segunda-feira, 7 de abril de 2008

Domingo de chuva


Já que precisava levantar da cama para assistir à corrida de fórmula 1 não adiantou ver a janela toda respingada... Lá fora, a chuva insistia em molhar tudo.

O café preto foi preparado, como todas as manhãs. Na falta de pão, bolachas com manteiga. Afinal, a margarina está com seus dias contados por aqui.

A atenção na corrida não me deixou perceber que o "mundo lá fora" estava adormecido em baixo de cobertas.

Finalmente, depois de um bom descanso o Hino Nacional Brasileiro voltou a tocar nas manhãs de domingo.

O que fazer agora? O silêncio imperava junto com as gotinhas peneiradas de água que caiam.

Pão! Isso mesmo. Fazer pão. Alegria, prazer de fazê-los.

Recobrei uma receita dos tempos da escola: a ciabatta. Nada diferente. Nada que lembrasse todas as experiências que fiz ao longo destes tempos desde as aulas do Pedro.

O trigo de sempre foi colocado na batederia. Ah, esta receita usa medidas caseiras. Isto pode facilitar aqueles que desejarem repetí-las em casa. Foram três xícaras.

O fermento biológico seco (granulado) também foi medido, em uma colher de sopa. Se você comprar em envelopes, use um deles. Essa mistura ficou junta, depois de uma pequena mistura por aproximadamente 10 minutos para hidratação do fermento.

Juntei a ela, uma colher de sopa de leite em pó, integral. Alguns podem achar isso estranho para um pão salgado, mas tem lá suas verdades. O leite em pó vai servir para dar uma maciez na massa além de conservá-la por mais tempo. E essa medida corresponde a aproximadamente 3% do total o que não vem a ser algo tão significativo assim.

Como eu queria que ele ficasse bronzeado, coloquei meia colher de sopa de açúcar. Sim, o açúcar, caramelizando com o calor ajuda a formar o dourado da casquinha superior.

Uma colher de sopa do meu transmontano (azeite) para a untuosidade desejada.

Ligada a batedeira (mas você pode fazer na superfície de trabalho) com o acessório "gancho", adicionei 3/4 de xícara de água gelada. A mistura começou a juntar todos os ingredientes. Mas cadê o sal? Calma! Não esqueci dele... Ele entrará apenas neste momento em que os ingredientes já começarem a juntar-se ao gancho. A água completará o processo, lentamente até que a massa apresente a umidade necessária para transformar tudo aquilo em bundinha de neném.

Ela vai ficar ali batendo e girando por 10 minutos, na menor velocidade. Se for na bancada, "empurre" a massa com a base do punho e "puxe-a" com os dedos, fazendo com que a "ponta" se dobre sobre a "base".

Ficou difícil isso? Então vamos lá, de outra forma... Quando você a empurra com a base do punho para a frente, formará uma superfície retangular, certo? Você puxando com as pontas dos dedos irá trazer a parte que ficou mais longe do seu corpo para cima da que ficou mais perto... Entendido? Essa operação precisa ser repetida até que a massa deixe aparecer a "bundinha"... Ah, não pode ter celulites, hein!!

Coloque ela numa superfície, para descansar. Afinal depois de um amasso deste, só um descanso, não? Vinte minutinhos é o suficiente.

Pegue uma forma (tabuleiro) de aproximadamente 28x19cm. Enfarinhe ela. Com a ajuda de uma peneirinha fica mais fácil. Abra a massa de forma a cobrir toda a superfície do tabuleiro. Cubra-o com um pano-de-prato e deixe em repouso por aproximadamente uma e meia hora. Ou até ela estar com altura aproximada de um dedo não muito magro nem muito gordo...

Nesse ponto, vire a massa sobre uma superfície de trabalho devidamente enfarinhada. Faça cortes (dá 6 pães) primeiro dividindo o maior lado em dois e depois cada maior lado por três.

Segure cada pedaço e dê uma leve puxada nele, alongando-o um pouco. Coloque num tabuleiro maior que possa acomodar todos eles.

