quinta-feira, 23 de julho de 2009

Robalo Caiçara


Já se passara um ano desde a última vez que a gente tinha ido até lá. A vontade, porém, permaneceu durante todos esses dias do intervalo. Mas era preciso esperar que o “chefe” marcasse meu período de férias.

Novamente tudo apinhado no velho Fiat. Mais um pouco seria necessário trocá-lo por um maior pois desta vez foi difícil conciliar os espaços e as coisas que seriam necessárias serem levadas.

Ainda a mesma estrada, o mesmo período da manhã, mais adequado a se viajar com crianças pequenas. Sempre procuramos seguir este protocolo.

Seguimos pela avenida Brasil até pegarmos a Rio-Santos lá em Santa Cruz. Este familiar percurso que percorri durante os seis anos em que trabalhava na Cosigua. Durante os quatro primeiros anos, com despesa subsidiada pela Cia, íamos de carro: eu e os demais chefes, gerentes e assessores. Uma bela empresa para se trabalhar naquele tempo apesar da lonjura: para mim eram 75km de ida e mais 75 de volta para casa. Alie-se a isto ao fato de estar cursando uma Universidade no bairro do Flamengo. Isso dava aproximadamente 200km percorridos diariamente. Muitos motoristas de táxi de nossa cidade nem sonham em rodar diariamente esta distância. Mas lá íamos nós.

Quando chegamos na entrada para Itaguai recebemos o sinal do patrulheiro de parar no acostamento. Verificados os documentos nos deu sinal de boa viagem. Seguimos por aquela estrada que ainda guardava lembranças do tempo em que íamos comer em Coroa Grande, um peixinho ou um camarão fresco! Íamos em dois, três carros, sem avisar: sempre tinha algum pescado recém chegado do mar.

Bem, seguia pela estrada em direção ao que foi meu paraíso na terra durante tantos anos. Mais adiante, uma obra no túnel de Mangaratiba nos obrigava a alternância do fluxo entre a única pista de mão dupla do trecho. Nada mais que dois ou três longos minutos. Eles desciam enquanto nós subíamos.

Transposto isso seguimos adiante, tranquilos, até nossa parada no Condomínio do Frade para nossa escala técnica. Todos os procedimentos executados e checados, seguimos em frente até a chegada ao trevo tão esperado. Chegamos à cidade de Paraty.

Entramos pela avenida que dá acesso à cidade histórica. Contornamos pelo lado direito que apesar de mais longo nos dava o retrato atual de como estavam as coisas e o movimento na cidade pois passava pelo cais e pelas principais igrejas. Atravessamos a ponte sobre o rio Perequê-Açú e logo após passar o Hospital da Santa Casa da Misericórdia o muro verde do CCB. Como sempre, portões fechados e a parada obrigatória.

Lá encontramos o velho amigo guarda camping Domingos que nos saudou com aquele seu sorriso enorme e, logo perguntando pela Carolzinha. Abriu o portão e fomos procurar nosso terrenos entre os poucos já disponíveis pois o pessoal buscava sempre aquele recanto para passar as férias e o carnaval que se aproximava. Enfim, encontramos um local que nos agradou. Uma respirada profunda, um alongamento e antes de tudo levar os documentos para nosso registro.

Carolzinha já solta, contei com a ajuda da Ilma para retirar as coisas do carro: primeiro a nossa casa. Montada, era hora de começar a colocar as mobílias e acessórios. Tudo com os olhos na pequenina que já encontrara “amiguinhas” para se distrair.

Depois de tudo montado, o descanso do guerreiro: a cadeira de praia aberta e o corpo estendido ali debaixo daquela frondosa árvore. Naquela tarde nem pensamos em fazer comida. Resolvemos comer uma pizza mesmo num dos restaurantes da cidade. À tarde, ainda fui ao depósito de bebidas e gelo colocar em dia nosso estoque de água mineral e gelo. Essa rotina era repetida a cada três dias.

De noitinha, um rebuliço próximo da portaria e lá fui eu. Descobri que estavam preparando uma excursão ao pontilhão do porto para pegar siris. Ou o que viesse. Me alistei no time e lá fomos nós: anzóis, puçás, e vasilhas para colocar o que o mar nos permitisse.

Muita bagunça, pouco peixe. Mas conseguimos trazer o que seria a desculpa para tomar uma cervejinha e jogar conversa fora. Tudo bem. Afinal eram tempos de férias.

No outro dia, caminhada cedo para comprar o pão-nosso-de-cada-dia naquela conhecida padaria que existia num dos casarões da cidade histórica. Presunto e queijo além de uma barrinha de manteiga vieram juntos. Preparei o café que com seu perfume fez Ilma acordar. Carolzinha dormia um sono solto por conta de seu agitado dia anterior. Tomamos nosso café enquanto Ilma procurou ajeitar as coisas que lhe cabiam.

Depois de roupa lavada e estendida em nosso pequeno varal portátil, ela acordou Carol para seu leitinho e biscoitos. Depois foram caminhar na praia, tomar um banho de mar. E eu, direto para o Mercado de Peixes? Não, naquele dia resolvi ir até o pontilhão ver se conseguia comprar camarões direto dos pescadores. Não conseguia pois os atravessadores não permitiam isso. Ali era região deles. Voltei para o Mercado. Lá encontrei belos robalos que eu tanto amo no tamanho adequado. Comprei um maiorzinho e com o saco nas mãos passei no mercadinho ao lado: frutas, legumes e verduras que chegavam diariamente ora do Rio, ora de São Paulo. Compras feitas, rumei de volta pra casa.

Deixei as compras nos seus lugares: o que era de gelo, na nossa geladeirinha; o que era de ficar fora, em cestinhas que minha mulher havia montado com a ajuda de cordões de nylon. O peixe e os apretrechos direto para a bancadinha de limpeza.

