sábado, 20 de junho de 2020

Doce de Rodelinhas de Bananas


Naquele dia todos acordamos tarde. Estava frio mas tão frio que todos estávamos igual a cebolas... não dava para saber quanto de frio pois o termômetro havia morrido de insuficiência de mercúrio.

A Jussa já começava a cuidar do almoço e com a nossa chegada na cozinha, adultos e crianças começaram a alvoroçar tudo ali. Ela sorria... acho que no fundo amava aquele contraste com o silêncio dos dias de casa vazia...

As crianças correram pro galinheiro. Queriam pegar ovos com calor da galinha. E lá voltaram as três, cada uma com um ovo numa das mãos. E lá se foi a Jussa fazer fritinho na manteiga para elas enquanto o povo grande fazia fila para aquecer o pão na chapa com manteiga... (isso seria trabalho pra Jussa limpar...).

Enquanto esperava minha vez, estava ali, debruçado no portãozinho de acesso ao pequeno espaço coberto que servira pra tantas coisas. E vi um belo cacho de bananas, quase todas amarelinhas. E algumas já com pintinhas pretas. Admirar que nem passarinhos nem morcegos tivessem provado delas. Fiquei quieto mas já pensando no que fazer.

Tomei meu café preto com pão torrado na chapa e fui para a varanda onde a “baixinha” estava de conversas com a irmã Elisa.

Cheguei pertinho e falei pra ela: me ensina a fazer doce de bananas como você aprendeu com sua mãe? Tem um cacho de banana pendurado lá no telhado. Acho que Luizinho trouxe agora de manhã junto com o leite...

Elisa, curiosa perguntou: o que vocês estão cochichando?

A “baixinha” virou-se para a irmã e disse: fica quieta Elisa. O Carlinhos quer aprender a fazer doce de banana como mamãe fazia pra gente...

Vocês vão arrumar ideia. Pode ser que o Jorge tenha pedido pro Luizinho trazer pra ele fazer...

Deixa que eu falo com o Jorge, Elisa. Mas a gente só vai mexer nisso, de tarde, depois que acabar de cuidar do almoço.

Eu já fui logo, como quem não quisesse de nada, dar uma olhada na despensa para ver a quantos andávamos de açúcar cristal... E, para minha alegria, haviam 2 sacos de 5kg...!

Mal acabamos de almoças, saíram Jorge e Haidée abraçados em direção à varanda da frente da casa... e eu pensei, é agora ou nunca!

Depois de algum tempo, a baixinho volta sorrindo e faz sinal de positivo.

Ajudamos a arrumar todas as coisas do almoço e já separamos um saco de açúcar sobre a mesa da cozinha, para iniciar os trabalhos.

Uma baciazinha dessas de plástico que sempre tem nas casas da roça para entre outras coisas bater uma broa de milho, para colocarmos as cascas.

Tirávamos aos poucos as bananas. Cortadinhas em rodelas, tipo moedas de 100o réis, iamos colocando elas na própria panela onde faríamos o doce.

Lá não havia balança. Então medimos o açúvar por aproximação do volume das bananas. A medida certa é 1/3 do volume/peso de fruta, de açúcar.

Ela despejou o açúcar acima das rodelinhas e deu uma sacudida na panela para ele descer o máximo que conseguisse para o fundo da panela.

Colocamos no canto da trempe, para apenas o calor residual ir cozinhando lentamente as rodelinhas. Ficamos ali jogando conversa fora e mantendo o fogo esperto. Não podeira ficar só em brasas.

E a tarde foi escorregando conforme a noite ia chegando e já era hora de cuidar do jantar. A Jussa começõu a ajeitar as coisas com a ajuda da “tia” Elisa. E eu e a baixinha nos revezando para olhar o doce...
Jantamos e o doce ali, apertando a calda e transformando tudo aqui lo numa cor maravilhosa.

Pegamos alguns vidros com tampa que pudessem lacrar o conteúdo, lavamos bem e colocamos água gfervendo enquanto aguardávamos o grande momento!

Hora de passar da panela para os potes. E, o mais importante, PRECISAVA SOBRAR PARA COMERMOS!

Resolvemos encher apenas trê potes. Um para a baixinha, um para a tia Elisa e outro para o tio Jorge.
O resto era pra farra!

Assim fizemos.

Eu ainda sinto o sabor desse doce. Ando com vontade de fazer mas nessa quarentena nem sei a quantas andam as bananas...







F A C I L I D A D E S
+ Acompanhe este blog pelo twitter.
+ Siga-me pelo Instagram
+ Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Doce de Leite


Era dia de São João.

Havíamos combinado passar o final de semana na “fazenda”. Sim, era assim como chamávamos o agora sítio mas outrora uma grande fazenda produtora de leite como muitos nas serras das Minas Gerais.

Lá morava meu “tio” postiço Jorge Ramos, herdeiro da fazenda. A galera que ia com frequência eram esposa, filhas, meu primo, mulher e filha, mãe da mulher de meu primo e uma irmã do “tio” Jorge.

A fazenda ficava em Benjamim Constant, uma estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a 7 km de Sapucaia, na estrada Rio-Bahia, ainda no Rio de Janeiro. Lá era nossa base para compras de coisas que não tinham na fazenda e, claro, requeijão de corte e manteiga comprados na volta para nos abastecer aqui no Rio.

Depois de desmontar a mala do carro em nossos quartos, hora de arrumar as coisas na despensa. No meio de tudo, um saco de açúcar cristal (não lembro mais a marca. A idade apagou este detalhe).

No dia seguinte, chegou a encomenda de leite que eu e a “baixinha” fizemos. Ela era (sim, era,
porque já voltou para a sua casa ao lado de Jesus. Eram dois litros do mais puro leite da vaca que abastecia a casa. Portanto, a melhor leiteira do curral.

Colocamos o leite para ferver. Levantada a fervura, abaixamos o fogo para o leite descer.

Novamente aumentamos para a segunda fervura. Depois, repetimos para a terceira e última.

Deixamos esfriar um pouco para retirar a nata que se forma na parte de cima e isto pode alterar o resultado do doce.

Pesados 600 gramas do açúcar (porque cristal? Porque era “norma” para todos os doces feitos na época da escravidão. Hoje eu uso demerara porque está mais próximo da origem e, por isso, menos processado), colocamos no caldeirão “da bruxa” porque seriam mais de 60 minutos ali no vuco-vuco, com uma colher de pau de ponta reta, mexendo lentamente sem parar até o ponto final. Aprendi a fazer assim. Era como os doces da “fazenda” eram feitos num tacho de cobre sobre lenha.

Esse meu aprendizado foi feito num fogão a gás para minha tristeza, do lado do fogão à lenha que ainda existia lá. A alegação da “baixinha” é que acabaria de fazer mais rápido. Portanto, se você tiver um fogão à lenha e, tempo, não exite, faça nele.

E assim ficamos ali, jogando um dedo de prosa e contando histórias de tempos passados. Sei lá
quanto tempo mas o ver a cor de caramelo ali firmando e o doce ficando mais “durinho”, fiquei com brilho no olhar pelo aprendizado mas doido para provar. E, ai, vem o desespero até esperar esfriar.

É simples. Não requer prática nem habilidade, como diziam os camelôs daquela época... só
paciência, como tudo na roça.


foto das principais vacas que haviam na fazenda na época em que aprendi a fazer o doce de leite da história.





F A C I L I D A D E S
+ Tudo meu: linktree
  + Receba aviso sobre novos textos em seu email. Cadastre-se!
+ Antes de imprimir este texto, pense na sua responsabilidade com o meio ambiente: click aqui!