domingo, 23 de outubro de 2011

Domingo de primavera

Estava ali, na varandinha, cuidando primeiramente das minhas plantinhas. Essa hortinha começou meio despretensiosa. Talvez uma tentativa de buscar uma outra ocupação pras horas que insistem em ficar vazias na minha vida.

Aliás, para quem ficou muitos anos da vida totalmente em 380v não dá para ficar desenergizado...

O sol saindo, meio maroto, lá da serra, não sei se deixou um pedaço da luminosidade e calor na praia mas a verdade é que chegou do lado de cá, meio morno. Ainda bem.

As tonalidades de verde de minhas plantinhas oscilam ao sabor da luminosidade do sol. Uma em cada vasinho, de tamanho variado por causa de seu tamanho e necessidade, estão salsinha, cebolinha, duas qualidades de hortelã, um promissor pé de louro, cerefólio, as irmãs cidreira (erva e capim), tomilho, alecrim, um pé de romã e outro de ora-pro-nobis. Boldo e sálvia. Orégano e pimentas. Várias pimentas ainda sem frutificarem. E um enigmático limão-cravo.

O sol agora bate nas minhas pernas e aquece meu corpo. Nas mãos, O Ganso Marisco me faz sorrir a alma. Histórias deliciosas e ainda de quebra umas receitas inusitadas desde suas origens como a de uma tapenade que contempla 200 gramas de azeitonas pretas sem caroço (eu usei a variedade AZZAPA), 100 gramas de anchovas em conserva (bem lavadas para retirar o sal), 150 gramas de alcaparras (de banho tomado), 100 gramas de atum em posta, em óleo, bem picado com um garfo, ½ xícara de chá de azeite extra virgem (se não tiveres O&Co, que seja o melhor que o seu dinheiro puder comprar), 1 colhar de sopa de uma boa mostarda (novamente, se não for uma DIJON, que seja a melhor que o seu dinheiro puder comprar), uma pitada de fines herbes(mistura de estragão, salsinha, cebolinha e cerefólio bem picados – preferencialmente colhidas da horta de casa)e, ½ cálice de conhaque...

Pegue um pilão de pedra e coloque os ingredientes ali na seguinte ordem: primeiro as anchovas. Pile-as bem. Depois as azeitonas (já grosseiramente picadas) e as alcaparras. Novamente uma pilada para se juntarem aso ingredientes anteriores.Junte o atum e pile, adicionando lentamente o azeite. Até tudo estar perfeitamente harmônico. Tempere com a mostarda e o conhaque. Misture bem. Salpique as ervas picadas sobre o molho.

Ai entra a fase melhor: comer!

Mas, um manjar desse não pode ser comido assim, de qualquer jeito. É preciso um bom pão italiano ou um francês do campo. Daqueles cascudos por fora mas macios por dentro. Densos em sua textura e saborosos a cada mordida. De comer chorando por não ter nascido nos campos mediterrâneos ou por ter nascido em cidades onde não se encontra desses exemplares.

Coloque fatias numa torradeira ou, melhor, numa grelha não sem antes um fio de azeite sobre seu miolo. Depois de grelhado, uma porção generosa da tapenade e um bom cálice de vinho tinto. Comer e olhar o azul do céu e sentir o calor do sol de primavera.

Olhar as tonalidades do verde da hortinha caseira, sentir o perfume que sai de cada um dos vasinhos. Esperar pacientemente que a terra colocada num desses caixotes de feira, recondicionado, possa se misturar e absorver todos os nutrientes dos restinhos de frutas, legumes e verduras possa melhora a qualidade da terra que dará força para novas mudinhas. Molhar e revirar a terra todos os dias. A cor dela vai mudando com o passar dos tempos, ficando cada vez mais próxima do preto. E mais rica de nitrogênio. Nada que não seja a química da natureza trabalhando a seu favor.

Um gole do vinho. Mas qual vinho? Não importa. Teu bolso e tuas papilas gustativas te ensinarão, com o tempo, o melhor pra você, para suas combinações. Sem traumas, sem proselitismos.

Mais um capítulo do Ganso já se passou, assim, voando como um ganso selvagem, deixando sua graça registrada na minha memória.

