quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Hoje tem rabanadas? Tem sim senhor!

Já fazia muito tempo que não ia àquela parte da Ilha do Governador (aqui no Rio de Janeiro). Os anos foram se passando e me recusava a passar por territórios dos “inimigos do bem” para chegar até lá. Este ano, por conta de tudo resolvemos dar “uma passadinha por lá” na casa dos Saldanha.

Ilha do Governador, de Natais imemoriais de minha vida. Desde pequeno enormes festanças aconteciam ano após ano na rua Tremembé. As festas duravam dois, três dias, quando havia esta possibilidade de esticada.

Naquela época o Papai Noel existia e a gente acreditava nele. Nem os “mais espertos” em ficar acordados a noite inteira com a intenção de flagrar o velhinho chegando para colocar os presentes na enorme árvore de Natal que ficava no canto da frente da sala consegui vê-lo carregado de presentes.

Ao acordarmos, cansados das brincadeiras e comilanças da noite anterior, descíamos as escadas de madeira fazendo o maior barulhão e aos gritos de nossas mães “cuidado crianças!”, umas depois ou juntas das outras...

Como eram gostosas aquelas farras! Hoje, Papai Noel fica em vários shoppings e lojas ao mesmo tempo. Como acreditar nesse bom e único velhinho que nos trazia a magia das noites de Natal para nossas cabecinhas e deixava nossos corações pulando mais que cabritinhos. Como acreditar que ele escolhe nossos presentes quando os nossos pais de hoje nos levam para as lojas para nós mesmos escolhermos - ou tentarmos impor nossas escolhas – para nossos pais. E, como nos explicar que o dinheiro não dá por conta dessa inflação e crise na Europa se nós estamos tentando acreditar em Papai Noel?

A garotada esperando ser chamada para o recebimento dos presentes e logo, rasgando os papéis e jogando-os para qualquer lugar. Um olhar pelo canto dos olhos nos mostrava pais e mães felizes... Nós estávamos felizes com nossos presentes e eles felizes porque não haviam se endividado... Não existiam Ipods, Ipads nem Iphones para querermos trocar nossos ainda funcionais modelos antigos. Quando muito um carrinho movido a pilhas...

Mas, esse ano não havia nada disso. Nós crescemos e envelhecemos sem que fôssemos capazes de segurar a onda e passar para nossos pequeninos a figura desse bom velhinho. Uns ainda acreditaram até que viram as mãos conhecidas escondidas pelas brancas luvas... É, nós éramos bobos. Ainda não tínhamos essa sagacidade para perceber essas coisas.

Ficamos saudosos, apenas. Não conseguimos reproduzir além de nossas memórias essas alegrias de nossas infâncias.

Lá fomos nós para o almoço de Natal. Era a mais recente lembrança deste Natal das infâncias. Naquela mesa (ou na sala porque espalhávamos em qualquer canto para comer aquele prato cheio de coisas novas e da noite anterior) chegavam mais de 30, 40, talvez 50 pessoas! Crianças, jovens, adultos e idosos... Que família festeira era essa?

Como diria o “tio” Jorge, todos estão indo embora. Na foto, que resiste em nossas memórias, já riscamos muitos dos personagens. Tudo mudou. As crianças cresceram e viraram adultos. E novas crianças chegaram. Diferentes pelo mundo em que vivem, competitivo e mercadológico mas sem as alegrias de outrora: subir em árvores para colher frutos maduros, brincar usando a imaginação, correr, andar de bicicleta, brincas de bandido e mocinho, as meninas, com suas bonecas... O sonho de ter uma “Amiguinha”, da Estrela era o máximo para as meninas! Algumas menores que a boneca. Hoje, as bonecas sumiram.

Mas, que bom que as rabanadas da “baixinha” ainda permanecem vivas e quentinhas, disputadas na hora que sai da frigideira...

Eu pedi para ela fazer as rabanadas. Inventaram as de forno e não deu certo. “sequei”, de longe aquela idéia louca de acabar com as rabanadas da baixinha. Ela ainda viva e com vontade de fazê-las. Sua contribuição já que um infarto acompanhado de pneumonia era um impedimento. Mas meu pedido foi atendido para alegria dos que estavam ali. Fiquei do lado dela, desta vez, pois queria aprender seus segredos...

Não tem tanto segredo assim. O pão, o mais perfeito que o Antônio conseguia comprar ficava de molho no leite adoçado com açúcar. Simples assim. Os ovos, batidos juntos, claras e gemas, em temperatura ambiente, até começar a espumar. Nada de claras “em castelo” e depois gemas... Na frigideira, um tablete de margarina culinária (a maioria não pode mais usar manteiga da “fazenda”) para meio litro de óleo de canola.

Para fritar, as rabanadas são envolvidas com o ovo e colocadas na frigideira. Cuidado para não dourar muito nem pouco. Dourada. Logo ao deitá-las numa peneira (para escorrer o óleo e deixá-las mais sequinhas), polvilhar açúcar com canela. Para uns, mais escurinha e para outros, mais clarinha...

Logo surgem pratinhos e garfinhos brigando pelas duas primeiras. Eu, usei meus argumentos de ser o mentor delas para pegar a primeira: DELÍCIA! Para mim, não existem iguais. Lentamente, os pedacinhos desciam pela minha boca numa mistura de untuosidade, maciez e sabor inigualáveis.

Naquela mesa, durante o almoço, talvez 15 desanimadas pessoas. Sem alvoroço e sem gargalhadas “dobradas” almoçamos. Rimos, um pouco, mas nem de longe lembrou os almoços do passado. Só sobraram as rabanadas!

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Hoje tem rabanadas? Tem sim senhor!

Já fazia muito tempo que não ia àquela parte da Ilha do Governador (aqui no Rio de Janeiro). Os anos foram se passando e me recusava a passar por territórios dos “inimigos do bem” para chegar até lá. Este ano, por conta de tudo resolvemos dar “uma passadinha por lá” na casa dos Saldanha.

Ilha do Governador, de Natais imemoriais de minha vida. Desde pequeno enormes festanças aconteciam ano após ano na rua Tremembé. As festas duravam dois, três dias, quando havia esta possibilidade de esticada.

Naquela época o Papai Noel existia e a gente acreditava nele. Nem os “mais espertos” em ficar acordados a noite inteira com a intenção de flagrar o velhinho chegando para colocar os presentes na enorme árvore de Natal que ficava no canto da frente da sala consegui vê-lo carregado de presentes.

Ao acordarmos, cansados das brincadeiras e comilanças da noite anterior, descíamos as escadas de madeira fazendo o maior barulhão e aos gritos de nossas mães “cuidado crianças!”, umas depois ou juntas das outras...

Como eram gostosas aquelas farras! Hoje, Papai Noel fica em vários shoppings e lojas ao mesmo tempo. Como acreditar nesse bom e único velhinho que nos trazia a magia das noites de Natal para nossas cabecinhas e deixava nossos corações pulando mais que cabritinhos. Como acreditar que ele escolhe nossos presentes quando os nossos pais de hoje nos levam para as lojas para nós mesmos escolhermos - ou tentarmos impor nossas escolhas – para nossos pais. E, como nos explicar que o dinheiro não dá por conta dessa inflação e crise na Europa se nós estamos tentando acreditar em Papai Noel?

A garotada esperando ser chamada para o recebimento dos presentes e logo, rasgando os papéis e jogando-os para qualquer lugar. Um olhar pelo canto dos olhos nos mostrava pais e mães felizes... Nós estávamos felizes com nossos presentes e eles felizes porque não haviam se endividado... Não existiam Ipods, Ipads nem Iphones para querermos trocar nossos ainda funcionais modelos antigos. Quando muito um carrinho movido a pilhas...

Mas, esse ano não havia nada disso. Nós crescemos e envelhecemos sem que fôssemos capazes de segurar a onda e passar para nossos pequeninos a figura desse bom velhinho. Uns ainda acreditaram até que viram as mãos conhecidas escondidas pelas brancas luvas... É, nós éramos bobos. Ainda não tínhamos essa sagacidade para perceber essas coisas.

Ficamos saudosos, apenas. Não conseguimos reproduzir além de nossas memórias essas alegrias de nossas infâncias.

Lá fomos nós para o almoço de Natal. Era a mais recente lembrança deste Natal das infâncias. Naquela mesa (ou na sala porque espalhávamos em qualquer canto para comer aquele prato cheio de coisas novas e da noite anterior) chegavam mais de 30, 40, talvez 50 pessoas! Crianças, jovens, adultos e idosos... Que família festeira era essa?

Como diria o “tio” Jorge, todos estão indo embora. Na foto, que resiste em nossas memórias, já riscamos muitos dos personagens. Tudo mudou. As crianças cresceram e viraram adultos. E novas crianças chegaram. Diferentes pelo mundo em que vivem, competitivo e mercadológico mas sem as alegrias de outrora: subir em árvores para colher frutos maduros, brincar usando a imaginação, correr, andar de bicicleta, brincas de bandido e mocinho, as meninas, com suas bonecas... O sonho de ter uma “Amiguinha”, da Estrela era o máximo para as meninas! Algumas menores que a boneca. Hoje, as bonecas sumiram.

Mas, que bom que as rabanadas da “baixinha” ainda permanecem vivas e quentinhas, disputadas na hora que sai da frigideira...

Eu pedi para ela fazer as rabanadas. Inventaram as de forno e não deu certo. “sequei”, de longe aquela idéia louca de acabar com as rabanadas da baixinha. Ela ainda viva e com vontade de fazê-las. Sua contribuição já que um infarto acompanhado de pneumonia era um impedimento. Mas meu pedido foi atendido para alegria dos que estavam ali. Fiquei do lado dela, desta vez, pois queria aprender seus segredos...

Não tem tanto segredo assim. O pão, o mais perfeito que o Antônio conseguia comprar ficava de molho no leite adoçado com açúcar. Simples assim. Os ovos, batidos juntos, claras e gemas, em temperatura ambiente, até começar a espumar. Nada de claras “em castelo” e depois gemas... Na frigideira, um tablete de margarina culinária (a maioria não pode mais usar manteiga da “fazenda”) para meio litro de óleo de canola.

Para fritar, as rabanadas são envolvidas com o ovo e colocadas na frigideira. Cuidado para não dourar muito nem pouco. Dourada. Logo ao deitá-las numa peneira (para escorrer o óleo e deixá-las mais sequinhas), polvilhar açúcar com canela. Para uns, mais escurinha e para outros, mais clarinha...

Logo surgem pratinhos e garfinhos brigando pelas duas primeiras. Eu, usei meus argumentos de ser o mentor delas para pegar a primeira: DELÍCIA! Para mim, não existem iguais. Lentamente, os pedacinhos desciam pela minha boca numa mistura de untuosidade, maciez e sabor inigualáveis.

