sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma agitação por um bolo de cenoura!

E tudo começou no Facebook! Ou, por causa dele acabei precisando revirar gavetas e papéis antigos, amarelados, meio rasgados, manchados de chocolate e outros ingredientes. Borras de manteiga ou de gemas de ovos sem contar.

Depois de muito revirar estava ali a receita procurada. Mas vocês não vão ganhar ela assim tão fácil como acontece em outros lugares. Também não vai ter gincana, nem retuitar uma frase do tipo “Eu quero ganhar a receita do bolo de cenouras do Carlinhos”... Ou quem sabe, sim?

Mas a história desse bolo começou sei lá tem quanto tempo. Na realidade nem sou muito ligado em “fazer bolos”. Gosto mais de comê-los. E eles me tiram do sério quando me encontro diante de um. E bolo de cenoura é um deles.

Minha mulher fazia, antigamente e eu não dava bola. Minha caçula se acostumou a colocar receitas penduradas num quadro de cortiça que fica na cozinha exatamente para as que são frequentes mas ainda não decoradas e, para doce, é necessário seguir exatamente a receita.

Não tinha muita paciência para acompanhar ela fazer. Nem ela gosta muito que eu fique do lado. A não ser quando me chama. Mas a primeira coisa que pensei foi em mudar a cobertura. Não me agradava a ideia de usar achocolatado, manteiga... Fica uma coisa rala, meio sem graça. Me acostumei às texturas, aos sabores mais apurados, sei lá. Meio besta como dizem os mais chegados.

Mas me imaginei fazendo uma ganache. E olha que nem precisa ser uma dessas ganaches que você come nas casas mais puristas de qualquer cidade do mundo. Vamos mesmo com uma barrinha de chocolate brasileiro. Dos daqui tenho usado mais vezes o Arcor de 53% de cacau. Me acostumei, acho. Claro que preferiria usar um Callebaut mas, nem vou tirar onda aqui. É para ser caseiro mesmo. Quem não encontrar ou puder comprar do Arcor, use o que gosta, com a douçura enorme que os “ao leite” possuem. Afinal, cada um tem uma taxa glicêmica própria...

O creme de leite é uma outra coisa meio elástica. Não dá pra dizer só uso o fresco! Claro que é o melhor. Se tiveres moedas suficientes, compre-o e use-o sempre! Se não, compre os de caixinha mesmo. Procure comprar sempre os “mais gordos” pois eles vão dar uma textura mais interessante.ao final da preparação. Mas, se você gosta mesmo dos em lata, use-o: só não sei se vai dar certo, tá? Ah, mas escorra todo o soro que conseguires...

A manteiga... sempre manteiga, tá? Nesse caso não dá pra usar margarina. Nem as de “padeiro” com alto índice de gordura... É manteiga mesmo. E sem sal! A melhor. Existerm boas marcas no mercado. Eu sei que você vai achar uma “pra chamar de sua”!

Então, a ganache é preparada assim: Coloque 100 ml do creme de leite em banho maria. Melhor que a água não encoste no fundo da vasilha que conterá o creme e o chocolate... Quebre ao máximo a barra de chocolate e misture ao creme. Misture até que o chocolate esteja derretido. Retire do banho maria. Adicione uma colher de sopa de manteiga e misture até incorporar toda a manteiga. Pronto!

Mas, antes de preparar a ganache, é preciso preparar o bolo porque a ganache é colocada quente sobre o bolo quente!

Então, escolha duas cenouras que tenham peso aproximado de 200 gramas. Corte as cenouras em pedaços pequenos de modo a não forçar o motor de seu liquidificador. Coloque no liquidificador. Acrescente meia xícara de óleo vegetal, dois ovos médios/grandes sem a casca (algo como 75 gramas por ovo com a casca). Dê uma pulsada para que se transforme em líquido os pedaços de cenoura.

Adicione uma xícara de farinha de trigo sem fermento,peneirada, uma xícara de açúcar mascado peneirado, meia colher de sopa de fermento químico (o famoso pó Royal de nossas avós) e uma pitada (de dois dedos) de sal refinado. Bata até que fique um creme mole e uniforme.

Enquanto está batendo, unte uma forma de alumínio de 29 x 21 cm e coloque um pouco de óleo vegetal nela. Passe o óleo em toda a superfície interna da forma. Coloque o creme de cenouras na forma e bata contra a superfície de trabalho para retirar as bolhas de ar.

Leve ao forno médio para assar. Verifique com um palito depois de 25 minutos. Enfie um palito, na vertical, no centro do tabuleiro. Se ele sair seco, sem massa agarrada, seu bolo estará pronto!

