domingo, 20 de março de 2011

Terena e Ticuna

Eles nasceram recentemente. Foram fruto de minha insistência em ter meu próprio fermento. Já havia tentado durente um bom tempo no passado remoto. Também havia ganho uma “semente” mas acabou indo pro sarcófago porque não sobreviveu.

Muito de farinha foi embora sem que chegasse a um caminho adequado. Orientações mal formuladas (hoje eu sei disso) e até desistência de minha parte.

Há dois meses depois de ler algumas coisas sobre o levain francês resolvei retomar minhas pesquisas. Mas, desta vez fui ousado e comedido. Ousado no sentido de substituir o líquido usado na formulação. E hoje em dia já li que tem uns carinhas ousando mais ainda. Mas, isso é papo para depois. Resolvi usar uma cerveja artesanal que trouxe de minha passagem por Blumenal. Uma legítima Eisenbahn. Usei a Dunkel por me parecer mais encorpada, uma escura do tipo Lager, de baixa fermentação. Ela é feita com maltes torrados importados, que lhe conferem aroma e paladar incomparáveis de café e chocolate. A receita da Eisenbahn Dunkel leva cinco diferentes tipos de maltes. O resultado é uma cerveja maravilhosa, ideal para ser consumida o ano todo.

E tudo começo a partir disto. Mas, comedido na medida em que não parti de um quilo de farinha como a maioria das orientações que existem na internet (minha fonte de pesquisa) mas, de apenas meia xícara de farinha de trigo Renata (minha preferida entre as daqui do Rio.

Misturei a farinha com quese meia xícara da cerveja. Na realidade comecei com um quarto. Depois coloquei mais. Queria que ficasse como um creme denso, quase pesado. Nada mais.

Coloquei esse creme num pote de vidro e formei uma cobertura para ele com um pedaço de murim (aquele pano que as mães antigas usavem pra fazer frandas para as crianças. Uma boa trama de algodão, fechadinha mas com espaço para a troca com a natureza que viveu em volta dele. Prendi com um elástico desses que antigamente se amarrava notas de dinheiro. E foi para um canto da cozinha, longe de variações de temperatura e luz. Vidro transparente. Ficou ali três dias inteiros e mais um pedaço do quarto dia quando as bolhas fizeram ele dobrar de volume.

Retirei dali e coloquei num bowl de vidro e lavei o pote usado. Neste bowl adicionei uma colher de sopa, daquelas de mãe, bem fartas, de farinha Renata. E, a partir deste momento ele iria apenas beber água mineral com pH de 5.5. A escolha desta água motivou-se pelo aprendizado que as misturas para pães devem ser feitas com água ácida e sem adição de cloro. Isto demandou a pesquisa nos rótulos das águas em vários supermercados até que eu encontrei uma adequada.

Para a colher de trigo adicionei uma colher e meia de água. Mistura inicialmente com a própria colher e depois com a mão, de modo a formar uma bola mole. Voltou ao pote e novamente fechado com o murim e preso com o elástico. Ficou ali mais um dia. Cresceu o dobro, se tanto e repeti o processo: retirada, lavagem e adição de farinha e água na mesma medida. Voltou para o pote e para o mesmo lugar.

Mais um dia e mais uma adição. Nesse ponto, alimentado e forte, retirei 100g para aprodução do meu pão.

Na minha formulação básica uso 1 ¼ de xícara de farinha de trigo. Sal e açúcar (1 c chá), 1 colher de sopa de leite em pó desnatado e água o suficiente para dar a consistência de “bundinha de neném”. Massa passada da batedeira para uma superfície enfarinhada e coberta por um pano para um descanso (ou sesta) de vinte minutos. Depois, modelada e colocada numa forma devidamente untada. Polvilhada farinha de trifo e feito as ornamentações de praxe, foi colocado no berço para um longo sono que durou 7 horas até que chegasse ao ponto de acender o forno para aquecer por meia hora em temperatura aproximada de 200 graus (se você confiar que é esta mesma a marcação de seu forno caseiro). Coloquei ali e depois de vinte minutos acompanhava a formação de seu dourado pela janelinha do forno. O perfume começou a se espalhar. Depois de retirado do forno, uma ventania perfumada se espalhou por toda a casa. Foi colocado na grelha para poder esfriar e secar por igual. Como esse processo terminou por volta de oito horas da noite e era preciso secar pelo menos3 horas para “os sabores se assentarem”, deixei ele ali num cantinho curtindo a noite escura.