Naquela mesa, durante o almoço, talvez 15 desanimadas pessoas. Sem alvoroço e sem gargalhadas “dobradas” almoçamos. Rimos, um pouco, mas nem de longe lembrou os almoços do passado. Só sobraram as rabanadas!

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domingo, 11 de dezembro de 2011

Então é Natal... 1

A rodoviária do Rio já estava lotada àquela hora da manhã. Gentes de todos os tipos e o que não dizer dos embrulhos, malas e acessórios? Crianças de e no colo; chorando ou gritando; correndo ou agarrada nas saias das mães... Sem fotografias, por favor. Cada um imagina a cena como já a viveu de verdade ou no imaginário.

Eu, com minha mochila nas costas e o ticket de embarque na mão, procurei onde era o embarque. Destino: Soledade de Minas, próximo a São Lourenço. Clima de montanha. Lugar para se comer bem.

Soledade de Minas, um povoado fundado da mesma forma que muitos neste Brasil: Na fuga constante aos rigores do fisco da Coroa, os garimpeiros internavam sertão a dentro, buscando novas lavras longe de vigilância dos agentes tributários. Foi assim que surgiram as minas do Rio Verde, finalmente descoberta pelo ouvidor de São João del-Rey, Cipriano José da Rocha, que montou uma expedição em 1737, contra os mineradores clandestinos e que resultou na criação do arraial de Campanha. Foi esse arraial, depois cidade de Campanha, que funcionou como ponto de irradiação da colonização de grande parte do Sul de Minas.

Mas eu queria descobrir o que havia que pudesse, quem sabe, me abrigar por uns tempos. Assim, logo depois de confortavelmente instalado na casa de Teresa, uma velha e carinhosa amiga dos tempos de escola primária (é, hoje deve ter qualquer outra denominação) fui procurar com a ajuda de Quinzinho fazer uma reserva para passear no Trem das Águas, num passeio até São Lourenço. A idéia era de fazer o sentido contrário do passeio: ir no sábado para São Lourenço e lá ficar por uma tarde/noite e retornar no domingo. Não queria a opção de voltar no mesmo dia. Queria tempo para passear por São Lourenço. Revê-la. Beber água nas fontes do Parque.

O tempo passava e as conversas esticavam as lembranças da infância de todos nós. Cada qual retomando os caminhos seguidos. Surpresas. Choros e muita risada. Afinal, só os que já viveram podem contar suas histórias de vida. E, como estávamos na época, claro que o assunto virou pros lados do Natal. Foi hora de viver as histórias de Natal na cidade pequena e na família pequena.

Ali, num sítio um pouco afastado do centro da cidade, uma casinha humilde, mas bem montada como se diz por lá, cercada de diversos verdes e com uma pequena criação para o sustento deles. Algumas vezes como objeto de troca. Assim, as duas vaquinhas, forneciam o leite para a mistura com o café e pra produção de pequenos mas saborosos queijinhos feitos pela própria Teresa, já que Tonho cuidava de outros afazeres “mais pesados” como ela me contava. E eu acabei vivenciando. Queijo cru, seguindo a tradição dos queijeiros da Serra da Canastra (eles aprenderam com a ajuda de um dos vizinhos que tinha uma parentada lá para aqueles lados. Curtidos numa tábua que ficava num dos cantinhos mais frescos da cozinha, tomavam seu banho diário e eram secos por um alvo pano de prato cuidado com o maior carinho e exclusividade. Depois de cuidar dos queijos é que partia para os afazeres da casa. Tonho já havia saído para ordenhar as vacas e cuidar dos porquinhos que já estavam “no ponto” para o Natal. Um para eles e outro para a cunhada de Teresa, que iria pegá-lo já “cuidado” na antevéspera do Natal.

Ali no canto, a lenha já crepitava sobe a trempe dançando como louca sob as bundinhas das panelas. O arroz já havia sido lavado e escorria o que sobrou de água sobre uma peneira de palha trançada. Enquanto isso, uma pequena porção de banha era colocada para derreter. Refogado o arroz, um tantinho só de sal e lá foi a água fervendo que borbulhava na chaleira (objeto usado para manter uma boa porção de água quente enquanto se cozinha nas cozinhas do interior. Objeto em desuso nas grandes cidades...). O feijão – colhido ali mesmo – já estava quase pronto. A verdurinha, colhida pelo Tonho já estava limpa e cortada tão fina que nenhum objeto usado hoje em dia nas modernosas cozinhas era capaz de fazer igual. Apenas um susto na frigideira para “quebrar” as fibras. Ah, e o angú? Não há angú igual aos feitos nas casas das nossas roças mineiras. Milho seco na planta. Guardado com a palharia toda que só é retirada na hora de debulhar e pilar ou moer. Água sal, banha e paciência. Deia na parte mais “fria” da trempe para dar o tempo de cozimento. Colher da pau para ir mexendo “de vez enquanto” "pra modi não agarrá na panela...". Lindo ouvir essa simplicidade que só os mineiros do interior têm.

Na mesa de tábuas à mostra (eles cultivam hábitos simples que aprenderam com os da terra quando resolveram se instalar aqui neste cantinho logo depois de casarem, no Rio de Janeiro. Cadeiras diferentes formavam o conjunto para pai, mãe, filho e mais outra pessoa. Apenas quatro à mesa. Simples assim. Pra que mais?

A conversa à mesa, como já falei, foi sobre o que fariam pro Natal. Estava curioso. Queria preparar uma destas, bem simples, pro meu Natal...

Pra começar, um leitãozinho seria sacrificado em nome do alimento deles. Limpinho, seria colocado no forno (do próprio fogão à lenha) para assar lentamente. De tempos em tempos, ensinava ela, era preciso tirar o tabuleiro do forno para virar o leitãozinho de lado para que todo ele ficasse douradinho. O tempero? Apenas sal e alho. Por fora, besuntado com um pouco de óleo vegetal. Afinal, ainda teria a gordura que sairia dele... Quando no “ponto” de servir, colocar o tabuleiro sobre a trempe do fogão e derramar, com a ajuda de uma concha, porções generosas de baha bem quente, "pra modo di pururucar". Uma farofinha pra acompanhar ele e pronto. Não podia faltar, feijão, arroz branquinho e o angú de todos os dias.

Também, Teresa fazia rabanadas – eu até provei destas – feitas com pão francês dormido e ovos das galinhas carijó que mantinham soltas no quintal.

Pra que mais? Era como se fosse um jantar de domingo festivo, por exemplo. E, festivo era o Natal. Sem excessos, frugal.

Ah, me contaram que Tonho não deixava de fazer uma oração pelo aniversariante. Ele sempre lembrava das missas dominicais que ia quando menino.

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A rodoviária do Rio já estava lotada àquela hora da manhã. Gentes de todos os tipos e o que não dizer dos embrulhos, malas e acessórios? Crianças de e no colo; chorando ou gritando; correndo ou agarrada nas saias das mães... Sem fotografias, por favor. Cada um imagina a cena como já a viveu de verdade ou no imaginário.

Eu, com minha mochila nas costas e o ticket de embarque na mão, procurei onde era o embarque. Destino: Soledade de Minas, próximo a São Lourenço. Clima de montanha. Lugar para se comer bem.

Soledade de Minas, um povoado fundado da mesma forma que muitos neste Brasil: Na fuga constante aos rigores do fisco da Coroa, os garimpeiros internavam sertão a dentro, buscando novas lavras longe de vigilância dos agentes tributários. Foi assim que surgiram as minas do Rio Verde, finalmente descoberta pelo ouvidor de São João del-Rey, Cipriano José da Rocha, que montou uma expedição em 1737, contra os mineradores clandestinos e que resultou na criação do arraial de Campanha. Foi esse arraial, depois cidade de Campanha, que funcionou como ponto de irradiação da colonização de grande parte do Sul de Minas.

Mas eu queria descobrir o que havia que pudesse, quem sabe, me abrigar por uns tempos. Assim, logo depois de confortavelmente instalado na casa de Teresa, uma velha e carinhosa amiga dos tempos de escola primária (é, hoje deve ter qualquer outra denominação) fui procurar com a ajuda de Quinzinho fazer uma reserva para passear no Trem das Águas, num passeio até São Lourenço. A idéia era de fazer o sentido contrário do passeio: ir no sábado para São Lourenço e lá ficar por uma tarde/noite e retornar no domingo. Não queria a opção de voltar no mesmo dia. Queria tempo para passear por São Lourenço. Revê-la. Beber água nas fontes do Parque.

O tempo passava e as conversas esticavam as lembranças da infância de todos nós. Cada qual retomando os caminhos seguidos. Surpresas. Choros e muita risada. Afinal, só os que já viveram podem contar suas histórias de vida. E, como estávamos na época, claro que o assunto virou pros lados do Natal. Foi hora de viver as histórias de Natal na cidade pequena e na família pequena.

Ali, num sítio um pouco afastado do centro da cidade, uma casinha humilde, mas bem montada como se diz por lá, cercada de diversos verdes e com uma pequena criação para o sustento deles. Algumas vezes como objeto de troca. Assim, as duas vaquinhas, forneciam o leite para a mistura com o café e pra produção de pequenos mas saborosos queijinhos feitos pela própria Teresa, já que Tonho cuidava de outros afazeres “mais pesados” como ela me contava. E eu acabei vivenciando. Queijo cru, seguindo a tradição dos queijeiros da Serra da Canastra (eles aprenderam com a ajuda de um dos vizinhos que tinha uma parentada lá para aqueles lados. Curtidos numa tábua que ficava num dos cantinhos mais frescos da cozinha, tomavam seu banho diário e eram secos por um alvo pano de prato cuidado com o maior carinho e exclusividade. Depois de cuidar dos queijos é que partia para os afazeres da casa. Tonho já havia saído para ordenhar as vacas e cuidar dos porquinhos que já estavam “no ponto” para o Natal. Um para eles e outro para a cunhada de Teresa, que iria pegá-lo já “cuidado” na antevéspera do Natal.

Ali no canto, a lenha já crepitava sobe a trempe dançando como louca sob as bundinhas das panelas. O arroz já havia sido lavado e escorria o que sobrou de água sobre uma peneira de palha trançada. Enquanto isso, uma pequena porção de banha era colocada para derreter. Refogado o arroz, um tantinho só de sal e lá foi a água fervendo que borbulhava na chaleira (objeto usado para manter uma boa porção de água quente enquanto se cozinha nas cozinhas do interior. Objeto em desuso nas grandes cidades...). O feijão – colhido ali mesmo – já estava quase pronto. A verdurinha, colhida pelo Tonho já estava limpa e cortada tão fina que nenhum objeto usado hoje em dia nas modernosas cozinhas era capaz de fazer igual. Apenas um susto na frigideira para “quebrar” as fibras. Ah, e o angú? Não há angú igual aos feitos nas casas das nossas roças mineiras. Milho seco na planta. Guardado com a palharia toda que só é retirada na hora de debulhar e pilar ou moer. Água sal, banha e paciência. Deia na parte mais “fria” da trempe para dar o tempo de cozimento. Colher da pau para ir mexendo “de vez enquanto” "pra modi não agarrá na panela...". Lindo ouvir essa simplicidade que só os mineiros do interior têm.