Faça agora a ganache, enquanto o bolo está assando.

Retire do forno (não esqueça de apagá-lo se não for usá-lo para outra preparação). Coloque sobre a superfície de trabalho e coloque a ganache sobre o bolo. Cubra toda a superfície. Use as costas de uma colher de sopa ou uma espátula para cobrir. Se você não tiver isto, use os braços, inclinando o tabuleiro para os lados e pra frente e para trás. Não ria! Pode ter alguém que precise desta informação...

Enquanto ele esfria, lave os utensílios usados e guarde-os secos.

Depois de frio, corte-o no formato desejado. E bom apetite!

Ah, não posso esquecer da foto que deu motivo para que este post fosse escrito. Aqui vai ela.
bacalhaucombatata |

Aqui está o meu bolo de cenoura.
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Uma agitação por um bolo de cenoura!

E tudo começou no Facebook! Ou, por causa dele acabei precisando revirar gavetas e papéis antigos, amarelados, meio rasgados, manchados de chocolate e outros ingredientes. Borras de manteiga ou de gemas de ovos sem contar.

Depois de muito revirar estava ali a receita procurada. Mas vocês não vão ganhar ela assim tão fácil como acontece em outros lugares. Também não vai ter gincana, nem retuitar uma frase do tipo “Eu quero ganhar a receita do bolo de cenouras do Carlinhos”... Ou quem sabe, sim?

Mas a história desse bolo começou sei lá tem quanto tempo. Na realidade nem sou muito ligado em “fazer bolos”. Gosto mais de comê-los. E eles me tiram do sério quando me encontro diante de um. E bolo de cenoura é um deles.

Minha mulher fazia, antigamente e eu não dava bola. Minha caçula se acostumou a colocar receitas penduradas num quadro de cortiça que fica na cozinha exatamente para as que são frequentes mas ainda não decoradas e, para doce, é necessário seguir exatamente a receita.

Não tinha muita paciência para acompanhar ela fazer. Nem ela gosta muito que eu fique do lado. A não ser quando me chama. Mas a primeira coisa que pensei foi em mudar a cobertura. Não me agradava a ideia de usar achocolatado, manteiga... Fica uma coisa rala, meio sem graça. Me acostumei às texturas, aos sabores mais apurados, sei lá. Meio besta como dizem os mais chegados.

Mas me imaginei fazendo uma ganache. E olha que nem precisa ser uma dessas ganaches que você come nas casas mais puristas de qualquer cidade do mundo. Vamos mesmo com uma barrinha de chocolate brasileiro. Dos daqui tenho usado mais vezes o Arcor de 53% de cacau. Me acostumei, acho. Claro que preferiria usar um Callebaut mas, nem vou tirar onda aqui. É para ser caseiro mesmo. Quem não encontrar ou puder comprar do Arcor, use o que gosta, com a douçura enorme que os “ao leite” possuem. Afinal, cada um tem uma taxa glicêmica própria...

O creme de leite é uma outra coisa meio elástica. Não dá pra dizer só uso o fresco! Claro que é o melhor. Se tiveres moedas suficientes, compre-o e use-o sempre! Se não, compre os de caixinha mesmo. Procure comprar sempre os “mais gordos” pois eles vão dar uma textura mais interessante.ao final da preparação. Mas, se você gosta mesmo dos em lata, use-o: só não sei se vai dar certo, tá? Ah, mas escorra todo o soro que conseguires...

A manteiga... sempre manteiga, tá? Nesse caso não dá pra usar margarina. Nem as de “padeiro” com alto índice de gordura... É manteiga mesmo. E sem sal! A melhor. Existerm boas marcas no mercado. Eu sei que você vai achar uma “pra chamar de sua”!

Então, a ganache é preparada assim: Coloque 100 ml do creme de leite em banho maria. Melhor que a água não encoste no fundo da vasilha que conterá o creme e o chocolate... Quebre ao máximo a barra de chocolate e misture ao creme. Misture até que o chocolate esteja derretido. Retire do banho maria. Adicione uma colher de sopa de manteiga e misture até incorporar toda a manteiga. Pronto!

Mas, antes de preparar a ganache, é preciso preparar o bolo porque a ganache é colocada quente sobre o bolo quente!

Então, escolha duas cenouras que tenham peso aproximado de 200 gramas. Corte as cenouras em pedaços pequenos de modo a não forçar o motor de seu liquidificador. Coloque no liquidificador. Acrescente meia xícara de óleo vegetal, dois ovos médios/grandes sem a casca (algo como 75 gramas por ovo com a casca). Dê uma pulsada para que se transforme em líquido os pedaços de cenoura.

