domingo, 4 de agosto de 2019

O salto de paraquedas


Naquela manhã de inverno, ainda com a névoa baixa no aeródromo, estávamos todos ouvindo a preleição do nosso comandante.

Só de imaginar sair de um avião a mais de três mil metros de altura, já é possível sentir o frio na barriga. Imagina estarmos ali, 3 duplas de primeiros saltadores. Esse era o objetivo da aventura.

Ouvimos as instruções já vestidos. Eu, usava roupas leves..., calçava um par de tênis do meu último patrocinador de materiais esportivos. Tenso. Muito tenso. Pesado, quase no limite máximo para o salto.

A corrida do avião pela pista (apesar de já ter voado em muitas outras vezes) não era como tinha sido nas últimas vezes. Era um pequeno. Um teco-teco como o chamamos os não iniciados.

Começa a subida após ter deixado o chão para trás. Chegamos ao nível dos saltos.
Estranhei o fato do comandante ter colocado no meu pulso um altímetro. E ter me dado instruções como usá-lo. E pensa que eu fiquei calado? Perguntei porque isto. Precaução, disse ele. Vai que você precise...

Homem prevenido. Vamos em frente.

Saltou a primeira dupla. Depois a segunda.

Ai a grande surpresa: ele me informa que eu vou sozinho!!!!!! Mas coméquié? Isso mesmo! Já sabes usar o altímetro e acionar o paraquedas, então BOA SORTE! E me empurrou porta afora!

Acho que meu coração ficou sentado no chão da aeronave.

Um enorme vazio lá embaixo. Tudo pequenininho. Queda livre. A mais de 200 por hora! Comecei as primeiras palavras do Pai Nosso. Mas precisei parar. Dona Prudência, sábia senhora me mandou calar. Prestar atenção a tudo que estava acontecendo. Vento na cara. O chão, cada vez mais perto... Mas, a hora mais difícil e de maior medo chegara: acionar o bendito paraquedas. Um solavanco e uma olhada para cima. Para meu alívio (!?) o bichão abriu bonito! Obrigado Senhor!

Administrando a descida para não fazer bobagem, pousei (?!), aterrei (?!), cheguei (?!). Qualquer coisa.

Chegada ao alvo: a Microbiota Intestinal. Bendito destino!


Antigamente chamada de flora intestinal consiste em um complexo de espécies de microrganismos que vivem trato digestivo e é o maior reservatório de microrganismos. O principal benefício para o hospedeiro é a recuperação de energia a partir da fermentação de carboidratos não digeridos e a subsequente absorção de ácidos graxos de cadeia curta. Os mais importantes destes ácidos graxos são butiratos, metabolizados pelo epitélio do cólon; propinatos pelo fígado; e acetatos do tecido muscular. As bactérias intestinais, também desempenham um papel na síntese de vitamina B e da vitamina K, bem como ácidos biliares, que metabolizam esteróis e xenobióticos.

O corpo humano transporta cerca de 390 trilhões de microrganismos nos seus intestinos, 1,3 vezes maior do que o número total de células humanas no corpo (3,7 x 1013). Contrariando o mito de que nosso corpo humano possui 10 vezes mais bactérias que células humanas. As atividades metabólicas desempenhadas por estas bactérias se assemelham aos de um órgão, levando alguns a comparar bactérias do intestino a um órgão "esquecido". Estima-se que esta microbiota intestinal tem cerca de cem vezes mais genes, no total, dos que existem no genoma humano.

Funções
As bactérias no intestino cumprem uma série de funções úteis para os seres humanos, incluindo a digestão de substratos de energia não utilizada, estimulando o crescimento celular, reprimindo o crescimento de micro-organismos nocivos, treinando o sistema imunológico a responder apenas aos patógenos, e defesa contra algumas doenças.

Efeitos tróficos
Outro benefício de SCFA (short chain fatty acids, em português, ácidos graxos de cadeia curta, também conhecidos como ácidos graxos voláteis) é que eles aumentam o crescimento das células epiteliais intestinais e controlam a sua proliferação e diferenciação. Eles também podem causar tecido linfoide perto do intestino para crescer. As células bacterianas também alteram o crescimento do intestino, alterando a expressão de proteínas da superfície celular, tais como transportadores de sódio/glicose. Além disso, as mudanças que eles fazem nas células podem evitar lesões que ocorram na mucosa intestinal.