Na mesa de tábuas à mostra (eles cultivam hábitos simples que aprenderam com os da terra quando resolveram se instalar aqui neste cantinho logo depois de casarem, no Rio de Janeiro. Cadeiras diferentes formavam o conjunto para pai, mãe, filho e mais outra pessoa. Apenas quatro à mesa. Simples assim. Pra que mais?

A conversa à mesa, como já falei, foi sobre o que fariam pro Natal. Estava curioso. Queria preparar uma destas, bem simples, pro meu Natal...

Pra começar, um leitãozinho seria sacrificado em nome do alimento deles. Limpinho, seria colocado no forno (do próprio fogão à lenha) para assar lentamente. De tempos em tempos, ensinava ela, era preciso tirar o tabuleiro do forno para virar o leitãozinho de lado para que todo ele ficasse douradinho. O tempero? Apenas sal e alho. Por fora, besuntado com um pouco de óleo vegetal. Afinal, ainda teria a gordura que sairia dele... Quando no “ponto” de servir, colocar o tabuleiro sobre a trempe do fogão e derramar, com a ajuda de uma concha, porções generosas de baha bem quente, "pra modo di pururucar". Uma farofinha pra acompanhar ele e pronto. Não podia faltar, feijão, arroz branquinho e o angú de todos os dias.

Também, Teresa fazia rabanadas – eu até provei destas – feitas com pão francês dormido e ovos das galinhas carijó que mantinham soltas no quintal.

Pra que mais? Era como se fosse um jantar de domingo festivo, por exemplo. E, festivo era o Natal. Sem excessos, frugal.

Ah, me contaram que Tonho não deixava de fazer uma oração pelo aniversariante. Ele sempre lembrava das missas dominicais que ia quando menino.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Como antigamente

Longas horas se passaram desde que saímos de casa, ainda escuro. Na estrada, poucos carros cruzavam a estreita pista da BR-101. No calendário, o ano de 1972 e o mês de janeiro. Na pista, nosso fusquinha azul bebê(1300) e ali na frente um Karmann Ghia (1600), daqueles redondinhos, vermelhinhos. O Rio de Janeiro (cidade) já havia ficado pra trás. E o futuro ainda estava muito distante: Salvador!

Os carros pesados de tralhas pois nossa missão seria cumprida através de acampamentos. Nenhum hotel previsto em nossos planejamentos. Sim, foram alguns até que chegamos ao que deu origem à aventura propriamente dita.

O plano inicial era viajar das 8 da manhã até seis/sete da noite, no máximo. Precisaríamos armar barracas e comer alguma coisa antes de dormir o sono dos necessitados.

O Karmann pifou em Campos dos Goytacazes. Foi necessário procurar um hospital e um médico que pudesse fazer os curativos necessários e medicar preventivos para a viagem. Enquanto isso...

Saímos em busca de algum lugar para comer. Logo no primeiro dia esse contratempo. Encontramos uma pensão. Já nem me lembro mais o nome. Entramos, perguntamos pelo mais simples, mais caseiro que tinha e fomos logo ouvindo “Aqui, meu filho, só servimos comidinha de mãe!”.

Então, sentados à mesa, aguardamos o que nossa agora “mãe” estava nos aprontando. Da cozinha, um cheirinho de comidinha gostosa. Daquelas que mandam sinais de fumaça para lugares bem longe.

Logo chegam as travessas: uma com arroz branquinho, outra com feijão com uns pedacinhos de carne seca e uma outra travessa, maior, com o que se convencionou chamar de ensopadinho. Este nem parecia ensopado, parecia mais “úmido” pois não tinha aquele caldo no fundo da travessa.

Era feito com frango. Peito de frango. Cortado em quadrados não tão pequenos nem tão grandes, batatas e cenouras. Mas o perfume! Logo vi que tinha salsinha picada. Pude ver na travessa que a cebola não era picada miudinha. Dava para a gente ver os pedaços. Umas lascas de alho, também.

Colocamos no prato, cada um a seu jeito. E o perfume do “ensopadinho” permanecia bailando sobre meu nariz. Chegou minha vez.

Servido, foi hora de começar a desfrutar daquelas preciosidades. O arroz, soltinho com um leve gostinho de alho. Bem longe mesmo. Apenas para sabermos que ele estava ali. O feijão, grossinho como nos tempos em que comia os de minha mãe. Pedaços generosos de carne deram para cada um pegar um. Mas, agora vem o mais surpreendente de todos: ele!

As batatas, sequinhas por dentro. Densas, Tenras, saborosas. E elas retiam um sabor intrigante – pois não comum – de erva cidreira! As cenouras cortadas em rodelas estava, cozidas no ponto certo nem cozidas de mais nem de menos. E o frango? De quintal, pela cor não tão branca dos de mercado. Sabor intenso, delicioso.

Que mais poderíamos querer? Um suco de laranja? Tivemos. O Karmann consertado para seguir viagem? Sim. E lá fomos nós até Guarapari.

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Como antigamente

Longas horas se passaram desde que saímos de casa, ainda escuro. Na estrada, poucos carros cruzavam a estreita pista da BR-101. No calendário, o ano de 1972 e o mês de janeiro. Na pista, nosso fusquinha azul bebê(1300) e ali na frente um Karmann Ghia (1600), daqueles redondinhos, vermelhinhos. O Rio de Janeiro (cidade) já havia ficado pra trás. E o futuro ainda estava muito distante: Salvador!

Os carros pesados de tralhas pois nossa missão seria cumprida através de acampamentos. Nenhum hotel previsto em nossos planejamentos. Sim, foram alguns até que chegamos ao que deu origem à aventura propriamente dita.

O plano inicial era viajar das 8 da manhã até seis/sete da noite, no máximo. Precisaríamos armar barracas e comer alguma coisa antes de dormir o sono dos necessitados.

O Karmann pifou em Campos dos Goytacazes. Foi necessário procurar um hospital e um médico que pudesse fazer os curativos necessários e medicar preventivos para a viagem. Enquanto isso...

Saímos em busca de algum lugar para comer. Logo no primeiro dia esse contratempo. Encontramos uma pensão. Já nem me lembro mais o nome. Entramos, perguntamos pelo mais simples, mais caseiro que tinha e fomos logo ouvindo “Aqui, meu filho, só servimos comidinha de mãe!”.

Então, sentados à mesa, aguardamos o que nossa agora “mãe” estava nos aprontando. Da cozinha, um cheirinho de comidinha gostosa. Daquelas que mandam sinais de fumaça para lugares bem longe.

Logo chegam as travessas: uma com arroz branquinho, outra com feijão com uns pedacinhos de carne seca e uma outra travessa, maior, com o que se convencionou chamar de ensopadinho. Este nem parecia ensopado, parecia mais “úmido” pois não tinha aquele caldo no fundo da travessa.

Era feito com frango. Peito de frango. Cortado em quadrados não tão pequenos nem tão grandes, batatas e cenouras. Mas o perfume! Logo vi que tinha salsinha picada. Pude ver na travessa que a cebola não era picada miudinha. Dava para a gente ver os pedaços. Umas lascas de alho, também.

Colocamos no prato, cada um a seu jeito. E o perfume do “ensopadinho” permanecia bailando sobre meu nariz. Chegou minha vez.

Servido, foi hora de começar a desfrutar daquelas preciosidades. O arroz, soltinho com um leve gostinho de alho. Bem longe mesmo. Apenas para sabermos que ele estava ali. O feijão, grossinho como nos tempos em que comia os de minha mãe. Pedaços generosos de carne deram para cada um pegar um. Mas, agora vem o mais surpreendente de todos: ele!

As batatas, sequinhas por dentro. Densas, Tenras, saborosas. E elas retiam um sabor intrigante – pois não comum – de erva cidreira! As cenouras cortadas em rodelas estava, cozidas no ponto certo nem cozidas de mais nem de menos. E o frango? De quintal, pela cor não tão branca dos de mercado. Sabor intenso, delicioso.

Que mais poderíamos querer? Um suco de laranja? Tivemos. O Karmann consertado para seguir viagem? Sim. E lá fomos nós até Guarapari.

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domingo, 23 de outubro de 2011

Domingo de primavera

Estava ali, na varandinha, cuidando primeiramente das minhas plantinhas. Essa hortinha começou meio despretensiosa. Talvez uma tentativa de buscar uma outra ocupação pras horas que insistem em ficar vazias na minha vida.

Aliás, para quem ficou muitos anos da vida totalmente em 380v não dá para ficar desenergizado...

O sol saindo, meio maroto, lá da serra, não sei se deixou um pedaço da luminosidade e calor na praia mas a verdade é que chegou do lado de cá, meio morno. Ainda bem.

As tonalidades de verde de minhas plantinhas oscilam ao sabor da luminosidade do sol. Uma em cada vasinho, de tamanho variado por causa de seu tamanho e necessidade, estão salsinha, cebolinha, duas qualidades de hortelã, um promissor pé de louro, cerefólio, as irmãs cidreira (erva e capim), tomilho, alecrim, um pé de romã e outro de ora-pro-nobis. Boldo e sálvia. Orégano e pimentas. Várias pimentas ainda sem frutificarem. E um enigmático limão-cravo.

O sol agora bate nas minhas pernas e aquece meu corpo. Nas mãos, O Ganso Marisco me faz sorrir a alma. Histórias deliciosas e ainda de quebra umas receitas inusitadas desde suas origens como a de uma tapenade que contempla 200 gramas de azeitonas pretas sem caroço (eu usei a variedade AZZAPA), 100 gramas de anchovas em conserva (bem lavadas para retirar o sal), 150 gramas de alcaparras (de banho tomado), 100 gramas de atum em posta, em óleo, bem picado com um garfo, ½ xícara de chá de azeite extra virgem (se não tiveres O&Co, que seja o melhor que o seu dinheiro puder comprar), 1 colhar de sopa de uma boa mostarda (novamente, se não for uma DIJON, que seja a melhor que o seu dinheiro puder comprar), uma pitada de fines herbes(mistura de estragão, salsinha, cebolinha e cerefólio bem picados – preferencialmente colhidas da horta de casa)e, ½ cálice de conhaque...

