Não necessariamente nesta ordem. Aliás, invertida.
Outro dia, fui visitar um lugar onde idosos terminam suas vidas. De início, imaginei um monte de coisas mas, ao sair do carro no estacionamento deparei com uma coisa que sempre mexeu comigo: uma horta. Talvez porque via na casa do meu avô materno o cuidado e o prazer que ele tinha.
Fui me aproximando sem perceber nada à volta: olhar fixo e cabeça no passado.
Mais perto, percebi o quanto o sol deste últimos dias havia machucado todas aquelas sensíveis folhas. Os repolhos já bem atingidos e as alfaces, quase todas perdidas.
No meio delas um preto velho. Isso mesmo! Um idoso representante da raça negra. Ali, agachado, recolhendo as folhas mortas. Chamei por ele para saber como fazer para chegar ai, pertinho dele.
Fui até lá. E, é claro que a primeira pergunta foi: porque isso tudo morrendo aqui? Porque nenhuma "cobertura" que pudesse amenizar a ação do sol.
- Ah, senhor, os homens ~dizem que não têm dinheiro pra isso... Não acredito (disse eu assim sem pensar que ele não tinha a menor necessidade de mentir. Ainda mais para mim.
- É verdade, senhor. Tenho pedido mas eles não querem gastar dinheiro com isto porque acham mais importantes outras coisas. Mas neste final de semana vamos fazer um mutirão pra refazer ela em outro local, mais protegido.
Fiquei ali, em pé, olhando cada um dos pés ali fincados na terra e morrendo. Deu dó. Deu vontade de ajudar ele de alguma forma. Pelo menos alguma coisa dali deveria ser preservada...
E não é que meus olhares brilharam ao ver um canteiro de hortelã daquelas de folhas pequeninas que não mais se vê nas feiras-livres e mercados desta cidade? Rapidamente pedi-lhe para tirar uma muda para que eu pudesse replantá-las.
Bem, fui fazer o que tinha ido fazer: conhecer a cozinha e conversar com a nutricionista e, na saída passei de volta.
Ele não só me arrumou uma mais várias mudinhas tirdas dali com carinho pelas suas calejadas e cansadas mãos. E ainda arrumou um saco plástico para elas não serem vistas como fujitivas...
Rapidinho (mas com segurança) cheguei em casa de minha mãe. Dividi com ela as mudas e ela arrumou um lugar fresco e ao abrigo de um pouco de água para ela replantar ao anoitecer.
Fui ao quintal e peguei um pouco de uma terra maravilhosa para plantar a minha mudinha.
Trateia-com carinho e hoje ela viceja na janelinha da minha cozinha firme e feliz pela minha mão que todos os dias a acaricia e verifica a umidade da terra.
Fiquei feliz.
Quando for de novo na casa da minha mãe vou passar de novo naquela horta pra pegar mais outra mudinha...
Ah, a serra, onde fica nosso tudo?
É que eu estou indo para terê, de tarde. Não sei o me me espera por lá além de um "curso de comida espanhola". Certamente não é o Adriá quem estará mexendo com as panelas...
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Serra e Hortelã
Serra e Hortelã
Não necessariamente nesta ordem. Aliás, invertida.
Outro dia, fui visitar um lugar onde idosos terminam suas vidas. De início, imaginei um monte de coisas mas, ao sair do carro no estacionamento deparei com uma coisa que sempre mexeu comigo: uma horta. Talvez porque via na casa do meu avô materno o cuidado e o prazer que ele tinha.
Fui me aproximando sem perceber nada à volta: olhar fixo e cabeça no passado.
Mais perto, percebi o quanto o sol deste últimos dias havia machucado todas aquelas sensíveis folhas. Os repolhos já bem atingidos e as alfaces, quase todas perdidas.
No meio delas um preto velho. Isso mesmo! Um idoso representante da raça negra. Ali, agachado, recolhendo as folhas mortas. Chamei por ele para saber como fazer para chegar ai, pertinho dele.
Fui até lá. E, é claro que a primeira pergunta foi: porque isso tudo morrendo aqui? Porque nenhuma "cobertura" que pudesse amenizar a ação do sol.
- Ah, senhor, os homens ~dizem que não têm dinheiro pra isso... Não acredito (disse eu assim sem pensar que ele não tinha a menor necessidade de mentir. Ainda mais para mim.
- É verdade, senhor. Tenho pedido mas eles não querem gastar dinheiro com isto porque acham mais importantes outras coisas. Mas neste final de semana vamos fazer um mutirão pra refazer ela em outro local, mais protegido.