Ali, toda sorte de assunto era bem vindo. Mas quase sempre só homens cuidando da limpeza dos peixes e camarões. Minha tarefa pronta, levei o peixe para nossa geladeirinha e caminhei para a duchinha para tirar alguma escama que ainda desejasse se esconder agarradinha em meu corpo. Caminhei até a praia (em frente) onde um mergulho me refez do calor que fazia do lado de fora das águas. Uma brincadeirinha com Carol e a volta para preparar o almoço.

De tarde era hora de passear pelo comércio. Invariavelmente as compras: uma camiseta, um brinquedinho para Carol, coisinhas para a mulher e volta para o camping.

Naquela tarde havia comprado uma panelinha de barro, que são produzidas em Guarapari e agora vendidas em muitos lugares. Depois de ter feito a "cura" de acordo com as instruções das fabricantes, coloquei ali as postas do robalo. Um dente de alho devidamente imprensado com a lâmina da faca contra a tábua de peixe, uma pequena cebola em rodelas, um tomate em cubos, salsinha, cebolinha picadas grosseiramente, um gordo fio de azeite. Fogo brando. Sal verificado quando começou a fervura. Controlando para o peixe não agarrar no fundo fazia como barco em mar arisco: balança a panela de um lado para o outro de vez em quando.

Noutra panelinha, ocupando assim as duas bocas de meu fogão, um arroz branquinho só com sal e alho.

Descanso, janta e novo passeio ao centro histórico para o “footing” noturno: mais lojas, galerias de arte e muita gente na rua. Assim era Paraty naqueles tempos.

E a vida se repetia na estação... Estação das Férias!





Click aqui para saber mais

Estação Paraty

É uma leitura singela como a paisagem do balneário. Dividido em capítulos quase sempre com o nome do Estado ou cidade do visitante, o livro poderia ter o título de O Amável Anfitrião, graças à maneira como Sérgio Saraceni tratava os amigos em sua casa.

Editora: Geração Editorial, 1ª Edição - 2006
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Robalo Caiçara


Já se passara um ano desde a última vez que a gente tinha ido até lá. A vontade, porém, permaneceu durante todos esses dias do intervalo. Mas era preciso esperar que o “chefe” marcasse meu período de férias.

Novamente tudo apinhado no velho Fiat. Mais um pouco seria necessário trocá-lo por um maior pois desta vez foi difícil conciliar os espaços e as coisas que seriam necessárias serem levadas.

Ainda a mesma estrada, o mesmo período da manhã, mais adequado a se viajar com crianças pequenas. Sempre procuramos seguir este protocolo.

Seguimos pela avenida Brasil até pegarmos a Rio-Santos lá em Santa Cruz. Este familiar percurso que percorri durante os seis anos em que trabalhava na Cosigua. Durante os quatro primeiros anos, com despesa subsidiada pela Cia, íamos de carro: eu e os demais chefes, gerentes e assessores. Uma bela empresa para se trabalhar naquele tempo apesar da lonjura: para mim eram 75km de ida e mais 75 de volta para casa. Alie-se a isto ao fato de estar cursando uma Universidade no bairro do Flamengo. Isso dava aproximadamente 200km percorridos diariamente. Muitos motoristas de táxi de nossa cidade nem sonham em rodar diariamente esta distância. Mas lá íamos nós.

Quando chegamos na entrada para Itaguai recebemos o sinal do patrulheiro de parar no acostamento. Verificados os documentos nos deu sinal de boa viagem. Seguimos por aquela estrada que ainda guardava lembranças do tempo em que íamos comer em Coroa Grande, um peixinho ou um camarão fresco! Íamos em dois, três carros, sem avisar: sempre tinha algum pescado recém chegado do mar.

Bem, seguia pela estrada em direção ao que foi meu paraíso na terra durante tantos anos. Mais adiante, uma obra no túnel de Mangaratiba nos obrigava a alternância do fluxo entre a única pista de mão dupla do trecho. Nada mais que dois ou três longos minutos. Eles desciam enquanto nós subíamos.

Transposto isso seguimos adiante, tranquilos, até nossa parada no Condomínio do Frade para nossa escala técnica. Todos os procedimentos executados e checados, seguimos em frente até a chegada ao trevo tão esperado. Chegamos à cidade de Paraty.

Entramos pela avenida que dá acesso à cidade histórica. Contornamos pelo lado direito que apesar de mais longo nos dava o retrato atual de como estavam as coisas e o movimento na cidade pois passava pelo cais e pelas principais igrejas. Atravessamos a ponte sobre o rio Perequê-Açú e logo após passar o Hospital da Santa Casa da Misericórdia o muro verde do CCB. Como sempre, portões fechados e a parada obrigatória.

Lá encontramos o velho amigo guarda camping Domingos que nos saudou com aquele seu sorriso enorme e, logo perguntando pela Carolzinha. Abriu o portão e fomos procurar nosso terrenos entre os poucos já disponíveis pois o pessoal buscava sempre aquele recanto para passar as férias e o carnaval que se aproximava. Enfim, encontramos um local que nos agradou. Uma respirada profunda, um alongamento e antes de tudo levar os documentos para nosso registro.

Carolzinha já solta, contei com a ajuda da Ilma para retirar as coisas do carro: primeiro a nossa casa. Montada, era hora de começar a colocar as mobílias e acessórios. Tudo com os olhos na pequenina que já encontrara “amiguinhas” para se distrair.

Depois de tudo montado, o descanso do guerreiro: a cadeira de praia aberta e o corpo estendido ali debaixo daquela frondosa árvore. Naquela tarde nem pensamos em fazer comida. Resolvemos comer uma pizza mesmo num dos restaurantes da cidade. À tarde, ainda fui ao depósito de bebidas e gelo colocar em dia nosso estoque de água mineral e gelo. Essa rotina era repetida a cada três dias.