De manhã faca em punho, foi devidamente fatiado. Sentir o perfume da primeira fatia é um procedimento obrigatório. E inebriar-se com o perfume é consequência inevitável. Logo me vem o pensamento de “coitados dos que comem pães industrializados”...

Era hora de perpetuar o fermento, levain ou massa madre, como queiram. Depois de nova alimentação no dia seguinte, ele passou para um saco plástico fechado e foi morar no frio do meu Electrolux.

Todos os dias pela manhã, antes mesmo de cuidar das ervinhas que perfumam minha varanda e de tomar meu café, alimento ele com uma colher de farinha Renata e uma colher de água mineral. Trabalhado para ativar o glútem e agitar os “bichinhos vivos” dele, voltam para o refrigerador em um novo savo plástico.

Trabalheira? Não. Carinho e responsabilidade. Persistência. Desta forma mantenho a quantidade de fermento necessária para produção de pães de acordo com meu consumo.

Dai parti para um novo fermento: de farinha integral. Mas só vou contar no próximo capítulo... Enquanto isso, veja como este ficou.


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Terena e Ticuna

Eles nasceram recentemente. Foram fruto de minha insistência em ter meu próprio fermento. Já havia tentado durente um bom tempo no passado remoto. Também havia ganho uma “semente” mas acabou indo pro sarcófago porque não sobreviveu.

Muito de farinha foi embora sem que chegasse a um caminho adequado. Orientações mal formuladas (hoje eu sei disso) e até desistência de minha parte.

Há dois meses depois de ler algumas coisas sobre o levain francês resolvei retomar minhas pesquisas. Mas, desta vez fui ousado e comedido. Ousado no sentido de substituir o líquido usado na formulação. E hoje em dia já li que tem uns carinhas ousando mais ainda. Mas, isso é papo para depois. Resolvi usar uma cerveja artesanal que trouxe de minha passagem por Blumenal. Uma legítima Eisenbahn. Usei a Dunkel por me parecer mais encorpada, uma escura do tipo Lager, de baixa fermentação. Ela é feita com maltes torrados importados, que lhe conferem aroma e paladar incomparáveis de café e chocolate. A receita da Eisenbahn Dunkel leva cinco diferentes tipos de maltes. O resultado é uma cerveja maravilhosa, ideal para ser consumida o ano todo.

E tudo começo a partir disto. Mas, comedido na medida em que não parti de um quilo de farinha como a maioria das orientações que existem na internet (minha fonte de pesquisa) mas, de apenas meia xícara de farinha de trigo Renata (minha preferida entre as daqui do Rio.

Misturei a farinha com quese meia xícara da cerveja. Na realidade comecei com um quarto. Depois coloquei mais. Queria que ficasse como um creme denso, quase pesado. Nada mais.

Coloquei esse creme num pote de vidro e formei uma cobertura para ele com um pedaço de murim (aquele pano que as mães antigas usavem pra fazer frandas para as crianças. Uma boa trama de algodão, fechadinha mas com espaço para a troca com a natureza que viveu em volta dele. Prendi com um elástico desses que antigamente se amarrava notas de dinheiro. E foi para um canto da cozinha, longe de variações de temperatura e luz. Vidro transparente. Ficou ali três dias inteiros e mais um pedaço do quarto dia quando as bolhas fizeram ele dobrar de volume.

Retirei dali e coloquei num bowl de vidro e lavei o pote usado. Neste bowl adicionei uma colher de sopa, daquelas de mãe, bem fartas, de farinha Renata. E, a partir deste momento ele iria apenas beber água mineral com pH de 5.5. A escolha desta água motivou-se pelo aprendizado que as misturas para pães devem ser feitas com água ácida e sem adição de cloro. Isto demandou a pesquisa nos rótulos das águas em vários supermercados até que eu encontrei uma adequada.

