sexta-feira, 29 de maio de 2009

Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia


Aproveitando as lembranças das minhas andanças pelas terras de Minas e o Festival de Quitandas de Congonhas realizado no último domingo, revi algumas dessas delícias que aprendi ao longo destes passeios por estradas de terra, cheiro de capim molhado, carro-de-boi, crepitar de lenha nos fogões, chaminés lançando aquela fumacinha cheirosa por cima dos telhados de telha canal.

A lembrança mais forte vem por conta das quitandas. Lembranças de tempos de alegria e de fartura. Tomara que ainda assim por esses tempos de “crise mundial”...

Uma das primeiras dessas quitandas a aprender a fazer foi a broa de milho, que normalmente é feita ainda muito cedo para o café da manhã. Ao longo do dia ela fica ali na beira do fogão à lenha e serve de acompanhamento para o café-preto (um café ralinho, passado no coador de pano com água pré-adoçada. Nuns lugares com garapa, noutros com açúcares que variam do mascavo ao refinado, mas sempre pré-adoçado e bem ralinho – pra modi rendê maissss – e fazer o contraponto com o milho.

Essa broa é o resultado da mistura de meia xícara de margarina de milho, uma e meia xícara de açúcar, uma e meia xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), meia xícara de farinha de trigo, um quarto de xícara de leite, duas colheres de sopa de “pó roial” e três ovos (só vale se for de galinha de quintal). Nuns cantos o povo ainda coloca uma colher de chá de sementes de erva doce, uma colher de sopa de raspas de limão ou uma colher de chá de canela em pó.

Lá onde aprendi, minha amiga de sempre – Juça – separava a clara e as gemas dos ovos. Com cuidado puxava com os dedos a pele que dá formato às gemas e misturava elas com a margarina e o açúcar. Com a colher de pau ela transformava esses ingredientes num creme esbranquiçado. Aos poucos acrescentava os secos (farinha de trigo, fubá de milho e o leite. “Batia” essa mistura até que ela ficasse homogênea e “lisa” (sem grumos ou pelotas). Podia até precisar de um dedinho de leite. Ai é “no olho”... Nesse ponto acrescentava o “pó roial”. Untava um tabuleiro com óleo de cozinha e colocava a massa ali. Dava uma mexidinha pra cá, outra pra lá pra modi acumodá a massa. Forno!

Quando começava a cheirar era olha de ir dar uma olhada. Se a parte de cima começasse a ficar castanha já era hora de tirar do forno e colocar em cima do fogão. Os mais apressados comiam ainda quente...

Uma outra de bolo de milho – que já foi farto nas pequenas propriedades pois era não só o alimento da casa como dos terreiros (galinhas e porcos) – é o de bolo cremoso. O interessante de se observar são as interações fisico-químicas deste processo. E, claro, o sabor que ele tem.

Então, vamos lá. Separe quatro ovos (novamente só vale se for de galinha de quintal, criada solta, comendo minhocas, capim e milho jogado), uma xícaras de açúcar cristal (fica mais gostoso e menos doce), uma pitadinha de dois dedos de sal, quatro xícaras de leite (quanto mais “gordo” melhor), uma xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), uma e meia colher de sopa de farinha de trigo, uma xícara de queijo mineiro duro (canastra, meia cura), uma xícara de coco fresco ralado, meia xícara de óleo de cozinha (ou, como antigamente, duas colheres de sopa de manteiga), uma colher de sobremesa de pó roial.

Antigamente tudo isso era mexido na gamela. Depois vieram as tijelas de plástico e por fim o liquidificador. É claro que haverá resultados diferentes para cada um desses meios usados. Você escolhe o que deseja seguir.

Unte e enfarinhe um tabuleiro e coloque ali a massa do bolo. Coloque para assar em forno moderado até que a casquinha comece a ficar castanha. Um pequeno detalhe: é para ser servido como se estivesse na forma.


[clique sobre a imagem para ampliar]


Por fim (por esta vez) a broinha de milho de canjica. Algo assim como o supremo manjar dos deuses. Certamente a delícia que mais me apaixona ainda hoje quando passo pelas Drogarias Venâncio aqui no Rio... O que sobrou do antigo Café Palheta sobrevive por lá numa versão moderna, convivendo com drogas e perfumarias.