Adicione uma xícara de farinha de trigo sem fermento,peneirada, uma xícara de açúcar mascado peneirado, meia colher de sopa de fermento químico (o famoso pó Royal de nossas avós) e uma pitada (de dois dedos) de sal refinado. Bata até que fique um creme mole e uniforme.

Enquanto está batendo, unte uma forma de alumínio de 29 x 21 cm e coloque um pouco de óleo vegetal nela. Passe o óleo em toda a superfície interna da forma. Coloque o creme de cenouras na forma e bata contra a superfície de trabalho para retirar as bolhas de ar.

Leve ao forno médio para assar. Verifique com um palito depois de 25 minutos. Enfie um palito, na vertical, no centro do tabuleiro. Se ele sair seco, sem massa agarrada, seu bolo estará pronto!

Faça agora a ganache, enquanto o bolo está assando.

Retire do forno (não esqueça de apagá-lo se não for usá-lo para outra preparação). Coloque sobre a superfície de trabalho e coloque a ganache sobre o bolo. Cubra toda a superfície. Use as costas de uma colher de sopa ou uma espátula para cobrir. Se você não tiver isto, use os braços, inclinando o tabuleiro para os lados e pra frente e para trás. Não ria! Pode ter alguém que precise desta informação...

Enquanto ele esfria, lave os utensílios usados e guarde-os secos.

Depois de frio, corte-o no formato desejado. E bom apetite!

Ah, não posso esquecer da foto que deu motivo para que este post fosse escrito. Aqui vai ela.
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domingo, 8 de maio de 2011

A melhor comida de minha mãe

Essa viagem iria ser grande e complicada. Iria levar um tempo bem grande e era preciso me acostumar com a condução. Apertada como uma dessas cápsulas que levam astronautas ao espaço.

O chefe, para me liberar, tinha uma lista de recomendações, por assim dizer, um monte de coisas que eu poderia fazer e outras que não. Me lembrou de que a viagem iria me dar muitas alegrias mas que, também, em determinados momentos, iria vivenciar experiências que fariam lágrimas descer pelo meu rosto. Mas logo a seguir, voltaria a sorrir, de novo.

Tudo pronto, foi dada a partida do veículo. Nos primeiros momentos tudo era estranho. Me virava de um lado para outro: não encontrava uma posição confortável para a viagem. Mas, era o que eu tinha. Não tinha guloseimas para ir beliscando como todo mundo faz em viagens. Afinal minha bagagem não estava exatamente ao alcance de minhas mãos. Apenas me lembrava de cada coisa que estava levando para a viagem. O local da chegada, totalmente desconhecido. Só tinha visto ele de fotos e alguns pequenos filmes.

As pessoas que lá viviam eram estranhas, por assim dizer. Tinham hábitos diferentes dos de nossa cidade. Mas eu havia preparado essa viagem com cuidado e levara bastante tempo em seu planejamento.

Passei sobressaltos na viagem. A sensação que eu tinha é que a estrada misturava trechos de asfalto e esburacados trechos de terra e pedra. Mas uma coisa foi certa: não tivemos paradas para lanche ou pipi. Foi direta.

A chegada, a boas vindas foram dadas por um senhor com um nome estranho: Waldomiro Chastinet. Enfim ele apenas gostava de ser chamado de doutor Chastinet. Então, que seja. Afinal não custa nada a gente fazer a vontade de certas pessoas. Afinal, foi ele quem abriu a porta para eu sair. Nem seimbem se era alegria pela chegada ou meu primeiro grito de rebeldia... É possível.

Logo fui encaminhado a passar por uma situação estranha: fui envolto nuns panos e me colocaram numa bacia com água... Recepção estranha para quem chega de uma viagem, não. Mas foi assim.

Depois disso, acho que perceberam que eu estava com fome. Afinal a viagem fora longa e sem a companhia de comida. Estranhei não me deixarem comer na viagem. Queria alguma coisa que me fosse forte o suficiente para me dar forças para seguir minha viagem.