Para a colher de trigo adicionei uma colher e meia de água. Mistura inicialmente com a própria colher e depois com a mão, de modo a formar uma bola mole. Voltou ao pote e novamente fechado com o murim e preso com o elástico. Ficou ali mais um dia. Cresceu o dobro, se tanto e repeti o processo: retirada, lavagem e adição de farinha e água na mesma medida. Voltou para o pote e para o mesmo lugar.

Mais um dia e mais uma adição. Nesse ponto, alimentado e forte, retirei 100g para aprodução do meu pão.

Na minha formulação básica uso 1 ¼ de xícara de farinha de trigo. Sal e açúcar (1 c chá), 1 colher de sopa de leite em pó desnatado e água o suficiente para dar a consistência de “bundinha de neném”. Massa passada da batedeira para uma superfície enfarinhada e coberta por um pano para um descanso (ou sesta) de vinte minutos. Depois, modelada e colocada numa forma devidamente untada. Polvilhada farinha de trifo e feito as ornamentações de praxe, foi colocado no berço para um longo sono que durou 7 horas até que chegasse ao ponto de acender o forno para aquecer por meia hora em temperatura aproximada de 200 graus (se você confiar que é esta mesma a marcação de seu forno caseiro). Coloquei ali e depois de vinte minutos acompanhava a formação de seu dourado pela janelinha do forno. O perfume começou a se espalhar. Depois de retirado do forno, uma ventania perfumada se espalhou por toda a casa. Foi colocado na grelha para poder esfriar e secar por igual. Como esse processo terminou por volta de oito horas da noite e era preciso secar pelo menos3 horas para “os sabores se assentarem”, deixei ele ali num cantinho curtindo a noite escura.

De manhã faca em punho, foi devidamente fatiado. Sentir o perfume da primeira fatia é um procedimento obrigatório. E inebriar-se com o perfume é consequência inevitável. Logo me vem o pensamento de “coitados dos que comem pães industrializados”...

Era hora de perpetuar o fermento, levain ou massa madre, como queiram. Depois de nova alimentação no dia seguinte, ele passou para um saco plástico fechado e foi morar no frio do meu Electrolux.

Todos os dias pela manhã, antes mesmo de cuidar das ervinhas que perfumam minha varanda e de tomar meu café, alimento ele com uma colher de farinha Renata e uma colher de água mineral. Trabalhado para ativar o glútem e agitar os “bichinhos vivos” dele, voltam para o refrigerador em um novo savo plástico.

Trabalheira? Não. Carinho e responsabilidade. Persistência. Desta forma mantenho a quantidade de fermento necessária para produção de pães de acordo com meu consumo.

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domingo, 13 de março de 2011

Um doce que minha mãe me ensinou

Dia desses tocou o telefone aqui em casa. Era minha mãe avisando que era hora de colher as laranjas da terra. Hora de muita ralação e de fazer doce. E a tortura? E a necessidade desesperadora de controlar os doces, os açúcares? Mas vamos em frente. Quem sabe com isto eu consigo adoçar algumas bocas? Quem sabe posso relaxar um pouco nesses dias tensos.

Peguei meu carrinho e rumei pra jacarepaguá. Mas, antes dos sacos de laranja era preciso fazer um almoço a quatro, seis mãos... Ela já havia começado os trabalhos. A Véra, também já estava adiantada na sua parte e a Fátima já havia cuidado dos doces do lanche! Só me restou arrumar a mesa...

Almoço demorado. Muita conversinha pra cá e pra lá. Depois, a louça: ainda bem que esse não é o meu departamento. Cozinheiro sempre encontra alguém para tomar conta desse departamento, não é mesmo?

Tudo cuidado peguei uma tesourona dessas de alfaiate de antigamente e umas sacas e parti para o quintal. É, ainda existem quintais nesta grande cidade... Os dois pés, carregadinhos e com respiração ofegante de tanto peso. Os primeiros a delas se servirem se dão ao luxo de escolher as melhores. E assim fiz eu. As mais verdinhas, as maiores, as mais bem formadas tiveram o corte no talo para ainda pegar umas folhas. Sim, elas são importantes para ajudar a saborizar a calda final. Colocadas com cuidado enchi duas sacolas. Parece muito para uns e pouco para outros. Mas é preciso deixar para o restante da comunidade que aparece lá na casa dela nesta época do ano. Antes era para pegar o doce prontinho. Agora, ela apenas permite que peguemos as laranjas. E cada um que faça seu doce do seu jeito, com suas próprias imperfeições.