Pegue um pilão de pedra e coloque os ingredientes ali na seguinte ordem: primeiro as anchovas. Pile-as bem. Depois as azeitonas (já grosseiramente picadas) e as alcaparras. Novamente uma pilada para se juntarem aso ingredientes anteriores.Junte o atum e pile, adicionando lentamente o azeite. Até tudo estar perfeitamente harmônico. Tempere com a mostarda e o conhaque. Misture bem. Salpique as ervas picadas sobre o molho.

Ai entra a fase melhor: comer!

Mas, um manjar desse não pode ser comido assim, de qualquer jeito. É preciso um bom pão italiano ou um francês do campo. Daqueles cascudos por fora mas macios por dentro. Densos em sua textura e saborosos a cada mordida. De comer chorando por não ter nascido nos campos mediterrâneos ou por ter nascido em cidades onde não se encontra desses exemplares.

Coloque fatias numa torradeira ou, melhor, numa grelha não sem antes um fio de azeite sobre seu miolo. Depois de grelhado, uma porção generosa da tapenade e um bom cálice de vinho tinto. Comer e olhar o azul do céu e sentir o calor do sol de primavera.

Olhar as tonalidades do verde da hortinha caseira, sentir o perfume que sai de cada um dos vasinhos. Esperar pacientemente que a terra colocada num desses caixotes de feira, recondicionado, possa se misturar e absorver todos os nutrientes dos restinhos de frutas, legumes e verduras possa melhora a qualidade da terra que dará força para novas mudinhas. Molhar e revirar a terra todos os dias. A cor dela vai mudando com o passar dos tempos, ficando cada vez mais próxima do preto. E mais rica de nitrogênio. Nada que não seja a química da natureza trabalhando a seu favor.

Um gole do vinho. Mas qual vinho? Não importa. Teu bolso e tuas papilas gustativas te ensinarão, com o tempo, o melhor pra você, para suas combinações. Sem traumas, sem proselitismos.

Mais um capítulo do Ganso já se passou, assim, voando como um ganso selvagem, deixando sua graça registrada na minha memória.

Ah, perai que vou ali dar uma olhada num novo pãozinho que está na primeira fermentação ainda. O pré fermento foi feito ontem pela manhã. Dormiu 24 horas no refrigerador. Saiu de lá pra pegar um calorzinho do lado de fora e depois foi amassado (com carinho) junto aos demais ingredientes até ficar uma bola macia e densa. Textura de bundinha de neném, com um véu maravilhoso, úmida. Foi pro primeiro berço, descansar dessa amassada toda. Neste momento, sono de criança. Olhinhos revirando por debaixo das pálpebras semi abertas...

Volto pro sol. Abro novamente o Ganso na página onde estava e continuo... a comer mais uma brusqueta de tapenade e tomar um gole de tinto...

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Domingo de primavera

Estava ali, na varandinha, cuidando primeiramente das minhas plantinhas. Essa hortinha começou meio despretensiosa. Talvez uma tentativa de buscar uma outra ocupação pras horas que insistem em ficar vazias na minha vida.

Aliás, para quem ficou muitos anos da vida totalmente em 380v não dá para ficar desenergizado...

O sol saindo, meio maroto, lá da serra, não sei se deixou um pedaço da luminosidade e calor na praia mas a verdade é que chegou do lado de cá, meio morno. Ainda bem.

As tonalidades de verde de minhas plantinhas oscilam ao sabor da luminosidade do sol. Uma em cada vasinho, de tamanho variado por causa de seu tamanho e necessidade, estão salsinha, cebolinha, duas qualidades de hortelã, um promissor pé de louro, cerefólio, as irmãs cidreira (erva e capim), tomilho, alecrim, um pé de romã e outro de ora-pro-nobis. Boldo e sálvia. Orégano e pimentas. Várias pimentas ainda sem frutificarem. E um enigmático limão-cravo.

O sol agora bate nas minhas pernas e aquece meu corpo. Nas mãos, O Ganso Marisco me faz sorrir a alma. Histórias deliciosas e ainda de quebra umas receitas inusitadas desde suas origens como a de uma tapenade que contempla 200 gramas de azeitonas pretas sem caroço (eu usei a variedade AZZAPA), 100 gramas de anchovas em conserva (bem lavadas para retirar o sal), 150 gramas de alcaparras (de banho tomado), 100 gramas de atum em posta, em óleo, bem picado com um garfo, ½ xícara de chá de azeite extra virgem (se não tiveres O&Co, que seja o melhor que o seu dinheiro puder comprar), 1 colhar de sopa de uma boa mostarda (novamente, se não for uma DIJON, que seja a melhor que o seu dinheiro puder comprar), uma pitada de fines herbes(mistura de estragão, salsinha, cebolinha e cerefólio bem picados – preferencialmente colhidas da horta de casa)e, ½ cálice de conhaque...

Pegue um pilão de pedra e coloque os ingredientes ali na seguinte ordem: primeiro as anchovas. Pile-as bem. Depois as azeitonas (já grosseiramente picadas) e as alcaparras. Novamente uma pilada para se juntarem aso ingredientes anteriores.Junte o atum e pile, adicionando lentamente o azeite. Até tudo estar perfeitamente harmônico. Tempere com a mostarda e o conhaque. Misture bem. Salpique as ervas picadas sobre o molho.

Ai entra a fase melhor: comer!

Mas, um manjar desse não pode ser comido assim, de qualquer jeito. É preciso um bom pão italiano ou um francês do campo. Daqueles cascudos por fora mas macios por dentro. Densos em sua textura e saborosos a cada mordida. De comer chorando por não ter nascido nos campos mediterrâneos ou por ter nascido em cidades onde não se encontra desses exemplares.

Coloque fatias numa torradeira ou, melhor, numa grelha não sem antes um fio de azeite sobre seu miolo. Depois de grelhado, uma porção generosa da tapenade e um bom cálice de vinho tinto. Comer e olhar o azul do céu e sentir o calor do sol de primavera.

Olhar as tonalidades do verde da hortinha caseira, sentir o perfume que sai de cada um dos vasinhos. Esperar pacientemente que a terra colocada num desses caixotes de feira, recondicionado, possa se misturar e absorver todos os nutrientes dos restinhos de frutas, legumes e verduras possa melhora a qualidade da terra que dará força para novas mudinhas. Molhar e revirar a terra todos os dias. A cor dela vai mudando com o passar dos tempos, ficando cada vez mais próxima do preto. E mais rica de nitrogênio. Nada que não seja a química da natureza trabalhando a seu favor.

Um gole do vinho. Mas qual vinho? Não importa. Teu bolso e tuas papilas gustativas te ensinarão, com o tempo, o melhor pra você, para suas combinações. Sem traumas, sem proselitismos.

Mais um capítulo do Ganso já se passou, assim, voando como um ganso selvagem, deixando sua graça registrada na minha memória.

Ah, perai que vou ali dar uma olhada num novo pãozinho que está na primeira fermentação ainda. O pré fermento foi feito ontem pela manhã. Dormiu 24 horas no refrigerador. Saiu de lá pra pegar um calorzinho do lado de fora e depois foi amassado (com carinho) junto aos demais ingredientes até ficar uma bola macia e densa. Textura de bundinha de neném, com um véu maravilhoso, úmida. Foi pro primeiro berço, descansar dessa amassada toda. Neste momento, sono de criança. Olhinhos revirando por debaixo das pálpebras semi abertas...

Volto pro sol. Abro novamente o Ganso na página onde estava e continuo... a comer mais uma brusqueta de tapenade e tomar um gole de tinto...

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domingo, 2 de outubro de 2011

Horta na varanda

Pois é... o blog não é de comida? De gastronomia? Sim! Então o que tem a ver essa tal de “horta na varanda” com a gastronomia?

Vamos por partes, como diria Jack... assim você vai entender melhor o interrelação entre a hortinha na varanda e a gastronomia.

Na realidade este texto começou durante um evento que se propôs a discutir ações para estarem implantadas em 2040: Sustentável 2011. Aconteceu no Pier Mauá durante esta semana.

Passeando pelo espaço pude perceber uma idéia interessante: num dos estandes colocaram grandes sacolões – destes que agora viraram peça de marketing dos grandes supermercados – com mudinhas de algumas das mais usadas hortaliças e ervas aromáticas. Assim, conviviam harmoniosamente alfaces, couves, pimenteiras diversas, tomilho, salsa, cebolinha, tomateiros, alfazemas...

Dai lembrei dos vasinhos que ocupam a beirada interna de minha varandinha. Faz tempo que venho plantando pequenas mudas de salsinha, cebolinha, alecrim, tomilho, hortelã, pimenta dedo de moça, pimenta biquinho e louro convivem com um cada dia mais viçoso pé de romã. Isso mesmo, romã! E falta eu achar uma muda (sem o preço exorbitante que me pediram) de jabuticaba para eu a colocar aqui na varandinha.

Esses vasinhos começaram a ser cultivados como tantos outros de flores que também deram a pitada colorida em meu “apê”. Uma hora achava uma mudinha bonita num supermercado oura num quiosque de flores e outros. Pequeníssimos vasos entraram pelo período de aclimatação na beirada da janela da cozinha. Ali elas tinhas o sol do início da manhã, o calor do meio do dia e a sombrinha refrescante da noite para crescer.

O tempo passa e é preciso aprender com cada uma delas. Nada de generalizar do tipo “todos os filhos são iguais... amomos todos igualmente...” Balela: cada um é um ser diferente e tem diferentes necessidade e precisa de diferentes carinhos.

Fui aprendendo com o pé de louro, tão desejado e que acabou sendo um presente de sogra. Mas foi legal. Chegou aqui meio caído, com uma parte do “caule” tendendo ao ressecamento mas uma haste mostrando algumas folhas. Carinhosamente ficou como se estivesse numa UTI. Queria molhar todos os dias. Um desastre! Espacei muito, outro desastre! Agora uma dosagem homeopática me mostrou o caminho. Novas hastes começam a brotar. Mas para que um pé de louro na varanda? Para colocar no feijão nosso de cada dia ou na carne assada dos domingos ou até na bolognesa dos de vez em quando...

Meu primeiro pé de hortelã veio de uma mudinha recolhida numa grande horta mantida na Beneficiencia Portuguesa, em jacarepagua. Estava visitando a administração para conhecer o funcionamento da cozinha e na chegada, aquela enorme horta cuidada por um “preto velho”. Iso mesmo: um idoso, de pele negra e sorriso dos deuses. Me deu algumas dicas e colheu com sua própria mão uma mudinha. É a muda que tenho mais carinho. Tenho um ciúme muito grande dela. Vive com sede: mas só bebe muita água pela manhã junto com meu jejum (é, cuido das minhas plantinhas antes mesmo do meu café preto passado no coador de pano (3 corações) e tomado em uma caneca de ágate... Bem, gosto de colocar minha hortelã nas carnes ou nos frangos. Dá um sabor assim tipo lembrança das comidas de vó?

