segunda-feira, 25 de maio de 2020

Doce de Leite


Era dia de São João.

Havíamos combinado passar o final de semana na “fazenda”. Sim, era assim como chamávamos o agora sítio mas outrora uma grande fazenda produtora de leite como muitos nas serras das Minas Gerais.

Lá morava meu “tio” postiço Jorge Ramos, herdeiro da fazenda. A galera que ia com frequência eram esposa, filhas, meu primo, mulher e filha, mãe da mulher de meu primo e uma irmã do “tio” Jorge.

A fazenda ficava em Benjamim Constant, uma estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a 7 km de Sapucaia, na estrada Rio-Bahia, ainda no Rio de Janeiro. Lá era nossa base para compras de coisas que não tinham na fazenda e, claro, requeijão de corte e manteiga comprados na volta para nos abastecer aqui no Rio.

Depois de desmontar a mala do carro em nossos quartos, hora de arrumar as coisas na despensa. No meio de tudo, um saco de açúcar cristal (não lembro mais a marca. A idade apagou este detalhe).

No dia seguinte, chegou a encomenda de leite que eu e a “baixinha” fizemos. Ela era (sim, era,
porque já voltou para a sua casa ao lado de Jesus. Eram dois litros do mais puro leite da vaca que abastecia a casa. Portanto, a melhor leiteira do curral.

Colocamos o leite para ferver. Levantada a fervura, abaixamos o fogo para o leite descer.

Novamente aumentamos para a segunda fervura. Depois, repetimos para a terceira e última.

Deixamos esfriar um pouco para retirar a nata que se forma na parte de cima e isto pode alterar o resultado do doce.

Pesados 600 gramas do açúcar (porque cristal? Porque era “norma” para todos os doces feitos na época da escravidão. Hoje eu uso demerara porque está mais próximo da origem e, por isso, menos processado), colocamos no caldeirão “da bruxa” porque seriam mais de 60 minutos ali no vuco-vuco, com uma colher de pau de ponta reta, mexendo lentamente sem parar até o ponto final. Aprendi a fazer assim. Era como os doces da “fazenda” eram feitos num tacho de cobre sobre lenha.

Esse meu aprendizado foi feito num fogão a gás para minha tristeza, do lado do fogão à lenha que ainda existia lá. A alegação da “baixinha” é que acabaria de fazer mais rápido. Portanto, se você tiver um fogão à lenha e, tempo, não exite, faça nele.

E assim ficamos ali, jogando um dedo de prosa e contando histórias de tempos passados. Sei lá
quanto tempo mas o ver a cor de caramelo ali firmando e o doce ficando mais “durinho”, fiquei com brilho no olhar pelo aprendizado mas doido para provar. E, ai, vem o desespero até esperar esfriar.

É simples. Não requer prática nem habilidade, como diziam os camelôs daquela época... só
paciência, como tudo na roça.


foto das principais vacas que haviam na fazenda na época em que aprendi a fazer o doce de leite da história.





F A C I L I D A D E S
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3 comentários:

Véra disse...

Com um queijim... hummm, diliça!

msaldanhadelima@outlook.com disse...

Saudades da baixinha, da fazenda, da vida de outrora. Éramos privilegiados e não sabíamos. O pão com torresmo da Juça era divino. Dá a receita do torresmo. É de lamber os beiços e comer rezando.

Receitas Simples disse...

Nossa bom demais um de dar água na boca!