segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Galinha Princesa


Naquela manhã, cedinho, vó Georgina pediu para a gente pegar uma galinha no quintal. Era engraçado para a gente a forma de fazer com que elas aparecessem perto de nós e assim pudessem fazer com que nossa tarefa ficasse mais fácil.

Com um punhado de milho que coubesse em nossas pequeninas mãos, eu e Véra, fomos para o quintal. Dali a tarefa era jogar o milho sobre o terreiro e com toda a força que nossos pulmões permitiam soltar um “purupurupuru” que era o canto de chamada delas.

Era soltar o grito e elas já vinham correndo engraçadamente balançando sobre suas duas pernas e jogando seu gordo traseiro de um lado para o outro. Junto, os patos também apareciam ali. Mas não queríamos nada com eles.

Vó Georgina nos indicava a que queria: quase sempre a mais gordinha delas.

Dessa vez uma de cor castanho-dourado foi o alvo de vovó. Sua lindas bochechas vermelhas e uma crista fabulosa iria para a panela.

Ali, em pé, com uma faca escondida em sua mão para trás e noutra uma pequena bacia ela aguardava atenta aos nossos movimentos.

Corremos atrás dela. Era momento de farra para nós e de desespero para aquela galinha. Depois de muito estardalhaço ela estava ali, deitada com as asas sobre os pés de vó Georgina e com o pescoço depilado era ver o sangue jorrar na pequena bacia. Nada de ritual: era a forma como sempre era feito para se comer os animais criados em casa. Aprendi cedo essas coisas. Assim acontecia com os patos, porcos e cabritos que meu avô Chico cuidava com carinho para servir de alimentos para a gente. Sabíamos serem saudáveis pois sabíamos como eram tratados e alimentados. As aves, apenas milho e minhocas, pedriscos e coisas que elas achavam na terra. Hoje seriam frangos orgânicos certificados.

Meu vô nos deu o dinheiro para ir no Botequim do Gouveia, um português de enormes bigodes e cara quase sempre fechada para os cachaceiros que lá frequentavam. Fomos até lá (ali pertinho), eu e Véra, e pedimos duas garrafas de cerveja Black Princess e uma de guaraná Princesa. A cerveja era conhecida como preta barriguda. Hoje entendo que tenha sido por conta do formato de sua garrafa, um pouco parecida com a forma das garrafas de champagnes.

Com cada um segurando uma alça da sacola lá íamos nós pela beirada do muro até a casa deles.

Lá, na cozinha, vó Georgina já havia cuidado da galinha. Pelada e cortada em pedaços já estava no alguidar com sua vinha d'alhos macerando coberta com um pano de pratos.

Botou no fogo uma panela que coubesse a galinha e, quando bem quente, colocou um dedinho de azeite. Em seguida a galinha para refogar bem. Quando já estava começando a ficar toda douradinha foi hora de colocar a cerveja até ficar todos os pedaços cobertos. Tampou a panela e diminuiu o fogo até que quase não víamos a chama azul. Bem pouquinho fogo.

Ficou ali naquele calorzinho cozinhando até a hora de servir. Sem nem mexer. De vez em quando, apenas uma levantada da tampa para dar uma espiada.

Enquanto isso, o arroz já lavado e escorrido ia para a panela. Um arroz soltinho e branco que, de tempero, tinha apenas sal, alho e cebola.

Como meu vô gostava de comer batatas ao invés de arroz, minha vó preparou umas batatas cozidas.

Na hora de comer, a mesa posta para nós quatro, ali mesmo na cozinha estava coberta por uma linda toalha branca. Sobre ela os pratos, os talheres, os copos, os guardanapos e as garrafas de Black Princess e do Guaraná Princesa. Vó Georgina trouxe a travessa fumegante do frango que estava com um dourado-escuro e parcialmente recoberto pelo molho que se formou. O arroz branquinho e soltava também sua fumacinha. As batatas para vô, sequinhas e com a fumacinha característica da comida que acabou de sair do fogo. Reconfortante para alma como aprendi anos mais tarde.

Na nossa bagunça de sempre pedíamos pro vô Chico colocar nosso guaraná, antes mesmo da comida no prato. A vó Georgina logo falou:

- Francisco espera colocar a comida pras crianças. Crianças, calma!

De nada adiantou...