Separe uma e meia xícara de fubá de canjica (se não encontrares, compre o “mimoso”. Se também não encontrares, use o Granfino pré-cozido), uma xícara de farinha de trigo, meia xícara de açúcar, uma pitada de dois dedos de sal, uma xícara de manteiga (retirada do refrigerador/geladeira pelo menos uma hora antes do uso), uma xícara de leite (o mais gordo e fresco leite de vaca que encontrares) e meia duzia de ovos de galinha de quintal.

Peneire numa tigela 1 xícara (chá) de fubá com a farinha de trigo, o açúcar e o sal. Reserve.

Misture numa panela a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o leite e 1 xícara (chá) de água. Leve ao fogo e, assim que ferver, junte de uma vez os ingredientes secos. Mexa vigorosamente e cozinhe por 20 minutos, sem parar de mexer, até obter um mingau encorpado. O fubá deve ser bem cozido como se fosse polenta.

Retire do fogo, despeje numa tigela e deixe esfriar por 15 minutos, mexendo de vez em quando.

Ligue o forno à temperatura média.

Em seguida, adicione os ovos, um a um, mexendo sempre a cada adição. Continue a mexer vigorosamente até a massa ficar macia e um pouco mole (não é ponto de enrolar).

Umedeça uma tigela de 10 cm de diâmetro (do tamanho de 1 xícara de chá) e polvilhe com parte do fubá restante. Coloque na tigela um pouco mais de 1 colher (sopa) de massa. Rode a tigela para formar as broinhas e disponha-as numa assadeira untada com a manteiga reservada.

Deixe uma distância de 2 cm entre as broas.

Repita a operação até terminar a massa.

Sempre que necessário, umedeça um pouco a tigela e coloque mais fubá. Leve ao forno por 25 minutos, ou até as broinhas dourarem.

Retire do forno e sirva quente.


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Aproveitando as lembranças das minhas andanças pelas terras de Minas e o Festival de Quitandas de Congonhas realizado no último domingo, revi algumas dessas delícias que aprendi ao longo destes passeios por estradas de terra, cheiro de capim molhado, carro-de-boi, crepitar de lenha nos fogões, chaminés lançando aquela fumacinha cheirosa por cima dos telhados de telha canal.

A lembrança mais forte vem por conta das quitandas. Lembranças de tempos de alegria e de fartura. Tomara que ainda assim por esses tempos de “crise mundial”...

Uma das primeiras dessas quitandas a aprender a fazer foi a broa de milho, que normalmente é feita ainda muito cedo para o café da manhã. Ao longo do dia ela fica ali na beira do fogão à lenha e serve de acompanhamento para o café-preto (um café ralinho, passado no coador de pano com água pré-adoçada. Nuns lugares com garapa, noutros com açúcares que variam do mascavo ao refinado, mas sempre pré-adoçado e bem ralinho – pra modi rendê maissss – e fazer o contraponto com o milho.

Essa broa é o resultado da mistura de meia xícara de margarina de milho, uma e meia xícara de açúcar, uma e meia xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), meia xícara de farinha de trigo, um quarto de xícara de leite, duas colheres de sopa de “pó roial” e três ovos (só vale se for de galinha de quintal). Nuns cantos o povo ainda coloca uma colher de chá de sementes de erva doce, uma colher de sopa de raspas de limão ou uma colher de chá de canela em pó.

Lá onde aprendi, minha amiga de sempre – Juça – separava a clara e as gemas dos ovos. Com cuidado puxava com os dedos a pele que dá formato às gemas e misturava elas com a margarina e o açúcar. Com a colher de pau ela transformava esses ingredientes num creme esbranquiçado. Aos poucos acrescentava os secos (farinha de trigo, fubá de milho e o leite. “Batia” essa mistura até que ela ficasse homogênea e “lisa” (sem grumos ou pelotas). Podia até precisar de um dedinho de leite. Ai é “no olho”... Nesse ponto acrescentava o “pó roial”. Untava um tabuleiro com óleo de cozinha e colocava a massa ali. Dava uma mexidinha pra cá, outra pra lá pra modi acumodá a massa. Forno!

Quando começava a cheirar era olha de ir dar uma olhada. Se a parte de cima começasse a ficar castanha já era hora de tirar do forno e colocar em cima do fogão. Os mais apressados comiam ainda quente...

Uma outra de bolo de milho – que já foi farto nas pequenas propriedades pois era não só o alimento da casa como dos terreiros (galinhas e porcos) – é o de bolo cremoso. O interessante de se observar são as interações fisico-químicas deste processo. E, claro, o sabor que ele tem.