Imunidade
A Microbiota intestinal tem um efeito contínuo e dinâmico no intestino e sistema imunológico sistêmico do hospedeiro. As bactérias são fundamentais na promoção do desenvolvimento inicial do sistema imunológico da mucosa do intestino tanto em termos de seus componentes físicos e funções e continuam a desempenhar um papel mais tarde na vida em sua operação. As bactérias estimulam o tecido linfoide associado à mucosa do intestino para produzir anticorpos a agentes patogênicos. O sistema imunitário reconhece e combate bactérias prejudiciais, mas deixa as espécies úteis sozinhas, uma tolerância desenvolvida na infância.

Assim que uma criança nasce, as bactérias começam a colonizar o trato digestivo. As primeiras bactérias a se instalarem são capazes de afetar a resposta imune, tornando-a mais favorável à sua própria sobrevivência e menos para as espécies concorrentes; assim, as primeiras bactérias a colonizar o intestino são importantes na determinação da composição contínua da microbiota intestinal da pessoa. No entanto, há uma mudança na altura do desmame de espécies predominantemente anaeróbicas facultativas, tais como Streptococci e Escherichia coli, para obrigar principalmente espécies anaeróbicas.

Descobertas recentes demonstraram que as bactérias do intestino desempenham um papel na expressão de receptores do tipo Toll (TLRs - proteínas transmembrânicas de tipo I que formam uma parte do sistema imunológico inato) nos intestinos, moléculas que ajudam o hospedeiro a reparar danos devido a uma lesão. TLRs causa partes do sistema imunitário para reparar danos causados​​, por exemplo, por radiação. TLRs são um dos dois tipos de receptores de reconhecimento de padrões (PRR) que fornecem ao intestino a capacidade de discriminar entre as bactérias patogênicas e comensais. Estes PRRs identificam os agentes patogênicos que cruzaram as barreiras mucosas e desencadeiam um conjunto de respostas que tomam medidas contra o patógeno, que envolvem três principais células imune-sensoriais: enterócitos de superfície, células M e células dendríticas.

Akkermansia muciniphila
Recentes avanços em tecnologias de sequenciamento microbiano iluminaram o  desempenho de diferentes microrganismos no intestino humano. Um desses microorganismos que reside no revestimento intestinal é a Akkermansia muciniphila, uma bactéria anaeróbia gram-negativa.

A. muciniphila, utiliza a mucina, presente no muco intestinal, como sua fonte de energia. Esta bactéria parece colonizar o intestino humano em uma idade muito jovem, uma vez que é encontrado no leite materno e fórmula infantil.

A. muciniphila é considerada a bactéria mucolítica degradante mais abundante em um indivíduo saudável. A baixa concentração dessa espécie no intestino poderia indicar uma camada de muco fina, resultando assim em função de barreira intestinal enfraquecida, além possibilitar aumento da translocação de toxinas bacterianas. Os pacientes que sofrem de doença inflamatória intestinal, obesidade e diabetes do tipo II tendem a ter menores concentrações de A. muciniphila. A sua concentração também diminui com a idade.

Shen J et al demonstraram, em estudo experimental, que a administração oral da Akkermansia melhorou significativamente hipertrigliceridemia crônica, sensibilidade à insulina, facilitou a absorção de colesterol de lipoproteína de densidade intermediária e melhorou estresse de retículo endoplasmático hepático e inflamação metabólica.

A existência da Akkermansia ilustra uma relação hospedeiro-microorganismo próspera e as suas propriedades anti-obesidade faz com que essa bactéria seja uma excelente candidata a ser analisadas na luta contra a obesidade e diabete tipo 2.

Viva a Akkermansia!