De noitinha, um rebuliço próximo da portaria e lá fui eu. Descobri que estavam preparando uma excursão ao pontilhão do porto para pegar siris. Ou o que viesse. Me alistei no time e lá fomos nós: anzóis, puçás, e vasilhas para colocar o que o mar nos permitisse.

Muita bagunça, pouco peixe. Mas conseguimos trazer o que seria a desculpa para tomar uma cervejinha e jogar conversa fora. Tudo bem. Afinal eram tempos de férias.

No outro dia, caminhada cedo para comprar o pão-nosso-de-cada-dia naquela conhecida padaria que existia num dos casarões da cidade histórica. Presunto e queijo além de uma barrinha de manteiga vieram juntos. Preparei o café que com seu perfume fez Ilma acordar. Carolzinha dormia um sono solto por conta de seu agitado dia anterior. Tomamos nosso café enquanto Ilma procurou ajeitar as coisas que lhe cabiam.

Depois de roupa lavada e estendida em nosso pequeno varal portátil, ela acordou Carol para seu leitinho e biscoitos. Depois foram caminhar na praia, tomar um banho de mar. E eu, direto para o Mercado de Peixes? Não, naquele dia resolvi ir até o pontilhão ver se conseguia comprar camarões direto dos pescadores. Não conseguia pois os atravessadores não permitiam isso. Ali era região deles. Voltei para o Mercado. Lá encontrei belos robalos que eu tanto amo no tamanho adequado. Comprei um maiorzinho e com o saco nas mãos passei no mercadinho ao lado: frutas, legumes e verduras que chegavam diariamente ora do Rio, ora de São Paulo. Compras feitas, rumei de volta pra casa.

Deixei as compras nos seus lugares: o que era de gelo, na nossa geladeirinha; o que era de ficar fora, em cestinhas que minha mulher havia montado com a ajuda de cordões de nylon. O peixe e os apretrechos direto para a bancadinha de limpeza.

Ali, toda sorte de assunto era bem vindo. Mas quase sempre só homens cuidando da limpeza dos peixes e camarões. Minha tarefa pronta, levei o peixe para nossa geladeirinha e caminhei para a duchinha para tirar alguma escama que ainda desejasse se esconder agarradinha em meu corpo. Caminhei até a praia (em frente) onde um mergulho me refez do calor que fazia do lado de fora das águas. Uma brincadeirinha com Carol e a volta para preparar o almoço.

De tarde era hora de passear pelo comércio. Invariavelmente as compras: uma camiseta, um brinquedinho para Carol, coisinhas para a mulher e volta para o camping.

Naquela tarde havia comprado uma panelinha de barro, que são produzidas em Guarapari e agora vendidas em muitos lugares. Depois de ter feito a "cura" de acordo com as instruções das fabricantes, coloquei ali as postas do robalo. Um dente de alho devidamente imprensado com a lâmina da faca contra a tábua de peixe, uma pequena cebola em rodelas, um tomate em cubos, salsinha, cebolinha picadas grosseiramente, um gordo fio de azeite. Fogo brando. Sal verificado quando começou a fervura. Controlando para o peixe não agarrar no fundo fazia como barco em mar arisco: balança a panela de um lado para o outro de vez em quando.

Noutra panelinha, ocupando assim as duas bocas de meu fogão, um arroz branquinho só com sal e alho.

Descanso, janta e novo passeio ao centro histórico para o “footing” noturno: mais lojas, galerias de arte e muita gente na rua. Assim era Paraty naqueles tempos.

E a vida se repetia na estação... Estação das Férias!





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Estação Paraty

É uma leitura singela como a paisagem do balneário. Dividido em capítulos quase sempre com o nome do Estado ou cidade do visitante, o livro poderia ter o título de O Amável Anfitrião, graças à maneira como Sérgio Saraceni tratava os amigos em sua casa.

Editora: Geração Editorial, 1ª Edição - 2006
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domingo, 19 de julho de 2009

Máquina de remoer


Em princípio poderia ser um erro de escrita. Mas não o é. É apenas uma forma de rever momentos vividos. Momentos considerados importantes na vida. Não apenas pelos momentos em si mas por todas as coisas que aconteceram em decorrência.

Caroline tinha apenas um ano e dois meses, se tanto. Um velho Fiat abarrotado de coisas de criança e mais as tralhas normais para um acampamento. Pode parecer meio louco isto mas o acampamento era em lugar adequado. Ali, aquela área, ainda faz parte do outrora charmoso e concorrido Camping Clube do Brasil. A cidade? Paraty (eu prefiro assim às duas outras grafias que o povo usa: Paratii e Parati). Muito mais por representar a fase da Monarquia apesar de gostar muito do povo indígena que a chama de Paratii. Os modernosos a chamam de Parati.

Naquela época não havia esse alvoroço todo em volta da cidade. As coisas ali eram mais singelas e puras e nos deixava mais à vontade para que eu pudesse passar todo o tempo de minhas férias trabalhistas de calção de banho. Apenas e tão somente um calção de banho sobre a pele mais para dourada do que para o branco do resto do ano.

Era quase sempre janeiro ou fevereiro. Eu preferia fevereiro mas nem sempre os chefes assim permitiam.

Carro na estrada, invariavelmente era parado no posto da patrulha rodoviária que existe em Praia Grande. Ou existia. O bagageiro no limite de altura permitido pela legislação e lá dentro, no banco traseiro, dona Ilma cuidava de manter acomodada a pequena Carol. Eu, na direção tinha a companhia de algumas coisas no assoalho do “carona”.

Havíamos, ao longo dos tempos, estabelecido uma “escala” no condomínio do Frade. Ali, o xixi amigo, as esticadas de pernas, a troca de fraldas e um pequeno lanchinho desses de beira de estrada: ora um sandubinha ora um salgadinho quase sempre acompanhado de um refrigerante.