Ah, perai que vou ali dar uma olhada num novo pãozinho que está na primeira fermentação ainda. O pré fermento foi feito ontem pela manhã. Dormiu 24 horas no refrigerador. Saiu de lá pra pegar um calorzinho do lado de fora e depois foi amassado (com carinho) junto aos demais ingredientes até ficar uma bola macia e densa. Textura de bundinha de neném, com um véu maravilhoso, úmida. Foi pro primeiro berço, descansar dessa amassada toda. Neste momento, sono de criança. Olhinhos revirando por debaixo das pálpebras semi abertas...

Volto pro sol. Abro novamente o Ganso na página onde estava e continuo... a comer mais uma brusqueta de tapenade e tomar um gole de tinto...

F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!

Domingo de primavera

Estava ali, na varandinha, cuidando primeiramente das minhas plantinhas. Essa hortinha começou meio despretensiosa. Talvez uma tentativa de buscar uma outra ocupação pras horas que insistem em ficar vazias na minha vida.

Aliás, para quem ficou muitos anos da vida totalmente em 380v não dá para ficar desenergizado...

O sol saindo, meio maroto, lá da serra, não sei se deixou um pedaço da luminosidade e calor na praia mas a verdade é que chegou do lado de cá, meio morno. Ainda bem.

As tonalidades de verde de minhas plantinhas oscilam ao sabor da luminosidade do sol. Uma em cada vasinho, de tamanho variado por causa de seu tamanho e necessidade, estão salsinha, cebolinha, duas qualidades de hortelã, um promissor pé de louro, cerefólio, as irmãs cidreira (erva e capim), tomilho, alecrim, um pé de romã e outro de ora-pro-nobis. Boldo e sálvia. Orégano e pimentas. Várias pimentas ainda sem frutificarem. E um enigmático limão-cravo.

O sol agora bate nas minhas pernas e aquece meu corpo. Nas mãos, O Ganso Marisco me faz sorrir a alma. Histórias deliciosas e ainda de quebra umas receitas inusitadas desde suas origens como a de uma tapenade que contempla 200 gramas de azeitonas pretas sem caroço (eu usei a variedade AZZAPA), 100 gramas de anchovas em conserva (bem lavadas para retirar o sal), 150 gramas de alcaparras (de banho tomado), 100 gramas de atum em posta, em óleo, bem picado com um garfo, ½ xícara de chá de azeite extra virgem (se não tiveres O&Co, que seja o melhor que o seu dinheiro puder comprar), 1 colhar de sopa de uma boa mostarda (novamente, se não for uma DIJON, que seja a melhor que o seu dinheiro puder comprar), uma pitada de fines herbes(mistura de estragão, salsinha, cebolinha e cerefólio bem picados – preferencialmente colhidas da horta de casa)e, ½ cálice de conhaque...

Pegue um pilão de pedra e coloque os ingredientes ali na seguinte ordem: primeiro as anchovas. Pile-as bem. Depois as azeitonas (já grosseiramente picadas) e as alcaparras. Novamente uma pilada para se juntarem aso ingredientes anteriores.Junte o atum e pile, adicionando lentamente o azeite. Até tudo estar perfeitamente harmônico. Tempere com a mostarda e o conhaque. Misture bem. Salpique as ervas picadas sobre o molho.

Ai entra a fase melhor: comer!

Mas, um manjar desse não pode ser comido assim, de qualquer jeito. É preciso um bom pão italiano ou um francês do campo. Daqueles cascudos por fora mas macios por dentro. Densos em sua textura e saborosos a cada mordida. De comer chorando por não ter nascido nos campos mediterrâneos ou por ter nascido em cidades onde não se encontra desses exemplares.

Coloque fatias numa torradeira ou, melhor, numa grelha não sem antes um fio de azeite sobre seu miolo. Depois de grelhado, uma porção generosa da tapenade e um bom cálice de vinho tinto. Comer e olhar o azul do céu e sentir o calor do sol de primavera.