Na hora de vir embora, o mais importante era não esquecer meu saco de laranjas... Mas também um eborme beijo nas bochechas magrinhas dela e um abraço bem apertado. Minha mãe tem sido MUITO especial para mim.

Em casa, no dia seguinte, é claro, hora de lavar as laranjas para tirar eventuais poeiras. Afinal a única coisa que poderiam ter: cultivadas apenas com água das chuvas e um terreno maravilhoso, apenas natureza nestas orgânicas.

Todas as vezes anteriores que fiz este doce sempre não ficava satisfeito com os resultados desde a “limpeza” das laranjas até o sabor final. Chato eu? Que nada: apenas procurando tornar o resultado final uma pergunta do tipo: só isso? Ah, assim eu fazia...

Parei e olhei para a primeira laranja. Saquei da melhor contribuição dos americanos para a gastronomia mundial (calma que essa afirmação não é minha: é marca registrada RS): Meu microplane, presentação de uma amigona. Como ele foi projetado para tirar apenas uma fina película (ideal para outras preparações) não ficou do jeito que eu queria. Peguei então um descascador de legumes e, com ele, comecei um novo protocolo de descascar a laranja para o doce. A partir do galhinho dela fui tirando a película verde de cima para baixo.

Depois de “descascada”, cada uma delas, era preciso fazer os cortes das “pétalas” e manter a flor íntegra. Assim, feitos os cortes em formato de cruz, de baixo para cima, de forma que as pétalas fiquem unidas no lado dos cabinhos.
Mas é preciso soltar a casca do miolo. E aqui modifiquei a maneira mamãe de soltá-las. Não com a ponta dos dedos mas usando uma colher de sobremesa (veja detalhe na foto lá embaixo). Eu vi esse procedimento ser feito com figos roxos (aqueles de Valinhos no interior de São Paulo). Testei e aprovei!

Mas a parte mais difícil para mim foi soltar completamente o miolo. Antes, segurava as pétalas com uma das mãos e com a outra rodava o miolo. Algumas vezes isto não dava certo, principalmente com aquelas de polpa fininha. Ai, novamente as observações que muitas vezes passam batidas pelos alunos de gastronomia valeram: usei uma faquinha para soltar. Pronto! Perfeito!

Pode parecer frescura para muita gente que vai ler esse texto. Mas cozinha é processo: se você acha o processo certo, tudo fica melhor: a preparação dos ingredientes, a preparação do alimento, o sabor e o resultado final. Fazer de qualquer forma não lhe garante isso.

Soltas as pétalas, colocar de molho. Processo repetido para cada uma delas. Depois, troca logo essa primeira água. Ah, uma boa dica para mantê-las submersas, é colocar um prato sobre elas. Se necessário coloque algu pesado. Assim a garantia de que todas vão ficar em contato com a água.

A primeira água é a da fervura inicial. Coloquei uma colher de chá, generosa, de sal marinho e cobri até dois dedos acima delas. Fervi por cinco minutos e escorri essa água. Deixei esfriar por uns 10 minutos e coloquei novamente água em temperatura ambiente. Assim foi por dois dias, trocando a água, à toda hora que passava ali onde ela estava.

Quando dei uma mordidinha numa pequena pontinha e não senti o amargor característico estava na hora de terminar: a calda entra em cena!

Um litro e meio de água foi o suficiente para uma dúzia delas. Coloquei 750 gramas de açúcar Native (orgânico) e uma folha das grandes que colhi junto com as laranjas. Inicialmente fogo alto até iniciar a fervura, depois a meia força para manter a evaporação da água e engrossar a calda, além de cozer a laranja. Valda reduzida à metade, foi hora de desligar o fogo.

Hora, também de colocar nos potes e, é claro, provar do doce. Apenas uma pétala, me permiti. Mas, depois que o povo daqui provou ouvi “foi o melhor doce de laranja que você já fez!”. Valeu...

Veja as fotos que tirei do processo. Faça o seu doce aproveitando as laranjas que estão sendo vendidas nessa época. Ah, não esquece de contar aqui como foi.

