sábado, 17 de outubro de 2009

Comida de índio


Podemos dizer que a alimentação indígena é natural, pois eles consomem alimentos retirados diretamente da natureza. Desta forma, conseguem obter alimentos isentos de agrotóxicos ou de outros produtos químicos. A alimentação indíge­na é saudável e rica em vitaminas, sais minerais e outros nutrientes. 

Somada a uma intensa atividade física, a alimentação indígena proporciona aos integrantes da tribo uma vida saudável. Logo, podemos observar nas aldeias isoladas (sem contatos com o homem branco), indivíduos for­tes, saudáveis e felizes.
Obesidade, estresse, depressão e outros males encontrados facilmente nas grandes cidades passam longe das tribos.

Numa aldeia indígena, o preparo dos alimentos é de responsabilidade das mulheres. Aos homens, cabe a fun­ção de caçar e pescar. 

Cada grupo tem suas preferências na gastronomia: comidas prediletas e coisas que julgam intragáveis.

Alguns grupos têm na mandioca a base de sua alimentação, outros preferem o milho. Os índios Timbira (de Tocantins e Maranhão) e Nambikwara (de Rondônia) ocupam bastante tempo na coleta de alimentos já disponíveis na mata, e menos tempo em suas plantações. Já os índios Caiapó (de Mato Grosso e Pará) possuem roças complexas, com direito a especialistas dentro da aldeia que analisam o solo e o melhor local para a plantação.

Os Caiapó gostam de comer a carne de caças gordas, como antas e jabutis. Já os índios do Alto Xingu desprezam a carne de "animais de chão" e preferem comer peixes e macacos.

Outros grupos usam diversos insetos e larvas em sua alimentação cotidiana.

Existe uma proposta de divisão dos alimentos consumidos pelos índios em certas categorias: de resguardo, interditos, compensatórios, privativos e sagrados:

Resguardo
Os alimentos de resguardo são aqueles incentivados ou proibidos de serem consumidos durante um período ligado a um rito de passagem. Entre os índios Bororo, do Mato Grosso, as mães que davam à luz não comiam carne de tatu nem de tartaruga, senão seus bebês podiam ficar raquíticos. Entre os Urubu-Kaapor, do Maranhão, as meninas que estão prestes a menstruar pela primeira vez tomam uma sopa de aipim - "para esquentar a vagina" - e apenas podem comer tartaruga-branca, os peixes mandi e aracu, e chibé (farinha seca diluída na água).

Interditos
Os Kaingang, do sul do Brasil, e os Rikbaktsa, do norte do Mato Grosso, não comem tamanduás. Os Kaingang dizem que são gratos ao tamanduá, que ensinou alguns cantos e danças para os índios. Entre outros exemplos: os índios Xikrin (do Pará) não comem o peixe jaú, os Karajá (do Tocantins) não comem tatu, os Tapirapé (do Mato Grosso) não comem preguiça... É comum que os índios comam a carne de macacos, mas há sempre alguma espécie que não é consumida. Geralmente o motivo é - segundo as lendas - que aquela espécie já foi um humano que se transformou em tempos passados.

Recompensatórios
Era habitual entre os índios Bakairi, do Mato Grosso, que os homens ganhassem alimentos de todos da aldeia, antes de partirem para a caça. Entre os índios Krahò, do Tocantins, persiste um costume realizado de tempos em tempos, que fortalece a amizade entre as famílias: todos os homens saem para a mata em busca de um alimento. Quando voltam à aldeia, oferecem esse alimento a uma mulher que não seja sua própria esposa, que retribui a gentileza com uma comida preparada por ela própria. Uma espécie de troca de presentes.

Privativos
Entre os índios Suyá, do Mato Grosso, apenas os homens podem comer os miúdos da anta. Também só os homens, entre os Rikbaktsa, comem a cabeça de macacos e porcos-do-mato.

Sagrados
Os pajés dos índios Marubo, do sudoeste do Amazonas, usam o canto para curar as doenças. Há casos em que esses pajés cantam sobre um pote de mingau, que depois é oferecido ao índio doente. Isso ocorre também entre os índios Baniwa, do norte do Amazonas. Durante a festa Kariana, um rito de passagem feminino, os pajés benzem e jogam fumaça sobre a comida que será consumida pelas meninas; normalmente beiju com molho de pimenta, peixe cozido e uma cabeça de peixe. Entre os índios Wanana, do alto Rio Negro - noroeste amazônico, os pajés benzem também o leite materno que é oferecido às crianças durante a cerimônia de batismo.

Alimento dos espíritos
É comum que esses alimentos reservados aos espíritos visem acalmar possíveis reações raivosas das almas dos animais abatidos. Essa crença é comum a diversos grupos indígenas. Algumas caças exigem melhores cuidados em virtude de sua tradição mágica. O veado, por exemplo, é considerado por várias etnias, como um ser humano encantado, e comer sua carne sem passar pelos rituais determinados, é um risco de praticar antropofagia. O antropólogo Darcy Ribeiro levantou a hipótese, enquanto conviveu com os índios Urubu-Kaapor, que os procedimentos de descarnar os veados abatidos em caçada eram semelhantes aos ritos antropofágicos dos antigos índios Tupi.

Algumas considerações sobre um dos alimentos base da culinária indígena: a Mandioca.