Descanso feito, novamente a estrada até a chegada.

Como já éramos conhecidos, tínhamos a possibilidade de desmontar e montar tudo que fosse necessário. A barraca de quarto, sala e varandinha coberta já era nossa “casa de praia” de todos os verões. Escolhido o lugar, era hora de montar a casa. Ferros de estrutura e lona de cobertura. E, depois de um aprendizado, um sobreteto de plástico servia de proteção extra para o caso de uma chuvarada que às vezes acontecia.

A estas alturas Carolzinha já era a rainha do pedaço: Sempre tinha alguém dos costumeiros campistas que acudiam neste momento pois ela não ficava quieta para que eu e a mãe cuidássemos da casa.

Bem, casa pronta e tudo acomodado, era hora de um bom banho na praia em frente para aplacar o suor do verão e do esforço dispendido.

No primeiro dia quase sempre aproveitávamos o restante da tarde para um “reconhecimento” do local apesar de toda a intimidade que tínhamos com a pequena cidade. Também era hora de nos abastecer de água mineral e gelo. E, se necessário o gás que serviria para aquecer as bundinhas de nossas panelas e a luz de nossas noites. Nos primeiros anos ainda não existia luz elétrica na área de acampamento. Sorte quando poderíamos montar nossa casa próximo a um dos poucos postes de luz das três ruas que faziam os limites da área.

Nas manhãs seguintes, quase uma rotina: ao levantar, era hora de ir buscar o pão quentinho e bem feito que tinha numa padaria bem antiga (vinha de pai para filho já um bom tempo) no que se denominou casario do centro histórico. Lá ia eu apenas de calção e descalço pisando nos pés de moleque que forram as ruas até hoje. Ruas inclinadas para o centro para que a água das marés cheias possam lavar elas após virarem marés vazantes.

Café coado e tomado, era hora de ir buscar o peixe do dia. Sempre, por volta das 10 da manhã chegavam os pescadores. Linguados, Paratis, Badejo, Robalo e Cação fresquinhos, alguns deles ainda se debatendo contra a morte iminente. Colocado num saco lá ia eu com eles para um cantinho que havia uma bancada, uma torneira de água e um latão de lixo onde depositávamos as vísceras e as escamas. Ali, calmamente limpava meu peixinho ou meus camarões. Todos limpos, voltava para minha casinha de verão. Arrumava-os em sacos plásticos separando as porções do almoço e da janta na “geladeira” (é, era geladeira mesmo porque o gelo era quem mantinha as coisas frias de maneira mais adequada possível.

Um pequeno duas bocas já estava ligado à uma pequena botija de gás sobre uma mesinha própria. O tempo nos ensinou a “montar” as tralhas de forma a ter tudo em ordem como permitir um fácil desmonte e guarda até a próxima viagem.

Não haviam excentricidades. A comida era trivial, caseira e simples pois os utensílios possíveis não nos permitia alçar voos mais sutis. Mas sempre havia frigideira, caçarolas necessárias ao arroz nosso de cada dia e uma pequena panela de pressão para o feijão amigo. Também era necessário, nos primeiros tempos preparar as papinhas da Carol apesar das ajudas importantes e providenciais da Nestlé.

Assim um peixinho frito no fubá ou ensopadinho com tomates e cebolas não em brunoise como agora sei fazer, mas gostoso como comia na casa de Dona Diva durante todos os meus anos de solteiro. E até hoje, pois ela adora um peixinho frito.

Era uma loucura fazermos fritura numa casa de pano. Mas fazíamos. Cuidávamos sempre de fechar a parte social da casa e cozinhávamos na varandinha coberta.

Sentávamos ao ar livre para comermos nossa comidinha. Tudo arrumadinho, com direito a saladinha de folhas verdes e vermelhos tomates regados ao azeite que sempre pudemos ter.

Depois, colocávamos tudo que era para lavar em uma bacia plástica e o escalado do dia ia para a área de lavagem de louças carregando também a esponja, o bombril e o detergente. Panelas brilhosas e o resto limpinho era hora de secar e guardar para a próxima refeição. E isto se repetia, alternando os componentes por todos os dias das férias.

De manhã, Ilma levava a Carol para um banho de praia. De tardinha, quando o sol já ia pra cama era minha vez de levá-la para passear na areia da praia.

E assim fizemos por mais de vinte dos anos de nossa vida até que Paraty virou “cidade grande”, cheia de eventos internacionais e ela se transformou. Nossas vidas também...


Aprenda gastronomia através da leitura de livros. Click e veja a minha seleção.




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Máquina de remoer


Em princípio poderia ser um erro de escrita. Mas não o é. É apenas uma forma de rever momentos vividos. Momentos considerados importantes na vida. Não apenas pelos momentos em si mas por todas as coisas que aconteceram em decorrência.

Caroline tinha apenas um ano e dois meses, se tanto. Um velho Fiat abarrotado de coisas de criança e mais as tralhas normais para um acampamento. Pode parecer meio louco isto mas o acampamento era em lugar adequado. Ali, aquela área, ainda faz parte do outrora charmoso e concorrido Camping Clube do Brasil. A cidade? Paraty (eu prefiro assim às duas outras grafias que o povo usa: Paratii e Parati). Muito mais por representar a fase da Monarquia apesar de gostar muito do povo indígena que a chama de Paratii. Os modernosos a chamam de Parati.

Naquela época não havia esse alvoroço todo em volta da cidade. As coisas ali eram mais singelas e puras e nos deixava mais à vontade para que eu pudesse passar todo o tempo de minhas férias trabalhistas de calção de banho. Apenas e tão somente um calção de banho sobre a pele mais para dourada do que para o branco do resto do ano.