Também, quem gosta de um pouco mais de água é meu capim cidreira. As folhas fazem parte do sabor de meu arroz. Principalmente do arroz japonês que faço à moda ocidental. É um arroz de “encher a boca” por causa da sua plinitude e intensidade.

Ah, meu pequeno pé de ora-pro-nóbis ainda não cheguei a entendê-lo completamente. Vez por outra ele me prega uma peça. Mas não desisti. Ainda mais depois das peripércias para esta mudinha chegar aqui no Rio, depois de uma viagem de ônibus de Beagá até um play de um prédio na Gávea... E eu não fui até lá buscá-la? Claro que sim... Ainda vou fazer meu frango ensopado na panela de ferro com suas folhas. Só vou ficar devendo o fogão à lenha...

Ah, meus pés de alecrim, os mais antigos do grupo, quandos frangos assados num forno baixinho, lentamente, com suas folhas finamente (ou histericamente) picadas na faca para misturar ao azeite que macera a carne por duas horas antes do calor. Ah, e as batatas rústicas? Sem o alecrim e o azeite não valem a pena: ficam apenas batatas assadas.

Hoje, uma muda de slsão chegou aqui em casa. Uma longa fila se formou: todas as outras queriam conhecer a nova habitante da hortinha: calmamente apresentaram-se mostrando, cada uma sua virtude.

As mais ardentes, que habitam a ala das pimentas, logo ficaram vermelhas pois foram as últimas a se apresentarem. Algumas, nem isso: ainda não deram o ar de sua graça.

Ah, já tive uma muda de poejo. Presente da sogra junto com o louro. Menino sempre é bom termos um pé de poejo em casa, disse-me ela. Juro que passou um bom tempo e não percebi isso. Talvez precise aprender mais sobre os poejos, não?

Ah, não posso deixar de falar dos tomatinhos. Continuo tentando que eles alegrem meus olhos. Dois vasinhos estão em diferentes fases de crescimento. Quero poder colhê-los para as saladinhas com pequeninos que chamo de ovas da terra. Lindos no meio das tenras folhas de diversos matizes de verde.

Hoje, finalmente consegui montar meu caixote de madeira. Um novo canteiro começo a produzir. Mas não é coisa do tipo “jogar terra de saco plástico e plantar”... Todo o caixote foi restaurado. Comprei uma tela dessas usadas para impedir a passagem de vetores (é como os técnicos chamam os voadores como mosquitos e moscas, por exemplo). Forrei o caixote e comprei um bom volume de terra de saco de um produtor que aprendi a respeitar pois estudou na mesma escola que eu: fizemos o curso de minhocultor. Hoje ele expande seus negócios produzindo e vendendo terra adubada de ótima qualidade.

No nível mínimo, misturei um pouco de saibro. Agora as cascas de frutas, de legumes, de verduras serão picadas grosseiramente e adicionadas, em camadas, juntamente com o pó do café coado que guardo diariamente. Assim, diminuo meu lixo irgânico, aumento a fertilidade da minha terra e produzo alimento para minhas ervas. Isto me dará mais sabor a cada uma delas e à comidinhas que serão preparadas.

Tá, mas o que você vai plantar nesse caixote? Não sei ainda. Ideias podem se modificar mas que tal uns pés de alface, de couve, cenouras e até beterrabas? Sim, porque não?

Paralelamente queria muito que o pessoal da Casa Ronald pudesse incentivar àquelas crianças montando uma horta lá. Tenho certeza que vão achar um bom lugar... Aplicação? Claro que tem! Imagina as crianças colhendo um alimento puro para sua alimentação. E mais, “levando” essa ideia em seu coração para quando chegarem em suas casas, implantarem.

Imagino tantas casas com espaço suficiente para isto. Ou as pequenas janelinhas com pequenos vasinhos colorindo a visão dos moradores e ddos pratos tornando-os mais saudáveis. Menos sódio, mais temperos verdes!

Vamos embarcar nesta “onda”?

Aliás, algum desses fornecedores de mudas poderiam me procurar para juntos fazermos uma ação bonita. Quem sabe? Estou esperando por vocês.

Ah, um material mais técnico de como "montar" a sua hortinha está disponível no meu outro blog. Não deixe de dar um click aqui.

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Horta na varanda

Pois é... o blog não é de comida? De gastronomia? Sim! Então o que tem a ver essa tal de “horta na varanda” com a gastronomia?

Vamos por partes, como diria Jack... assim você vai entender melhor o interrelação entre a hortinha na varanda e a gastronomia.

Na realidade este texto começou durante um evento que se propôs a discutir ações para estarem implantadas em 2040: Sustentável 2011. Aconteceu no Pier Mauá durante esta semana.

Passeando pelo espaço pude perceber uma idéia interessante: num dos estandes colocaram grandes sacolões – destes que agora viraram peça de marketing dos grandes supermercados – com mudinhas de algumas das mais usadas hortaliças e ervas aromáticas. Assim, conviviam harmoniosamente alfaces, couves, pimenteiras diversas, tomilho, salsa, cebolinha, tomateiros, alfazemas...

Dai lembrei dos vasinhos que ocupam a beirada interna de minha varandinha. Faz tempo que venho plantando pequenas mudas de salsinha, cebolinha, alecrim, tomilho, hortelã, pimenta dedo de moça, pimenta biquinho e louro convivem com um cada dia mais viçoso pé de romã. Isso mesmo, romã! E falta eu achar uma muda (sem o preço exorbitante que me pediram) de jabuticaba para eu a colocar aqui na varandinha.

Esses vasinhos começaram a ser cultivados como tantos outros de flores que também deram a pitada colorida em meu “apê”. Uma hora achava uma mudinha bonita num supermercado oura num quiosque de flores e outros. Pequeníssimos vasos entraram pelo período de aclimatação na beirada da janela da cozinha. Ali elas tinhas o sol do início da manhã, o calor do meio do dia e a sombrinha refrescante da noite para crescer.

O tempo passa e é preciso aprender com cada uma delas. Nada de generalizar do tipo “todos os filhos são iguais... amomos todos igualmente...” Balela: cada um é um ser diferente e tem diferentes necessidade e precisa de diferentes carinhos.

Fui aprendendo com o pé de louro, tão desejado e que acabou sendo um presente de sogra. Mas foi legal. Chegou aqui meio caído, com uma parte do “caule” tendendo ao ressecamento mas uma haste mostrando algumas folhas. Carinhosamente ficou como se estivesse numa UTI. Queria molhar todos os dias. Um desastre! Espacei muito, outro desastre! Agora uma dosagem homeopática me mostrou o caminho. Novas hastes começam a brotar. Mas para que um pé de louro na varanda? Para colocar no feijão nosso de cada dia ou na carne assada dos domingos ou até na bolognesa dos de vez em quando...

Meu primeiro pé de hortelã veio de uma mudinha recolhida numa grande horta mantida na Beneficiencia Portuguesa, em jacarepagua. Estava visitando a administração para conhecer o funcionamento da cozinha e na chegada, aquela enorme horta cuidada por um “preto velho”. Iso mesmo: um idoso, de pele negra e sorriso dos deuses. Me deu algumas dicas e colheu com sua própria mão uma mudinha. É a muda que tenho mais carinho. Tenho um ciúme muito grande dela. Vive com sede: mas só bebe muita água pela manhã junto com meu jejum (é, cuido das minhas plantinhas antes mesmo do meu café preto passado no coador de pano (3 corações) e tomado em uma caneca de ágate... Bem, gosto de colocar minha hortelã nas carnes ou nos frangos. Dá um sabor assim tipo lembrança das comidas de vó?

Também, quem gosta de um pouco mais de água é meu capim cidreira. As folhas fazem parte do sabor de meu arroz. Principalmente do arroz japonês que faço à moda ocidental. É um arroz de “encher a boca” por causa da sua plinitude e intensidade.

Ah, meu pequeno pé de ora-pro-nóbis ainda não cheguei a entendê-lo completamente. Vez por outra ele me prega uma peça. Mas não desisti. Ainda mais depois das peripércias para esta mudinha chegar aqui no Rio, depois de uma viagem de ônibus de Beagá até um play de um prédio na Gávea... E eu não fui até lá buscá-la? Claro que sim... Ainda vou fazer meu frango ensopado na panela de ferro com suas folhas. Só vou ficar devendo o fogão à lenha...

Ah, meus pés de alecrim, os mais antigos do grupo, quandos frangos assados num forno baixinho, lentamente, com suas folhas finamente (ou histericamente) picadas na faca para misturar ao azeite que macera a carne por duas horas antes do calor. Ah, e as batatas rústicas? Sem o alecrim e o azeite não valem a pena: ficam apenas batatas assadas.

Hoje, uma muda de slsão chegou aqui em casa. Uma longa fila se formou: todas as outras queriam conhecer a nova habitante da hortinha: calmamente apresentaram-se mostrando, cada uma sua virtude.

As mais ardentes, que habitam a ala das pimentas, logo ficaram vermelhas pois foram as últimas a se apresentarem. Algumas, nem isso: ainda não deram o ar de sua graça.

Ah, já tive uma muda de poejo. Presente da sogra junto com o louro. Menino sempre é bom termos um pé de poejo em casa, disse-me ela. Juro que passou um bom tempo e não percebi isso. Talvez precise aprender mais sobre os poejos, não?

Ah, não posso deixar de falar dos tomatinhos. Continuo tentando que eles alegrem meus olhos. Dois vasinhos estão em diferentes fases de crescimento. Quero poder colhê-los para as saladinhas com pequeninos que chamo de ovas da terra. Lindos no meio das tenras folhas de diversos matizes de verde.

Hoje, finalmente consegui montar meu caixote de madeira. Um novo canteiro começo a produzir. Mas não é coisa do tipo “jogar terra de saco plástico e plantar”... Todo o caixote foi restaurado. Comprei uma tela dessas usadas para impedir a passagem de vetores (é como os técnicos chamam os voadores como mosquitos e moscas, por exemplo). Forrei o caixote e comprei um bom volume de terra de saco de um produtor que aprendi a respeitar pois estudou na mesma escola que eu: fizemos o curso de minhocultor. Hoje ele expande seus negócios produzindo e vendendo terra adubada de ótima qualidade.

No nível mínimo, misturei um pouco de saibro. Agora as cascas de frutas, de legumes, de verduras serão picadas grosseiramente e adicionadas, em camadas, juntamente com o pó do café coado que guardo diariamente. Assim, diminuo meu lixo irgânico, aumento a fertilidade da minha terra e produzo alimento para minhas ervas. Isto me dará mais sabor a cada uma delas e à comidinhas que serão preparadas.