Então, vamos lá. Separe quatro ovos (novamente só vale se for de galinha de quintal, criada solta, comendo minhocas, capim e milho jogado), uma xícaras de açúcar cristal (fica mais gostoso e menos doce), uma pitadinha de dois dedos de sal, quatro xícaras de leite (quanto mais “gordo” melhor), uma xícara de fubá de milho (o menos industrializado que você puder comprar), uma e meia colher de sopa de farinha de trigo, uma xícara de queijo mineiro duro (canastra, meia cura), uma xícara de coco fresco ralado, meia xícara de óleo de cozinha (ou, como antigamente, duas colheres de sopa de manteiga), uma colher de sobremesa de pó roial.

Antigamente tudo isso era mexido na gamela. Depois vieram as tijelas de plástico e por fim o liquidificador. É claro que haverá resultados diferentes para cada um desses meios usados. Você escolhe o que deseja seguir.

Unte e enfarinhe um tabuleiro e coloque ali a massa do bolo. Coloque para assar em forno moderado até que a casquinha comece a ficar castanha. Um pequeno detalhe: é para ser servido como se estivesse na forma.


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Por fim (por esta vez) a broinha de milho de canjica. Algo assim como o supremo manjar dos deuses. Certamente a delícia que mais me apaixona ainda hoje quando passo pelas Drogarias Venâncio aqui no Rio... O que sobrou do antigo Café Palheta sobrevive por lá numa versão moderna, convivendo com drogas e perfumarias.

Separe uma e meia xícara de fubá de canjica (se não encontrares, compre o “mimoso”. Se também não encontrares, use o Granfino pré-cozido), uma xícara de farinha de trigo, meia xícara de açúcar, uma pitada de dois dedos de sal, uma xícara de manteiga (retirada do refrigerador/geladeira pelo menos uma hora antes do uso), uma xícara de leite (o mais gordo e fresco leite de vaca que encontrares) e meia duzia de ovos de galinha de quintal.

Peneire numa tigela 1 xícara (chá) de fubá com a farinha de trigo, o açúcar e o sal. Reserve.

Misture numa panela a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o leite e 1 xícara (chá) de água. Leve ao fogo e, assim que ferver, junte de uma vez os ingredientes secos. Mexa vigorosamente e cozinhe por 20 minutos, sem parar de mexer, até obter um mingau encorpado. O fubá deve ser bem cozido como se fosse polenta.

Retire do fogo, despeje numa tigela e deixe esfriar por 15 minutos, mexendo de vez em quando.

Ligue o forno à temperatura média.

Em seguida, adicione os ovos, um a um, mexendo sempre a cada adição. Continue a mexer vigorosamente até a massa ficar macia e um pouco mole (não é ponto de enrolar).

Umedeça uma tigela de 10 cm de diâmetro (do tamanho de 1 xícara de chá) e polvilhe com parte do fubá restante. Coloque na tigela um pouco mais de 1 colher (sopa) de massa. Rode a tigela para formar as broinhas e disponha-as numa assadeira untada com a manteiga reservada.

Deixe uma distância de 2 cm entre as broas.

Repita a operação até terminar a massa.

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domingo, 17 de maio de 2009

A vida se repete na estação


Hoje me lembrei de umas viagens que andei fazendo por Minas Gerais. Sempre Minas povoando minhas lembranças.

Andei por lá tanto a trabalho quando pra me divertir. Estive sozinho, com companheiros de trabalho, com minha companheira, com primos, primas e desconhecidos.

Estive na roça de estrada de barro vermelho e em estrada de asfalto. Andei sobre pé-de-moleque de Ouro Preto.

Conheci minas de ouro e minas de gente. Lindas mineiras de Belô.

Conheci tantos lugares, pessoas e comidas como o inesquecível frango no barro de um posto de gasolina!

Nessas idas e vindas conheci muito da comida mineira. Não uma comida comercial de tantos lugares daqui do Rio. Mas comida de roça pra valer. Foram tantas.

Hoje me lembrei de uma época em que o trabalho foi árduo. Era preciso ensinar a muitos colegas desconhecidos uma nova forma de trabalho. Era sala de treinamento o dia todo até a chegada da lua. E, para descontrair apresentei a eles – mineiros – algumas das receitas que eu aprendi.

Aqui vão elas...

Receita cazêra di môi di repôi no ái i ói
Ingrediêntis: cincu dênti di ái, três cuié di ói, uma cabêça di repôi, uma cuié di mastomati, sá a gosto.