Sentamos, os quatro, e comemos como sempre fazíamos: até que nossas barrigas ficassem estufadas! A comida da vó Georgina era assim todas as vezes: inesquecível.

Hoje eu fiz o frango na Black Princess que descobri está sendo fabricada novamente. Um pouco de bossa nas modernas garrafas tiraram um pouco do lúdico de sua barriga; deve ter feito muita dieta para ficar esbelta. Até perdeu um pouco do seu longo pescoço.

Comprei um tabuleiro de coxinha de asas (1 kg). Uma rápida limpeza e coloquei num bowl com cebola, alho e cenoura picadinhos em brunoise. Juntei alho poró, duas folhas de louro picadas na tesoura, um raminho de tomilho e outro de alecrim. Sal e azeite. Deixei ali, marinando por uma hora, mais ou menos. Um pouco mais de cebola e alho reservado.

No tempo certo, esquentei uma panela de fundo grosso e coloquei duas colheres de azeite. Refoguei ligeiramente a cebola e depois o alho. Quando começou a sair o cheiro deles, coloquei o frango. Mexi para selar ele e refoguei por uns dez minutos. Depois acrescentei uma garrafinha da cerveja. Tampei e fiz como a vó fazia: reduzi bem o fogo. Ficou ali três horas em panela tampada e fogo baixíssimo.

Enquanto isso, preparei um arroz japonês de grão curto. Lavado por seis vezes até que a água não mais soltasse o amido natural dele. Ficou de molho por 30 minutos. Escorri e deixei mais meia hora pra secar um pouco. Depois disso, alho picadinho refogado em azeite e o arroz refogadinho nele. Fiz um vulcãozinho com o arroz, na panela e coloquei a mesma quantidade de água, no centro do vulcão. Cuidei para que todos os grãos ficassem sob a água. Tampei a panela e o fono no mínimo. Uns 15 minutos depois, uma rápida inspeção. Água seca? Desliga o fogo e deixa tampado. 10 minutos depois, com um garfo, hora de soltar os grãos. Mais 10 minutos tampados e pronto para comer!

Retirei as coxinhas fogo e reservei. Passei o restante do caldo em uma peneira de modo que apenas o líquido pudesse passar. Levei ao fogo para reduzir um pouco.

Servi o arroz e as coxinhas. Sobre elas uma generosa colher do molho reduzido. Completei com uma saladinha de rúcula selvagem e um copo de guaraná Antarctica. Não tem mais o guaraná Princesa...

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Naquela manhã, cedinho, vó Georgina pediu para a gente pegar uma galinha no quintal. Era engraçado para a gente a forma de fazer com que elas aparecessem perto de nós e assim pudessem fazer com que nossa tarefa ficasse mais fácil.

Com um punhado de milho que coubesse em nossas pequeninas mãos, eu e Véra, fomos para o quintal. Dali a tarefa era jogar o milho sobre o terreiro e com toda a força que nossos pulmões permitiam soltar um “purupurupuru” que era o canto de chamada delas.

Era soltar o grito e elas já vinham correndo engraçadamente balançando sobre suas duas pernas e jogando seu gordo traseiro de um lado para o outro. Junto, os patos também apareciam ali. Mas não queríamos nada com eles.

Vó Georgina nos indicava a que queria: quase sempre a mais gordinha delas.

Dessa vez uma de cor castanho-dourado foi o alvo de vovó. Sua lindas bochechas vermelhas e uma crista fabulosa iria para a panela.

Ali, em pé, com uma faca escondida em sua mão para trás e noutra uma pequena bacia ela aguardava atenta aos nossos movimentos.

Corremos atrás dela. Era momento de farra para nós e de desespero para aquela galinha. Depois de muito estardalhaço ela estava ali, deitada com as asas sobre os pés de vó Georgina e com o pescoço depilado era ver o sangue jorrar na pequena bacia. Nada de ritual: era a forma como sempre era feito para se comer os animais criados em casa. Aprendi cedo essas coisas. Assim acontecia com os patos, porcos e cabritos que meu avô Chico cuidava com carinho para servir de alimentos para a gente. Sabíamos serem saudáveis pois sabíamos como eram tratados e alimentados. As aves, apenas milho e minhocas, pedriscos e coisas que elas achavam na terra. Hoje seriam frangos orgânicos certificados.

