o dom de um grande chef ,mas também a harmonia com suas escritas,Muito bom ler ,aprender,curtir seu blog.beijos