terça-feira, 22 de setembro de 2009

O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração...


O tempo acabou passando sem que eu pudesse me dar conta. Estive envolvido com as Olimpíadas Escolares que se realizaram em Poços de Caldas. Faz parte do meu trabalho quando chamado pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

Uma experiência que pretendia fosse apenas de esportes acabou misturando comida também. Como não poderia deixar de ser, também havia espaço para comer.

E para minha surpresa, pouca comida mineira. Muita frustração por conta disso.

No hotel, fui até a cozinha conhecer a cozinheira em seu ambiente de trabalho. E ao nosso contato disparei: “quando você vai preparar um frango com ora pro nobis para eu experimentar?” A resposta que veio foi assustadora, melo menos na hora em que meus ouvidos a receberam: aqui é difícil achar ora pro nobis... Só no interior. Eu me perguntei: e, por acaso, Poços de Caldas já é a capital de Minas Gerais? Claro que não. Mas eu entendi: ela queria mesmo era dizer que só nas pequenas cidades onde a tradição faz parte do cotidiano, nas fazendas e sítios. Afinal, Poços já nem é mais tão pequena assim.

E o pão de queijo? Nossa! Se eu disser aqui que não comi um pão de queijo que me fizesse lembrar ele pelo resto da minha vida, vocês podem pensar que estou mentindo. Mas foi verdade!

E os doces tão comuns em TODAS as minhas passagens pelas Gerais? Um doce de abóbora meio sem graça, uma ricota que custei a identificar ser ricota e que sempre estavam separados. Ora, eu podia acreditar que em Minas, o queijo mineiro e os doces não se divorciavam. Um casal de mineiros até poderiam se separar mas o doce com queijo, jamais.

E o leitãozinho à pururuca? Esse, então, deve ter fugido por conta da falada “gripe suína”... Quando muito uma lingüiça, das grossas, fritas ora apenas com cebolas ora com óleo de soja... Meu cérebro insistia em me gozar... você não está em Minas, meu companheiro. Isso aqui está mais para São Paulo do que para Minas.

E eu tinha subido uma serra tão alta que via as casas bem pequeninas lá embaixo, passara o tempo de ir do Rio à Londres na cauda de um cometa para chegar até lá para nada disso acontecer diante de meus olhos.

E os bolos de fubá esperados todas as manhãs na hora do café? Nem café de saco tinha... Nem fogão à lenha... Nem panelas de ferro: só de alumínio!

Mudei de lugares. Perguntei pra gentes do lugar... Nada modificou-se. Só me restou registrar essa aventura por aqui.

Mas, alguma coisa pode salvar essa tristeza: aprendi a fazer um arroz doce que é uma delícia. Não vou ditar receitas. Apenas falar dos “pulos de um gato matreiro que se escondia na cozinha do local destinado ao nosso trabalho. Olhinhos apertados, de pele negra, e um sorriso daqueles que a mão tenta esconder mas que não consegue.

Uma “prova” escondida, quase roubada me encheu o coração de alegria! Minas existe!!! Não acabaram. E ela, meio sem graça me contou que deixa o arroz dormindo numa vasilha de água e que ele é cozido na manhã seguinte apenas com leite e açúcar. No final, depois que sai do fogo baixinho, deita uma cuié de mantega pra modi dá cremosidade. Fica ali, descansando, soltando uma prosa com a vasilha, panela que se preza por um bom tempo antes de ser servido. Inesquecível. Que sabor!

Logo, no meio da prosa, falei do meu desespero em não comer um bolo di mio. Daqueles que são batido nas coxas, com colher de pau e ovos de galinha de quintal. Gema bem amarelinha de tanto comer milho e minhoca.

E não é que ela me surpreendeu? Um dia apareceu na sala onde eu ajudava no trabalho e disse “vem cá na cozinha: tem bolo procê!”.

Largeui tudo e lá fui eu comer o bolo. Ela ria de ver meus olhinhos brilhando que nem de criança. Ainda tinha passado um café preto (pena que coado no papel). O bolo estava uma de-lí-ci-a dessas que só as mãos de uma mineira sabem fazer.

E não é que ela não deixou eu sair de mão abanando? Me deu uma caixinha plástica para eu levar uns pedacinhos pra comer no hotel antes de dormir.

E assim, na estrada chuvosa da volta eu procurava chaminés soltando fumaça para encher meu coração de alegria. Poucas eu posso confessar que vi.

Mas vi outras coisa que ora me preocupavam – a quantidade de terra com plantação de eucalipto – ora me alegravam – numa fazenda, a casa dos colonos tinha uma cerca que demarcava um belo pedaço de terra para eles plantarem. Mas, como nem tudo é alegria, a maioria estava da cor do barro...

Ainda volto pra Minas pra comer as coisas que aprendi a comer por muitos anos nas mesas, como a galinha no barro, que comia num posto de gasolina perto de Belo Horizonte...

Enquanto isto não acontece, estou seguindo as lições do senhor Borges, (do box 17 do Mercado Municipal) para curtir meus canastras que trouxe de lá com o maior carinho e cuidado. E também coalhadas caseiras preparadas pelo pessoal da Leiteira Sete Quedas que já comecei a reproduzir...



F A C I L I D A D E S

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Um comentário:

Fátima Dias disse...

Histórias para aquecer o coração e a alma....como é bom!!!!!!!
Fiquei com uma vontade louca de comer arroz doce..hummmmmmm
Vou fazer no final de semana, e o que é mais legal, não leva leite condensado, coco, nada.... só arroz, leite e açúcar...maravilhoso!!!!
Beijo grande