Este salto me levou a conhecer essas coisas todas. Este salto foi dado porque o Francisco Eustachio (ainda bem) para conhecer tudo isso (e acho que ele não tinha ideia dessas coisas todas), apenas que eu tenho resistência insulínica ou pré-diabetes (para uns médicos) ou diabetes (para outros). Enfim, estas leituras e muitas outras mais me levaram a repensar minha forma de alimentação. É MUITO DIFÍCIL uma pessoa idosa mudar hábitos, deixar de lado alimentos com os quais conviveu uma vida inteira. Mas é preciso mudar. É preciso que cuidemos melhor do que colocamos para dentro do nosso corpo (não apenas maus sentimentos) pois eu li num livrinho de bolso que “faz mais mal ao homem o que entra do que o que sai pela boca”! Mas que isto não te dê o direito de jogar cobras & lagartos sobre os outros...

A Wikepedia e o Ganepão (https://www.ganepao.com.br/noticia/3/) me ajudaram a fazer este alerta.




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domingo, 30 de junho de 2019

Bolinho de Bacalhau

Pra início de conversa, sei que muita coisas que vai estar por aqui vai causar disse-me-disse. Vai não, como diria um baiano...

Descendente de um português trasmontano, meu velho, adorável e onipresente vô Chico, não poderia estar alheio a saboreá-lo senão em algumas outras oportunidades durante o ano, certamente na ceia de Natal, acompanhando a castanha portuguesa e as rabanadas. Estas, mesmo muito calóricas, mas necessárias.

A confusão vai começar no bacalhau. Qual deles escolher. Convenhamos que uma bela posta de Cod Gadus Morhua, em tempos de crise, merece muito mais ser saboreada simplesmente com azeite. Nada mais.

Consultando “universitários” do mundo inteiro, cheguei ao meu conceito de que não é apenas o peixe que origina o bacalhau seco que é influente o suficiente para dar o sabor final ao que se espera. Quase todos os ingredientes (para não ser exagerado, para muitos daqui) precisam ser pensados e pensados. Afinal nem uma cebola merece ser uma cebola qualquer.

Então, considerando que o legítimo bacalhau é apenas e tão somente o Cod Gadus Morhua, vamos prosseguindo e aceitar como variáveis boas de serem usadas as espécies:

  • O Cod Gadus Macrocephalus, ou Bacalhau do Pacífico, é muito semelhante em aspecto com o Cod Gadus Morhua. Ele é bem mais branco do que o denominado Porto, apesar de comumente comercializado como tal.
  • O Saithe, peixe mais importado atualmente pelo Brasil, é muito utilizado para bolinhos, tortas, mexidos, saladas e ensopados de bacalhau.
  • O Ling, muito usado para grelhar.
  • O Zarbo, pequeno e claro, de boa produtividade pelo bom corte transversal.



  • Ah, de todo o bacalhau importado pelo Brasil, 80% deles são classificados como Imperial e apenas 20% deles como Universal. Lembre-se disto na hora da compra.

    Dito isto, verifique o saldo de suas aplicações financeiras e escolha o que melhor couber “no seu bolso”.

    Agora, vamos às batatas!

    Em algum outro momento da história deste recanto, falamos sobre elas. Também aprendemos muito com uma pessoa que conheço bem próximo dos trinta anos e que tem sido minha fornecedora de batatas. A Fernanda escolhe as batatas pelo tamanho e sempre da variedade BARACA. E isso eu não discuto apesar de mais recentemente ela indicar a ASTERIX como boa. Paciência, eu vou de BARACA e pronto! Mas, você decide!

    Batata escolhida, vamos separar a cebola. Depois de devidamente despida, com paciência e carinho, coloque-a de molho na água. Pura provocação para alguns e sabedoria para outros. Balela para uns tantos e crendice para alguns poucos. Na verdade serve apenas para que o excedente de ácido nela existente transfira-se para um outro líquido... Devidamente picada em pequeníssimos cubos (tem gente que gosta de dizer “brunoise”, mas eu agora entrei na fase “cubista”...)

    A salsinha, devidamente separada dos caules, lavadas e centrifugadas, serão finamente picadas, lavadas e secas novamente.

    Um bom pedaço de pão caseiro já guardado a algum tempo, devidamente raladinho e peneirado (só para uniformizar).

    Algo como meia xícara para a minha receita.

    Uma noz de moscada para umas duas ou três passadas no ralo. Só pra não dizer que não botei ou para observar quem sentiu sua presença. Uma brincadeira de sempre.

