segunda-feira, 5 de julho de 2010

Comida de índio: as receitas


Aqui estão as receitas que consegui catalogar em minhas pesquisas. Certamente o número de pratos feitos por cada uma das aldeias de nossos índios é muito maior do que esta aqui. Ela serve como estímulo à pesquisa por aqueles que desejarem conhecer um pouco mais. E, como esclarecimento, para aqueles que nada sabem sobre ela.

Afinal a alimentação dos índigenas brasileiros foi um dos pilares de nossa alimentação, adequada às nossas necessidades mas que com o tempo foi sendo mudada para atender a outros interesses.

Vamos, então, conhecer o que comiam (ou ainda comem) nossos índios.

Kanape ou pão de mandioca com amendoim
Primeiro a mulher precisa tirar mandioca na roça. Quando traz para casa, deixa esta mandioca na água. Quando amolecer, tira da água e descasca. Depois deixa no sol para secar a massa. Assim que secar a massa de mandioca é preciso socá-la no pilão. Depois de socada e peneirada, é preciso socar a massa com amendoim. Então mistura a massa de mandioca com amendoim, depois molha um pouco e faz uma bola.

Depois precisa acender o fogo, esperar ter brasas para botar o pão em cima da brasa. Assim que torrar um pouquinho, já pode comer.

Mutap
Primeiro o homem vai pescar. Ele traz os peixes e a mulher trata, tira a barriga e as escamas. Depois coloca o peixe na panela e põe pra cozinhar com água, sal e pimenta. Acende o fogo e espera cozinhar, cerca de 40 minutos. Quando o peixe amolecer a mulher põe farinha de mutap e mexe com reminho ou cuia. Assim que ficar pronto, pode tomar junto com o mingau de milho com amendoim e arroz.

Os Kaiabi também usamos outros ingredientes no mutap: folha de taioba, folha de mandioca e macaxeira. Com esses ingredientes o mutap também fica gostoso.

Paparuto
O paparuto é uma comida típica dos índios Krahô, que vivem no estado do Maranhão, no Cerrado brasileiro. Mas outros povos próximos a eles também preparam este prato, como os Gavião Pykopjê. Em várias festas o paparuto é uma receita importante.

E como se faz o paparuto?

Primeiro é preciso ralar a macaxeira (aipim) ou a mandioca-brava. Se fizer com a mandioca-brava, precisa retirar o veneno da massa com a ajuda do tipiti. O tipiti é um instrumento feito de palha que serve para apertar a massa da mandioca ralada e retirar todo o líquido, onde está o veneno.

Depois tem que colocar folhas de bananeira no chão, no formato de uma cruz, e espalhar essa massa pelo seu centro. Pedaços de carne são colocados em cima da massa e depois cobertos com mais mandioca. Logo, as folhas são dobradas sobre a massa, formando um embrulho de forma quadrada, que é amarrado e levado para cozinhar do lado de fora da casa.

Na fogueira colocam pedras e quando estas estão bem quentes o embrulho é colocado sobre elas e coberto por mais pedras quentes, em cima das pedras colocam uma camada de folha de bananeira e outra de folha de palmeira. Uma camada de terra cobre tudo isto, formando uma espécie de forno onde o paparuto irá cozinhar. Quando está pronto, é descoberto e levado ao pátio da aldeia e repartido entre todos.

Algumas vezes o milho é usado no lugar da mandioca.

Peixe com banana verde ralada
Limpa-se o peixe, que em seguida deve ser cortado em pedaços. Coloca-se o peixe em uma panela com água para ferver já com o sal. Enquanto cozinha, rala-se a banana. Quando o peixe estiver cozido, coloca-se a banana ralada aos poucos, mexendo sempre. Deixa-se a banana cozinhando até engrossar o caldo.

Peixe com flor de pupunha
No dia de preparar o peixe, lave as flores e coloque numa panela com água para cozinhar por uma hora. Depois de cozidas, deixe esfriar. Aí soque as flores no pilão. Leve a massa pilada ao fogo para cozinhar por mais uma hora. Não esqueça de temperar com sal e pimenta. Ao final, você terá uma pasta para temperar o peixe, mas que também pode ser comida pura.