Olhar as tonalidades do verde da hortinha caseira, sentir o perfume que sai de cada um dos vasinhos. Esperar pacientemente que a terra colocada num desses caixotes de feira, recondicionado, possa se misturar e absorver todos os nutrientes dos restinhos de frutas, legumes e verduras possa melhora a qualidade da terra que dará força para novas mudinhas. Molhar e revirar a terra todos os dias. A cor dela vai mudando com o passar dos tempos, ficando cada vez mais próxima do preto. E mais rica de nitrogênio. Nada que não seja a química da natureza trabalhando a seu favor.

Um gole do vinho. Mas qual vinho? Não importa. Teu bolso e tuas papilas gustativas te ensinarão, com o tempo, o melhor pra você, para suas combinações. Sem traumas, sem proselitismos.

Mais um capítulo do Ganso já se passou, assim, voando como um ganso selvagem, deixando sua graça registrada na minha memória.

Ah, perai que vou ali dar uma olhada num novo pãozinho que está na primeira fermentação ainda. O pré fermento foi feito ontem pela manhã. Dormiu 24 horas no refrigerador. Saiu de lá pra pegar um calorzinho do lado de fora e depois foi amassado (com carinho) junto aos demais ingredientes até ficar uma bola macia e densa. Textura de bundinha de neném, com um véu maravilhoso, úmida. Foi pro primeiro berço, descansar dessa amassada toda. Neste momento, sono de criança. Olhinhos revirando por debaixo das pálpebras semi abertas...

Volto pro sol. Abro novamente o Ganso na página onde estava e continuo... a comer mais uma brusqueta de tapenade e tomar um gole de tinto...

F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!

domingo, 2 de outubro de 2011

Horta na varanda

Pois é... o blog não é de comida? De gastronomia? Sim! Então o que tem a ver essa tal de “horta na varanda” com a gastronomia?

Vamos por partes, como diria Jack... assim você vai entender melhor o interrelação entre a hortinha na varanda e a gastronomia.

Na realidade este texto começou durante um evento que se propôs a discutir ações para estarem implantadas em 2040: Sustentável 2011. Aconteceu no Pier Mauá durante esta semana.

Passeando pelo espaço pude perceber uma idéia interessante: num dos estandes colocaram grandes sacolões – destes que agora viraram peça de marketing dos grandes supermercados – com mudinhas de algumas das mais usadas hortaliças e ervas aromáticas. Assim, conviviam harmoniosamente alfaces, couves, pimenteiras diversas, tomilho, salsa, cebolinha, tomateiros, alfazemas...

Dai lembrei dos vasinhos que ocupam a beirada interna de minha varandinha. Faz tempo que venho plantando pequenas mudas de salsinha, cebolinha, alecrim, tomilho, hortelã, pimenta dedo de moça, pimenta biquinho e louro convivem com um cada dia mais viçoso pé de romã. Isso mesmo, romã! E falta eu achar uma muda (sem o preço exorbitante que me pediram) de jabuticaba para eu a colocar aqui na varandinha.

Esses vasinhos começaram a ser cultivados como tantos outros de flores que também deram a pitada colorida em meu “apê”. Uma hora achava uma mudinha bonita num supermercado oura num quiosque de flores e outros. Pequeníssimos vasos entraram pelo período de aclimatação na beirada da janela da cozinha. Ali elas tinhas o sol do início da manhã, o calor do meio do dia e a sombrinha refrescante da noite para crescer.

O tempo passa e é preciso aprender com cada uma delas. Nada de generalizar do tipo “todos os filhos são iguais... amomos todos igualmente...” Balela: cada um é um ser diferente e tem diferentes necessidade e precisa de diferentes carinhos.

Fui aprendendo com o pé de louro, tão desejado e que acabou sendo um presente de sogra. Mas foi legal. Chegou aqui meio caído, com uma parte do “caule” tendendo ao ressecamento mas uma haste mostrando algumas folhas. Carinhosamente ficou como se estivesse numa UTI. Queria molhar todos os dias. Um desastre! Espacei muito, outro desastre! Agora uma dosagem homeopática me mostrou o caminho. Novas hastes começam a brotar. Mas para que um pé de louro na varanda? Para colocar no feijão nosso de cada dia ou na carne assada dos domingos ou até na bolognesa dos de vez em quando...