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Um doce que minha mãe me ensinou

Dia desses tocou o telefone aqui em casa. Era minha mãe avisando que era hora de colher as laranjas da terra. Hora de muita ralação e de fazer doce. E a tortura? E a necessidade desesperadora de controlar os doces, os açúcares? Mas vamos em frente. Quem sabe com isto eu consigo adoçar algumas bocas? Quem sabe posso relaxar um pouco nesses dias tensos.

Peguei meu carrinho e rumei pra jacarepaguá. Mas, antes dos sacos de laranja era preciso fazer um almoço a quatro, seis mãos... Ela já havia começado os trabalhos. A Véra, também já estava adiantada na sua parte e a Fátima já havia cuidado dos doces do lanche! Só me restou arrumar a mesa...

Almoço demorado. Muita conversinha pra cá e pra lá. Depois, a louça: ainda bem que esse não é o meu departamento. Cozinheiro sempre encontra alguém para tomar conta desse departamento, não é mesmo?

Tudo cuidado peguei uma tesourona dessas de alfaiate de antigamente e umas sacas e parti para o quintal. É, ainda existem quintais nesta grande cidade... Os dois pés, carregadinhos e com respiração ofegante de tanto peso. Os primeiros a delas se servirem se dão ao luxo de escolher as melhores. E assim fiz eu. As mais verdinhas, as maiores, as mais bem formadas tiveram o corte no talo para ainda pegar umas folhas. Sim, elas são importantes para ajudar a saborizar a calda final. Colocadas com cuidado enchi duas sacolas. Parece muito para uns e pouco para outros. Mas é preciso deixar para o restante da comunidade que aparece lá na casa dela nesta época do ano. Antes era para pegar o doce prontinho. Agora, ela apenas permite que peguemos as laranjas. E cada um que faça seu doce do seu jeito, com suas próprias imperfeições.

Na hora de vir embora, o mais importante era não esquecer meu saco de laranjas... Mas também um eborme beijo nas bochechas magrinhas dela e um abraço bem apertado. Minha mãe tem sido MUITO especial para mim.

Em casa, no dia seguinte, é claro, hora de lavar as laranjas para tirar eventuais poeiras. Afinal a única coisa que poderiam ter: cultivadas apenas com água das chuvas e um terreno maravilhoso, apenas natureza nestas orgânicas.

Todas as vezes anteriores que fiz este doce sempre não ficava satisfeito com os resultados desde a “limpeza” das laranjas até o sabor final. Chato eu? Que nada: apenas procurando tornar o resultado final uma pergunta do tipo: só isso? Ah, assim eu fazia...

Parei e olhei para a primeira laranja. Saquei da melhor contribuição dos americanos para a gastronomia mundial (calma que essa afirmação não é minha: é marca registrada RS): Meu microplane, presentação de uma amigona. Como ele foi projetado para tirar apenas uma fina película (ideal para outras preparações) não ficou do jeito que eu queria. Peguei então um descascador de legumes e, com ele, comecei um novo protocolo de descascar a laranja para o doce. A partir do galhinho dela fui tirando a película verde de cima para baixo.

Depois de “descascada”, cada uma delas, era preciso fazer os cortes das “pétalas” e manter a flor íntegra. Assim, feitos os cortes em formato de cruz, de baixo para cima, de forma que as pétalas fiquem unidas no lado dos cabinhos.
Mas é preciso soltar a casca do miolo. E aqui modifiquei a maneira mamãe de soltá-las. Não com a ponta dos dedos mas usando uma colher de sobremesa (veja detalhe na foto lá embaixo). Eu vi esse procedimento ser feito com figos roxos (aqueles de Valinhos no interior de São Paulo). Testei e aprovei!

Mas a parte mais difícil para mim foi soltar completamente o miolo. Antes, segurava as pétalas com uma das mãos e com a outra rodava o miolo. Algumas vezes isto não dava certo, principalmente com aquelas de polpa fininha. Ai, novamente as observações que muitas vezes passam batidas pelos alunos de gastronomia valeram: usei uma faquinha para soltar. Pronto! Perfeito!

Pode parecer frescura para muita gente que vai ler esse texto. Mas cozinha é processo: se você acha o processo certo, tudo fica melhor: a preparação dos ingredientes, a preparação do alimento, o sabor e o resultado final. Fazer de qualquer forma não lhe garante isso.

