quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um domingo como tantos outros

Naquele domingo, eu e Véra tínhamos ido à missa das oito na igreja ali perto de casa. Na volta, olhando a mangueira carregadinhas de bolotinhas amarelas, resolvi subir e pegar algumas delas. Era quase uma rotina durante a semana quando voltava da escola ali em Dona Clara.

Véra entrou e não sei o que foi fazer. Eu, sei que as mangas carlotinha estavam tão doces quanto as dos outros dias. Aquela mangueira era uma perdição para mim. Minha mãe sempre brigava comigo por conta das manchas que eu deixava na camisa branca da escola.

Sentado lá em cima ouvi barulho no galinheiro. Aquele salseiro característico de quando alguém entra para pegar uma delas. Desci. Menino gosta de salseiro, não é? Já vi a Maria Baiana com uma delas agarrada pelas asas e uma faca e um prato na outra. Bolero, nosso viralatas ficava querendo pegar a prisioneira a todo o custo. Maria pediu para eu segurar ele enquanto ela cuidava da galinha (ou frango? Antigamente era tudo galinha. Só vim conhecer frango muitos anos mais tarde).

Maria fazia o seu trabalho de forma silenciosa sem que a galinha sofresse tanto. Logo depois, um banho de água fervente facilitava o trabalho de tirar-lhe as penas e deixá-la peladinha. Um passeio sobre a chama do fogão queimava os eventuais pontos de pena que insistiam em ficar agarradinhos.

Maria, então, cortava em pedaços. Depois aprendi que era nas juntas, um modo fácil de se fazer isto. O peito, ela cortava em dois pedaços. E o dorso, em três. Acho que o tempero era sempre o mesmo pois sempre tinha aquele gostinho característico.

Descascava dois dentes de alho e socava num pilãozinho com sal e umas bolinhas de pimenta do Reino. Quantas, não conseguia ver. Nem nunca perguntei pra ela. Depois, numa vasilha funda misturava tudo e ainda picava uma folha de louro e regava com azeite. Meu pai gostava muito de azeite na comida.

Cobria com um pano de pratos que pegava na gaveta e deixava ali no canto da pia enquanto catava o arroz e o feijão.

Lavava o arroz e o feijão e deixava eles escorrendo na peneira enquanto preparava os temperos. Era organizada. Pilava novamente alho com sal para o arroz e repetia o mesmo para o feijão. Separava uma folha de louro e umas rodelas de paio. Sempre ela colocava o paio no feijão pois dizia que dava um gostinho diferente. E era mesmo. A gente lambia os beiços de comer o feijão dela.

Colocava o feijão e o arroz no fogo. Refogava e colocava a água. A essa altura, preparava o frango para colocar no forno que já estava quentinho: arrumava num tabuleiro e depois polvilhava com queijo parmesão que ralava na hora, no ralo grosso.

Não demorava muito e começava a cheirar. Minha mãe já havia arrumado a casa (tarefa diária das mães daquele tempo) e agora começava a arrumar a mesa. Naquele tempo, café da manhã, almoço e janta era com todos na mesa.
Era um momento da gente conversar. Era a hora de comungarmos do alimento. Sempre muito gostoso isso. Pena que a vida de hoje não permite mais esse momento em muitas casas.

Mamãe chamou e todos viemos para a mesa: o arroz, o feijão e a galinha fumegavam em suas vasilhas. Cada um no seu lugar e mamãe serviu primeiro papai e depois a gente. Por fim, o prato dela.

Não lembro direito o que conversamos naquele almoço. Lembro vagamente que rimos muito. Até papai que sempre era sério, deu umas risadas...

Logo mamãe chamou Maria que tirou os pratos e trouxe a sobremesa: sorvete de manga carlotinha (até hoje não sei como ela fazia...). Uma delícia que nos refrescava naquele verão. Depois, um copo de água geladinha, rotina continuado por conta de hábitos do povo do norte desse pais.

Depois, uma sesta na rede...

Enquanto mamãe e Maria cuidavam do resto...

F A C I L I D A D E S
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Um comentário:

Iaiá disse...

Como sempre, sua história me levou de volta à minha infância, onde vive tudo isso no sítio de minha saudosa tia Marieta.
Beijos, tio Carlinhos.