Tá, mas o que você vai plantar nesse caixote? Não sei ainda. Ideias podem se modificar mas que tal uns pés de alface, de couve, cenouras e até beterrabas? Sim, porque não?

Paralelamente queria muito que o pessoal da Casa Ronald pudesse incentivar àquelas crianças montando uma horta lá. Tenho certeza que vão achar um bom lugar... Aplicação? Claro que tem! Imagina as crianças colhendo um alimento puro para sua alimentação. E mais, “levando” essa ideia em seu coração para quando chegarem em suas casas, implantarem.

Imagino tantas casas com espaço suficiente para isto. Ou as pequenas janelinhas com pequenos vasinhos colorindo a visão dos moradores e ddos pratos tornando-os mais saudáveis. Menos sódio, mais temperos verdes!

Vamos embarcar nesta “onda”?

Aliás, algum desses fornecedores de mudas poderiam me procurar para juntos fazermos uma ação bonita. Quem sabe? Estou esperando por vocês.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Coisas simples

Agora mesmo estava eu sem lembrar que não havia almoçado. Algumas horas se passaram desde o horário que habitualmente faço meu almoço. Esqueci, sei lá. Não senti fome ou vontade de comer. Mas ao me “lembrar” não senti vontade de sentar e comer um prato de comida, por mais simples que fosse. Mas me lembrei que haviam bananas das que se plantavam e colhiam nos meus primeiros anos: com respeito, criadas nas matas de uma encosta e sem a preocupação de amadurecimento forçado e precoce. O meu bananeiro predileto há quase trinta anos, colhe as bananas nas quartas, tiras-as dos cachos e coloca sobre folhas de jornal para que a seiva natural saia. Que o “sangue” escorra de suas veias e ela possa estar pura, descansada. Elas são retiradas das suas bananeiras quando estão “de vez” e que amadurecerão naturalmente. Assim, as recebo ainda amadurecendo. Dois dias e já as como. E sinto seu doce e intenso sabor de banana. Sua cor interior é diferente das bananas que por vezes sou compelido a comprar ali no supermercado.

E, desta última vez que comprei com o Salvador (olha só o nome do bananeiro!), procurava por ele na nova localização da feira livre que por anos frequentei aos sábados. Por mais retrógrado que possa parecer este comércio de alimentos para “muita gente boa”, ou que se acha “boa” por esta vida. E, na conversa com outros feirantes um deles disse para outro: “faz um teste: coloca uma banana do Salvador e outra, de outro qualquer aqui da feira e veja qual delas um bicho qualquer vai comer primeiro!” É isso mesmo: os bichos “sentem” a natureza. Afinal vivem dentro dela cuidando-a com o maior carinho.

E essa banana que eu compro com o Salvador me faz voltar no tempo. E agora, cortei-as no sentido do comprimento, dazendo “fitas” que coloquei numa frigideira com um dedinho de azeite e outro de manteiga. Ela soltou todos os seus “açúcares do bem” para que eu pudesse sentir em sua plenitude o que é comer uma fruta madura naturalmente.

Ai me perguntei: para que o açúcar com canela que tantos humanos colocam sobre elas. Nessas não era preciso. Muito pelo contrário, iria estragar toda aquela explosão de sabor.

Enquanto comia me lembrava das frutas que pude ter nas casas por onde morei desde pequenino. Me lembro dos abius, dos tamarindos, das uvas, das mangas carlotinhas, das mangas espada, das carambolas, dos abacates, os limões-galegos, os figos. Depois, mais jovem conheci outras: as laranjas, os limões verdes, as jabuticabas, as goiabas... Todas, comidas dos pés. Maduras. Com a precisão que Deus nos deu. Na hora da plenitude. Simples assim.

A vida era simples. A gente comia coisas boas e simples. Agora complicam-se tudo. Invencionices no preparo e na agilidade da disponibilidade. A química da pressa e da ganância de homens preguiçosos e ambiciosos...

Até os peixes que meu pai ia comprar aos domingos, trazidos pelo pescador numa cesta de vime não existe mais. Agora pescado em embarcações são conservados em gelo ou frigorífico por tantos dias: ficam sem sabor e de textura emborrachada ao serem preparados. Que gosto tem um salmão ou um camarão criados em cativeiro? Não dá para comparar com os camarões que comia em São Pedro da Aldeia por muitos finais de semana que frequentei. O pescador trazia em suas pequenas canoas, o fundo delas brilhava ao refletir a luz da lua cheia sobre o corpo brilhante dos camarões cinzas. Que sabor! Que alegria! Que satisfação!

Mas o pessoal mais novo nem sabe o que é sabor de um peixe assim. De uma galinha criada ciscando no quintal. E os ovos, sem esse cheiro horrível que os “químicos” e restos de comida industrializada que entram na composição das rações. Nem os “orgânicos” criados em grandes granjas têm o mesmo sabor.

Era simples viver e comer para viver. Sem pressa. Conversando em família numa mesa. Fosse almoço ou jantar, todos ali conversando e sabendo das dificuldades e alegrias. Hoje, pede-se um sanduiche pelo telefone que chega frio e o comemos assim, entre goles de refrigerante e a tela do computador!

O simples comer virou pressa. Perdeu o tesão. Perdeu o sabor e a alegria. Até a batata frita foi substituída por uma pasta a pretesto de se fazê-la com curvas que ela mesma não tem...

Será que ainda dá tempo?

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Coisas simples

Agora mesmo estava eu sem lembrar que não havia almoçado. Algumas horas se passaram desde o horário que habitualmente faço meu almoço. Esqueci, sei lá. Não senti fome ou vontade de comer. Mas ao me “lembrar” não senti vontade de sentar e comer um prato de comida, por mais simples que fosse. Mas me lembrei que haviam bananas das que se plantavam e colhiam nos meus primeiros anos: com respeito, criadas nas matas de uma encosta e sem a preocupação de amadurecimento forçado e precoce. O meu bananeiro predileto há quase trinta anos, colhe as bananas nas quartas, tiras-as dos cachos e coloca sobre folhas de jornal para que a seiva natural saia. Que o “sangue” escorra de suas veias e ela possa estar pura, descansada. Elas são retiradas das suas bananeiras quando estão “de vez” e que amadurecerão naturalmente. Assim, as recebo ainda amadurecendo. Dois dias e já as como. E sinto seu doce e intenso sabor de banana. Sua cor interior é diferente das bananas que por vezes sou compelido a comprar ali no supermercado.

E, desta última vez que comprei com o Salvador (olha só o nome do bananeiro!), procurava por ele na nova localização da feira livre que por anos frequentei aos sábados. Por mais retrógrado que possa parecer este comércio de alimentos para “muita gente boa”, ou que se acha “boa” por esta vida. E, na conversa com outros feirantes um deles disse para outro: “faz um teste: coloca uma banana do Salvador e outra, de outro qualquer aqui da feira e veja qual delas um bicho qualquer vai comer primeiro!” É isso mesmo: os bichos “sentem” a natureza. Afinal vivem dentro dela cuidando-a com o maior carinho.

E essa banana que eu compro com o Salvador me faz voltar no tempo. E agora, cortei-as no sentido do comprimento, dazendo “fitas” que coloquei numa frigideira com um dedinho de azeite e outro de manteiga. Ela soltou todos os seus “açúcares do bem” para que eu pudesse sentir em sua plenitude o que é comer uma fruta madura naturalmente.

Ai me perguntei: para que o açúcar com canela que tantos humanos colocam sobre elas. Nessas não era preciso. Muito pelo contrário, iria estragar toda aquela explosão de sabor.

Enquanto comia me lembrava das frutas que pude ter nas casas por onde morei desde pequenino. Me lembro dos abius, dos tamarindos, das uvas, das mangas carlotinhas, das mangas espada, das carambolas, dos abacates, os limões-galegos, os figos. Depois, mais jovem conheci outras: as laranjas, os limões verdes, as jabuticabas, as goiabas... Todas, comidas dos pés. Maduras. Com a precisão que Deus nos deu. Na hora da plenitude. Simples assim.

A vida era simples. A gente comia coisas boas e simples. Agora complicam-se tudo. Invencionices no preparo e na agilidade da disponibilidade. A química da pressa e da ganância de homens preguiçosos e ambiciosos...

Até os peixes que meu pai ia comprar aos domingos, trazidos pelo pescador numa cesta de vime não existe mais. Agora pescado em embarcações são conservados em gelo ou frigorífico por tantos dias: ficam sem sabor e de textura emborrachada ao serem preparados. Que gosto tem um salmão ou um camarão criados em cativeiro? Não dá para comparar com os camarões que comia em São Pedro da Aldeia por muitos finais de semana que frequentei. O pescador trazia em suas pequenas canoas, o fundo delas brilhava ao refletir a luz da lua cheia sobre o corpo brilhante dos camarões cinzas. Que sabor! Que alegria! Que satisfação!

Mas o pessoal mais novo nem sabe o que é sabor de um peixe assim. De uma galinha criada ciscando no quintal. E os ovos, sem esse cheiro horrível que os “químicos” e restos de comida industrializada que entram na composição das rações. Nem os “orgânicos” criados em grandes granjas têm o mesmo sabor.

Era simples viver e comer para viver. Sem pressa. Conversando em família numa mesa. Fosse almoço ou jantar, todos ali conversando e sabendo das dificuldades e alegrias. Hoje, pede-se um sanduiche pelo telefone que chega frio e o comemos assim, entre goles de refrigerante e a tela do computador!

O simples comer virou pressa. Perdeu o tesão. Perdeu o sabor e a alegria. Até a batata frita foi substituída por uma pasta a pretesto de se fazê-la com curvas que ela mesma não tem...

Será que ainda dá tempo?

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domingo, 28 de agosto de 2011

Pós-operatório

Depois do despertador tocar e o coração pular dentro do peito, hora de levantar. O cirurugião havia antecipado seu ato para às sete horas da manhã. Daqui a poucos minutos mais, o porteiro chamaria pelo interfone e anunciaria a chegada do táxi.

Desperto, rapidamente, tomar banho. Sempre é melhor tomar banho no seu chuveiro de todos os dias do que no de uma unidade hospitalar. Bem, eu acho isso. Pode ser que apareça alguém achando mil venturas tomar banho no banheiro de um hospital. Quiçá de uma enfermaria...

Maletinha pronta (engraçado é o porque de maletinha se apenas uma noite estará lá e poderá, novamente voltar a tomar banho no seu chuveiro. Mas faz parte da história dos operados levar uma maletinha com roupas, toalhas (afinal não se sabe as condições que se ficará), a famosa bolsinha com apetrechos de higiene bucal, corporal e espiritual – sim, sempre carrego um pacotinho de incenso e um isqueiro).

