domingo, 28 de agosto de 2011

Pós-operatório

Depois do despertador tocar e o coração pular dentro do peito, hora de levantar. O cirurugião havia antecipado seu ato para às sete horas da manhã. Daqui a poucos minutos mais, o porteiro chamaria pelo interfone e anunciaria a chegada do táxi.

Desperto, rapidamente, tomar banho. Sempre é melhor tomar banho no seu chuveiro de todos os dias do que no de uma unidade hospitalar. Bem, eu acho isso. Pode ser que apareça alguém achando mil venturas tomar banho no banheiro de um hospital. Quiçá de uma enfermaria...

Maletinha pronta (engraçado é o porque de maletinha se apenas uma noite estará lá e poderá, novamente voltar a tomar banho no seu chuveiro. Mas faz parte da história dos operados levar uma maletinha com roupas, toalhas (afinal não se sabe as condições que se ficará), a famosa bolsinha com apetrechos de higiene bucal, corporal e espiritual – sim, sempre carrego um pacotinho de incenso e um isqueiro).

Tudo pronto. Companheiras sonolentas e descemos para esperar o táxi. Normalmente, em viagens o motorista me espera. Mas desta vez a ansiedade era muito maior do que a de viagens. Afinal seria privado de um dos órgãos que nasceram comigo. Uma perda até então não assimilada.

O motorista chegou e embarcamos. Logo o porteiro da unidade hospitalar nos faz o maior inquérito para liberar a cancela e permitir que o táxi entrasse. Imagine isso às 6h20 da manhã... Mas, calmamente respondemos à todas as perguntas e ele, depois de anotar num formulário nos liberou a passagem.

Subimos e mais uma burocracia nos esperava: cadastro. Mais informações. Mais guias e códigos de autorizações. Mas tudo bem. Não sei mais se estava mais angustiado ou mais calmo. Mas logo uma senhoria me chamou e fui com a companheira de todos os momentos parra o interior da unidade hospitalar.

Logo cheguei ao meu local de hospedagem temporária. Meu fortuíto companheiro já estava agoniado pela longa espera de sua liberdade condicional. Sim, porque nos breves momentos e breves palavras que trocamos esqueci que me tirariam um órgão e fiquei pensando no cidadão e seu passaporte hospitalar cheio de carimbos de entradas e saídas.

Chega o anestesista. Essa figura ainda não desvendada da equipe médica. Algumas perguntas e uma alegria: ½ comprimidinho pra chegar bobo na sala de reuniões.

Algum tempo depois começo a voltar desse mundo estranho que é um centro cirúrgico. A anestesia geral foi indo embora sorrateiramente sem que eu mesmo percebesse sua saída. Ufa! Alegria pois alguns relatos haviam me deixado apreensivo.

Chega a hora do lanchinho: um suco de alguma fruta. Não percebi qual era... Mais tarde uma jantar que me deixou esquisito. Afinal havia retirado minha vesícula e suas incontáveis pedrinhas e tudo que sabia era que precisaria reaprender a comer. Selecionar e abandonar alguns alimentos por um bom tempo. Chegou, juntinho, no mesmo prato, uma papa de arroz sem sal e sem gordura, uma porção de “penne” (essa sim com alguma gordurinha sentida em meus lábios), um picadinho de carne (temperadinho) e uma porção de legumes cozidos em água e sal. Claro que provei e deixei a papa de arroz. Intragável. Da carninha picada, motivo de susto só provei um cubinho. Comi mesmo os legumes e a massa. Um suco de goiaba complementou minha primeira refeição pós operatória. Ainda recebi um suco de goiaba antes de dormir.

De manhã, café com leite, biscoito cream crackers e torradinhas com geléia de goiabas. Comi apenas os cream crackers e tomei o café com leite. Achei mais prudente.

Em casa, pude fazer contato com minha nutricionista baiana (amo essa Linda de paixão) ela me orientou sobre o certo e o errado que eu estava fazendo. Me aconselhou a retirar a laranja (e seu bagaço que eu adoro) e ficar entre maçã raspadinha ou assada, bananas e peras. Ricota apenas para substituir a “gordura” do café da manhã. Evitar os doces por conta da glicemia e seguir aprendendo com o corpo uma nova forma de me alimentar.

E estou seguindo isto bem direitinho. Aproveito para comer arroz porque prende mais o intestino. E ando comendo do arroz que mais gosto – o japonês de grão curto – Aprendi a fazê-lo como nosso arroz brasileiro e fica meio solto: lavo delicadamente por seis vezes e coloco-o numa peneira para secar novamente. Depois, numa panela alta coloco alho e um “susto” de azeite. A seguir, depois do alho douradinho, coloco o arroz e mexo lentamente para incorporar o tempero. Adiciono sal e faço um vulcãozinho. Ali, no meio, coloco a mesma medida de água fria, ajeito para que todos os grãos de arroz fiquem sob a água, tampo a panela e reduzo o fogo ao máximo que consigo. Com 15 minutos verifico. E deixo mais um pouco, se necessário. É preciso sentir que os gráos estejam úmidos e que saiam algumas bolhas de água. Panela tampada depois de desligado o fogo por uns 10 minutos. Abro, passo um garfo soltando os grãos e volto a tampar a panela por mais cinco/dez minutos. Pronto: um arroz para comer puro, com legumes, com omelete, com peixe (cru, grelhado ou frito), frango e picadinho de carne de gado.

E assim estou seguindo meus dias de esccola de nutrição. A melhor das notícias é que mesmo em “repouso” dá para perder um bom peso. E reaprender a comer, eliminando a ingestão das coisas que apenas nos dão prazer na hora de comer.

E você, tem o relato de alguma experiência semelhante?

F A C I L I D A D E S
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6 comentários:

isabelllinha disse...

Estimamos rápida recuperação!

véra disse...

as pedrinhas mais pareciam um punhadinho de caviar!!!

Sonia disse...

Nada como uma dieta pós operatória para a recuperação ser imediata. Assim que estiver restabelecido venha conhecer a nova expansão da Casa que o amor construiu... Um grande beijo!!

Fátima Dias disse...

Carlinhos
Uma ótima recuperação pra você.
Beijos

carlinhos de lima disse...

Obrigado a todos. Vou seguindo minha recuperação de acordo com o previsto.

Em breve, no batente!

heloisa disse...

Descobri seu blog hoje, através do pitadinhas. Também li sobre a operação. Estou preparando-me para tal operação e apreensiva.
Também passo meus carnavais em São Pedro da Aldeia e meus filhos sempre gostaram e toda a família também. Minha casa é na Ponta da Areia.
Abraços, Heloisa.