Fiquei ali, em pé, olhando cada um dos pés ali fincados na terra e morrendo. Deu dó. Deu vontade de ajudar ele de alguma forma. Pelo menos alguma coisa dali deveria ser preservada...
E não é que meus olhares brilharam ao ver um canteiro de hortelã daquelas de folhas pequeninas que não mais se vê nas feiras-livres e mercados desta cidade? Rapidamente pedi-lhe para tirar uma muda para que eu pudesse replantá-las.
Bem, fui fazer o que tinha ido fazer: conhecer a cozinha e conversar com a nutricionista e, na saída passei de volta.
Ele não só me arrumou uma mais várias mudinhas tirdas dali com carinho pelas suas calejadas e cansadas mãos. E ainda arrumou um saco plástico para elas não serem vistas como fujitivas...
Rapidinho (mas com segurança) cheguei em casa de minha mãe. Dividi com ela as mudas e ela arrumou um lugar fresco e ao abrigo de um pouco de água para ela replantar ao anoitecer.
Fui ao quintal e peguei um pouco de uma terra maravilhosa para plantar a minha mudinha.
Trateia-com carinho e hoje ela viceja na janelinha da minha cozinha firme e feliz pela minha mão que todos os dias a acaricia e verifica a umidade da terra.
Fiquei feliz.
Quando for de novo na casa da minha mãe vou passar de novo naquela horta pra pegar mais outra mudinha...
Ah, a serra, onde fica nosso tudo?
É que eu estou indo para terê, de tarde. Não sei o me me espera por lá além de um "curso de comida espanhola". Certamente não é o Adriá quem estará mexendo com as panelas...
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Os dias de agora 2
E não é que essa nova tarefa tem ocupado todo o tempo que eu tinha disponível?
E não é só para pesquisar alimentos. Também processos. Mas que sejam adequados ao perfil deles. Poucas pessoas disponíveis para falar sobre o assunto. Poucas pessoas com disponibilidade para "trocar".
Hoje, ao procurar assunto com uma instituição até ouvi a expressão "isto é contra a ética"! Fiquei atônito. Não entendi. Mas o interlocutor usava um "intérprete" e eu fiquei apenas com um comentário final: "é senhor, tem gente que gosta de complicar...". E lá voltei eu pra casa em meio aos meus pensamentos divididos entre a revolta e a pena...
Preferi a pena e pedi a Deus por este ser humano... E olha que as pessoas gostam de criar rótulos e pechas para os deficientes mentais. Eu, apenas, acho que muitos que se consideram "normais" é que deviam estar sendo tratados.
Enfim, comentários e desabafos à parte, vamos em frente. Existem seres humanos que precisam de mim. E eu quero ajudá-los.
| Postado por Carlos Alberto de Lima 0 comentários |
| Marcadores: alimento saudável, deficientes, ética
Os dias de agora 2
E não é que essa nova tarefa tem ocupado todo o tempo que eu tinha disponível?
E não é só para pesquisar alimentos. Também processos. Mas que sejam adequados ao perfil deles. Poucas pessoas disponíveis para falar sobre o assunto. Poucas pessoas com disponibilidade para "trocar".
Hoje, ao procurar assunto com uma instituição até ouvi a expressão "isto é contra a ética"! Fiquei atônito. Não entendi. Mas o interlocutor usava um "intérprete" e eu fiquei apenas com um comentário final: "é senhor, tem gente que gosta de complicar...". E lá voltei eu pra casa em meio aos meus pensamentos divididos entre a revolta e a pena...
Preferi a pena e pedi a Deus por este ser humano... E olha que as pessoas gostam de criar rótulos e pechas para os deficientes mentais. Eu, apenas, acho que muitos que se consideram "normais" é que deviam estar sendo tratados.
Enfim, comentários e desabafos à parte, vamos em frente. Existem seres humanos que precisam de mim. E eu quero ajudá-los.
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sábado, 15 de setembro de 2007
Os dias de agora
Não tem dado para cumpri a palavra de postar aqui com mais assiduidade.
A nova tarefa tem me tomado muito mais tempo: não só pelo trabalho em si como também pelo prazer de fazê-lo.
Um desafio e tanto: alimentação para deficientes mentais.
O projeto já está em andamento há bastante tempo. Mas a vida fez com que ele desse duas cambalhotas. Primeira foi quando quem tocava com dedicação foi chamado pra trabalhar na "cobertura". Depois o "gerente lá de cima" me colocou no caminho deles.