Quinhapira
A quinhapira é peixe cozido com pimenta, em cujo caldo se umedece o beiju. As formas de preparar são diversificadas, com muitas combinações: quinhapira de peixe com tucupi e caruru; de piraíba com tucupi doce e amarelo; de aracu com pimenta murupi, tucupi preto e chibé de açaí; de jacaré com taioba, manicuera, saúva e pimenta torrada, e por ai vai. Uma delícia!

Angu
trata-se do milho verde ralado e assado em folha de banana sapecada. Sua preparação envolve ralar o milho verde. Faz-se um reservatório, tipo copinho, coma folha de banana previamente sapecada. Em seguida coloca-se o milho ralado dentro do copinho de folha de banana assa-se na brasa até ficar consistente.

Pamonha
Trata-se do milho mais duro ralado e assado na folha de caité. Para sua preparação o milho é ralado. Faz-se um
copinho com a folha de caité, coloca-se dentro o milho ralado e assa-se na brasa até ficar consistente.

Xipa
Pode ser descrito como o polvilho misturado com o milho socado e assado na folha de caité. Para sua preparação, coloca-se o polvilho em uma vasilha e acrescenta-se o milho socado no pilão. Mistura-se bem, transferindo a mistura para uma vasilha de barro. Esta é coberta com a folha de caité e assada no borralho.

Maipã/ Aipu
Neste produto o milho verde é ralado e cozido com caldo de cana até ficar como mingau. Para sua preparação rala-se o milho colocando-o em uma vasilha que possa ir ao fogo. Adiciona-se o caldo de cana a vontade e cozinha-se mexendo até ficar com consistência de mingau.

Lokro
É o milho mais duro socado no pilão com mel. Sua preparação envolve debulhar o milho e socar no pilão. Em seguida,
adiciona-se água e leva-se ao fogo. Ao ferver, acrescenta-se o mel a gosto.

Guarapepe
É conhecido como um picadinho de carne bovina com abóbora moranga. Para o preparo corta-se a carne bovina
em cubos. Tempera-se a gosto e refoga-se a carne, deixando-a dourada. Acrescenta-se a abóbora picada, refoga-se e acrescenta-se água deixando-se ferver. Quando a abóbora estiver macia a preparação estará pronta.

Biju
Trata-se do polvilho assado no fundo da panela. Para sua preparação molha-se o polvilho com água e molda-o em forma de disco. Em seguida, coloca-se no fundo da panela levando ao fogo. Quando dourar, vira-se para ambos os lados ficarem igualmente assados.

Amendoim com batata
Trata-se do amendoim cozido com casca e consumido com batata assada. Na preparação cozinha-se o amendoim em água fervente e quando estiver macio, retira-se o amendoim e o consome com batatas assadas.

Pirarikere

É um caldo de peixe com farinha de mandioca, parecido com pirão. Na sua preparação cozinha-se o peixe em bastante água e, após a fervura, retira-se a carcaça do peixe deixando na panela apenas o seu caldo. Manter a panela no fogo e acrescentar a farinha de mandioca até ficar consistente

Em todas as preparações não havia a adição de sal de cozinha, pois, segundo os indígenas entrevistados, o sal não era utilizado, e quando foi introduzido na alimentação, não era refinado e apresentava-se na forma de pedra, sendo necessário ser socado no pilão para obtê-Io na forma de pó, possibilitando uma utilização mais adequada. Além disso,
a inclusão do açúcar, como, por exemplo, no preparo da xixa, é algo relativamente recente, pois este produto nem sempre era adoçado e, quando feito, utilizava-se mel.



F A C I L I D A D E S
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Um comentário:

Shirley disse...

hummm deu fome! Otima pesquisa. To precisando de uma receita de pão (ou indicação de pão pronto, melhor ainda) que não tenha gluten. Acho que to descobrindo que isso me faz muito mal. Pode me ajudar nisso? bjocas