Era quase sempre janeiro ou fevereiro. Eu preferia fevereiro mas nem sempre os chefes assim permitiam.

Carro na estrada, invariavelmente era parado no posto da patrulha rodoviária que existe em Praia Grande. Ou existia. O bagageiro no limite de altura permitido pela legislação e lá dentro, no banco traseiro, dona Ilma cuidava de manter acomodada a pequena Carol. Eu, na direção tinha a companhia de algumas coisas no assoalho do “carona”.

Havíamos, ao longo dos tempos, estabelecido uma “escala” no condomínio do Frade. Ali, o xixi amigo, as esticadas de pernas, a troca de fraldas e um pequeno lanchinho desses de beira de estrada: ora um sandubinha ora um salgadinho quase sempre acompanhado de um refrigerante.

Descanso feito, novamente a estrada até a chegada.

Como já éramos conhecidos, tínhamos a possibilidade de desmontar e montar tudo que fosse necessário. A barraca de quarto, sala e varandinha coberta já era nossa “casa de praia” de todos os verões. Escolhido o lugar, era hora de montar a casa. Ferros de estrutura e lona de cobertura. E, depois de um aprendizado, um sobreteto de plástico servia de proteção extra para o caso de uma chuvarada que às vezes acontecia.

A estas alturas Carolzinha já era a rainha do pedaço: Sempre tinha alguém dos costumeiros campistas que acudiam neste momento pois ela não ficava quieta para que eu e a mãe cuidássemos da casa.

Bem, casa pronta e tudo acomodado, era hora de um bom banho na praia em frente para aplacar o suor do verão e do esforço dispendido.

No primeiro dia quase sempre aproveitávamos o restante da tarde para um “reconhecimento” do local apesar de toda a intimidade que tínhamos com a pequena cidade. Também era hora de nos abastecer de água mineral e gelo. E, se necessário o gás que serviria para aquecer as bundinhas de nossas panelas e a luz de nossas noites. Nos primeiros anos ainda não existia luz elétrica na área de acampamento. Sorte quando poderíamos montar nossa casa próximo a um dos poucos postes de luz das três ruas que faziam os limites da área.

Nas manhãs seguintes, quase uma rotina: ao levantar, era hora de ir buscar o pão quentinho e bem feito que tinha numa padaria bem antiga (vinha de pai para filho já um bom tempo) no que se denominou casario do centro histórico. Lá ia eu apenas de calção e descalço pisando nos pés de moleque que forram as ruas até hoje. Ruas inclinadas para o centro para que a água das marés cheias possam lavar elas após virarem marés vazantes.

Café coado e tomado, era hora de ir buscar o peixe do dia. Sempre, por volta das 10 da manhã chegavam os pescadores. Linguados, Paratis, Badejo, Robalo e Cação fresquinhos, alguns deles ainda se debatendo contra a morte iminente. Colocado num saco lá ia eu com eles para um cantinho que havia uma bancada, uma torneira de água e um latão de lixo onde depositávamos as vísceras e as escamas. Ali, calmamente limpava meu peixinho ou meus camarões. Todos limpos, voltava para minha casinha de verão. Arrumava-os em sacos plásticos separando as porções do almoço e da janta na “geladeira” (é, era geladeira mesmo porque o gelo era quem mantinha as coisas frias de maneira mais adequada possível.

Um pequeno duas bocas já estava ligado à uma pequena botija de gás sobre uma mesinha própria. O tempo nos ensinou a “montar” as tralhas de forma a ter tudo em ordem como permitir um fácil desmonte e guarda até a próxima viagem.

Não haviam excentricidades. A comida era trivial, caseira e simples pois os utensílios possíveis não nos permitia alçar voos mais sutis. Mas sempre havia frigideira, caçarolas necessárias ao arroz nosso de cada dia e uma pequena panela de pressão para o feijão amigo. Também era necessário, nos primeiros tempos preparar as papinhas da Carol apesar das ajudas importantes e providenciais da Nestlé.

Assim um peixinho frito no fubá ou ensopadinho com tomates e cebolas não em brunoise como agora sei fazer, mas gostoso como comia na casa de Dona Diva durante todos os meus anos de solteiro. E até hoje, pois ela adora um peixinho frito.

Era uma loucura fazermos fritura numa casa de pano. Mas fazíamos. Cuidávamos sempre de fechar a parte social da casa e cozinhávamos na varandinha coberta.

Sentávamos ao ar livre para comermos nossa comidinha. Tudo arrumadinho, com direito a saladinha de folhas verdes e vermelhos tomates regados ao azeite que sempre pudemos ter.

Depois, colocávamos tudo que era para lavar em uma bacia plástica e o escalado do dia ia para a área de lavagem de louças carregando também a esponja, o bombril e o detergente. Panelas brilhosas e o resto limpinho era hora de secar e guardar para a próxima refeição. E isto se repetia, alternando os componentes por todos os dias das férias.

De manhã, Ilma levava a Carol para um banho de praia. De tardinha, quando o sol já ia pra cama era minha vez de levá-la para passear na areia da praia.

E assim fizemos por mais de vinte dos anos de nossa vida até que Paraty virou “cidade grande”, cheia de eventos internacionais e ela se transformou. Nossas vidas também...


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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Viajando por cozinhas


Hoje cedo, passeando por alguns blogs em minha rotina diária deparei com um comentário feito por uma cozinheira sobre acontecimentos em seu dia de trabalho.

Isso poderia ter passado em branco mas isso me rendeu lembranças de cozinhas por onde passei.