Cubra o tabuleiro e leve novamente para fermentar por aproximadamente outra hora e meia.

Na última meia hora, acenda o forno a aproximadamente 220ºC. Ele irá aquecer e equalizar o calor nessa meia hora.

Coloque o tabuleiro com as seis porções e acompanhe o seu crescimento e o processo de assamento. Você é quem vai decidir a hora de retirar do forno...

Se houver espaço e você desejar, acenda a luz interna do forno e fique sentada ali, diante da porta observando o processo...

Lá fora a chuva ainda molhava tudo. Nos quartos todos ainda prolongavam a noite... O silêncio ainda imperava.

Não resisti: tomei outro café-preto e um deles com uma manteiga sem sal. Morno (não como pão recém saído do forno) o suficiente para esparramar a manteiga gelada sobre seus buraquinhos...

E, para você não dizer que eu apenas fico deixando você "viajar" nestas letras, uma foto dele por fora. E outra dele por dentro... É, tem gente que adora ver pão por dentro... Quer ver como ficaram os "olhos" da massa... Uns preferem pequenos e uniformes e outros disforme e de tamanhos variados. Eu estou neste time... Tenho certeza que se começares a saboreá-los tentando descobrir as diferenças, um dia vai passar para o meu time!



[clique sobre a imagem para ampliar]


Só sei que quando o "povo" começou a aparecer na sala viram eles deitados no berçário (eu gosto de colocar o berçário na sala...). E ai foi duro de segurar. Quase deixaram de almoçar!

E assim o dia foi se arrastando até ficar escuro...

Você não precisa apenas recheá-lo com manteiga. Use a sua imaginação. Coloque ali o que você gosta. Tente sabores diferenciados. Se gostas de mortadela (e uma boa mortadela é melhor que muitas outras coisas que existem por ai) coloque umas sementinhas de erva-doce. Ficará instigante.
Folhas tenras de rúcula silveste com mussarela de búfala com tomates cereja... Ah, ao colocar tomates, coloque a parte das sementes viradas para o miolo do pão. Assim ao mordê-lo, levará umidade e sabor para ele. Instigará suas papilas.
Ao usar "frios embutidos" peça para cortá-los o mais fino que conseguirem. Ficam mais saborosos.

Divirtam-se!

11 comentários:

Agdah disse...

Carlinhos, suas receitas têm sempre um jeito de prosa e um quê de poesia...

Eu não lembro aí, mas o leite em pó daqui é fortificado com vitamina D, que também dá um certo valor nutricional ao pão, mesmo que pequeno.

Leila disse...

Carlinhos, adoro pao ciabatta e adoro croutons com pao ciabatta.

E viva nosso Felipe Massa!

beijinhos

Luciana Macêdo disse...

Gosto da maneira como você escreve (acho que já disse isso) parece que tudo fica fácil de preparar o que não deixa de ser verdade quando o que se faz tem doses de prazer.

Anônimo disse...

Uauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Cheguei a perder o fôlego :-)))

Eu amo ciabatta e a sua está maravilhosa...com poesia então...perfetta!

Bisous,
Ana de Bruxelas

Anônimo disse...

ah Carlinhos! sem palavras,ficou lindo,como todos os que fazes,beijo!

Anônimo disse...

Hum...deu água na boca...e ficou lindo.
Beijos

Anônimo disse...

Carlinhosssssss, amido meu!!!!!!!
Amigo ou amido, vc é demaisssss.....
Beijas!
Li

Carlos Alberto de Lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Alberto de Lima disse...

Meninas, fico contente por vocês terem gostado.

Também gosto muito do ciabatta. E o seu formato também nos conduz a um belo sanduíche.

Se você fosse fazer um, que recheio usarias?

Anônimo disse...

Usaria rúcula...que eu amo, com uma mússarela de búfala e tomate fresco picadinho temperado com pimenta-do-reino e azeite.

Anônimo disse...

Delícia de blog!
Delícia de pão!
Obrigada pela visita!
Beijos
Diana