Modifazê: Casca o ái, pica u ái i sóca u ái cum sá, quenta u ói na cassarola i foga u ái picadu nu ói quenti, pica u repôi beeeeemmmm finiiiiiiiiin, fóga u repôi no ói quenti, juntu cum u ái fogado. Põim a mastomati i mexi cum a cuié pra módi fazê o môi. Ispera um pôco. Sirvi com rôis i meleti.


Receita cazêra di meleti
Ingrediênti: ôvu, mantêga, sá

Modifazê: Pega us ôvu nu cestu de guardá.

Bati o ôvu na beradinha da pia pra mudi quebrá. Coloca o qui tem dentro num pratu fundu. Coloca uma pitadinha di sá i bate cum garfu mode espumá bein.

Adispôs coloca a figidêra na trempe pra isquentá. Põim um tantim de mantêga prá derretê.

Ai, vira o prato cum ôvu na frigidêra e tampa.

Vigia pra num queimá. Ai vira cum ajuda da tampa modi dôrá o ôtru lado.


Receita cazêra di rôis
Ingrediênti: rôis, ái, cibôla, ói, sá

Modifazê: Cata u rôs. Lava u rôis i iscorri pra modi ficá sequim.

Pica u ái i a cibôla, quenta u ói na cassarola i foga u ái picadim, a cibôla picadim nu ói quenti.

Põim u rôis corrido i mexi. Põim água bem quenti inté tê mais di um dedo pracima do rôis.

Vigia pra num queimá. Adispôs bota di lado na trempi.


Forra a mesa é põim us pratus e taiés. Num isqueci os cupus. Põim as travessas cum rôis, meleti i môi di repôi.

Inquanto comi, troca uma troça pra modi alegrá.

E a estação? Em qualquer boa cidade de Minas tem uma estação de trem. Faz parte do mundo mineiro.



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A vida se repete na estação


Hoje me lembrei de umas viagens que andei fazendo por Minas Gerais. Sempre Minas povoando minhas lembranças.

Andei por lá tanto a trabalho quando pra me divertir. Estive sozinho, com companheiros de trabalho, com minha companheira, com primos, primas e desconhecidos.

Estive na roça de estrada de barro vermelho e em estrada de asfalto. Andei sobre pé-de-moleque de Ouro Preto.

Conheci minas de ouro e minas de gente. Lindas mineiras de Belô.

Conheci tantos lugares, pessoas e comidas como o inesquecível frango no barro de um posto de gasolina!

Nessas idas e vindas conheci muito da comida mineira. Não uma comida comercial de tantos lugares daqui do Rio. Mas comida de roça pra valer. Foram tantas.

Hoje me lembrei de uma época em que o trabalho foi árduo. Era preciso ensinar a muitos colegas desconhecidos uma nova forma de trabalho. Era sala de treinamento o dia todo até a chegada da lua. E, para descontrair apresentei a eles – mineiros – algumas das receitas que eu aprendi.

Aqui vão elas...

Receita cazêra di môi di repôi no ái i ói
Ingrediêntis: cincu dênti di ái, três cuié di ói, uma cabêça di repôi, uma cuié di mastomati, sá a gosto.

Modifazê: Casca o ái, pica u ái i sóca u ái cum sá, quenta u ói na cassarola i foga u ái picadu nu ói quenti, pica u repôi beeeeemmmm finiiiiiiiiin, fóga u repôi no ói quenti, juntu cum u ái fogado. Põim a mastomati i mexi cum a cuié pra módi fazê o môi. Ispera um pôco. Sirvi com rôis i meleti.


Receita cazêra di meleti
Ingrediênti: ôvu, mantêga, sá

Modifazê: Pega us ôvu nu cestu de guardá.

Bati o ôvu na beradinha da pia pra mudi quebrá. Coloca o qui tem dentro num pratu fundu. Coloca uma pitadinha di sá i bate cum garfu mode espumá bein.

Adispôs coloca a figidêra na trempe pra isquentá. Põim um tantim de mantêga prá derretê.

Ai, vira o prato cum ôvu na frigidêra e tampa.

Vigia pra num queimá. Ai vira cum ajuda da tampa modi dôrá o ôtru lado.


Receita cazêra di rôis
Ingrediênti: rôis, ái, cibôla, ói, sá

Modifazê: Cata u rôs. Lava u rôis i iscorri pra modi ficá sequim.

Pica u ái i a cibôla, quenta u ói na cassarola i foga u ái picadim, a cibôla picadim nu ói quenti.