Meu vô nos deu o dinheiro para ir no Botequim do Gouveia, um português de enormes bigodes e cara quase sempre fechada para os cachaceiros que lá frequentavam. Fomos até lá (ali pertinho), eu e Véra, e pedimos duas garrafas de cerveja Black Princess e uma de guaraná Princesa. A cerveja era conhecida como preta barriguda. Hoje entendo que tenha sido por conta do formato de sua garrafa, um pouco parecida com a forma das garrafas de champagnes.

Com cada um segurando uma alça da sacola lá íamos nós pela beirada do muro até a casa deles.

Lá, na cozinha, vó Georgina já havia cuidado da galinha. Pelada e cortada em pedaços já estava no alguidar com sua vinha d'alhos macerando coberta com um pano de pratos.

Botou no fogo uma panela que coubesse a galinha e, quando bem quente, colocou um dedinho de azeite. Em seguida a galinha para refogar bem. Quando já estava começando a ficar toda douradinha foi hora de colocar a cerveja até ficar todos os pedaços cobertos. Tampou a panela e diminuiu o fogo até que quase não víamos a chama azul. Bem pouquinho fogo.

Ficou ali naquele calorzinho cozinhando até a hora de servir. Sem nem mexer. De vez em quando, apenas uma levantada da tampa para dar uma espiada.

Enquanto isso, o arroz já lavado e escorrido ia para a panela. Um arroz soltinho e branco que, de tempero, tinha apenas sal, alho e cebola.

Como meu vô gostava de comer batatas ao invés de arroz, minha vó preparou umas batatas cozidas.

Na hora de comer, a mesa posta para nós quatro, ali mesmo na cozinha estava coberta por uma linda toalha branca. Sobre ela os pratos, os talheres, os copos, os guardanapos e as garrafas de Black Princess e do Guaraná Princesa. Vó Georgina trouxe a travessa fumegante do frango que estava com um dourado-escuro e parcialmente recoberto pelo molho que se formou. O arroz branquinho e soltava também sua fumacinha. As batatas para vô, sequinhas e com a fumacinha característica da comida que acabou de sair do fogo. Reconfortante para alma como aprendi anos mais tarde.

Na nossa bagunça de sempre pedíamos pro vô Chico colocar nosso guaraná, antes mesmo da comida no prato. A vó Georgina logo falou:

- Francisco espera colocar a comida pras crianças. Crianças, calma!

De nada adiantou...

Sentamos, os quatro, e comemos como sempre fazíamos: até que nossas barrigas ficassem estufadas! A comida da vó Georgina era assim todas as vezes: inesquecível.

Hoje eu fiz o frango na Black Princess que descobri está sendo fabricada novamente. Um pouco de bossa nas modernas garrafas tiraram um pouco do lúdico de sua barriga; deve ter feito muita dieta para ficar esbelta. Até perdeu um pouco do seu longo pescoço.

Comprei um tabuleiro de coxinha de asas (1 kg). Uma rápida limpeza e coloquei num bowl com cebola, alho e cenoura picadinhos em brunoise. Juntei alho poró, duas folhas de louro picadas na tesoura, um raminho de tomilho e outro de alecrim. Sal e azeite. Deixei ali, marinando por uma hora, mais ou menos. Um pouco mais de cebola e alho reservado.

No tempo certo, esquentei uma panela de fundo grosso e coloquei duas colheres de azeite. Refoguei ligeiramente a cebola e depois o alho. Quando começou a sair o cheiro deles, coloquei o frango. Mexi para selar ele e refoguei por uns dez minutos. Depois acrescentei uma garrafinha da cerveja. Tampei e fiz como a vó fazia: reduzi bem o fogo. Ficou ali três horas em panela tampada e fogo baixíssimo.

Enquanto isso, preparei um arroz japonês de grão curto. Lavado por seis vezes até que a água não mais soltasse o amido natural dele. Ficou de molho por 30 minutos. Escorri e deixei mais meia hora pra secar um pouco. Depois disso, alho picadinho refogado em azeite e o arroz refogadinho nele. Fiz um vulcãozinho com o arroz, na panela e coloquei a mesma quantidade de água, no centro do vulcão. Cuidei para que todos os grãos ficassem sob a água. Tampei a panela e o fono no mínimo. Uns 15 minutos depois, uma rápida inspeção. Água seca? Desliga o fogo e deixa tampado. 10 minutos depois, com um garfo, hora de soltar os grãos. Mais 10 minutos tampados e pronto para comer!