    Uma coisa que descobri recentemente e que tem dado um sabor diferenciado é um cálice de vinho do Porto, branco. Me desculpem os que são adeptos dos vinhos tintos para acompanhar bacalhau. Esse Porto, só quem experimentar é que me dará razão. Os outros vão fazer o que bem entenderem: me chamar de louco, de metido, de qualquer outra coisa. Paciência...

    E os ovos? Quase um capítulo à parte. Mas vou ficar com os caipiras de chapéu de palha. Se não der para você ter um fornecedor exclusivo e dedicado, que compre o MELHOR ovo que encontrares. Pode até comprar um bacalhau mais barato, mas o ovo de ótima qualidade e, acima de tudo, caipira legítimo de galinha que come milho não transgênico, minhocas e bichinhos da terra não tem preço! Para todos os outros...

    Separe dois ou três deles, separe novamente, agora as claras das gemas. Coloque elas numa peneira de plástico para deixar escorrer por entre sua malha o verdadeiro sumo do ovo. As claras, bata em neve. Com uma pitadinha de sal. E só!

    Bem, voltemos ao bacalhau para mais algumas considerações. Ele precisa estar cortado de maneira uniforme sempre na mesma direção. Lave antes de colocar EM PÉ (um dos lados do corte para cima e outro para baixo) numa vasilha com água gelada na parte de baixo do seu refrigerador. Coloque outra vasilha com água suficiente para cobrir o bacalhau no refrigerador. Troque essas água de duas a três vezes ao dia até que sinta sem sal. Na hora da troca, descarte a água que está na vasilha com o bacalhau e coloque a da outra vasilha que estava no refrigerador. Encha a vasilha sem bacalhau de água e coloque ela pra gelar e fazer a próxima troca. Repita até o bacalhau estar “pronto”.

    Quando pronto, leve-o para um rápido cozimento no VAPOR por tempo suficiente para ele “abrir-se”. Retire do vapor e desmonte-o. Coloque todas as carnes que conseguir num pano de prato. Faça uma bola e bata-a sobre a superfície de trabalho. Isto fará com que todo o bacalhau desfie de forma uniforme. Cuidado para não ficar batendo pois os "óleos" do bacalhau ficarão no pano de prato...

    Misture com a bola os pequeníssimos cubos da cebola, a salsinha e o pó de noz moscada. Reserve.

    Lave as batatas para retirar a terra brasilis que ainda está agarrada nela. Coloque para cozer no vapor, mas com a casca.

    Depois disso, amasse-as para fazer um purê. Não se preocupe em passá-lo na peneira. Mas tente amassar o mais que conseguires.

    Adicione o bacalhau desfiado que estava reservado. Adicione as gemas, uma a uma e depois o pão ralado e peneirado. Adicione o cálice pequeno de vinho do Porto.

    Adicione as claras em neve e envolva calmamente, em movimentos de baixo para cima para manter a aeração necessária.

    Agora, pegue duas colheres de sobremesa e coloque o óleo para esquentar. Se você não tiver participado da ciranda financeira do ex-presidente da Nasdaq e queira seguir meu conselho, compre um bom azeite para fritar os bolinhos pois assim, quem sabe, esteja garantindo o seu emprego...

    Pegue uma das colheres e encha com a massa do bolinho. Com a outra colher, encoste ela sobre a parte superior da massa e faça o movimento necessário para que a massa passe de uma para outra colher. Faça isso repetidas vezes até que ela forme um bolinho de três lados o mais uniforme que conseguires. Leve para fritar. Ah, nada de colocar palito de fósforo para verificar se a gordura está quente. Isso deixará seu bolinho com um gosto terrível. Mas não deixe esquentar muito para não esfumaçar o óleo e ai ele te prejudicar a saúde.

    Vá virando ele à medida em que doure uma das superfícies até que esteja dourado por inteiro.

    Agora NADA de papel toalha! Coloque os bolinhos fritos sobre uma peneira. Assim eles ficarão mais sequinhos.

    Ah, mais uma coisa. Se você não tiver saco, paciência ou também não estiver a fim de aprender nova técnica, simplesmente passe azeite nas mãos e coloque uma porção de massa sobre ela e formate os bolinhos ao seu gosto.

