domingo, 9 de maio de 2010

Comida de mãe. Ou para a mãe?


Hoje eu acordei cedo. Parece que é a primeira vez que faço isto. Mas não. Desde muito tempo esse dia, apesar dos apelos comerciais que não gosto, procuro dar um pouco do meu tempo pra ela.

Desde muito pequeno – ainda me lembro de algumas coisas – hoje, relembro do carinho que ela sempre me dedicou. Ainda nos tempos da primária escola, num lugar chamado Dona Clara, ali espremidinho entre Madureira e o Largo do Campinho (que hoje é apenas um cruzamento), eu ia à pé todas as manhãs. Caminhada pelas ruas Maria José, Alaíde, Capitão Couto Menezes, Praça do Patriarca e, finalmente a rua Agostinho Barbalho, onde na esquina da travessa Carlos Xavier ficava meu encanto daquelas épocas.

Uma escola simples. Básica mesmo. E por isto mesmo nos dava o básico que nem hoje mais dão nas escolas municipais. Era homenagem ao Cardeal Arcoverde. Lá aprendi, entre outras coisas o respeito à Bandeira Brasileira. Fui porta-bandeira naqueles anos: de manhã tinha a incumbência, juntamente com dois colegas, de hasteá-la enquanto os demais estavam perfilados no páteo interno entoando o Hino Nacional. Lembrança viva do amor à Pátria.

Dessa época me lembro das épocas das frutas maduras no pé. Logo na entrada que a gente usava tinha um pé de manga carlotinha. Era chegar da escola e subir no pé para comer, sentadinho nos galhos dela. Nem tirava o uniforme de calça-curta azul marinho e blusa branca. Claro que quando resolvia descer, já com a barriguinha estufada de tanta manga e já sem fome, a blusa estava cheia de “veias” amarelas.

Quase sempre um esporro monumental, broncas sérias e “castigo”. Acabava privado de alguma coisa que depois das manguinhas já nem tinham mais tanta importância.

Depois de tirar a roupa e tomar um banho era hora de sentar à mesa e comer uma comidinha de mãe. Sempre gostosa. Sempre reconfortante: simples no modo de fazer e complexa de sabores dos próprios alimentos. Até hoje seu feijão é imbatível.

Depois vinha a época das uvas, das carambolas, das goiabas, dos abacates... sem falar nos ovos de galinhas criadas ali mesmo num galinheiro no fundo do quintal. Sem esquecer de nossa primeira chocadeira elétrica: uma caixa de sapatos e a lâmpada de um quarto que tínhamos no quintal. Ali os ovos eram colocados até que os pintinhos começassem a bicar a casca para sair. Sempre com a ajuda da Maria Baiana nossos dedinhos de criança ajudavam eles. Ainda os deixávamos na caixa para que a luz aquecesse suas pequenas penas e eles pudessem ficar bonitinhos.

Hoje cedo todas essas coisas me vieram à cabeça. Também acordei pensando na música que cantávamos na escola e em casa no Dia das Mães, composta por David Nasser e Herivelto Martins:

Ela é a dona de tudo
Ela é a rainha do lar
Ela vale mais para mim
Que o céu, que a terra que o mar

Ela é a palavra mais linda
Que um dia o poeta escreveu
Ela é o tesouro que o pobre
Das mãos do senhor recebeu

Mamãe, mamãe, mamãe
Tu és a razão dos meus dias
Tu és feita de amor de esperanças

Ai, ai, ai mamãe
Eu cresci o caminho perdi
Volto a ti e me sinto criança

Mamãe, mamãe, mamãe
Eu te lembro o chinelo na mão
O avental todo sujo de ovo
Se eu pudesse eu queria outra vez mamãe
Começar tudo de novo

Mas hoje era preciso manter as lágrimas escondidas dela. De alguma forma nos combinamos (eu e as irmãs)nos juntarmos lá e fazer um almoço e um lanche pra ela (afinal já disse que na casa da dona Diva todo dia tem lanche da tarde). Juntarmos a irmã que agora vive longe. Tentar viver um pedaço daquele nosso passado gostoso dos tempos em que morávamos em uma casa, onde a gente ainda podia andar nas ruas, soltar pipas e brincar inocentemente.

Eu me incumbi de fazer uma quiche. Uma quiche de queijo que aprendi muito antes de pensar em fazer os pratos que hoje faço.

A receita nem é tão difícil mas a forma de fazer pode fazer a diferença.

Você vai precisar, se quiser fazer uma igual, de 2 xícaras de farinha de trigo. Coloque ela, peneirando, numa tigela onde possas manusear a massa. Pegue uma noz moscada e dê umas duas ou três raspadinhas ali sobre a farinha de trigo. Também, uma colherinha de café rasa de sal.