Soltas as pétalas, colocar de molho. Processo repetido para cada uma delas. Depois, troca logo essa primeira água. Ah, uma boa dica para mantê-las submersas, é colocar um prato sobre elas. Se necessário coloque algu pesado. Assim a garantia de que todas vão ficar em contato com a água.

A primeira água é a da fervura inicial. Coloquei uma colher de chá, generosa, de sal marinho e cobri até dois dedos acima delas. Fervi por cinco minutos e escorri essa água. Deixei esfriar por uns 10 minutos e coloquei novamente água em temperatura ambiente. Assim foi por dois dias, trocando a água, à toda hora que passava ali onde ela estava.

Quando dei uma mordidinha numa pequena pontinha e não senti o amargor característico estava na hora de terminar: a calda entra em cena!

Um litro e meio de água foi o suficiente para uma dúzia delas. Coloquei 750 gramas de açúcar Native (orgânico) e uma folha das grandes que colhi junto com as laranjas. Inicialmente fogo alto até iniciar a fervura, depois a meia força para manter a evaporação da água e engrossar a calda, além de cozer a laranja. Valda reduzida à metade, foi hora de desligar o fogo.

Hora, também de colocar nos potes e, é claro, provar do doce. Apenas uma pétala, me permiti. Mas, depois que o povo daqui provou ouvi “foi o melhor doce de laranja que você já fez!”. Valeu...

Veja as fotos que tirei do processo. Faça o seu doce aproveitando as laranjas que estão sendo vendidas nessa época. Ah, não esquece de contar aqui como foi.

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domingo, 6 de março de 2011

Carnaval de São Pedro

Na sexta feira à noite a gente passou na Padaria Trigon, em Jacarepaguá onde morei por muitos anos. Uma pilha de discos de pizzas pré-assados foi embrulhado. Presunto e queijo mussarela, também. Tudo acomodado no carro, era hora de seguir pra São Pedro da Aldeia, uma cidade acolhedora na região dos lagos, aqui no Rio de Janeiro.

Passada a Ponte Rio Niterói enfrentamos uma estrada que tinha um bom movimento de carros àquela hora (21h00) alternando momentos de velocidade menor com outros de velocidade plena. Muita atenção já naquela época. Velocidade máxima respeitada por uns e nem tanto por outros.

Do meu lado, minha mulher. Havia pouco mais de um ano que havíamos casado. Ainda na “lua de mel”...

Chegando lá, encontramos os demais participantes do bloco do carnaval: Antônio e Teresa com dona Haydée e José. Mais o Mauro e Vilma e seu inseparável violão.

Na farra da chegada, retirar as tralhas dos carros e cada um arrumar seu cantinho previamente separados, arrumados e cheirosos que Oberlan e Elisa haviam providenciado para cada casal. Anfitriões de primeira qualidade, tia de Antônio e dos outros por afinidade.

Tudo arrumado, era hora de irmos para o “portinho” comprar os camarões que iriam nadar nas nossas cervejas pela noite embalada pelas músicas que saíam do pinho do Mauro. Um lugar onde os pescadores locais ancoravam suas canoas cheias de camarões que ainda pulavam no chão delas. Transferiam para enormes caixas e ali mesmo, na beira da praia começava a venda. A medida usada era uma lata da falecida Gordura de Coco Carioca que deixou saudade naqueles que a usavam para fazer suas comidinhas principalmente um arroz branquinho e soltinho. Macetes na hora de enchê-las com os camarões. Não eram simplesmente colocados ali dentro. Havia a engenhosidade do movimento das mãos que deixava criar uma bolsa de ar e assim, reduzir a quantidade de camarões. Mas sempre dava para “chorar” um pouco mais daqueles camarões que não mais comi igual.

Em casa, um banho de água da torneira bastava para em seguida colocá-los numa enorme frigideira com óleo (soja se minha memória não me engana). Mudada a cor estavam prontos: para uma enorme travessa eles se mudavam e aquilo virava banquete, inicialmente para os famintos viajantes. Depois, mais comportados, serviam de acompanhamento das cervejas bebidas durante a cantoria. Isso varava a madrugada...