Na primeira delas um belo tombo numa escada: era meu primeiro dia, minha primeira vez numa cozinha pra valer. Havia conseguido um estágio-relâmpago. Cedo chegara com minha mochila recheada: meu novo jaleco/dolman recém comprado (do jeito que imaginara nos tempos do curso), minhas melhores facas (até hoje uso as da Mundial por ser as melhores de Brasil e uma das melhores do mundo) devidamente embainhadas com filme de pvc, minha inseparável bandana, minha escovinha de unhas e algumas outras parafernálias que todo cozinheiro gosta de carregar para onde quer que vá.

Me apresentei ao “chefe-do-dia”. Boa gente, foi logo me apresentando ao pessoal daquele horário. Depois me orientou sobre os lugares de troca de roupa e guarda da mochila.

Depois de pronto para o trabalho comecei a acompanhar uma funcionária na arrumação da pequena e espremida praça de trabalho.

Tudo corria como esperado: aprendendo, ouvindo, vendo e fazendo poucas coisas até que surgiu a ordem:

- vá la em cima, na câmara fria e desça o que vai ser usado. João está lá e ele vai te passando as coisas.

Lá em cima, depois da subida por uma estreita escada de aço (tipo piso de ônibus antigo) cheguei à câmara fria. O João já estava colocando as coisas num engradado para facilitar a descida. Num deles entre outras coisas, um pote desses de 2,5 litros de creme de leite fresco, da melhor qualidade.

Ao pegar o engradado para descer, achei que o peso era maior do que eu pudesse descer a escada em segurança. Mesmo eu falando o João disse que não que era mole...

Equilibrei o melhor que pude e comecei a descida... dois degraus abaixo, o escorregão!

Não apenas o barulho trouxe vários deles à escada: o creme de leite havia virado e escorria solenemente pela escada. Eu, que nem um babaca tentando dizer que estava tudo bem, procurava me equilibrar novamente e dizer que “escorreguei”... como se isso fosse o suficiente para resolver todos os problemas decorrentes.

- tudo bem contigo, Carlos? Perguntou a chefe-do-dia.

- comigo sim, mas e essa lambança toda?

- isso não é importante. O mais importante é você. O resto a gente consegue repor.

Posso garantir que foi uma coisa inesperada esse comentário. Vinha de muitos anos de vivências completamente diferentes onde não importava a condição do funcionário. O patrimônio da empresa era algo que não poderia ser afetada pelos erros dos funcionários.

Recompus-me do melhor jeito possível. Nem deixaram que eu pudesse colaborar ou fazer a limpeza. Outros funcionários foram destacados para o trabalho.

O dia foi passando e, depois do almoço servido, naturalmente passamos por um período de aparente tranquilidade. O chefe veio me perguntar como tinha acontecido. Depois de lhe explicar ele me deu como conselho a recusa de fazer coisas que eu possa colocar qualquer funcionário em risco de acidente. Novamente fui surpreendido. Mas me pareceu sincero seu conselho e resolvi guardar como uma preciosidade para o resto de minha vida.

O dia terminou sem mais outras novidades. Até rimos muito na hora em que me despedia do pessoal ao final do dia de trabalho.


Indicação de livros para você saber mais!


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Hoje cedo, passeando por alguns blogs em minha rotina diária deparei com um comentário feito por uma cozinheira sobre acontecimentos em seu dia de trabalho.

Isso poderia ter passado em branco mas isso me rendeu lembranças de cozinhas por onde passei.

Na primeira delas um belo tombo numa escada: era meu primeiro dia, minha primeira vez numa cozinha pra valer. Havia conseguido um estágio-relâmpago. Cedo chegara com minha mochila recheada: meu novo jaleco/dolman recém comprado (do jeito que imaginara nos tempos do curso), minhas melhores facas (até hoje uso as da Mundial por ser as melhores de Brasil e uma das melhores do mundo) devidamente embainhadas com filme de pvc, minha inseparável bandana, minha escovinha de unhas e algumas outras parafernálias que todo cozinheiro gosta de carregar para onde quer que vá.

Me apresentei ao “chefe-do-dia”. Boa gente, foi logo me apresentando ao pessoal daquele horário. Depois me orientou sobre os lugares de troca de roupa e guarda da mochila.

Depois de pronto para o trabalho comecei a acompanhar uma funcionária na arrumação da pequena e espremida praça de trabalho.

Tudo corria como esperado: aprendendo, ouvindo, vendo e fazendo poucas coisas até que surgiu a ordem:

- vá la em cima, na câmara fria e desça o que vai ser usado. João está lá e ele vai te passando as coisas.

Lá em cima, depois da subida por uma estreita escada de aço (tipo piso de ônibus antigo) cheguei à câmara fria. O João já estava colocando as coisas num engradado para facilitar a descida. Num deles entre outras coisas, um pote desses de 2,5 litros de creme de leite fresco, da melhor qualidade.

Ao pegar o engradado para descer, achei que o peso era maior do que eu pudesse descer a escada em segurança. Mesmo eu falando o João disse que não que era mole...

Equilibrei o melhor que pude e comecei a descida... dois degraus abaixo, o escorregão!

Não apenas o barulho trouxe vários deles à escada: o creme de leite havia virado e escorria solenemente pela escada. Eu, que nem um babaca tentando dizer que estava tudo bem, procurava me equilibrar novamente e dizer que “escorreguei”... como se isso fosse o suficiente para resolver todos os problemas decorrentes.

- tudo bem contigo, Carlos? Perguntou a chefe-do-dia.

- comigo sim, mas e essa lambança toda?

- isso não é importante. O mais importante é você. O resto a gente consegue repor.

Posso garantir que foi uma coisa inesperada esse comentário. Vinha de muitos anos de vivências completamente diferentes onde não importava a condição do funcionário. O patrimônio da empresa era algo que não poderia ser afetada pelos erros dos funcionários.

Recompus-me do melhor jeito possível. Nem deixaram que eu pudesse colaborar ou fazer a limpeza. Outros funcionários foram destacados para o trabalho.