Então, fui levado a conhecer uma forma engraçada de se comer. Era como um aparelho que tinha uma espécie de bico. Colocaram minha boca ali naquele bico e como que por instinto, comecei a sugar. Um líquido meio grossinho, assim como se fosse um mingau ralo, um caldinho grosso, de um gosto meio esquisito mas que eu sentia que a cada chupada que dava aquele caldinho me revigorava. Era um prazer tão grande estar ali, numa posição confortável para aquela minha primeira refeição ali. Depois de um bom tempo que pude ficar ali aproveitando tudo que tinha direito um senhor, que não sabia bem qual era sua função me pegou no colo e, meio sem jeito, me colocou de encontro ao seu ombro e começou a me dar uns tapinhas nas costas. Senti um movimento esquisito dentro de mim e logo ecoou um barulho que se seguiu de gargalhadas dos que estavam à minha volta. Mais umas balançaddinhas e eu fui colocado para dormir. Que sono gostoso! Nada melhor depois da longa viagem, um banho, a comidinha caseira e um boa sesta! Afinal quem não gostaria?

Quando acordei fui apresentado àquela que iria cuidar de minha estadia. Dona Diva. Uma bela garota, novinha ainda em seus vinte anos de inexperiência mas que demonstrou logo nos primeiros momentos de nosso relacionamento um enorme carinho por mim. Logo pensei: vai cuidar de minhas coisas com muito carinho.

Suas mãos afagavem meu corpo como se fôssemos íntimos há tantos anos e, no entanto estava conhecendo ela naquele momento. Tinha ali na recepção uma outra risonha senhora chamada por eles da Maria José. Esse nome me era familiar pois lá onde morava tinha sido apresentado à Maria. Ela tinha uma história e tanta de vida para nos contar. Sempre tinha um monte de gente junto a ela ouvindo seus relatos de vida.

Aquele doutor que me recebera, logo foi embora. O senhor que me colocou para dormir, ainda meio desajeitado não parava de falar nem de andar de um lado para o outro. Não sei se de nervoso ou de alegria. Seu coração batia muito acelerado. Levou o doutor até a porta e subiu as escadarias tão depressa que, mesmo no meu sono consegui ouvir os toque-toque do pisar nos degraus.

Que recepção! Pensava eu em meu sono. Era estranho tudo aquilo. Uma viagem que nunca havia me lembrado de ter feito. Que recepção!

Foi assim que cheguei nessa vida. Foi assim que pude comer a primeira comidinha que minha mãe me deu. Depois daquele peito oferecido com o leite da vida ela continuou a cuidar de mim. Banhos, agasalhos, carinho, broncas... e comida. Com ela, ao longo do tempo, fui me chegando ao fogão, me interessando pelo comer com prazer. Fui descobrindo ingredientes e modos de preparo. Quando ela foi frequentar um curso de confeitaria eu sempre estava do seu lado. Na hora do confeito dos enormes bolos de casamentos que ela fazia eu ali, fazendo artes. Até que um dia caí com uma concha e levei meus primeiros pontos na testa. Até hoje tenho essa marquinha.

Mesmo brigando comigo eu sempre notava o seu coração apertado. E foi assim por toda a minha vida. Ainda hoje ela procura sempre estar com seu olhar já meio cansado desta vida que não acaba brilhando ao encontro dos meus. E hoje, mesmo triste consigo entender o porque daquele pedido que me fêz: “não me apareça aqui no domingo. O dia das mães é qualquer dia que você vem e traz alegria pro meu coração. Presentes são os que tens me dado ao longo da minha vida...”.

E qual foi a melhor comida que tua mãe te deu?

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Essa viagem iria ser grande e complicada. Iria levar um tempo bem grande e era preciso me acostumar com a condução. Apertada como uma dessas cápsulas que levam astronautas ao espaço.

O chefe, para me liberar, tinha uma lista de recomendações, por assim dizer, um monte de coisas que eu poderia fazer e outras que não. Me lembrou de que a viagem iria me dar muitas alegrias mas que, também, em determinados momentos, iria vivenciar experiências que fariam lágrimas descer pelo meu rosto. Mas logo a seguir, voltaria a sorrir, de novo.

Tudo pronto, foi dada a partida do veículo. Nos primeiros momentos tudo era estranho. Me virava de um lado para outro: não encontrava uma posição confortável para a viagem. Mas, era o que eu tinha. Não tinha guloseimas para ir beliscando como todo mundo faz em viagens. Afinal minha bagagem não estava exatamente ao alcance de minhas mãos. Apenas me lembrava de cada coisa que estava levando para a viagem. O local da chegada, totalmente desconhecido. Só tinha visto ele de fotos e alguns pequenos filmes.

As pessoas que lá viviam eram estranhas, por assim dizer. Tinham hábitos diferentes dos de nossa cidade. Mas eu havia preparado essa viagem com cuidado e levara bastante tempo em seu planejamento.

Passei sobressaltos na viagem. A sensação que eu tinha é que a estrada misturava trechos de asfalto e esburacados trechos de terra e pedra. Mas uma coisa foi certa: não tivemos paradas para lanche ou pipi. Foi direta.