Meu primeiro pé de hortelã veio de uma mudinha recolhida numa grande horta mantida na Beneficiencia Portuguesa, em jacarepagua. Estava visitando a administração para conhecer o funcionamento da cozinha e na chegada, aquela enorme horta cuidada por um “preto velho”. Iso mesmo: um idoso, de pele negra e sorriso dos deuses. Me deu algumas dicas e colheu com sua própria mão uma mudinha. É a muda que tenho mais carinho. Tenho um ciúme muito grande dela. Vive com sede: mas só bebe muita água pela manhã junto com meu jejum (é, cuido das minhas plantinhas antes mesmo do meu café preto passado no coador de pano (3 corações) e tomado em uma caneca de ágate... Bem, gosto de colocar minha hortelã nas carnes ou nos frangos. Dá um sabor assim tipo lembrança das comidas de vó?

Também, quem gosta de um pouco mais de água é meu capim cidreira. As folhas fazem parte do sabor de meu arroz. Principalmente do arroz japonês que faço à moda ocidental. É um arroz de “encher a boca” por causa da sua plinitude e intensidade.

Ah, meu pequeno pé de ora-pro-nóbis ainda não cheguei a entendê-lo completamente. Vez por outra ele me prega uma peça. Mas não desisti. Ainda mais depois das peripércias para esta mudinha chegar aqui no Rio, depois de uma viagem de ônibus de Beagá até um play de um prédio na Gávea... E eu não fui até lá buscá-la? Claro que sim... Ainda vou fazer meu frango ensopado na panela de ferro com suas folhas. Só vou ficar devendo o fogão à lenha...

Ah, meus pés de alecrim, os mais antigos do grupo, quandos frangos assados num forno baixinho, lentamente, com suas folhas finamente (ou histericamente) picadas na faca para misturar ao azeite que macera a carne por duas horas antes do calor. Ah, e as batatas rústicas? Sem o alecrim e o azeite não valem a pena: ficam apenas batatas assadas.

Hoje, uma muda de slsão chegou aqui em casa. Uma longa fila se formou: todas as outras queriam conhecer a nova habitante da hortinha: calmamente apresentaram-se mostrando, cada uma sua virtude.

As mais ardentes, que habitam a ala das pimentas, logo ficaram vermelhas pois foram as últimas a se apresentarem. Algumas, nem isso: ainda não deram o ar de sua graça.

Ah, já tive uma muda de poejo. Presente da sogra junto com o louro. Menino sempre é bom termos um pé de poejo em casa, disse-me ela. Juro que passou um bom tempo e não percebi isso. Talvez precise aprender mais sobre os poejos, não?

Ah, não posso deixar de falar dos tomatinhos. Continuo tentando que eles alegrem meus olhos. Dois vasinhos estão em diferentes fases de crescimento. Quero poder colhê-los para as saladinhas com pequeninos que chamo de ovas da terra. Lindos no meio das tenras folhas de diversos matizes de verde.

Hoje, finalmente consegui montar meu caixote de madeira. Um novo canteiro começo a produzir. Mas não é coisa do tipo “jogar terra de saco plástico e plantar”... Todo o caixote foi restaurado. Comprei uma tela dessas usadas para impedir a passagem de vetores (é como os técnicos chamam os voadores como mosquitos e moscas, por exemplo). Forrei o caixote e comprei um bom volume de terra de saco de um produtor que aprendi a respeitar pois estudou na mesma escola que eu: fizemos o curso de minhocultor. Hoje ele expande seus negócios produzindo e vendendo terra adubada de ótima qualidade.

No nível mínimo, misturei um pouco de saibro. Agora as cascas de frutas, de legumes, de verduras serão picadas grosseiramente e adicionadas, em camadas, juntamente com o pó do café coado que guardo diariamente. Assim, diminuo meu lixo irgânico, aumento a fertilidade da minha terra e produzo alimento para minhas ervas. Isto me dará mais sabor a cada uma delas e à comidinhas que serão preparadas.

Tá, mas o que você vai plantar nesse caixote? Não sei ainda. Ideias podem se modificar mas que tal uns pés de alface, de couve, cenouras e até beterrabas? Sim, porque não?

Paralelamente queria muito que o pessoal da Casa Ronald pudesse incentivar àquelas crianças montando uma horta lá. Tenho certeza que vão achar um bom lugar... Aplicação? Claro que tem! Imagina as crianças colhendo um alimento puro para sua alimentação. E mais, “levando” essa ideia em seu coração para quando chegarem em suas casas, implantarem.

