sexta-feira, 9 de maio de 2008

O dia da minha mãe


Poderia ser um dia como qualquer outro. Deveria ser. Mas não é porque existem filhos que só lembram delas nesses dias.

Não vou entrar no espaço de nenhum deles. Vou falar da minha. Aliás, como combinamos já faz um bom tempo, do Dia da Minha Mãe é o dia que eu vou lá na casa onde ela mora e sento com ela na mesa pra gente comer a comidinha que ela fez.

Quase nunca especial no sentido de diferente: é quase sempre o mesmo carinho de fazer o arrozinho na panelinha de barro, com um dedinho enrrugado pelos quase oitentinhas dela, uma cebola picada na mão e um dentinho de alho devidamente porrado com a força que ainda tem nos braços.

Com sua colher de pau vai ali refogando os temperos antes de colocar o arroz lavado, escorrido e seco. Ela não consegue fazer arroz sem lavar... Depois de refogado o arroz, ela põe a "medida dela" de água morninha. Pica uma cebolinha quando tem e deixa ali, na bancada, esperando secar a água. Só ai ela dá uma esfareladinha no arroz com aquela salsinha picadinha.

Fica ali tampado, no calor do barro até a hora da gente comer.

Nessa última vez, quando fui comemorar o "Dia da Minha Mãe" com ela, ela me mostrou (já prontinho na hora que cheguei) um corte diferente: segundo o açougueiro dela, uma "costelinha de acém". Já havia amolecido na pressão e depois, devidamente "pinhgado" com água enquanto dourava e deixava a crosta assim com água na minha boca. Retirou a carne quando já macia e colocou umas batatas em meios. Ali, elas só iriam tomar a corzinha marron enquanto cozinhavam.

Fui ajudar ela a colocar as coisas na mesa. Ela ainda é do tempo que a gente precisa sentar à mesa para comer. Família na mesa. Não importa que sejam dois, três, quatro... Ali, arrumados, ficamos num longo papo sobre as coisas das vidas: da minha e da dela. Falamos de tantas coisas. Dos vizinhos de lá e de cá. Das coisas da TV, dos tempos que ela ainda menina aprendia com o vê Chico as coisas mais práticas que a vida não mostrou substitutos. Quase esquecemos do que rolava lá fora. E entremeados com pastéis que minha irmã caçula preparou.

Quando nos demos conta já havia passado a hora da nossa sesta. É uma hábito que nós dois desenvolvemos quando vou lá. Deitamos na cama dela para ela descansar seu esqueto e assistimos ao jornal do início da tarde enquanto insistimos em jogar conversa pra fora.

Depois uma visita: sua neta, filha de minha irmã que foi morar no deserto.

Ainda ficamos conversando um bocado antes de eu voltar com meus pensamentos no passado para minha casa.

Hoje, pensando que tanta gente está agitada nas ruas em busca de presentes para suas mães, me lembrei de recordar algumas coisas que fiz e que ela gostou tanto de comê-las.

Assim, se estivesse com ela, no domingo (não estarei pois estarei fazendo a comidinha que minhas filhas querem para almoçar com a mãe delas): eu começaria o dia com um couscous de legumes com tataki de mignon.

Nada tão complicado assim a não ser pelos minúsculos cubinhos de cenoura, daikon, abobrinhas e tomates. O couscous aquecido e hidratado lentamente com um cházinho de capim cidreira e solto com a ponta de um garfo. Sal e pimenta do moinho atiçam as papilas. Sobre eles, finas fatias de mignon, devidamente curadas em azeite extravirgem por 2 horas sob refrigeração.

Depois, para continuar brincando com tempo, pequenas cerejas de muzzarella de leite de búfala, crocante, sobre saladinha morna de tomates.

Como ela gosta muito de peixe, faria um filé de robalo sobre uma saladinha verde (ervilhas, favas, espinafre).

Ai, uma sobremesa que ela sempre fica com os olhinhos vivos de tão brilhantes: tortinha de biscoito com crme de cupuaçu com cobertura de chocolate amargo.

Um cafezinho bem preto, coado na flanela com uns biscoitinhos de castanha do Pará pra esticar o assunto enquanto esperávamos a coragem para lavar a louça.

Ah, seria tão bom...

Mas, deixa como está... Toda as semanas em que não existem compromissos profissionais tenho podido estar ao lado dela. Mais nestes últimos três anos do que nos outros trinta e tantos anteriores.

Mãe, eu te amoooooooooo!


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11 comentários:

Fer Ayer disse...

Que delícia, que bom você ser este filho...ela deve amar e a sua narração dá vontade da gente ir lá um dia tb...risos.
Beijos para vc e para a sua mãe neste dia.

Axly disse...

Oieeee
Tem um presentinho pra ti lá na minha Cozinha, dá uma passadinha lá tá^^
Kisss!

Marcia disse...

Que delícia de declaração, toda mãe irira adorar.

Clarissa Magalhães disse...

Q coisa mais fofa o seu post!
é uma delícia mãe,né?

Adriana disse...

Esta declaração meu emocionou...

Axly disse...

Nossa, que palavras lindas!
Juro que meus olhos se encheram de água agora.
Tem coisa mais linda que mãe?
Elas são especiais até onde não dá mais pra ser^^
Parabéns por curtir a tua assim, mesmo que não seja todo dia^^
Kisss!

Li disse...

Carlinhosssssssss!!!!!!!!!!
Viva!!!!!!!!
Beijas!!!!!
Li

carlinhos de lima disse...

Pois é, gente.
A dona Diva é uma pessoa de muita força. Soube fazer dos obstáculos trampolim para sua caminhada e hoje, mesmo balançando que nem um barco vai levando a sua "gente" com orientações e carinhos.
Estar junto com ela, agora nesta fase de nossas vidas, é um presente de Deus.
E eu preciso aproveitar ao máximo antes que acabe...

Karla Maria disse...

Carlinhos,
toda mãe adoraria receber um post assim.
Parabéns pelo filho e pela mãe maravilhosos.
Beijo

Tania disse...

Caraca, que declaração, ela deve ter amado. Imagino a carinha dela, queria estar lá para ver.
bjs

Cezar disse...

Fala cunhado! A Sogra deve ter ficado toda boba, nao?
Imagino que voce esteja catalogando suas "cronicas culinarias" para, em um futuro proximo, quem sabe, publica-las em livro.
Quem sabe voce venha a disputar com o Paulo Coelho o lugar de mais lido??
Parabens.