Meio louco isto, mas um dia você vai poder perceber tudo direitinho.
E lá fui eu para este trabalho. De início aquele friozinho subindo (e descendo) num ritmo alucinado pela coluna. A viagem de ônibus até lá. Conhecer o local e seus viventes. Conhecer todo mundo. As rotinas. Os processos. Os egos. As necessidades. Os medos. As ansiedades. E, principalmente, o mundo descrito pela Nise da Silveira que um dia acabei tomando consciência por um trabalho da filha mais velha.
Um choque inicial pois tudo era (e ainda é) muito diferente dos mundos das panelas que havia conhecido. Imaginem como minha cabeinha ficou depois de um jantar no Roberta Sudbrack ter ido almoçar lá nesta cozinha.... Mas respirei fundo e fui em frente. É meu trabalho. É meu desejo. É minha missão. É minha evolução entre dois mundos. Necessária. Precisa.
É preciso reconstruir. Com calma. Com paciência de monge zen-budista como o Rajii, que um dia conheci e que é um dos meus melhores amigos e, principalmente, confidente.
è preciso ver muito, primeiro. É preciso ouvir tudo. Avaliar reações. Começar devagar. Lá do comecinho. É gente humilde, sem preparo teórico. Só a prática da vida e sem muitas visões para aprender.
É preciso mostrar equipamentos, processos novos. Convencê-los. Ajudar pacientemente mas, sobretudo, deixar que a percepção das mudanças se faça intensa. Que os motive a trocar o cotidiano.
Meu exercício cotidiano de humildade tal qual o Rajii me ensinou. Agora é a hora da prática.
Anamastê!
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| Marcadores: alimento saudável, Defifientes, Nise da Silveira
Os dias de agora
Não tem dado para cumpri a palavra de postar aqui com mais assiduidade.
A nova tarefa tem me tomado muito mais tempo: não só pelo trabalho em si como também pelo prazer de fazê-lo.
Um desafio e tanto: alimentação para deficientes mentais.
O projeto já está em andamento há bastante tempo. Mas a vida fez com que ele desse duas cambalhotas. Primeira foi quando quem tocava com dedicação foi chamado pra trabalhar na "cobertura". Depois o "gerente lá de cima" me colocou no caminho deles.
Meio louco isto, mas um dia você vai poder perceber tudo direitinho.
E lá fui eu para este trabalho. De início aquele friozinho subindo (e descendo) num ritmo alucinado pela coluna. A viagem de ônibus até lá. Conhecer o local e seus viventes. Conhecer todo mundo. As rotinas. Os processos. Os egos. As necessidades. Os medos. As ansiedades. E, principalmente, o mundo descrito pela Nise da Silveira que um dia acabei tomando consciência por um trabalho da filha mais velha.
Um choque inicial pois tudo era (e ainda é) muito diferente dos mundos das panelas que havia conhecido. Imaginem como minha cabeinha ficou depois de um jantar no Roberta Sudbrack ter ido almoçar lá nesta cozinha.... Mas respirei fundo e fui em frente. É meu trabalho. É meu desejo. É minha missão. É minha evolução entre dois mundos. Necessária. Precisa.
É preciso reconstruir. Com calma. Com paciência de monge zen-budista como o Rajii, que um dia conheci e que é um dos meus melhores amigos e, principalmente, confidente.
è preciso ver muito, primeiro. É preciso ouvir tudo. Avaliar reações. Começar devagar. Lá do comecinho. É gente humilde, sem preparo teórico. Só a prática da vida e sem muitas visões para aprender.
É preciso mostrar equipamentos, processos novos. Convencê-los. Ajudar pacientemente mas, sobretudo, deixar que a percepção das mudanças se faça intensa. Que os motive a trocar o cotidiano.
Meu exercício cotidiano de humildade tal qual o Rajii me ensinou. Agora é a hora da prática.
Anamastê!
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terça-feira, 4 de setembro de 2007
Nada de novo.
Pois é... ontem nem aparecei por aqui: usei meu tempo para um aprendizado diferente. Estive conhecendo a rotina de um hospital psiquiátrico.
Tudo muito diferente do que já havia visto. Muita coisa para assimilar antes de poder falar alguma coisa.
No mais, a vida segue.
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Nada de novo.
Pois é... ontem nem aparecei por aqui: usei meu tempo para um aprendizado diferente. Estive conhecendo a rotina de um hospital psiquiátrico.
Tudo muito diferente do que já havia visto. Muita coisa para assimilar antes de poder falar alguma coisa.
No mais, a vida segue.