Imagino tantas casas com espaço suficiente para isto. Ou as pequenas janelinhas com pequenos vasinhos colorindo a visão dos moradores e ddos pratos tornando-os mais saudáveis. Menos sódio, mais temperos verdes!

Vamos embarcar nesta “onda”?

Aliás, algum desses fornecedores de mudas poderiam me procurar para juntos fazermos uma ação bonita. Quem sabe? Estou esperando por vocês.

Ah, um material mais técnico de como "montar" a sua hortinha está disponível no meu outro blog. Não deixe de dar um click aqui.

F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!

Horta na varanda

Pois é... o blog não é de comida? De gastronomia? Sim! Então o que tem a ver essa tal de “horta na varanda” com a gastronomia?

Vamos por partes, como diria Jack... assim você vai entender melhor o interrelação entre a hortinha na varanda e a gastronomia.

Na realidade este texto começou durante um evento que se propôs a discutir ações para estarem implantadas em 2040: Sustentável 2011. Aconteceu no Pier Mauá durante esta semana.

Passeando pelo espaço pude perceber uma idéia interessante: num dos estandes colocaram grandes sacolões – destes que agora viraram peça de marketing dos grandes supermercados – com mudinhas de algumas das mais usadas hortaliças e ervas aromáticas. Assim, conviviam harmoniosamente alfaces, couves, pimenteiras diversas, tomilho, salsa, cebolinha, tomateiros, alfazemas...

Dai lembrei dos vasinhos que ocupam a beirada interna de minha varandinha. Faz tempo que venho plantando pequenas mudas de salsinha, cebolinha, alecrim, tomilho, hortelã, pimenta dedo de moça, pimenta biquinho e louro convivem com um cada dia mais viçoso pé de romã. Isso mesmo, romã! E falta eu achar uma muda (sem o preço exorbitante que me pediram) de jabuticaba para eu a colocar aqui na varandinha.

Esses vasinhos começaram a ser cultivados como tantos outros de flores que também deram a pitada colorida em meu “apê”. Uma hora achava uma mudinha bonita num supermercado oura num quiosque de flores e outros. Pequeníssimos vasos entraram pelo período de aclimatação na beirada da janela da cozinha. Ali elas tinhas o sol do início da manhã, o calor do meio do dia e a sombrinha refrescante da noite para crescer.

O tempo passa e é preciso aprender com cada uma delas. Nada de generalizar do tipo “todos os filhos são iguais... amomos todos igualmente...” Balela: cada um é um ser diferente e tem diferentes necessidade e precisa de diferentes carinhos.

Fui aprendendo com o pé de louro, tão desejado e que acabou sendo um presente de sogra. Mas foi legal. Chegou aqui meio caído, com uma parte do “caule” tendendo ao ressecamento mas uma haste mostrando algumas folhas. Carinhosamente ficou como se estivesse numa UTI. Queria molhar todos os dias. Um desastre! Espacei muito, outro desastre! Agora uma dosagem homeopática me mostrou o caminho. Novas hastes começam a brotar. Mas para que um pé de louro na varanda? Para colocar no feijão nosso de cada dia ou na carne assada dos domingos ou até na bolognesa dos de vez em quando...

Meu primeiro pé de hortelã veio de uma mudinha recolhida numa grande horta mantida na Beneficiencia Portuguesa, em jacarepagua. Estava visitando a administração para conhecer o funcionamento da cozinha e na chegada, aquela enorme horta cuidada por um “preto velho”. Iso mesmo: um idoso, de pele negra e sorriso dos deuses. Me deu algumas dicas e colheu com sua própria mão uma mudinha. É a muda que tenho mais carinho. Tenho um ciúme muito grande dela. Vive com sede: mas só bebe muita água pela manhã junto com meu jejum (é, cuido das minhas plantinhas antes mesmo do meu café preto passado no coador de pano (3 corações) e tomado em uma caneca de ágate... Bem, gosto de colocar minha hortelã nas carnes ou nos frangos. Dá um sabor assim tipo lembrança das comidas de vó?