Põim u rôis corrido i mexi. Põim água bem quenti inté tê mais di um dedo pracima do rôis.

Vigia pra num queimá. Adispôs bota di lado na trempi.


Forra a mesa é põim us pratus e taiés. Num isqueci os cupus. Põim as travessas cum rôis, meleti i môi di repôi.

Inquanto comi, troca uma troça pra modi alegrá.

E a estação? Em qualquer boa cidade de Minas tem uma estação de trem. Faz parte do mundo mineiro.



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domingo, 10 de maio de 2009

Laranja-da-terra


Hoje cedo, enquanto caminhava em direção ao Célio de Barros, ainda moribundo mas vivendo a dar alegrias às crianças, jovens e adultos que buscam no atletismo um caminho saudável para suas vidas, pensava naquelas mãos que me conduziram pela vida. Ainda hoje, os passos mais impostantes são guiados por elas.

As músicas sucediam nos meus ouvidos mas minha cabeça estava lá junto daquelas mãos que muito cedo, tão logo eu cheguei me guiaram ao seu peito para a primeira refeição, claro não sem antes acariciar todo o meu corpo. Um alimento que era tão nutritivo sem ser tão colorido como minhas mestras de hoje em dia me ensinam. Mas tão importante para a minha formação como ser humano que nem mesmo o bico das bananas que tentavam fazer com que eu fosse alimentado de diversas formas foram incapazes de me convencer disto.

Tão jovem naquele tempo. Tão insegura, talvez pela primeira experiência que passava mas tão segura de si em sua índole e seu carinho.

Aquelas mãos que me levaram sempre uma comidinha gostosa feita com muito carinho e que ainda hoje é capaz de fazer um feijão como poucos já comi... Um arroz branquinho, soltinho em sua panelinha de barro só para o arroz de cada dia.

As suas mãos que descobriram outros caminhos para expressar seu amor nem sempre tão explosivo mas sempre profundo, pintou telas impressionantes que colorem as paredes de sua casa. Mãos que descobriram formas nas madeiras diversas e nos deram tantas formas e aprendizados ao longo desta vida.

Mãos que me ensinaram, recentemente, uma engenhoca para pegar as laranjas-da-terra que seguem nos galhos em direção ao inatingível azul celeste de seu quintal. Um simples ponto de interrogação na ponta de uma vara, fazem com que alcancemos as laranjas e as possamos separar do pedúnculo que as mantém sugando a seiva mater.

Mãos que me mostraram como descascar as laranjas com um simples descascador de legumes sem ferir a polpa branca das laranjas e mantê-las o mais polpudas possível para que o doce seja farto. Nem mesmo as mais modernas ferramentas que tenho conseguem aquela pele da forma como suas mãos conseguem.

Ali, depois do descasque, uma fervura com um pouco de sal. Depois, mergulhadas em água fria, uma casca dentro da outra – abraçadas pelas suas pétalas – mantém-se na profundidade adequada para que todas possam ficar submersas. Dois dias, três dias, trocadas várias vezes, num ensinamento que deve ter sido passado por uma das Marias que estiveram juntas a ela em sua vida: a Joana (que ainda hoje vive não só na vida exibindo orgulhosamente as marcas que o tempo não fizeram sair de suas mão que minha boca deixou como em minha cabeça e coração) e a Baiana que contava tantas histórias que encheram minha cabeça por muitos anos de minha vida e que hoje não sei mais de para onde sua vida lhe levou.

Depois disso, diferentemente do que aprendi em outras escolas, a calda não é feita antecipadamente. As laranjas são colocadas imersas em água e o açúcar colocado em seguida mantendo a proporção de uma xícara de água para uma de açúcar. A água fervida vai cozinhando as pétalas e o açúcar, desmanchando vai saturando as células das laranjas numa troca maravilhosa. Ela não esquece o pauzinho de canela que eu resolvi não deixar sozinho: coloquei uma florzinha de anis estrelado (gosto muito desse sabor nos doces caseiros, inclusive de bananas).

O fogo bem baixinho depois de iniciada a fervura vai lentamente trocando sabores e amaciando as pétalas verdes e colocando um brilho maravilhoso em sua superfície. O tempo? Só Deus sabe... mas não menos que duas, três.

A calda engrossa e não fica tão doce... Depois de esfriado é preciso guardar em um pote trancado com cadeado porque elas criam asas e voam para locais desconhecidos.

