sexta-feira, 29 de maio de 2009

Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia


Aproveitando as lembranças das minhas andanças pelas terras de Minas e o Festival de Quitandas de Congonhas realizado no último domingo, revi algumas dessas delícias que aprendi ao longo destes passeios por estradas de terra, cheiro de capim molhado, carro-de-boi, crepitar de lenha nos fogões, chaminés lançando aquela fumacinha cheirosa por cima dos telhados de telha canal.

A lembrança mais forte vem por conta das quitandas. Lembranças de tempos de alegria e de fartura. Tomara que ainda assim por esses tempos de “crise mundial”...

Uma das primeiras dessas quitandas a aprender a fazer foi a broa de milho, que normalmente é feita ainda muito cedo para o café da manhã. Ao longo do dia ela fica ali na beira do fogão à lenha e serve de acompanhamento para o café-preto (um café ralinho, passado no coador de pano com água pré-adoçada. Nuns lugares com garapa, noutros com açúcares que variam do mascavo ao refinado, mas sempre pré-adoçado e bem ralinho – pra modi rendê maissss – e fazer o contraponto com o milho.

Essa broa é o resultado da mistura de meia xícara de margarina de milho, uma e meia xícara de açúcar, uma e meia xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), meia xícara de farinha de trigo, um quarto de xícara de leite, duas colheres de sopa de “pó roial” e três ovos (só vale se for de galinha de quintal). Nuns cantos o povo ainda coloca uma colher de chá de sementes de erva doce, uma colher de sopa de raspas de limão ou uma colher de chá de canela em pó.

Lá onde aprendi, minha amiga de sempre – Juça – separava a clara e as gemas dos ovos. Com cuidado puxava com os dedos a pele que dá formato às gemas e misturava elas com a margarina e o açúcar. Com a colher de pau ela transformava esses ingredientes num creme esbranquiçado. Aos poucos acrescentava os secos (farinha de trigo, fubá de milho e o leite. “Batia” essa mistura até que ela ficasse homogênea e “lisa” (sem grumos ou pelotas). Podia até precisar de um dedinho de leite. Ai é “no olho”... Nesse ponto acrescentava o “pó roial”. Untava um tabuleiro com óleo de cozinha e colocava a massa ali. Dava uma mexidinha pra cá, outra pra lá pra modi acumodá a massa. Forno!

Quando começava a cheirar era olha de ir dar uma olhada. Se a parte de cima começasse a ficar castanha já era hora de tirar do forno e colocar em cima do fogão. Os mais apressados comiam ainda quente...

Uma outra de bolo de milho – que já foi farto nas pequenas propriedades pois era não só o alimento da casa como dos terreiros (galinhas e porcos) – é o de bolo cremoso. O interessante de se observar são as interações fisico-químicas deste processo. E, claro, o sabor que ele tem.

Então, vamos lá. Separe quatro ovos (novamente só vale se for de galinha de quintal, criada solta, comendo minhocas, capim e milho jogado), uma xícaras de açúcar cristal (fica mais gostoso e menos doce), uma pitadinha de dois dedos de sal, quatro xícaras de leite (quanto mais “gordo” melhor), uma xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), uma e meia colher de sopa de farinha de trigo, uma xícara de queijo mineiro duro (canastra, meia cura), uma xícara de coco fresco ralado, meia xícara de óleo de cozinha (ou, como antigamente, duas colheres de sopa de manteiga), uma colher de sobremesa de pó roial.

Antigamente tudo isso era mexido na gamela. Depois vieram as tijelas de plástico e por fim o liquidificador. É claro que haverá resultados diferentes para cada um desses meios usados. Você escolhe o que deseja seguir.

Unte e enfarinhe um tabuleiro e coloque ali a massa do bolo. Coloque para assar em forno moderado até que a casquinha comece a ficar castanha. Um pequeno detalhe: é para ser servido como se estivesse na forma.


[clique sobre a imagem para ampliar]


Por fim (por esta vez) a broinha de milho de canjica. Algo assim como o supremo manjar dos deuses. Certamente a delícia que mais me apaixona ainda hoje quando passo pelas Drogarias Venâncio aqui no Rio... O que sobrou do antigo Café Palheta sobrevive por lá numa versão moderna, convivendo com drogas e perfumarias.

Separe uma e meia xícara de fubá de canjica (se não encontrares, compre o “mimoso”. Se também não encontrares, use o Granfino pré-cozido), uma xícara de farinha de trigo, meia xícara de açúcar, uma pitada de dois dedos de sal, uma xícara de manteiga (retirada do refrigerador/geladeira pelo menos uma hora antes do uso), uma xícara de leite (o mais gordo e fresco leite de vaca que encontrares) e meia duzia de ovos de galinha de quintal.

Peneire numa tigela 1 xícara (chá) de fubá com a farinha de trigo, o açúcar e o sal. Reserve.

Misture numa panela a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o leite e 1 xícara (chá) de água. Leve ao fogo e, assim que ferver, junte de uma vez os ingredientes secos. Mexa vigorosamente e cozinhe por 20 minutos, sem parar de mexer, até obter um mingau encorpado. O fubá deve ser bem cozido como se fosse polenta.

Retire do fogo, despeje numa tigela e deixe esfriar por 15 minutos, mexendo de vez em quando.

Ligue o forno à temperatura média.

Em seguida, adicione os ovos, um a um, mexendo sempre a cada adição. Continue a mexer vigorosamente até a massa ficar macia e um pouco mole (não é ponto de enrolar).

Umedeça uma tigela de 10 cm de diâmetro (do tamanho de 1 xícara de chá) e polvilhe com parte do fubá restante. Coloque na tigela um pouco mais de 1 colher (sopa) de massa. Rode a tigela para formar as broinhas e disponha-as numa assadeira untada com a manteiga reservada.

Deixe uma distância de 2 cm entre as broas.

Repita a operação até terminar a massa.

Sempre que necessário, umedeça um pouco a tigela e coloque mais fubá. Leve ao forno por 25 minutos, ou até as broinhas dourarem.

Retire do forno e sirva quente.


F A C I L I D A D E S

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3 comentários:

Pedro Botelho disse...

"Carlim"...

fazia um tempim que nao andava por aqui ...e quando abro ...
uma vontade louca de ir correndo comer uma broa...rsr

abraços gastronomicos

Pedro Rui

Melina F. disse...

Não sei exatamente da onde nos conhecemos, mas sinto simpatia por você. Adoro como fosse mistura a culinária com os fatos que se passaram na sua vida, e se tivesse paciência, arriscaria a seguir tuas receitas.

Um beijo!

carlinhos de lima disse...

Mel, ali em cima diz que aqui é o lugar onde misturo sonhos com realidade...

Descobrir o que é sonho ou realidade é tarefa para os leitores.

O objetivo atual é aprofundar estas misturas.

Tente fazer. Faça primeiro as mais simples (para você). Não desista se não der certo da primeira vez. Busque o "teu" tempero tal como as palavras que escolhes para teus textos. Nuances podem significar resultados tão intrigantes quanto misturar palavras num papel.

Leve para o fogão as alegrias e tristezas. Mas dedique-te por completo nestes momentos.

É uma relação de profundo amor. Uma conquista a cada vez.

Depois me conta. Escondido dos outros ou por aqui.