Retirei as coxinhas fogo e reservei. Passei o restante do caldo em uma peneira de modo que apenas o líquido pudesse passar. Levei ao fogo para reduzir um pouco.

Servi o arroz e as coxinhas. Sobre elas uma generosa colher do molho reduzido. Completei com uma saladinha de rúcula selvagem e um copo de guaraná Antarctica. Não tem mais o guaraná Princesa...

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domingo, 5 de setembro de 2010

Quer ser cozinheiro?


Quatro e meia da manhã. A escuridão ainda está firme ali na janela do quarto de Adilson. Meio sonolento ele levanta ao som daquele despertador do celular ali agarrado ao seu ouvido.

De pé, vai até a janela e a abre. Lá, ao longe, as pérolas brilhantes marcam a silhueta da praia. Junto, as dos porédios também colorem aqui e ali a noite escura.

Adilson segue até um cubículo onde uma lata dessas de margarina está cheia de água. Com uma dessas cuias de queijo do Reino ele molha o rosto e a cabeça: é preciso espantar o sono. Escova os dentes e lava a boca. É preciso espantar o que ficou do sono.

Veste as meias, a calça e coloca o tênis surrado de tantas jornadas. Uma camiseta meio puída cobre seu dorso. Verifica na sua mochila seus apetrechos pessoais. As facas, devidamente cintadas em filme plástico, seu jaleco e mais algumas outras coisinhas. Sua mãe, Elvira havia lavado, passado e dobrado cuidadosamente o jaleco que agora era colocado na mochila.

Uma passada junto à cama de dona Elvira, um carinho em seus cabelos já grisalhos e um beijo em sua face. O sono dela ainda que fosse superficial a mantém ali junto ao travesseiro por conta de sua cansativa jornada.

Começa a longa descida do morro até o ponto do ônibus. O café preto com pão e margarina é tomado ali no botequim do Quinzinho. Um copo americano de café preto, fumegante e um pão “francês” que acabara de chegar da padaria. A margarina espalhada de qualquer jeito deixa ondulações que nem as do asfalto de nossas ruas...

Adilson precisa desse café por pior que ele possa ser. Come rapidamente o pão e engole o café. Segue até o ponto onde deixa passar o primeiro ônibus de tão cheio que ele veio. Por sorte logo a seguir chega um mais vazio um pouco. Entra, passa na catraca mas cadê lugar para sentar? Nada! Serão quase uma hora e meia até Copacabana, se o trânsito fluir bem.

Felizmente neste dia, tudo correu bem. Até o trânsito.

Chegou no restaurante antes que o comprador chegasse. Ele foi o primeiro. Sentou-se na soleira da porta e recostou seu corpo de encontra a parede e a porta. Abraçado com sua mochila acabou pegando no sono, só despertado pela gozação do Antônio, o Comprador:

- Levanta daí muleque!

Um pulo assustado com a mochila agarrada em suas mãos o colocou de pé, rosto quase colado ao de Antônio. Desta vez quem se assustou foi Antônio.

- Calma companheiro... Apenas um sustinho pra zoar esse sono! Passou a noite nas orgias?

Que nada, hoje nem pude sentar na vinda. O busão veio enchendo que nem bexiga, até quase espocar gente pelas janelas. Cada curva, um sufoco.

Enquanto isso, Antônio abria a porta e Adilson passou no balcão e assinou a sua chegada.

Passou no vestiário e deixou sua roupa de casa e vestiu a do trabalho. Uma olhadinha no espelho pra ver se estava tudo direitinho e lá foi ele para a sua “praça” cuidar das primeiras providências.

Nova passada de pano com álcool sobre a bancada, começou a retirar uma a uma as vasilhas de molhos e complementos da “praça fria”. A cada vasilha, o pano embebido em álcool era passado nas bases. Tudo na bancada era hora de verificar a validade. Na realidade alguns ingredientes seriam jogados fora e outros cuja integridade ainda boas seriam mantidos até que terminassem.

Os vegetais folhosos tinham todas as suas folhas e pétalas verificadas e as que apresentassem qualquer sinal de degradação eram logo descartadas. A cada uma dessas inspeções, anotava em seu caderninho, como se montasse sua ordem de serviço para complementação ou feitura.