Na manhã de sábado, ainda uns mais com sono que os outros, pelas poucas horas dormidas, já descíamos dos quartos de sunga e biquines. Café da manhã farto, dentes escovados era hora da praia. Uma quadra e já estávamos na areia de uma praia mansa e não tão cheia de gente. Basicamente os moradores daquele canto e seus convidados, penetras ou os que alugavam as casas para temporada.

Ali na areia, deliciando-se com o sol e a água ficávamos de papo até que a secretária chegava com alguma “besteirinha” para comer. Afinal os anfitriões eram de primeiríssima qualidade conforme falei ali em cima.

Eu, Antônio e Mauro nos juntávamos ao “tio” Oberlan para pegar o barco que ele batizou de LAN LAN para passear por aquelas águas mansas. Primeiramente o tio foi nos mostrar todos os bons lugares para o passeio e depois ficava à nossa disposição pois somente ele tinha habilitação para conduzir a embarcação. A Marinha do Brasil naquela época fazia uma fiscalização intensa. Hoje não sei. Faz muito tempo que não vou para lá.

Era assim a manhã toda até que a secretária/ajudante/faz tudo tocava um sino que havia na varanda da casa. Era a hora do almoço. Levantar acampamento pois os donos da casa faziam questão de manter a rotina com seus horários. Juntávamos esteiras e mais o que levássemos, além das vasilhas dos comes (vazios agora) e rumo ao chuveiro externo para retirar o sal do corpo. Uma camiseta e um calção ou bermuda para as meninas e já estávamos todos numa enorme mesa deliciando, invariavelmente, uma tainha fresquíssima que os tios compravam de um pescador. A mais preferida era a que era servida em finas postas e empanadas com fubá de milho. Sequinhas, branquinhas por dentro e amarelinhas por fora. Um sabor que até agora consigo sentir. O que acompranhava? Não me importava. Já naqueles tempos era fã do peixe. Desde muito pequeno fui acostumado a eles. Pena que hoje em dia muitos já são artificiais, criados em cativeiro, sem o sabor intenso e delicioso dos naturais.

Depois do almoço, era hora da sesta nas redes instaladas na varandinha da parte superior ou nas espreguiçadeiras que existiam na parte de baixo. O silêncio reinava e cedia lugar ao assovio do vento entre as casuarinas que existiam pelas cercanias. Sono bom de barriguinha cheia. Até que o primeiro acordasse e colocasse o resto de volta à praia para o “banho da tarde”.

De noite a janta novamente com peixe. Variando ou não a preparação, ainda não me aventurava nos fogões. Só comia...

Nas noites e madrugadas, a rotina de ir buscar camarão fresco para brincar junto com as músicas e esquecer as picadas dos mosquitos que chegavam em blocos animados com sua musiquinha inesquecível.

E tudo se repetia mesmo nas noites em que acompanhavámos os desfiles das escolas de samba do Rio. Vida boa. Vida saudável.

Pra tudo isso se acabar na quarta feira!

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Carnaval de São Pedro

Na sexta feira à noite a gente passou na Padaria Trigon, em Jacarepaguá onde morei por muitos anos. Uma pilha de discos de pizzas pré-assados foi embrulhado. Presunto e queijo mussarela, também. Tudo acomodado no carro, era hora de seguir pra São Pedro da Aldeia, uma cidade acolhedora na região dos lagos, aqui no Rio de Janeiro.

Passada a Ponte Rio Niterói enfrentamos uma estrada que tinha um bom movimento de carros àquela hora (21h00) alternando momentos de velocidade menor com outros de velocidade plena. Muita atenção já naquela época. Velocidade máxima respeitada por uns e nem tanto por outros.

Do meu lado, minha mulher. Havia pouco mais de um ano que havíamos casado. Ainda na “lua de mel”...

Chegando lá, encontramos os demais participantes do bloco do carnaval: Antônio e Teresa com dona Haydée e José. Mais o Mauro e Vilma e seu inseparável violão.

Na farra da chegada, retirar as tralhas dos carros e cada um arrumar seu cantinho previamente separados, arrumados e cheirosos que Oberlan e Elisa haviam providenciado para cada casal. Anfitriões de primeira qualidade, tia de Antônio e dos outros por afinidade.

