sábado, 31 de maio de 2008

Experimentando novas formas


Sem vontade de fazer coisas repetitivas e sem muita paciência comigo mesmo, resolvi passear. Olhar novas coisas, novas formas, sentir novos ares, cheiros...

Sai sem destino a olhar tudo que já está pronto. Tudo que alguém fez de uma forma "acadêmica" ou de formas "contemporâneas".

Olhei abstratos e inexpressivos. Toquei coisas que não imaginava o que sentir. A percepção visual era bem diferente da táctil. Experimentei perfumes diferentes.

Dentro da minha cabeça comecei a despertar a dúvida. O questionamento que me fazia era simples. Muito simples, até. Porque eu tenho que repetir os outros?

Minha cabeça disparou no tempo. Voltei a ser criança: lembrava da dona Diva, do seu Lima, dos avós, tios, professores. Sempre "ditavam" processos, normas a serem seguidas.

Igual a milhões de pessoas no mundo.

Voltei para o futuro. Viajei até o Senac Bistrô, no meu promeiro workshop de gastronomia. A aula era de Cozinha Francesa. A chef que ministraria a aula era a Joana Gallo que já fora aluna e assistente de um cozinheiro que me incentivou chegar até aqui: o ZéHugo.

Cheio de espectativas lá fui eu para aquela cozinha que ficou muito tempo na minha cabeça como uma cozinha maravilhosa. Estava lá ANTES do próprio Bistrô estar funcionando.

Outras aulas se passaram e novas repetições se seguiram. Chegava em casa e procurava REPETIR os pratos e processos aprendidos.

Novamente encontrei a Joana por lá. Conversando após a aula ela acabou, no meio do assunto, me dizendo uma frase que guardei. Guardei porque não me sentia seguro o bastante para arriscar. Simples como "seja você; crie suas próprias receitas. Não fique eternamente copiando os outros!".

Interessante, do aspecto didático. Assustador, quando olhado pela perspectiva de que eu apenas estava começando.

Parei no tempo. Me questionava se isto seria possível um dia. O que eu deveria fazer? Os livros estavam cheios de receitas. Os cursos acabam sendo um fazer e copiar. E muitos deles nem nos permitem tocar nos alimentos a não ser para uma prova tão ínfima que nos deixa frustrado.

Só uma saída: aprender técnicas. Ou ser um eterno copiador!

E me dediquei a isto. Me interesso muito mais pelas técnicas usadas do que propriamente pelo prato executado. Nas aulas em que estive presente, recentemente, eu apenas prestava atenção aos movimentos das mãos de quem executava o prato. A receita já estava em mãos. Procurava olhar atentamente a todos os movimentos dos braços, das mãos, dos dedos. Como os ingredientes eram pegos, manuseados, acariciados. O povo, em volta, preocupado em escrever detalhes dos ingredientes. Tudo que era dito. Eu, os movimentos. Meus olhos procuravam captar todos eles.

Olhar atento. Altura da chama, quantidade de azeite e de manteiga na frigideira. Acompanhava com os olhos a dança deles na chapa quente, banhando toda a superfície antiaderente. A forma como a carne era suavemente colocada. O tempo. A cor da crosta, a "marca" de quando ela deveria ser virada para um cozimento uniforme. O ponto adequado.

Isto tem sido a base para que eu possa, agora, começar a me questionar: porque fazer igual? Porque ficar repetindo?

Assim tem sido com meus pães. Não conseguia executar uma simples receita. Fui pra escola aprender a técnica. Lá, novamente os olhos perseguiam os movimentos do professor. Era importante gravar não só o que era dito, mas, principalmente o que era feito.

Enfim, tudo isso para mostrar essa foto aqui. É o mesmo pão que já fiz muitas vezes. Receita que já mostrei aqui. Biga que já expliquei como fazer. E nem foi com uma fermentação tão lenta quando era pra ser. O dia frio...

Enfim, a forma foi diferente das de todas essas vezes. Foi resultado do que meus olhos viram nestes passeios que fiz ao passado e ao futuro.

Pensem nisto!








[clique sobre a imagem para ampliar]


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8 comentários:

Anônimo disse...

Carlinhos,
adorei!!! o texto e o pão ;-)

Bisous,

Danielle disse...

ola Carlinhos...
sabe que fiz um curso muito legal de panificação e confeitaria na Hotec (sp), que diferente de muitos, colocamos a mão na massa em todas as receitas ! foi otimo! os pães deliciosos ! bjkas dani

Anônimo disse...

sobre cursos, leia hoje, na Revista do Globo...

Unknown disse...

Boa tarde
Conhece a Salicórnia da Salina Eiras Largas da Figueira da Foz, em Portugal?
Uma planta halófita que dá para substituir o sal nalguns pratos, como por exemplo nas Saladas.
À venda na loja do AgriCabaz em Coimbra. Envio pelo correio.
http://agricabaz.blogspot.com/
agricabaz@gmail.com
Obrigada

Anônimo disse...

Ampliando a foto , dá um desespero!!!!!

Neide Rigo disse...

Lindo o formato, parece uma fava rajada (que publiquei hoje no come-se).
Carlinhos, mandei seu ora-pro-nobis pro Rio. Entre em contato, que te passo as coordenadas de onde ir buscar.
bjs, n

Gourmandisebrasil disse...

Carlinhos, você disse tudo: "aprender técnicas". O trriste é quando cozinheiros querem inventar sem conhecer o clássico, o básico, o começo da cozinha, a história da gastronomia.

bjo,
Nina.

Fabrícia disse...

Carlinhos que maravilha esse pão.....
Vc me perguntou sobre a sorveteira. Moro no Canadá e comprei numa loja chamada Home depot
Essas são as especificações da garota: http://www.homedepot.ca/webapp/wcs/stores/servlet/CatalogSearchResultView?D=945737&Ntt=945737&catalogId=&langId=-16&storeId=10051&Dx=mode+matchallpartial&Ntx=mode+matchall&recN=212257&N=0&Ntk=P_PartNumber
Grande abraço.