A chegada, a boas vindas foram dadas por um senhor com um nome estranho: Waldomiro Chastinet. Enfim ele apenas gostava de ser chamado de doutor Chastinet. Então, que seja. Afinal não custa nada a gente fazer a vontade de certas pessoas. Afinal, foi ele quem abriu a porta para eu sair. Nem seimbem se era alegria pela chegada ou meu primeiro grito de rebeldia... É possível.

Logo fui encaminhado a passar por uma situação estranha: fui envolto nuns panos e me colocaram numa bacia com água... Recepção estranha para quem chega de uma viagem, não. Mas foi assim.

Depois disso, acho que perceberam que eu estava com fome. Afinal a viagem fora longa e sem a companhia de comida. Estranhei não me deixarem comer na viagem. Queria alguma coisa que me fosse forte o suficiente para me dar forças para seguir minha viagem.

Então, fui levado a conhecer uma forma engraçada de se comer. Era como um aparelho que tinha uma espécie de bico. Colocaram minha boca ali naquele bico e como que por instinto, comecei a sugar. Um líquido meio grossinho, assim como se fosse um mingau ralo, um caldinho grosso, de um gosto meio esquisito mas que eu sentia que a cada chupada que dava aquele caldinho me revigorava. Era um prazer tão grande estar ali, numa posição confortável para aquela minha primeira refeição ali. Depois de um bom tempo que pude ficar ali aproveitando tudo que tinha direito um senhor, que não sabia bem qual era sua função me pegou no colo e, meio sem jeito, me colocou de encontro ao seu ombro e começou a me dar uns tapinhas nas costas. Senti um movimento esquisito dentro de mim e logo ecoou um barulho que se seguiu de gargalhadas dos que estavam à minha volta. Mais umas balançaddinhas e eu fui colocado para dormir. Que sono gostoso! Nada melhor depois da longa viagem, um banho, a comidinha caseira e um boa sesta! Afinal quem não gostaria?

Quando acordei fui apresentado àquela que iria cuidar de minha estadia. Dona Diva. Uma bela garota, novinha ainda em seus vinte anos de inexperiência mas que demonstrou logo nos primeiros momentos de nosso relacionamento um enorme carinho por mim. Logo pensei: vai cuidar de minhas coisas com muito carinho.

Suas mãos afagavem meu corpo como se fôssemos íntimos há tantos anos e, no entanto estava conhecendo ela naquele momento. Tinha ali na recepção uma outra risonha senhora chamada por eles da Maria José. Esse nome me era familiar pois lá onde morava tinha sido apresentado à Maria. Ela tinha uma história e tanta de vida para nos contar. Sempre tinha um monte de gente junto a ela ouvindo seus relatos de vida.

Aquele doutor que me recebera, logo foi embora. O senhor que me colocou para dormir, ainda meio desajeitado não parava de falar nem de andar de um lado para o outro. Não sei se de nervoso ou de alegria. Seu coração batia muito acelerado. Levou o doutor até a porta e subiu as escadarias tão depressa que, mesmo no meu sono consegui ouvir os toque-toque do pisar nos degraus.

Que recepção! Pensava eu em meu sono. Era estranho tudo aquilo. Uma viagem que nunca havia me lembrado de ter feito. Que recepção!

Foi assim que cheguei nessa vida. Foi assim que pude comer a primeira comidinha que minha mãe me deu. Depois daquele peito oferecido com o leite da vida ela continuou a cuidar de mim. Banhos, agasalhos, carinho, broncas... e comida. Com ela, ao longo do tempo, fui me chegando ao fogão, me interessando pelo comer com prazer. Fui descobrindo ingredientes e modos de preparo. Quando ela foi frequentar um curso de confeitaria eu sempre estava do seu lado. Na hora do confeito dos enormes bolos de casamentos que ela fazia eu ali, fazendo artes. Até que um dia caí com uma concha e levei meus primeiros pontos na testa. Até hoje tenho essa marquinha.

Mesmo brigando comigo eu sempre notava o seu coração apertado. E foi assim por toda a minha vida. Ainda hoje ela procura sempre estar com seu olhar já meio cansado desta vida que não acaba brilhando ao encontro dos meus. E hoje, mesmo triste consigo entender o porque daquele pedido que me fêz: “não me apareça aqui no domingo. O dia das mães é qualquer dia que você vem e traz alegria pro meu coração. Presentes são os que tens me dado ao longo da minha vida...”.

E qual foi a melhor comida que tua mãe te deu?

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