segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pastéis de Belém


A semana anterior tinha sido de muita agitação: ir até a agência que montou o roteiro, colocar a documentação em ordem e, por fim, estar com os bilhetes de passagem prontos e devidamente acomodados em uma pasta com todo o resto. Lá, indicava embarque no voo TP0178 com destino à Lisboa.

Tinha sido necessário encontrar uma passagem mais em conta para poder sobrar mais dinheiro para aproveitar as delícias da cozinha portuguesa. Assim, optamos pela escala em Brasília. Chegaríamos pela hora do almoço e sairíamos por volta das cinco horas. Isto era tempo suficiente para conhecer “ao vivo” um desejo: o La Palma, um mercadinho cheio de coisas frescas e diferentes. Considerado por muitos como o “paraiso dos gourmets”, é comandado pelo Rogério, a quem havia conhecido apenas virtualmente pelas suas participações no blog da Roberta Sudbrack.

Resolvemos – eu e a Véra – que iríamos até lá, mas que eu não poderia me identificar. Era a brincadeira que gostaria de fazer e deixar que meus olhos comandassem a visita.

Pegamos um táxi e pedimos que nos levasse até lá, na 402 Norte.

Profusão de produtos frescos cuidadosamente manipulados por mãos carinhosas: laranja Bahia estava escrito num pequeno cartaz indicativo; noutro, caquis acomodados sobre papel seda apresentavam uma brilhante cor demonstrando terem pouco tempo de colhidos, abiu, tomates salada, quiabos, enfim, uma profusão natural de frutas legumes e verduras.

O tempo passava e nós estávamos preocupados com o horário do voo. Deixamos o Rogério e sua equipe formada não só de pessoas mas também de grandes maravilhas e voltamos ao aeroporto.

Fomos acomodados em nossas poltronas e rumamos para a transformação de um dos meus sonhos antes que ele se perdesse ao vento.

A viagem era longa: eu ainda não havia experimentado tanto tempo assim num avião. Mas fomos: o livro O Abridor de Latas estava à mão para que eu o degustasse durante a viagem.

Depois de acalmados os serviços iniciais, abri meu livro. E assim foi até ser servida a janta. Depois o jantar e um soninho básico até acordar chegando lá, do outro lado do Atlântico.

Desembaraçadas as malas, embarcamos num táxi dirigido por um lusitanos de enormes bigodes. Nosso pedido abriu-lhe um sorriso maravilhoso:

- “Brasucas”?!

- Sim, ó pá! Retrucamos tentando iniciar uma alegre conversa.

- Demos a direção do hotel e ele aproveitou para saber de nossas intenções na terrinha.

- Bem, viemos transformar um sonho em realidade: conhecer a aldeia onde nosso avô materno havia nascido e passado parte de sua infância, depois, passar por Fátima para conhecer o santuário (eu) e revê-lo (Véra). Disse-lhe, também, que apesar de espírita gostava de entrar em igrejas sempre que chego a uma nova cidade como aprendizado da cultura daquele lugar.

- Muito bom. Deixarei com vocês meu cartão para, se necessário me convidares para ajudá-los nesta “viagem”.

E assim ficamos o trejeto todo falando de nosso vô Chico que marcou muito nossa infância, pelo seu carinho meio “duro” mas com tantos ensinamentos que nos deixou como legado de nossas vidas juntas. Apesar de ainda hoje estar presente pelo que nos deixou...

Arrumados em nosso quarto começamos pela primeira missão: comer pastéis de Belém. E para isso, rumamos para Belém, porque os legítimos, só lá encontraríamos.

Lá chegamos e encontramos um enorme burburinho à porta: abrimos caminho entre a multidão que se aglomerava até que encontramos uma pequena mesinha que nos acomodou.

Pedido feito não demorou a chegar.

- o que beber, senhor? Perguntou o atendente.

- Nada, senhor: queremos apenas sentir todos os sabores e texturas dessa maravilha!

E assim, ficamos os dois sentindo a textura do creme de leite e dos ovos nunca antes saboreado por por por mim. O doce perfume deixado pela fava de baunilha denotava o carinho e cuidado com esse creme. Em volta, uma massa folhada escoltava o creme, levemente queimado, estava muito crocante sem ser engordurada como muitas que já consumimos nessa imitação deles. Totalmente assados, passou das espectativas.

E, como saber sua receita? Impossível: esse segredo é guardado a sete chaves e do conhecimento de apenas dois funcionários da casa.

Mas, a pedido de uma amiga, consegui encontrar uma receita que guardei durante algum tempo, colhida num local carioca de muitos anos de tradição portuguesa desde a sua origem nos tempos imperiais.

Prepare o creme assim: Numa vasilha de preparar doces, coloque 18 gemas de ovos (de galinha caipira legítima – das criadas em quintal), 18 colheres de sopa de açúcar refinado e por fim o melhor creme de leite que o seu dinheiro puder comprar. Leve ao fogo e vá mexendo sem parar até ferver, em fogo médio/baixo. Retire do fogo, coloque em uma outra vasilha, mexa em banho Maria gelado (coloque pedras de gelo em uma tigela maior e coloque a com creme sobre o gelo) até que esfrie. Depois de frio, leve à geladeira até esta calda ficar cremosa.

Enquanto isso, Prepare a massa folhada conforme a sua receita preferida ou, compre uma massa de excelente qualidade.

Enrole a massa, formando um rolo, em grossura que permita forrar o fundo e a lateral de uma forminha de empada. Corte o rolo de massa folhada em discos de aproximadamente 1,5/2,0cm de altura. Deite o disco sobre o fundo da forminha e, com a ajuda dos dedos, modele-o de forma a formar uma forma para o creme.

Acenda o forno em temperatura máxima por aproximadamente 10 minutos.

Coloque o creme gelado de forma a chegar até ¾ da altura da forminha de massa. Coloque em um tabuleiro e leve a assar até que se forme uma casquinha bem dourada em cima.

Sirva morninho...

E assim, depois de comermos uma meia duzia deles, cada um, voltamos ao hotel...


Você pode harmonizar com um Don Laurindo Vinho Licoroso



F A C I L I D A D E S

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5 comentários:

Pedro Botelho disse...

Olá Carlinhos ,
andas a mexer comigo ...kk
primeiro Pirarucu ,onde trabalho e agora Portugal de onde venho ....rsr
pois então ainda está por lá ou já fostes? porque senão te envio algumas dicas imperdiveis,
abraços
Pedro Rui

Carlos Alberto de Lima disse...

Oi Pedro, não tenho teu email... Click aqui ao lado, no blog, logo acima do banner twitter que temos muita coisa a falar sobre isto.

Um forte abraço.

véra disse...

ah, pastéis em Belém!!!
delíííícia!!!

Priscila Beneducci disse...

Eu já tinha te visitado estes dias, lido sobre seu Pasteis de Belém, entrei no Habibs, vi a promoção e não é que me lembrei justo de você? Não é o original luso seu, mas visulamente lembra, quebra um galho em terras mineiras. Beijao da Pri

Shirley disse...

Que isso, vc foi junto na minha viagem? Narrou meus passos...rs Sim, os pastéis de belém são a oitava maravilha do mundo. Pena que só comi dois... snif. Saudade da terrinha e desta iguaria que não me atrevo a fazer. Mas espero um dia comer dos teus pastéis. Te envio agora uma foto da famosa pastelaria de belém. Se quiser, coloque pra ilustrar teu post. bjs lusos!