segunda-feira, 13 de julho de 2009

Viajando por cozinhas


Hoje cedo, passeando por alguns blogs em minha rotina diária deparei com um comentário feito por uma cozinheira sobre acontecimentos em seu dia de trabalho.

Isso poderia ter passado em branco mas isso me rendeu lembranças de cozinhas por onde passei.

Na primeira delas um belo tombo numa escada: era meu primeiro dia, minha primeira vez numa cozinha pra valer. Havia conseguido um estágio-relâmpago. Cedo chegara com minha mochila recheada: meu novo jaleco/dolman recém comprado (do jeito que imaginara nos tempos do curso), minhas melhores facas (até hoje uso as da Mundial por ser as melhores de Brasil e uma das melhores do mundo) devidamente embainhadas com filme de pvc, minha inseparável bandana, minha escovinha de unhas e algumas outras parafernálias que todo cozinheiro gosta de carregar para onde quer que vá.

Me apresentei ao “chefe-do-dia”. Boa gente, foi logo me apresentando ao pessoal daquele horário. Depois me orientou sobre os lugares de troca de roupa e guarda da mochila.

Depois de pronto para o trabalho comecei a acompanhar uma funcionária na arrumação da pequena e espremida praça de trabalho.

Tudo corria como esperado: aprendendo, ouvindo, vendo e fazendo poucas coisas até que surgiu a ordem:

- vá la em cima, na câmara fria e desça o que vai ser usado. João está lá e ele vai te passando as coisas.

Lá em cima, depois da subida por uma estreita escada de aço (tipo piso de ônibus antigo) cheguei à câmara fria. O João já estava colocando as coisas num engradado para facilitar a descida. Num deles entre outras coisas, um pote desses de 2,5 litros de creme de leite fresco, da melhor qualidade.

Ao pegar o engradado para descer, achei que o peso era maior do que eu pudesse descer a escada em segurança. Mesmo eu falando o João disse que não que era mole...

Equilibrei o melhor que pude e comecei a descida... dois degraus abaixo, o escorregão!

Não apenas o barulho trouxe vários deles à escada: o creme de leite havia virado e escorria solenemente pela escada. Eu, que nem um babaca tentando dizer que estava tudo bem, procurava me equilibrar novamente e dizer que “escorreguei”... como se isso fosse o suficiente para resolver todos os problemas decorrentes.

- tudo bem contigo, Carlos? Perguntou a chefe-do-dia.

- comigo sim, mas e essa lambança toda?

- isso não é importante. O mais importante é você. O resto a gente consegue repor.

Posso garantir que foi uma coisa inesperada esse comentário. Vinha de muitos anos de vivências completamente diferentes onde não importava a condição do funcionário. O patrimônio da empresa era algo que não poderia ser afetada pelos erros dos funcionários.

Recompus-me do melhor jeito possível. Nem deixaram que eu pudesse colaborar ou fazer a limpeza. Outros funcionários foram destacados para o trabalho.

O dia foi passando e, depois do almoço servido, naturalmente passamos por um período de aparente tranquilidade. O chefe veio me perguntar como tinha acontecido. Depois de lhe explicar ele me deu como conselho a recusa de fazer coisas que eu possa colocar qualquer funcionário em risco de acidente. Novamente fui surpreendido. Mas me pareceu sincero seu conselho e resolvi guardar como uma preciosidade para o resto de minha vida.

O dia terminou sem mais outras novidades. Até rimos muito na hora em que me despedia do pessoal ao final do dia de trabalho.


Indicação de livros para você saber mais!


F A C I L I D A D E S

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Um comentário:

Melina F. disse...

Através dos teus textos, os acontecimentos tomam uma forma deliciosa de serem lidos. Fazia tempo que não passava por aqui! Beijo grande.