Tudo arrumado, era hora de irmos para o “portinho” comprar os camarões que iriam nadar nas nossas cervejas pela noite embalada pelas músicas que saíam do pinho do Mauro. Um lugar onde os pescadores locais ancoravam suas canoas cheias de camarões que ainda pulavam no chão delas. Transferiam para enormes caixas e ali mesmo, na beira da praia começava a venda. A medida usada era uma lata da falecida Gordura de Coco Carioca que deixou saudade naqueles que a usavam para fazer suas comidinhas principalmente um arroz branquinho e soltinho. Macetes na hora de enchê-las com os camarões. Não eram simplesmente colocados ali dentro. Havia a engenhosidade do movimento das mãos que deixava criar uma bolsa de ar e assim, reduzir a quantidade de camarões. Mas sempre dava para “chorar” um pouco mais daqueles camarões que não mais comi igual.

Em casa, um banho de água da torneira bastava para em seguida colocá-los numa enorme frigideira com óleo (soja se minha memória não me engana). Mudada a cor estavam prontos: para uma enorme travessa eles se mudavam e aquilo virava banquete, inicialmente para os famintos viajantes. Depois, mais comportados, serviam de acompanhamento das cervejas bebidas durante a cantoria. Isso varava a madrugada...

Na manhã de sábado, ainda uns mais com sono que os outros, pelas poucas horas dormidas, já descíamos dos quartos de sunga e biquines. Café da manhã farto, dentes escovados era hora da praia. Uma quadra e já estávamos na areia de uma praia mansa e não tão cheia de gente. Basicamente os moradores daquele canto e seus convidados, penetras ou os que alugavam as casas para temporada.

Ali na areia, deliciando-se com o sol e a água ficávamos de papo até que a secretária chegava com alguma “besteirinha” para comer. Afinal os anfitriões eram de primeiríssima qualidade conforme falei ali em cima.

Eu, Antônio e Mauro nos juntávamos ao “tio” Oberlan para pegar o barco que ele batizou de LAN LAN para passear por aquelas águas mansas. Primeiramente o tio foi nos mostrar todos os bons lugares para o passeio e depois ficava à nossa disposição pois somente ele tinha habilitação para conduzir a embarcação. A Marinha do Brasil naquela época fazia uma fiscalização intensa. Hoje não sei. Faz muito tempo que não vou para lá.

Era assim a manhã toda até que a secretária/ajudante/faz tudo tocava um sino que havia na varanda da casa. Era a hora do almoço. Levantar acampamento pois os donos da casa faziam questão de manter a rotina com seus horários. Juntávamos esteiras e mais o que levássemos, além das vasilhas dos comes (vazios agora) e rumo ao chuveiro externo para retirar o sal do corpo. Uma camiseta e um calção ou bermuda para as meninas e já estávamos todos numa enorme mesa deliciando, invariavelmente, uma tainha fresquíssima que os tios compravam de um pescador. A mais preferida era a que era servida em finas postas e empanadas com fubá de milho. Sequinhas, branquinhas por dentro e amarelinhas por fora. Um sabor que até agora consigo sentir. O que acompranhava? Não me importava. Já naqueles tempos era fã do peixe. Desde muito pequeno fui acostumado a eles. Pena que hoje em dia muitos já são artificiais, criados em cativeiro, sem o sabor intenso e delicioso dos naturais.

Depois do almoço, era hora da sesta nas redes instaladas na varandinha da parte superior ou nas espreguiçadeiras que existiam na parte de baixo. O silêncio reinava e cedia lugar ao assovio do vento entre as casuarinas que existiam pelas cercanias. Sono bom de barriguinha cheia. Até que o primeiro acordasse e colocasse o resto de volta à praia para o “banho da tarde”.

De noite a janta novamente com peixe. Variando ou não a preparação, ainda não me aventurava nos fogões. Só comia...

Nas noites e madrugadas, a rotina de ir buscar camarão fresco para brincar junto com as músicas e esquecer as picadas dos mosquitos que chegavam em blocos animados com sua musiquinha inesquecível.

E tudo se repetia mesmo nas noites em que acompanhavámos os desfiles das escolas de samba do Rio. Vida boa. Vida saudável.

Pra tudo isso se acabar na quarta feira!

F A C I L I D A D E S
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