“Depois de arrancar a raiz da mandioca, secavam-na ao fogo ou ralavam-na, ainda fresca, numa prancha de madeira cravejada de pedrinhas pontudas, reduzindo-a a uma farinha alva, empapada, que ia para um recipiente comprido, de palha trançada - tipiti - para escorrer e secar. O que escorre é um veneno mortal, por culpa do ácido cianídrico, que o sol faz desaparecer em dois ou três dias, deixando a manipueira livre de perigo. O resultado é o tucupi, ingrediente essencial de um dos mais típicos pratos da cozinha brasileira, o pato ao tucupi - embora aqui não houvesse patos, na época da colonização.

Alimento pobre, saboroso e facilmente digerível - principalmente quando fresco -, essa farinha não serve para fazer pão, mas é perfeita para a farofa, beijus, pirões, sopas e mingaus.

A gente da terra fazia com ela um mingau grosso, ou comia-a pura mesmo, pegando-a com quatro dedos na vasilha e atirando-a de longe a boca, com tal engenho e arte que não perdia um só farelo.

E os brancos, tentando imitar sujavam o rosto, as ventas e bochechas e barbas.

As mulheres daqui faziam também grandes bolas com a massa de aypi (a mandioca mansa, sem veneno), que espremiam entre as mãos. O caldo cor de leite era colhido em vasilhas de barro e exposto ao sol. O calor condensava e coagulava a beberragem, como coalhada. Cozinhando no fogo é um bom alimento.

O aipim não serve para a farinha, mas assado na brasa torna-se brilhante como a castanha assada ao borralho e o gosto é parecido. Servido com mel silvestre (o mesmo que se fazia com a batata-doce e o cará), resultava em um prato que portugueses e franceses reconheceram como delicioso.”


Principais alimentos
Basicamente do que extraem da terra: frutas (abacate, abacaxi, abajeru, açaí, abiu, ananás, caju, goiaba, pacova), verduras, legumes, raízes (mandioca, cará, batata doce), carne de animais caçados na floresta (capivara, porco-do-mato, macaco etc), peixes, cereais, castanhas, palmitos.

O peixe é consumido com beiju. Com o que sobrar do peixe tal é moqueado para se comer no amanhecer do dia.

Os peixes são distribuídos entre os membros da família. Se for o caso de que haja muito peixe, é necessário que se forneça à comunidade, levando para o centro da aldeia para que todos possam assar e comer.

O peixe é tudo para o povo indígena, sem ele não existe vida na aldeia, não se realiza festas nem se faz trabalho em mutirão. O peixe faz parte da cultura forte e diretamente, por isso tem grande valor para eles.

A carne de caça não serve como consumo do dia-a-dia na aldeia. Somente caça-se para consumo de mulheres menstruadas e na ausência de peixe.



bacalhaucombatata | batata moqueada
Peixe moqueado na bacia em distribuição
num período preparatório de festa Kuarup.
©Makaulaka Mehinako


Os índios também plantam suas roças de favas, arroz, feijão, milho, banana-da-terra, abóbora e melancia.

Pratos típicos
- Tapioca (espécie de pão fino feito com fécula de mandioca)
- Pirão (caldo grosso feito de farinha de mandioca e caldo de peixe).
- Pipoca
- Beiju (espécie de bolo de formato enrolado feito com massa de farinha de mandioca fina)

Os índios paranaenses, coletores de alimentos, tinham o pinhão como um alimento por excelência e acabavam atuando como propagadores das florestas de pinheiros. Para a colheita, os índios botocudos tinham flechas especialmente adaptadas para derrubar as pinhas ainda presas. A tal flecha chamava-se "virola".

Algumas idéias que você mesmo pode fazer:

Peixe com banana verde ralada
Limpa-se o peixe, que em seguida deve ser cortado em pedaços. Coloca-se o peixe em uma panela com água para ferver já com o sal. Enquanto cozinha, rala-se a banana. Quando o peixe estiver cozido, coloca-se a banana ralada aos poucos, mexendo sempre. Deixa-se a banana cozinhando até engrossar o caldo.

Beiju
Umedeça o polvilho com a água, até obter uma farofa bem granulada. Sobre uma frigideira aquecida, passe uma porção dessa farofa por uma peneira. Com o calor do fogo, a farofa será cozida, formando um disco.

Desprenda da frigideira e vire para fritar do outro lado. Coloque o beiju ainda quente em um prato, passe manteiga, enrole e sirva em seguida.

Paçoca com banana
Feita com a mistura de farinha, banana e carne de sol ou charque (carne seca bem salgada) e batida no pilão.

Suco de cupuaçu
Retire a polpa das sementes com a ajuda de uma tesoura. Bata a polpa no liquidificador com água gelada. Se desejar, adoce à gosto.

Beiju com moqueado
100g de goma de mandioca peneirada, 1 peixe pequeno (de preferência, de rio), pimenta a gosto, sal a gosto

Coloque a goma em uma panela e leve a panela ao fogo para fazer o beiju. Asse o peixe para fazer o moqueado misturando-o com bastante pimenta e um pouco de sal (os índios socam o tempero em um pilão). O moqueado é o recheio do beiju.


F A C I L I D A D E S

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4 comentários:

Pedro Botelho disse...

Carlinhos ,
já deixei um recado na festas da Dona maria....
só hoje li ,

já les-teo livr do Camara cascudo?,

indispensável

abraços

Pedro

Célia Rabello disse...

Muito linda sua materia sobre os indios. Até postei no meu blog, moro no MT ao lado da tribo Humitinha, eles são muito gente boa.
Célia Rabelo.

Girl Game You disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Muito boa