O dia foi passando e, depois do almoço servido, naturalmente passamos por um período de aparente tranquilidade. O chefe veio me perguntar como tinha acontecido. Depois de lhe explicar ele me deu como conselho a recusa de fazer coisas que eu possa colocar qualquer funcionário em risco de acidente. Novamente fui surpreendido. Mas me pareceu sincero seu conselho e resolvi guardar como uma preciosidade para o resto de minha vida.

O dia terminou sem mais outras novidades. Até rimos muito na hora em que me despedia do pessoal ao final do dia de trabalho.


Indicação de livros para você saber mais!


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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pastéis de Belém


A semana anterior tinha sido de muita agitação: ir até a agência que montou o roteiro, colocar a documentação em ordem e, por fim, estar com os bilhetes de passagem prontos e devidamente acomodados em uma pasta com todo o resto. Lá, indicava embarque no voo TP0178 com destino à Lisboa.

Tinha sido necessário encontrar uma passagem mais em conta para poder sobrar mais dinheiro para aproveitar as delícias da cozinha portuguesa. Assim, optamos pela escala em Brasília. Chegaríamos pela hora do almoço e sairíamos por volta das cinco horas. Isto era tempo suficiente para conhecer “ao vivo” um desejo: o La Palma, um mercadinho cheio de coisas frescas e diferentes. Considerado por muitos como o “paraiso dos gourmets”, é comandado pelo Rogério, a quem havia conhecido apenas virtualmente pelas suas participações no blog da Roberta Sudbrack.

Resolvemos – eu e a Véra – que iríamos até lá, mas que eu não poderia me identificar. Era a brincadeira que gostaria de fazer e deixar que meus olhos comandassem a visita.

Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse até lá, na 402 Norte.

Profusão de produtos frescos cuidadosamente manipulados por mãos carinhosas: laranja Bahia estava escrito num pequeno cartaz indicativo; noutro, caquis acomodados sobre papel seda apresentavam uma brilhante cor demonstrando terem pouco tempo de colhidos, abiu, tomates salada, quiabos, enfim, uma profusão natural de frutas legumes e verduras.

O tempo passava e nós estávamos preocupados com o horário do voo. Deixamos o Rogério e sua equipe formada não só de pessoas mas também de grandes maravilhas e voltamos ao aeroporto.

Fomos acomodados em nossas poltronas e rumamos para a transformação de um dos meus sonhos antes que ele se perdesse ao vento.

A viagem era longa: eu ainda não havia experimentado tanto tempo assim num avião. Mas fomos: o livro O Abridor de Latas estava à mão para que eu o degustasse durante a viagem.

Depois de acalmados os serviços iniciais, abri meu livro. E assim foi até ser servida a janta. Depois o jantar e um soninho básico até acordar chegando lá, do outro lado do Atlântico.

Desembaraçadas as malas, embarcamos num táxi dirigido por um lusitanos de enormes bigodes. Nosso pedido abriu-lhe um sorriso maravilhoso:

- “Brasucas”?!

- Sim, ó pá! Retrucamos tentando iniciar uma alegre conversa.

- Demos a direção do hotel e ele aproveitou para saber de nossas intenções na terrinha.

- Bem, viemos transformar um sonho em realidade: conhecer a aldeia onde nosso avô materno havia nascido e passado parte de sua infância, depois, passar por Fátima para conhecer o santuário (eu) e revê-lo (Véra). Disse-lhe, também, que apesar de espírita gostava de entrar em igrejas sempre que chego a uma nova cidade como aprendizado da cultura daquele lugar.

- Muito bom. Deixarei com vocês meu cartão para, se necessário me convidares para ajudá-los nesta “viagem”.

E assim ficamos o trejeto todo falando de nosso vô Chico que marcou muito nossa infância, pelo seu carinho meio “duro” mas com tantos ensinamentos que nos deixou como legado de nossas vidas juntas. Apesar de ainda hoje estar presente pelo que nos deixou...

Arrumados em nosso quarto começamos pela primeira missão: comer pastéis de Belém. E para isso, rumamos para Belém, porque os legítimos, só lá encontraríamos.

Lá chegamos e encontramos um enorme burburinho à porta: abrimos caminho entre a multidão que se aglomerava até que encontramos uma pequena mesinha que nos acomodou.

Pedido feito não demorou a chegar.

- o que beber, senhor? Perguntou o atendente.

- Nada, senhor: queremos apenas sentir todos os sabores e texturas dessa maravilha!

E assim, ficamos os dois sentindo a textura do creme de leite e dos ovos nunca antes saboreado por por por mim. O doce perfume deixado pela fava de baunilha denotava o carinho e cuidado com esse creme. Em volta, uma massa folhada escoltava o creme, levemente queimado, estava muito crocante sem ser engordurada como muitas que já consumimos nessa imitação deles. Totalmente assados, passou das espectativas.

E, como saber sua receita? Impossível: esse segredo é guardado a sete chaves e do conhecimento de apenas dois funcionários da casa.

Mas, a pedido de uma amiga, consegui encontrar uma receita que guardei durante algum tempo, colhida num local carioca de muitos anos de tradição portuguesa desde a sua origem nos tempos imperiais.

Prepare o creme assim: Numa vasilha de preparar doces, coloque 18 gemas de ovos (de galinha caipira legítima – das criadas em quintal), 18 colheres de sopa de açúcar refinado e por fim o melhor creme de leite que o seu dinheiro puder comprar. Leve ao fogo e vá mexendo sem parar até ferver, em fogo médio/baixo. Retire do fogo, coloque em uma outra vasilha, mexa em banho Maria gelado (coloque pedras de gelo em uma tigela maior e coloque a com creme sobre o gelo) até que esfrie. Depois de frio, leve à geladeira até esta calda ficar cremosa.