Os molhos eram experimentados um a um e a decisão não se baseava apenas no odor. Os que não precisavam de reposição iriam sendo colocados na bancada refrigerada e cobertos com filme de pvc.

Logo a seguir ele verificava as sobremesas. Era preciso fazer delas novamente pois o que ficou da noite passada era muito pouco para o almoço.

Com isto sua lista aumentou mais um pouco.

E ainda precisaria fazer o pão servido no couvert.

Começou por este. Como a fermentação deste era de quatro horas, quase o tempo exato de ir ao forno e já começar a viagem para as mesas dos clientes, era a prioridade. Massa preparada ela foi colocada num cantinho onde, cobertinha, poderia tirar um bom sono daqueles de dar inveja ao Adilson.

Preparou os molhos e colocou nas “mamadeiras” para utilização na nontagem dos pratos.

A esta altura já haviam chegado mais dois colegas. Até ali, apenas o som de um velho rádio de pilha fazia companhia para ele. Agora já começava a agitação das vozes e barulhos de acessórios e ingredientes. Ali noutra bancada Marcelo cuidava dos lindos camarões que haviam chegado junto com o salmão e os dois lindos robalos, enormes. Era preciso fazer todo o trabalho de “peixeiro”: escamar, filetar e porcionar. Ainda assim, embalar cada porção, e colocá-las no refrigerador.

Ainda preparou as sobremesas do dia: pudim de leite em ramequins, profiteloles com dois tipos de recheios (chocolate e doce de leite) e a torta de ganache de chocolate amargo.

Tudo quase pronto, Severino pede ajuda pra cuidar do mis-en-place da praça quente...

Terminadas suas tarefas, lá foi ele ajudar o companheiro. Lavagem e higienização de salsinha, coentro, manjericão. |Enquanto o tempo corria, picava finamente as cebolas necessárias. Depois de higienizadas as aromáticas, era hora de torná-las quase um pozinho de tão pequenas que ficavam. Tudo era colocado em GNs para facilitar a vida do Severino na hora da “onça beber água”. Conseguiram deixar tudo em ordem por mais um dia.

A hora chegara e agora, cada um sabendo exatamente suas funções já começavam a ficar nervosos olhando para o relógio. Eis que a porta “tipo saloon” da cozinha se abre e o “chef” chega já pagando...

Depois, uma enorme gargalhada. Era apenas para ajustar o time da equipe. O dia iria começar pra valer agora.

Casa cheia era promessa de stress total até o final do almoço. Depois ainda teria mais.

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Quatro e meia da manhã. A escuridão ainda está firme ali na janela do quarto de Adilson. Meio sonolento ele levanta ao som daquele despertador do celular ali agarrado ao seu ouvido.

De pé, vai até a janela e a abre. Lá, ao longe, as pérolas brilhantes marcam a silhueta da praia. Junto, as dos porédios também colorem aqui e ali a noite escura.

Adilson segue até um cubículo onde uma lata dessas de margarina está cheia de água. Com uma dessas cuias de queijo do Reino ele molha o rosto e a cabeça: é preciso espantar o sono. Escova os dentes e lava a boca. É preciso espantar o que ficou do sono.

Veste as meias, a calça e coloca o tênis surrado de tantas jornadas. Uma camiseta meio puída cobre seu dorso. Verifica na sua mochila seus apetrechos pessoais. As facas, devidamente cintadas em filme plástico, seu jaleco e mais algumas outras coisinhas. Sua mãe, Elvira havia lavado, passado e dobrado cuidadosamente o jaleco que agora era colocado na mochila.

Uma passada junto à cama de dona Elvira, um carinho em seus cabelos já grisalhos e um beijo em sua face. O sono dela ainda que fosse superficial a mantém ali junto ao travesseiro por conta de sua cansativa jornada.

Começa a longa descida do morro até o ponto do ônibus. O café preto com pão e margarina é tomado ali no botequim do Quinzinho. Um copo americano de café preto, fumegante e um pão “francês” que acabara de chegar da padaria. A margarina espalhada de qualquer jeito deixa ondulações que nem as do asfalto de nossas ruas...

Adilson precisa desse café por pior que ele possa ser. Come rapidamente o pão e engole o café. Segue até o ponto onde deixa passar o primeiro ônibus de tão cheio que ele veio. Por sorte logo a seguir chega um mais vazio um pouco. Entra, passa na catraca mas cadê lugar para sentar? Nada! Serão quase uma hora e meia até Copacabana, se o trânsito fluir bem.