    Mesmo tendo em mente que cada um faz o seu bolinho do jeito que bem entender, a seguir alguns ingredientes que anotei de receitas coletadas ao longo da minha pesquisa: manteiga, queijo ralado, sal, alho, pimentão vermelho, pimentão verde, cebolinha verde, azeite e farinha de trigo!

    No mais, aproveite os seus bolinhos com uma cerveja gelada ou um bom vinho.

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    quarta-feira, 26 de junho de 2019

    Comida sustentável

    Lá bem longe daqui, mas ainda no Rio, morava o senhor Francisco Pinto. Português de Trás-os-Montes, veio ainda me­nino para o Brasil. Chegou para ficar na casa dos primos que antes vieram para cá.

    O tempo foi andando, ora devagar, ora mais apressado, até que ele pode comprar um pedaço de terra lá para os lados de Cavalcante. Ali, chamado de Campo da Botija – não me perguntem porque pois ele nunca me disse – ele montou uma olaria. O que fazia? Tijolos.

    Mas o tempo passou. Ele casou com dona Georgina. Deste casamento floresceram a Diva, a Dalva e o Durval. Ali, en­tre barros e tijolos eles cresceram até que um dia não mais era possível retirar o barro para o fabrico dos tijolos.

    Mas a humilde casa onde ele morava ali permanecia sólida como os pés dele fincados neste país que o acolheu.

    Quando eu o conheci, ainda menino, a visão que meus olhos alcançavam era de um enorme valão por onde escoava o esgoto das casas que existiam no que era a “rua” onde ele morava. Meu pai parava o carro na direção de uma “pin­guela” por onde tínhamos que nos equilibrar para chegar ao portão da casa. Era farra pura.

    Dali ao portão, era pouca coisa. Talvez, se bem me lembro, uns três, talvez quatro passos. Mas do portão até a porta da casa, uma bela corrida nos fazia chegar primeiro que meu pai e minha mãe. Ela, a Diva, a primeira dele, Francisco.

    Uma corrida que apenas acabava nos braços de minha vó Georgina e depois nos do vô Chico. Era uma promessa de dia maravilhoso.

    Entre o portão e a casa, uma horta: será que ainda lembro de tudo? Couves perfiladas pelo canteiro. Pés crescidos e apenas as folhas do topo permaneciam: as demais já haviam virado alguma comidinha gostosa pelas mãos dela.

    Tinha figo desses hoje conhecidos como “de Valinhos”. Tinha limão Cravo, conhecido naquela época por “galego”: sua polpa cor de tangerina inebriava a carne do frango e dos porquinhos que viravam comida da gente. Os porquinhos que eram mortos pelas mãos precisas do vô, ficavam na “vinha d'alhos por um bom tempo. Acho que de um dia para o ou­tro. Volta e meia ela mexia, revirava espetava a carninha deles para ficarem mais maravilhosas com os simples tempe­ros: sal, alho, folhas de louro e grãos pretos de pimenta do Reino.

    Depois, retirado do alguidar (de barro) onde dormira o tempo todo, iria para o forno assar até ficar crocante por fora e tão macio por dentro que o comíamos de colher. Batatas, sempre batatas completavam. Essas compradas, o resto, colhidos ali mesmo no quintal.

    Outra faceta desta vida era a nossa ao querer pegar uma galinha (ou seria frango) para ser preparado pela vó. Cedo, na hora de dar milho à eles, ela nos ensinava: primeiro o purupupu que era o som que fazíamos para chamar as galinhas. Vinham correndo ávidas pelos grãos de milho que se espalhavam pelo quintal próximos aos nossos pés. Até algumas bicadas levávamos e, por conta do susto, pulávamos e gritávamos, causando um enorme alvoroço entre as aves. Ali, em pé, era preciso se abaixar lentamente como se quiséssemos enganá-las e vapt, pegar suas pernas com nossas pequenas mãos. Logo vó Georgina nos acudia pois ainda não tínhamos força suficiente – nem a malícia esperada – para mantê-las firme. Assim, ficava mais fácil do que simplesmente escolher uma e sair correndo atrás dela.