Essas mãos. Essas mãos que gosto de acariciar e pegar suas pelinhas que já enrugam suas mãos. Minha querida dona Diva: obrigado por todas as coisas que ainda hoje consegues me ensinar, pelos bilhetes guardados com carinho junto de mim e ao alcance dos meus olhos. Obrigado pela vida que me deste. Obrigado por ser minha mãe.


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Laranja-da-terra


Hoje cedo, enquanto caminhava em direção ao Célio de Barros, ainda moribundo mas vivendo a dar alegrias às crianças, jovens e adultos que buscam no atletismo um caminho saudável para suas vidas, pensava naquelas mãos que me conduziram pela vida. Ainda hoje, os passos mais impostantes são guiados por elas.

As músicas sucediam nos meus ouvidos mas minha cabeça estava lá junto daquelas mãos que muito cedo, tão logo eu cheguei me guiaram ao seu peito para a primeira refeição, claro não sem antes acariciar todo o meu corpo. Um alimento que era tão nutritivo sem ser tão colorido como minhas mestras de hoje em dia me ensinam. Mas tão importante para a minha formação como ser humano que nem mesmo o bico das bananas que tentavam fazer com que eu fosse alimentado de diversas formas foram incapazes de me convencer disto.

Tão jovem naquele tempo. Tão insegura, talvez pela primeira experiência que passava mas tão segura de si em sua índole e seu carinho.

Aquelas mãos que me levaram sempre uma comidinha gostosa feita com muito carinho e que ainda hoje é capaz de fazer um feijão como poucos já comi... Um arroz branquinho, soltinho em sua panelinha de barro só para o arroz de cada dia.

As suas mãos que descobriram outros caminhos para expressar seu amor nem sempre tão explosivo mas sempre profundo, pintou telas impressionantes que colorem as paredes de sua casa. Mãos que descobriram formas nas madeiras diversas e nos deram tantas formas e aprendizados ao longo desta vida.

Mãos que me ensinaram, recentemente, uma engenhoca para pegar as laranjas-da-terra que seguem nos galhos em direção ao inatingível azul celeste de seu quintal. Um simples ponto de interrogação na ponta de uma vara, fazem com que alcancemos as laranjas e as possamos separar do pedúnculo que as mantém sugando a seiva mater.

Mãos que me mostraram como descascar as laranjas com um simples descascador de legumes sem ferir a polpa branca das laranjas e mantê-las o mais polpudas possível para que o doce seja farto. Nem mesmo as mais modernas ferramentas que tenho conseguem aquela pele da forma como suas mãos conseguem.

Ali, depois do descasque, uma fervura com um pouco de sal. Depois, mergulhadas em água fria, uma casca dentro da outra – abraçadas pelas suas pétalas – mantém-se na profundidade adequada para que todas possam ficar submersas. Dois dias, três dias, trocadas várias vezes, num ensinamento que deve ter sido passado por uma das Marias que estiveram juntas a ela em sua vida: a Joana (que ainda hoje vive não só na vida exibindo orgulhosamente as marcas que o tempo não fizeram sair de suas mão que minha boca deixou como em minha cabeça e coração) e a Baiana que contava tantas histórias que encheram minha cabeça por muitos anos de minha vida e que hoje não sei mais de para onde sua vida lhe levou.

Depois disso, diferentemente do que aprendi em outras escolas, a calda não é feita antecipadamente. As laranjas são colocadas imersas em água e o açúcar colocado em seguida mantendo a proporção de uma xícara de água para uma de açúcar. A água fervida vai cozinhando as pétalas e o açúcar, desmanchando vai saturando as células das laranjas numa troca maravilhosa. Ela não esquece o pauzinho de canela que eu resolvi não deixar sozinho: coloquei uma florzinha de anis estrelado (gosto muito desse sabor nos doces caseiros, inclusive de bananas).

O fogo bem baixinho depois de iniciada a fervura vai lentamente trocando sabores e amaciando as pétalas verdes e colocando um brilho maravilhoso em sua superfície. O tempo? Só Deus sabe... mas não menos que duas, três.

A calda engrossa e não fica tão doce... Depois de esfriado é preciso guardar em um pote trancado com cadeado porque elas criam asas e voam para locais desconhecidos.

Essas mãos. Essas mãos que gosto de acariciar e pegar suas pelinhas que já enrugam suas mãos. Minha querida dona Diva: obrigado por todas as coisas que ainda hoje consegues me ensinar, pelos bilhetes guardados com carinho junto de mim e ao alcance dos meus olhos. Obrigado pela vida que me deste. Obrigado por ser minha mãe.


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