Pegue uma barrinha de manteiga sem sal, gelada, e separe 3/4 dela. Isso dará aproximadamente 150 gramas. Corte ela (a manteiga) em pequenos cubos e coloque sobre a farinha. Dê uma rápida enfarinhada neles e, com a ajuda de um garfo, comece a agregá-la à farinha, formando uma farofa. Coloque duas gemas de ovo (sem a pele) para dar mais umidade. Acrescente duas colheres de sopa, rasas, de leite. Agora, manuseie a massa com as mãos, apertando, até que ela fique um pouco maleável. Não precisas nem deves ficar amassando muito.

Agora, depois de preparada, ela precisa descansar no frio. Coloque-a em um saco plástico e deixe no refrigerador por meia-hora ou uma hora inteirinha.

Enquanto isso, com a ajuda de um ralo grosso, rale queijo amarelo (prato, mussarela, gouda, quartiolo, bola,....) que dê para encher 2 xícaras de mãe. Separe.

Numa tigela, misture, com a ajuda de um garfo, 3 ovos inteiros (menos a casca, tá?). Adicione 3/4 de xícara de creme de leite fresco (mas pode ser o de caixinha) e 3/4 de xícara de iogurte natural. Pode, também, usar tudo de um único ingrediente. Mais creme de leite, mais "gordo"; mais iogurte, mais "magro". Pronto! Faça com o melhor para sua mãe.

À parte misture 3 colheres rasas de sopa de queijo tipo parmesão com 1 colher de chá de páprica picante. Depois junte ao recheio.

Aqueça antecipadamente o forno à 180 ºC.

Abra a massa forrando o fundo e as laterais de uma forma de aro removível. Pincele a parte interna da massa com clara levemente batida com uma pitada de sal. Coloque o recheio e leve ao forno para assar até que esteja firme e corada. Algo como 30/40 minutos. Claro que vai depender do seu forno...

Retirei do forno. Deixei esfriar um pouco e levei para a casa dela, ainda quentinha. Chegando lá, na hora de colocar na mesa, ella trocou de roupa e de "sapato": calçou um belo prato de servir que estava guardado no "guarda-loucas" (é, mãe antiga tem dessas coisas na sala de jantar – que também é usada para almoçar) e foi para o centro do palco: a mesa! Junto estavam a salada de bacalhau que a Véra havia feito, o arroz de festa que aprontamos e pronto. Simples, frugal, mas com amor e carinho.

Com os olhinhos já apertados e com a ajuda de suas duas bengalinhas dona Diva sentou-se na cabeceira da mesa. Ali fizemos nossa farra. Ali - juntos os filhos – a nora almoçamos, rimos, choramos e relembramos o começo de nossas caminhadas.

De sobremesa, duas das "meninas" fizeram uma torta de mação e uma musse de maracujá.

Depois, na hora do lanche – é, casa de mãe tem lanche todos os dias viu senhoras "nutris" que lêem este espaço – foi a hora de comermos o bolo da Maria de Fátima (que pra gente é a nossa “tita” querida), repetir a torta de maçã, a musse de maracujá e as delícias que a irmã de longe trouxe. E uma das netas da dona Diva estava lá.

Mais um tempinho com ela e ela voltou a ficar apenas em companhia da "tita", sua companheira de todos os dias. Na volta, em silêncio, agradecia ao Criador esse dia.

F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!

Click para escolher e comprar seus livros na Livraria Cultura!

8 comentários:

véra disse...

e eu participei dessa alegria!!!!!

Cezar disse...

Gosto do jeito que você escreve, aliás, já disse isso anteriormente.
Gostaria de ter estado lá.

Elaine cristina de souza disse...

Carlitos voce eh demais.. Eu viajo em sua leitura..E, como eu me recordo do pasado..que, infelizmente nao volta mais. E, tive muita, mas,muita saudade de viver este momento do dias das maes que hoje pra mim nao tem mais..Trabalhei e trabalhei.. Mas, agradeco por te-la presente ainda em minha vida. Um beijao carlitos. Elaine.

carlinhos de lima disse...

Obrigado, pessoas por deixarem aqui as sensações de vocês.

irani pereira disse...

Carlinhos,adorei lembrar da tia Diva e do lanchinho. Gostaria de poder curtir mais estas coisas. Obrigada pelas lembranças gostosas da nossa infancia.

carlinhos de lima disse...

Pois é, prima. Esses tempos, essas coisas precisam ficar não só nas nossas lembranças. Dividir com outras pessoas é motivo de alegria.

Iaiá disse...

Ah!!!! Como gosto desse seu jeito de contar suas "estórias"!
Quando for visitar Dna Diva de novo, leve um beijo meu!

bjs procê!

Anakoelho disse...

Isso é lindo!
Dia de mãe é pra curtir a presença dela,pena q. mtos não fazem dessa forma quando perdem...,vão se lamentar por não ter curtido a mãe.
Parabéns!


Ana.