Tudo pronto. Companheiras sonolentas e descemos para esperar o táxi. Normalmente, em viagens o motorista me espera. Mas desta vez a ansiedade era muito maior do que a de viagens. Afinal seria privado de um dos órgãos que nasceram comigo. Uma perda até então não assimilada.

O motorista chegou e embarcamos. Logo o porteiro da unidade hospitalar nos faz o maior inquérito para liberar a cancela e permitir que o táxi entrasse. Imagine isso às 6h20 da manhã... Mas, calmamente respondemos à todas as perguntas e ele, depois de anotar num formulário nos liberou a passagem.

Subimos e mais uma burocracia nos esperava: cadastro. Mais informações. Mais guias e códigos de autorizações. Mas tudo bem. Não sei mais se estava mais angustiado ou mais calmo. Mas logo uma senhoria me chamou e fui com a companheira de todos os momentos parra o interior da unidade hospitalar.

Logo cheguei ao meu local de hospedagem temporária. Meu fortuíto companheiro já estava agoniado pela longa espera de sua liberdade condicional. Sim, porque nos breves momentos e breves palavras que trocamos esqueci que me tirariam um órgão e fiquei pensando no cidadão e seu passaporte hospitalar cheio de carimbos de entradas e saídas.

Chega o anestesista. Essa figura ainda não desvendada da equipe médica. Algumas perguntas e uma alegria: ½ comprimidinho pra chegar bobo na sala de reuniões.

Algum tempo depois começo a voltar desse mundo estranho que é um centro cirúrgico. A anestesia geral foi indo embora sorrateiramente sem que eu mesmo percebesse sua saída. Ufa! Alegria pois alguns relatos haviam me deixado apreensivo.

Chega a hora do lanchinho: um suco de alguma fruta. Não percebi qual era... Mais tarde uma jantar que me deixou esquisito. Afinal havia retirado minha vesícula e suas incontáveis pedrinhas e tudo que sabia era que precisaria reaprender a comer. Selecionar e abandonar alguns alimentos por um bom tempo. Chegou, juntinho, no mesmo prato, uma papa de arroz sem sal e sem gordura, uma porção de “penne” (essa sim com alguma gordurinha sentida em meus lábios), um picadinho de carne (temperadinho) e uma porção de legumes cozidos em água e sal. Claro que provei e deixei a papa de arroz. Intragável. Da carninha picada, motivo de susto só provei um cubinho. Comi mesmo os legumes e a massa. Um suco de goiaba complementou minha primeira refeição pós operatória. Ainda recebi um suco de goiaba antes de dormir.

De manhã, café com leite, biscoito cream crackers e torradinhas com geléia de goiabas. Comi apenas os cream crackers e tomei o café com leite. Achei mais prudente.

Em casa, pude fazer contato com minha nutricionista baiana (amo essa Linda de paixão) ela me orientou sobre o certo e o errado que eu estava fazendo. Me aconselhou a retirar a laranja (e seu bagaço que eu adoro) e ficar entre maçã raspadinha ou assada, bananas e peras. Ricota apenas para substituir a “gordura” do café da manhã. Evitar os doces por conta da glicemia e seguir aprendendo com o corpo uma nova forma de me alimentar.

E estou seguindo isto bem direitinho. Aproveito para comer arroz porque prende mais o intestino. E ando comendo do arroz que mais gosto – o japonês de grão curto – Aprendi a fazê-lo como nosso arroz brasileiro e fica meio solto: lavo delicadamente por seis vezes e coloco-o numa peneira para secar novamente. Depois, numa panela alta coloco alho e um “susto” de azeite. A seguir, depois do alho douradinho, coloco o arroz e mexo lentamente para incorporar o tempero. Adiciono sal e faço um vulcãozinho. Ali, no meio, coloco a mesma medida de água fria, ajeito para que todos os grãos de arroz fiquem sob a água, tampo a panela e reduzo o fogo ao máximo que consigo. Com 15 minutos verifico. E deixo mais um pouco, se necessário. É preciso sentir que os gráos estejam úmidos e que saiam algumas bolhas de água. Panela tampada depois de desligado o fogo por uns 10 minutos. Abro, passo um garfo soltando os grãos e volto a tampar a panela por mais cinco/dez minutos. Pronto: um arroz para comer puro, com legumes, com omelete, com peixe (cru, grelhado ou frito), frango e picadinho de carne de gado.

E assim estou seguindo meus dias de esccola de nutrição. A melhor das notícias é que mesmo em “repouso” dá para perder um bom peso. E reaprender a comer, eliminando a ingestão das coisas que apenas nos dão prazer na hora de comer.

E você, tem o relato de alguma experiência semelhante?

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Depois do despertador tocar e o coração pular dentro do peito, hora de levantar. O cirurugião havia antecipado seu ato para às sete horas da manhã. Daqui a poucos minutos mais, o porteiro chamaria pelo interfone e anunciaria a chegada do táxi.

Desperto, rapidamente, tomar banho. Sempre é melhor tomar banho no seu chuveiro de todos os dias do que no de uma unidade hospitalar. Bem, eu acho isso. Pode ser que apareça alguém achando mil venturas tomar banho no banheiro de um hospital. Quiçá de uma enfermaria...

Maletinha pronta (engraçado é o porque de maletinha se apenas uma noite estará lá e poderá, novamente voltar a tomar banho no seu chuveiro. Mas faz parte da história dos operados levar uma maletinha com roupas, toalhas (afinal não se sabe as condições que se ficará), a famosa bolsinha com apetrechos de higiene bucal, corporal e espiritual – sim, sempre carrego um pacotinho de incenso e um isqueiro).

Tudo pronto. Companheiras sonolentas e descemos para esperar o táxi. Normalmente, em viagens o motorista me espera. Mas desta vez a ansiedade era muito maior do que a de viagens. Afinal seria privado de um dos órgãos que nasceram comigo. Uma perda até então não assimilada.

O motorista chegou e embarcamos. Logo o porteiro da unidade hospitalar nos faz o maior inquérito para liberar a cancela e permitir que o táxi entrasse. Imagine isso às 6h20 da manhã... Mas, calmamente respondemos à todas as perguntas e ele, depois de anotar num formulário nos liberou a passagem.

Subimos e mais uma burocracia nos esperava: cadastro. Mais informações. Mais guias e códigos de autorizações. Mas tudo bem. Não sei mais se estava mais angustiado ou mais calmo. Mas logo uma senhoria me chamou e fui com a companheira de todos os momentos parra o interior da unidade hospitalar.

Logo cheguei ao meu local de hospedagem temporária. Meu fortuíto companheiro já estava agoniado pela longa espera de sua liberdade condicional. Sim, porque nos breves momentos e breves palavras que trocamos esqueci que me tirariam um órgão e fiquei pensando no cidadão e seu passaporte hospitalar cheio de carimbos de entradas e saídas.

Chega o anestesista. Essa figura ainda não desvendada da equipe médica. Algumas perguntas e uma alegria: ½ comprimidinho pra chegar bobo na sala de reuniões.

Algum tempo depois começo a voltar desse mundo estranho que é um centro cirúrgico. A anestesia geral foi indo embora sorrateiramente sem que eu mesmo percebesse sua saída. Ufa! Alegria pois alguns relatos haviam me deixado apreensivo.

Chega a hora do lanchinho: um suco de alguma fruta. Não percebi qual era... Mais tarde uma jantar que me deixou esquisito. Afinal havia retirado minha vesícula e suas incontáveis pedrinhas e tudo que sabia era que precisaria reaprender a comer. Selecionar e abandonar alguns alimentos por um bom tempo. Chegou, juntinho, no mesmo prato, uma papa de arroz sem sal e sem gordura, uma porção de “penne” (essa sim com alguma gordurinha sentida em meus lábios), um picadinho de carne (temperadinho) e uma porção de legumes cozidos em água e sal. Claro que provei e deixei a papa de arroz. Intragável. Da carninha picada, motivo de susto só provei um cubinho. Comi mesmo os legumes e a massa. Um suco de goiaba complementou minha primeira refeição pós operatória. Ainda recebi um suco de goiaba antes de dormir.

De manhã, café com leite, biscoito cream crackers e torradinhas com geléia de goiabas. Comi apenas os cream crackers e tomei o café com leite. Achei mais prudente.

Em casa, pude fazer contato com minha nutricionista baiana (amo essa Linda de paixão) ela me orientou sobre o certo e o errado que eu estava fazendo. Me aconselhou a retirar a laranja (e seu bagaço que eu adoro) e ficar entre maçã raspadinha ou assada, bananas e peras. Ricota apenas para substituir a “gordura” do café da manhã. Evitar os doces por conta da glicemia e seguir aprendendo com o corpo uma nova forma de me alimentar.

E estou seguindo isto bem direitinho. Aproveito para comer arroz porque prende mais o intestino. E ando comendo do arroz que mais gosto – o japonês de grão curto – Aprendi a fazê-lo como nosso arroz brasileiro e fica meio solto: lavo delicadamente por seis vezes e coloco-o numa peneira para secar novamente. Depois, numa panela alta coloco alho e um “susto” de azeite. A seguir, depois do alho douradinho, coloco o arroz e mexo lentamente para incorporar o tempero. Adiciono sal e faço um vulcãozinho. Ali, no meio, coloco a mesma medida de água fria, ajeito para que todos os grãos de arroz fiquem sob a água, tampo a panela e reduzo o fogo ao máximo que consigo. Com 15 minutos verifico. E deixo mais um pouco, se necessário. É preciso sentir que os gráos estejam úmidos e que saiam algumas bolhas de água. Panela tampada depois de desligado o fogo por uns 10 minutos. Abro, passo um garfo soltando os grãos e volto a tampar a panela por mais cinco/dez minutos. Pronto: um arroz para comer puro, com legumes, com omelete, com peixe (cru, grelhado ou frito), frango e picadinho de carne de gado.

E assim estou seguindo meus dias de esccola de nutrição. A melhor das notícias é que mesmo em “repouso” dá para perder um bom peso. E reaprender a comer, eliminando a ingestão das coisas que apenas nos dão prazer na hora de comer.

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domingo, 14 de agosto de 2011

Dia de pai é só hoje?

Eu era bem pequeno e só lembro de certos momentos de minha vida pelas fotografias amareladas que aindam resistem ao tempo numa caixa de sapatos. A maioria delas se foi por algum motivo especial em determinados dias onde resolvemos “apagar” o passado ou, simplesmente, fazer uma “faxina” nas coisas que não usamos com a frequência diária e que impedem que novas coisas possam ser guardadas.