Felizmente neste dia, tudo correu bem. Até o trânsito.

Chegou no restaurante antes que o comprador chegasse. Ele foi o primeiro. Sentou-se na soleira da porta e recostou seu corpo de encontra a parede e a porta. Abraçado com sua mochila acabou pegando no sono, só despertado pela gozação do Antônio, o Comprador:

- Levanta daí muleque!

Um pulo assustado com a mochila agarrada em suas mãos o colocou de pé, rosto quase colado ao de Antônio. Desta vez quem se assustou foi Antônio.

- Calma companheiro... Apenas um sustinho pra zoar esse sono! Passou a noite nas orgias?

Que nada, hoje nem pude sentar na vinda. O busão veio enchendo que nem bexiga, até quase espocar gente pelas janelas. Cada curva, um sufoco.

Enquanto isso, Antônio abria a porta e Adilson passou no balcão e assinou a sua chegada.

Passou no vestiário e deixou sua roupa de casa e vestiu a do trabalho. Uma olhadinha no espelho pra ver se estava tudo direitinho e lá foi ele para a sua “praça” cuidar das primeiras providências.

Nova passada de pano com álcool sobre a bancada, começou a retirar uma a uma as vasilhas de molhos e complementos da “praça fria”. A cada vasilha, o pano embebido em álcool era passado nas bases. Tudo na bancada era hora de verificar a validade. Na realidade alguns ingredientes seriam jogados fora e outros cuja integridade ainda boas seriam mantidos até que terminassem.

Os vegetais folhosos tinham todas as suas folhas e pétalas verificadas e as que apresentassem qualquer sinal de degradação eram logo descartadas. A cada uma dessas inspeções, anotava em seu caderninho, como se montasse sua ordem de serviço para complementação ou feitura.

Os molhos eram experimentados um a um e a decisão não se baseava apenas no odor. Os que não precisavam de reposição iriam sendo colocados na bancada refrigerada e cobertos com filme de pvc.

Logo a seguir ele verificava as sobremesas. Era preciso fazer delas novamente pois o que ficou da noite passada era muito pouco para o almoço.

Com isto sua lista aumentou mais um pouco.

E ainda precisaria fazer o pão servido no couvert.

Começou por este. Como a fermentação deste era de quatro horas, quase o tempo exato de ir ao forno e já começar a viagem para as mesas dos clientes, era a prioridade. Massa preparada ela foi colocada num cantinho onde, cobertinha, poderia tirar um bom sono daqueles de dar inveja ao Adilson.

Preparou os molhos e colocou nas “mamadeiras” para utilização na nontagem dos pratos.

A esta altura já haviam chegado mais dois colegas. Até ali, apenas o som de um velho rádio de pilha fazia companhia para ele. Agora já começava a agitação das vozes e barulhos de acessórios e ingredientes. Ali noutra bancada Marcelo cuidava dos lindos camarões que haviam chegado junto com o salmão e os dois lindos robalos, enormes. Era preciso fazer todo o trabalho de “peixeiro”: escamar, filetar e porcionar. Ainda assim, embalar cada porção, e colocá-las no refrigerador.

Ainda preparou as sobremesas do dia: pudim de leite em ramequins, profiteloles com dois tipos de recheios (chocolate e doce de leite) e a torta de ganache de chocolate amargo.

Tudo quase pronto, Severino pede ajuda pra cuidar do mis-en-place da praça quente...

Terminadas suas tarefas, lá foi ele ajudar o companheiro. Lavagem e higienização de salsinha, coentro, manjericão. |Enquanto o tempo corria, picava finamente as cebolas necessárias. Depois de higienizadas as aromáticas, era hora de torná-las quase um pozinho de tão pequenas que ficavam. Tudo era colocado em GNs para facilitar a vida do Severino na hora da “onça beber água”. Conseguiram deixar tudo em ordem por mais um dia.

A hora chegara e agora, cada um sabendo exatamente suas funções já começavam a ficar nervosos olhando para o relógio. Eis que a porta “tipo saloon” da cozinha se abre e o “chef” chega já pagando...

Depois, uma enorme gargalhada. Era apenas para ajustar o time da equipe. O dia iria começar pra valer agora.

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