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domingo, 2 de setembro de 2007
Um dia cheio
Assim foi ontem. E hoje também promete.
Por isso vou tentar escrever o mais abrangente sobre os dois dias porque, na realidade, eles estão ligados.
Ontem foi dia de começar a preparar o almoço de hoje. É sempre assim. Gosto que as coisas sejam feitas devagar, com carinho, com atenção, sem as correrias que acabam acontecendo nos lugares "pagos". Entendo - cada dia mais - que a hora da refeição (e ai inclui o seu preparo) é algo como sagrado. Merece ritual. E assim tenho feito ultimamente já que meu tempo permite.
Descolei um processo para fazer um sorvete de tapioca. Não me lembro de antes ter tentado ou feito sorvete caseiro. Lembro apenas dos sorvetes de manga que quando criança tomávamos na casa do Dr Chastinet lá em jacarepaguá. Coisa muito deliciosa que permanece no meu "registro mental" até hoje!
E lá fui eu para o laboratório. Tapioca, leite e creme de leite. Um pouquinho de açúcar e claras de ovos.
O processo inicial é simples. Mistura o leite, o creme de leite e o açúcar e aquece até as primeiras bolinhas. Retira do fogo, mexe bem e deixa amornar até o calor suportável pelos dedos. Ai coloca a tapioca e mexe para ela não virar passeata de estudante revoltado. Mexe por um tempo até sentir que engrossa. Deixa esfriar e freezes. Ai é que começa: congela, esfarela. Por duas vezes. Acrescente a clara em picos doces. Congela, esfarela até que sinta que não existem mais crisrais de gelo.
Ai, em bolinhas ou queneles sobre uma sopinha de morangos.
É a sobremesa de hoje.
Para o sustancioso lá vou eu de ossobuco. Estou na época dele, tentando explorar alternativas e aplicações. Hoje ele virá deitado na caminha de abóbora menina assada.
Isso já foi prometido e não foi cumprido. Releia os posts...
E, para não deixar barato, um pãozinho ao cair da noite de ontem. Recheado com azeitonas maceradas em azeite por seis meses. Ah, na massa incorporei um pouco de parmesão: o melhor nacional que o meu dinheiro pôde comprar.
Enfim, ele ficou assim como nesta foto.
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| Marcadores: pão, pão com azeitonas, pão com parmesão
Um dia cheio
Assim foi ontem. E hoje também promete.
Por isso vou tentar escrever o mais abrangente sobre os dois dias porque, na realidade, eles estão ligados.
Ontem foi dia de começar a preparar o almoço de hoje. É sempre assim. Gosto que as coisas sejam feitas devagar, com carinho, com atenção, sem as correrias que acabam acontecendo nos lugares "pagos". Entendo - cada dia mais - que a hora da refeição (e ai inclui o seu preparo) é algo como sagrado. Merece ritual. E assim tenho feito ultimamente já que meu tempo permite.
Descolei um processo para fazer um sorvete de tapioca. Não me lembro de antes ter tentado ou feito sorvete caseiro. Lembro apenas dos sorvetes de manga que quando criança tomávamos na casa do Dr Chastinet lá em jacarepaguá. Coisa muito deliciosa que permanece no meu "registro mental" até hoje!
E lá fui eu para o laboratório. Tapioca, leite e creme de leite. Um pouquinho de açúcar e claras de ovos.
O processo inicial é simples. Mistura o leite, o creme de leite e o açúcar e aquece até as primeiras bolinhas. Retira do fogo, mexe bem e deixa amornar até o calor suportável pelos dedos. Ai coloca a tapioca e mexe para ela não virar passeata de estudante revoltado. Mexe por um tempo até sentir que engrossa. Deixa esfriar e freezes. Ai é que começa: congela, esfarela. Por duas vezes. Acrescente a clara em picos doces. Congela, esfarela até que sinta que não existem mais crisrais de gelo.
Ai, em bolinhas ou queneles sobre uma sopinha de morangos.
É a sobremesa de hoje.
Para o sustancioso lá vou eu de ossobuco. Estou na época dele, tentando explorar alternativas e aplicações. Hoje ele virá deitado na caminha de abóbora menina assada.
Isso já foi prometido e não foi cumprido. Releia os posts...
E, para não deixar barato, um pãozinho ao cair da noite de ontem. Recheado com azeitonas maceradas em azeite por seis meses. Ah, na massa incorporei um pouco de parmesão: o melhor nacional que o meu dinheiro pôde comprar.
Enfim, ele ficou assim como nesta foto.
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