Também, quem gosta de um pouco mais de água é meu capim cidreira. As folhas fazem parte do sabor de meu arroz. Principalmente do arroz japonês que faço à moda ocidental. É um arroz de “encher a boca” por causa da sua plinitude e intensidade.

Ah, meu pequeno pé de ora-pro-nóbis ainda não cheguei a entendê-lo completamente. Vez por outra ele me prega uma peça. Mas não desisti. Ainda mais depois das peripércias para esta mudinha chegar aqui no Rio, depois de uma viagem de ônibus de Beagá até um play de um prédio na Gávea... E eu não fui até lá buscá-la? Claro que sim... Ainda vou fazer meu frango ensopado na panela de ferro com suas folhas. Só vou ficar devendo o fogão à lenha...

Ah, meus pés de alecrim, os mais antigos do grupo, quandos frangos assados num forno baixinho, lentamente, com suas folhas finamente (ou histericamente) picadas na faca para misturar ao azeite que macera a carne por duas horas antes do calor. Ah, e as batatas rústicas? Sem o alecrim e o azeite não valem a pena: ficam apenas batatas assadas.

Hoje, uma muda de slsão chegou aqui em casa. Uma longa fila se formou: todas as outras queriam conhecer a nova habitante da hortinha: calmamente apresentaram-se mostrando, cada uma sua virtude.

As mais ardentes, que habitam a ala das pimentas, logo ficaram vermelhas pois foram as últimas a se apresentarem. Algumas, nem isso: ainda não deram o ar de sua graça.

Ah, já tive uma muda de poejo. Presente da sogra junto com o louro. Menino sempre é bom termos um pé de poejo em casa, disse-me ela. Juro que passou um bom tempo e não percebi isso. Talvez precise aprender mais sobre os poejos, não?

Ah, não posso deixar de falar dos tomatinhos. Continuo tentando que eles alegrem meus olhos. Dois vasinhos estão em diferentes fases de crescimento. Quero poder colhê-los para as saladinhas com pequeninos que chamo de ovas da terra. Lindos no meio das tenras folhas de diversos matizes de verde.

Hoje, finalmente consegui montar meu caixote de madeira. Um novo canteiro começo a produzir. Mas não é coisa do tipo “jogar terra de saco plástico e plantar”... Todo o caixote foi restaurado. Comprei uma tela dessas usadas para impedir a passagem de vetores (é como os técnicos chamam os voadores como mosquitos e moscas, por exemplo). Forrei o caixote e comprei um bom volume de terra de saco de um produtor que aprendi a respeitar pois estudou na mesma escola que eu: fizemos o curso de minhocultor. Hoje ele expande seus negócios produzindo e vendendo terra adubada de ótima qualidade.

No nível mínimo, misturei um pouco de saibro. Agora as cascas de frutas, de legumes, de verduras serão picadas grosseiramente e adicionadas, em camadas, juntamente com o pó do café coado que guardo diariamente. Assim, diminuo meu lixo irgânico, aumento a fertilidade da minha terra e produzo alimento para minhas ervas. Isto me dará mais sabor a cada uma delas e à comidinhas que serão preparadas.

Tá, mas o que você vai plantar nesse caixote? Não sei ainda. Ideias podem se modificar mas que tal uns pés de alface, de couve, cenouras e até beterrabas? Sim, porque não?

Paralelamente queria muito que o pessoal da Casa Ronald pudesse incentivar àquelas crianças montando uma horta lá. Tenho certeza que vão achar um bom lugar... Aplicação? Claro que tem! Imagina as crianças colhendo um alimento puro para sua alimentação. E mais, “levando” essa ideia em seu coração para quando chegarem em suas casas, implantarem.

Imagino tantas casas com espaço suficiente para isto. Ou as pequenas janelinhas com pequenos vasinhos colorindo a visão dos moradores e ddos pratos tornando-os mais saudáveis. Menos sódio, mais temperos verdes!

Vamos embarcar nesta “onda”?

Aliás, algum desses fornecedores de mudas poderiam me procurar para juntos fazermos uma ação bonita. Quem sabe? Estou esperando por vocês.

Ah, um material mais técnico de como "montar" a sua hortinha está disponível no meu outro blog. Não deixe de dar um click aqui.

F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!