Das coisas que lembro de meu pai “bonachão” era o fato dele dividir o seu tempo conosco (eu e minhas irmãs) além claro de minha mãe. O seu semblante quase sempre muito sério não dava muita abertura para a gente ter um relacionamento tão aberto quando os que requerem os dias atuais. Mas ele demonstrava seu amor por nós mesmo daquele jeito.

Os seus dias, quase sempre atribulados com contas a receber e a pagar, na administração de um pequeno comércio que nos meus primeiros dias era maior pois lá havia toda uma parte voltada para a construção civil. O tempo passou e ele conseguiu refazer-se e voltou ao comércio só que desta vez mais voltado ao “bazar” como se chamavam os pequenos comércios de lembranças e coisa para o lar.

Em casa, sempre uma grande mesa onde sentávamos todos para todas as refeições principalmente nos finais de semana quando ele e minha mãe poderiam estar junto a nós na hora da refeição.

Na maioria das vezes minha mãe era quem cuidava da nossa comida. Mesmo nos momentos em que a vida nos permitiu ter uma ajudante ela gostava de estar à frente das panelas. Além, é claro, dos doces pois se formou uma doceira de “mão cheia” como sempre se diz para os que possuem muitas habilidades.

Sua comidinha, gostosa e simplesmente temperada (sem aquele mundão de sabores brigando entre si junto com o alimento). O arroz, branquinho e fumegante chegava aos nossos pratos junto com um maravilhoso feijão quase todos os dias.

Lembro, de uma época específica onde meu pai tinha ao alcance dele um açougue onde ele comprava a carne usada em nossas comidinhas. Ele gostava muito da alcatra (prazer que eu herdei dele pois a acho um corte versátil e de um sabor peculiar). Ali, nas vezes em que ele me levava eu podia ver o açougueiro retirar do gancho onde elas ficavam penduradas uma peça inteira (quase sempre) e dali tirar o pedaço para meu pai. Nunca o “primeiro ou segundo peso” pois segundo ouvi de meu pai ali ara a “zona de mistura” dos cortes. Partes que podiam sofrer a influência boa ou não tão boa, do corte que estava ao lado. Assim, nossos “bifes de todos os dias” eram repletos de um intenso sabor. Junto, aprendemos a tomar o caldinho que saía depois dos “sabores se assentarem” no prato. Brigávamos pela oportuinidade de derramá-lo sobre o fumegante arroz.

Daquela época lembro também dos doces com as frutas do norte que meu pai conseguia. Do pudim de leite que minha mãe fazia (sem o leite condensado que agora é quase sempre usado). Do cuscus feito na cuscuzeira que minha mãe tinha. Era gostoso comer naquela época. Era naquele momento, todos juntos, que aprendíamos muitos dos ensinamentos que nos formaram no adulto que somos hoje.

Ali, na mesa, aprendíamos a respeitar pai e mãe, que quando um adulto fala a criança ouve calada... Era o ensinamento de quem quem fala não ouve direito, não presta atenção. E assim fomos crescendo quase sempre no meio de pés de frutas: abiu, tamarindo, maracujá, uva, carambola, abacate, mangas carlotinha e espada... Também tínhamos um galinheiro de onde tirávamos os ovos caipiras de nossas galinhas ora carijós, ora de “pescoço pelado” ora de pompudas vermelhas. Ovo fresquinho de galinha que só ciscava no chão de terra e comia milho. Nada dessas misturas loucas que vemos hoje em dia. Também, para renovação do plantel, comíamos as mais velhas das galinhas. Carne saborosa que ainda tenho em minha memória gustativa.

Subíamos nas árvores para pegar as frutas maduras: outro sabor. As de hoje, colhidas mais cedo para permitir chegar “de vez” na casa das pessoas não tem o mesmo sabor. As mangas tinham gosto de manga, cor de manga, suco de manga escorrendo pelas nossas pequenas bocas e sujando nossa roupa... Como era bom viver, pequenos, na casa de nosso pai e de nossa mãe.

Depois do jantar, sentados no sofá da sala podíamos ouvir programas da Rádio Mayrink Veiga: humorísticos que nos faziam dobrar gargalhadas. Mas também fazíamos nossas bagunças. Ficávamos de castigo sem poder brincar. Mas crescemos responsáveis e sabendo os nossos limites e os de nossos próximos.

Lembro das manhãs das segundas quando acordávamos bem cedinho, ainda “de noite” para meu pai me levar para a escola. Andávamos um bom pedaço, pegávamos o bonde “78” e lá íamos no seu balanço e com o vento frio das manhãs em nossos rostos até São Cristóvão, onde ficava o Colégio Pedro II. Depois meu pai voltava sozinho pra casa e depois voltava para me pegar. Ai voltávamos conversando sobre a semana que passava longe dele. Muitas novidades e vivências eram compartilhadas com os passageiros ao nosso lado (até aquele que quase morreu de broinquite por não tomar o Rhum Creosotado da propaganda do bonde...).

Como era bom aquele tempo. Cresci e ele envelheceu. Seu prazo de validade acabou e ele foi viver junto de Jesus Cristo, lá no céu. Por isso, nestes tempos sempre fico olhando para as nuvens para ver se o acho. Quem sabe comendo um camarão no alho e óleo?

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Eu era bem pequeno e só lembro de certos momentos de minha vida pelas fotografias amareladas que aindam resistem ao tempo numa caixa de sapatos. A maioria delas se foi por algum motivo especial em determinados dias onde resolvemos “apagar” o passado ou, simplesmente, fazer uma “faxina” nas coisas que não usamos com a frequência diária e que impedem que novas coisas possam ser guardadas.

Das coisas que lembro de meu pai “bonachão” era o fato dele dividir o seu tempo conosco (eu e minhas irmãs) além claro de minha mãe. O seu semblante quase sempre muito sério não dava muita abertura para a gente ter um relacionamento tão aberto quando os que requerem os dias atuais. Mas ele demonstrava seu amor por nós mesmo daquele jeito.

Os seus dias, quase sempre atribulados com contas a receber e a pagar, na administração de um pequeno comércio que nos meus primeiros dias era maior pois lá havia toda uma parte voltada para a construção civil. O tempo passou e ele conseguiu refazer-se e voltou ao comércio só que desta vez mais voltado ao “bazar” como se chamavam os pequenos comércios de lembranças e coisa para o lar.

Em casa, sempre uma grande mesa onde sentávamos todos para todas as refeições principalmente nos finais de semana quando ele e minha mãe poderiam estar junto a nós na hora da refeição.

Na maioria das vezes minha mãe era quem cuidava da nossa comida. Mesmo nos momentos em que a vida nos permitiu ter uma ajudante ela gostava de estar à frente das panelas. Além, é claro, dos doces pois se formou uma doceira de “mão cheia” como sempre se diz para os que possuem muitas habilidades.

Sua comidinha, gostosa e simplesmente temperada (sem aquele mundão de sabores brigando entre si junto com o alimento). O arroz, branquinho e fumegante chegava aos nossos pratos junto com um maravilhoso feijão quase todos os dias.

Lembro, de uma época específica onde meu pai tinha ao alcance dele um açougue onde ele comprava a carne usada em nossas comidinhas. Ele gostava muito da alcatra (prazer que eu herdei dele pois a acho um corte versátil e de um sabor peculiar). Ali, nas vezes em que ele me levava eu podia ver o açougueiro retirar do gancho onde elas ficavam penduradas uma peça inteira (quase sempre) e dali tirar o pedaço para meu pai. Nunca o “primeiro ou segundo peso” pois segundo ouvi de meu pai ali ara a “zona de mistura” dos cortes. Partes que podiam sofrer a influência boa ou não tão boa, do corte que estava ao lado. Assim, nossos “bifes de todos os dias” eram repletos de um intenso sabor. Junto, aprendemos a tomar o caldinho que saía depois dos “sabores se assentarem” no prato. Brigávamos pela oportuinidade de derramá-lo sobre o fumegante arroz.

Daquela época lembro também dos doces com as frutas do norte que meu pai conseguia. Do pudim de leite que minha mãe fazia (sem o leite condensado que agora é quase sempre usado). Do cuscus feito na cuscuzeira que minha mãe tinha. Era gostoso comer naquela época. Era naquele momento, todos juntos, que aprendíamos muitos dos ensinamentos que nos formaram no adulto que somos hoje.

Ali, na mesa, aprendíamos a respeitar pai e mãe, que quando um adulto fala a criança ouve calada... Era o ensinamento de quem quem fala não ouve direito, não presta atenção. E assim fomos crescendo quase sempre no meio de pés de frutas: abiu, tamarindo, maracujá, uva, carambola, abacate, mangas carlotinha e espada... Também tínhamos um galinheiro de onde tirávamos os ovos caipiras de nossas galinhas ora carijós, ora de “pescoço pelado” ora de pompudas vermelhas. Ovo fresquinho de galinha que só ciscava no chão de terra e comia milho. Nada dessas misturas loucas que vemos hoje em dia. Também, para renovação do plantel, comíamos as mais velhas das galinhas. Carne saborosa que ainda tenho em minha memória gustativa.

Subíamos nas árvores para pegar as frutas maduras: outro sabor. As de hoje, colhidas mais cedo para permitir chegar “de vez” na casa das pessoas não tem o mesmo sabor. As mangas tinham gosto de manga, cor de manga, suco de manga escorrendo pelas nossas pequenas bocas e sujando nossa roupa... Como era bom viver, pequenos, na casa de nosso pai e de nossa mãe.

Depois do jantar, sentados no sofá da sala podíamos ouvir programas da Rádio Mayrink Veiga: humorísticos que nos faziam dobrar gargalhadas. Mas também fazíamos nossas bagunças. Ficávamos de castigo sem poder brincar. Mas crescemos responsáveis e sabendo os nossos limites e os de nossos próximos.

Lembro das manhãs das segundas quando acordávamos bem cedinho, ainda “de noite” para meu pai me levar para a escola. Andávamos um bom pedaço, pegávamos o bonde “78” e lá íamos no seu balanço e com o vento frio das manhãs em nossos rostos até São Cristóvão, onde ficava o Colégio Pedro II. Depois meu pai voltava sozinho pra casa e depois voltava para me pegar. Ai voltávamos conversando sobre a semana que passava longe dele. Muitas novidades e vivências eram compartilhadas com os passageiros ao nosso lado (até aquele que quase morreu de broinquite por não tomar o Rhum Creosotado da propaganda do bonde...).

Como era bom aquele tempo. Cresci e ele envelheceu. Seu prazo de validade acabou e ele foi viver junto de Jesus Cristo, lá no céu. Por isso, nestes tempos sempre fico olhando para as nuvens para ver se o acho. Quem sabe comendo um camarão no alho e óleo?

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