Enquanto isso, Prepare a massa folhada conforme a sua receita preferida ou, compre uma massa de excelente qualidade.

Enrole a massa, formando um rolo, em grossura que permita forrar o fundo e a lateral de uma forminha de empada. Corte o rolo de massa folhada em discos de aproximadamente 1,5/2,0cm de altura. Deite o disco sobre o fundo da forminha e, com a ajuda dos dedos, modele-o de forma a formar uma forma para o creme.

Acenda o forno em temperatura máxima por aproximadamente 10 minutos.

Coloque o creme gelado de forma a chegar até ¾ da altura da forminha de massa. Coloque em um tabuleiro e leve a assar até que se forme uma casquinha bem dourada em cima.

Sirva morninho...

E assim, depois de comermos uma meia duzia deles, cada um, voltamos ao hotel...


Você pode harmonizar com um Don Laurindo Vinho Licoroso



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Pastéis de Belém


A semana anterior tinha sido de muita agitação: ir até a agência que montou o roteiro, colocar a documentação em ordem e, por fim, estar com os bilhetes de passagem prontos e devidamente acomodados em uma pasta com todo o resto. Lá, indicava embarque no voo TP0178 com destino à Lisboa.

Tinha sido necessário encontrar uma passagem mais em conta para poder sobrar mais dinheiro para aproveitar as delícias da cozinha portuguesa. Assim, optamos pela escala em Brasília. Chegaríamos pela hora do almoço e sairíamos por volta das cinco horas. Isto era tempo suficiente para conhecer “ao vivo” um desejo: o La Palma, um mercadinho cheio de coisas frescas e diferentes. Considerado por muitos como o “paraiso dos gourmets”, é comandado pelo Rogério, a quem havia conhecido apenas virtualmente pelas suas participações no blog da Roberta Sudbrack.

Resolvemos – eu e a Véra – que iríamos até lá, mas que eu não poderia me identificar. Era a brincadeira que gostaria de fazer e deixar que meus olhos comandassem a visita.

Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse até lá, na 402 Norte.

Profusão de produtos frescos cuidadosamente manipulados por mãos carinhosas: laranja Bahia estava escrito num pequeno cartaz indicativo; noutro, caquis acomodados sobre papel seda apresentavam uma brilhante cor demonstrando terem pouco tempo de colhidos, abiu, tomates salada, quiabos, enfim, uma profusão natural de frutas legumes e verduras.

O tempo passava e nós estávamos preocupados com o horário do voo. Deixamos o Rogério e sua equipe formada não só de pessoas mas também de grandes maravilhas e voltamos ao aeroporto.

Fomos acomodados em nossas poltronas e rumamos para a transformação de um dos meus sonhos antes que ele se perdesse ao vento.

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- Sim, ó pá! Retrucamos tentando iniciar uma alegre conversa.

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- Muito bom. Deixarei com vocês meu cartão para, se necessário me convidares para ajudá-los nesta “viagem”.

E assim ficamos o trejeto todo falando de nosso vô Chico que marcou muito nossa infância, pelo seu carinho meio “duro” mas com tantos ensinamentos que nos deixou como legado de nossas vidas juntas. Apesar de ainda hoje estar presente pelo que nos deixou...

Arrumados em nosso quarto começamos pela primeira missão: comer pastéis de Belém. E para isso, rumamos para Belém, porque os legítimos, só lá encontraríamos.

Lá chegamos e encontramos um enorme burburinho à porta: abrimos caminho entre a multidão que se aglomerava até que encontramos uma pequena mesinha que nos acomodou.

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- o que beber, senhor? Perguntou o atendente.

- Nada, senhor: queremos apenas sentir todos os sabores e texturas dessa maravilha!

E assim, ficamos os dois sentindo a textura do creme de leite e dos ovos nunca antes saboreado por por por mim. O doce perfume deixado pela fava de baunilha denotava o carinho e cuidado com esse creme. Em volta, uma massa folhada escoltava o creme, levemente queimado, estava muito crocante sem ser engordurada como muitas que já consumimos nessa imitação deles. Totalmente assados, passou das espectativas.

E, como saber sua receita? Impossível: esse segredo é guardado a sete chaves e do conhecimento de apenas dois funcionários da casa.

Mas, a pedido de uma amiga, consegui encontrar uma receita que guardei durante algum tempo, colhida num local carioca de muitos anos de tradição portuguesa desde a sua origem nos tempos imperiais.

Prepare o creme assim: Numa vasilha de preparar doces, coloque 18 gemas de ovos (de galinha caipira legítima – das criadas em quintal), 18 colheres de sopa de açúcar refinado e por fim o melhor creme de leite que o seu dinheiro puder comprar. Leve ao fogo e vá mexendo sem parar até ferver, em fogo médio/baixo. Retire do fogo, coloque em uma outra vasilha, mexa em banho Maria gelado (coloque pedras de gelo em uma tigela maior e coloque a com creme sobre o gelo) até que esfrie. Depois de frio, leve à geladeira até esta calda ficar cremosa.

Enquanto isso, Prepare a massa folhada conforme a sua receita preferida ou, compre uma massa de excelente qualidade.

Enrole a massa, formando um rolo, em grossura que permita forrar o fundo e a lateral de uma forminha de empada. Corte o rolo de massa folhada em discos de aproximadamente 1,5/2,0cm de altura. Deite o disco sobre o fundo da forminha e, com a ajuda dos dedos, modele-o de forma a formar uma forma para o creme.

Acenda o forno em temperatura máxima por aproximadamente 10 minutos.

Coloque o creme gelado de forma a chegar até ¾ da altura da forminha de massa. Coloque em um tabuleiro e leve a assar até que se forme uma casquinha bem dourada em cima.

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E assim, depois de comermos uma meia duzia deles, cada um, voltamos ao hotel...


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