    Depois de pega era a hora mais difícil pra gente: vê-la morrer diante de um golpe certeiro em seu pescoço. O sangue colhido serviria pra fazer o “molho pardo”. Depois de morta, um banho de água quente se incumbiria de abrir os poros e facilitar a retirada das penas. Feia e pelada, era hora de cortá-la, sempre pelas juntas e assim, depois de retirada das vísceras (ela separava o coração, a moela e o fígado) estava pronta para os temperos.

    Aqui reinavam na cozinha as folhas de louro colhidas na horta juntamente com a salsinha e a cebolinha. Juntavam-se à elas a cebola picadinha na mão e o alho socado com sal. Depois de lavados cada pedaço, eram todos colocados no alguidar e devidamente untados com óleo de Milho (era o que estava na moda naquela época) e dos temperos. Ficavam ali umas duas, três horas, sei lá...

    No sangue já havia sido colocado o vinagre para evitar que talhasse. Assim ele iria pra panela. Engrossaria e formaria o denso molho de cor parda que cobria as batatas cortadas em 4 e os pedaços de frango. Quando postos na travessa que iria pra mesa, ela ainda salpicava salsa e cebolinha picadas. Lindo de ver e gostoso de comer. Confortável para nosso corpo e divina para nossas almas.

    E assim meus avós viveram naquele tempo e nos mostraram o cuidado com a terra, com os alimentos e com os animais. Isso era “sustentabilidade” mesmo que eles não soubessem o que era plantar e comer; criar e comer.


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    sábado, 8 de junho de 2019

    A tristeza do padeiro

    No início deste século, diante a forte tendência de precisar arranjar uma nova atividade para seguir em frente até o final da linha aquele indivíduo que passou por muitos anos vivendo de tecnologia e computadores, resolveu que iria aprender a fazer pães.

    Como assim? É, pensou ele: se o pão é considerado um alimento sagrado que alimentou povos durante muito tempo da antiguidade, que Cristo, o Jesus repartiu o último alimento sólido que deu aos seus amigos mais próximos e que a Igreja Católica o adotou como símbolo do amor, repartindo-o através das hóstias consagradas a cada missa, ele poderia pensar seriamente nisso.

    E lá foi ele procurar onde aprender. Descobriu que havia um curso perto de onde morava. Uma entidade ligada aos comerciantes oferecia dois tipos de cursos: um de curta e outro de longa duração. Qual dos dois? Conversou até com o professor e a diferença básica era que no de loga, a prática e a correção dos possíveis erros seria constante... Resolveu começar pelo de curta duração.

    Sábados inteiros dedicados a aprender todas as técnicas e cálculos. Por a mão na massa sob supervisão do professor. E assim seguiu aprendendo. Saia da aula e já ia para sua cozinha tentar reproduzir num forno caseiro aquilo que vira em fornos industriais à gás e à eletricidade.E ainda havia um moderno, com ventilação forçada!

    A animação foi tanta que depois ainda foi fazer o curso de confeiteiro nesta mesma instituição.

    De lá para os anos seguintes, muita farinha passou pela bancada de sua pia. Investimento em equipamentos e acessórios. Pesquisas para poder fabricar em casa, num forno caseiro e com equipamentos de até uma certa forma, amadores.

    Consumidas muitas horas de pesquisas na internet. Livros que se amontoavam numa nova prateleira dedicada a eles.

    A obsessão em busca do quase perfeito. Não se contentava em fazer o que ops muitos faziam. Queria fazer o que poucos ou nenhum havia conseguido... Pesquisou até como o pão era feito pelas avós portuguesas, no oriente médio onde era comum o padeiro da comunidade pois todos faziam seus próprios pães.

    Buscou adaptar uma maneira de criar vapor no forno de casa. Até pedras de aquário comprou para colocá-las em um tabuleiro no fundo do forno para depois jogar água gelada. Fazia seus pães no meio de muita alegria. Seus dias eram impulsionados pelas conquistas.

    Começou a falar para os vizinhos que ficavam enebriados com o cheiro do pão quentinho saindo do forno. Tinha uma vizinha que só falava nisso mas nunca comprou um pão sequer!

    Mas, começou a vender uns aqui outros acolá até que quando não tinha mais o sustento de um contracheque uma amiga perguntou se queria participar de uma "feirinha" que ela estava organizando na firma que trabalhava. Agradeceu e mergulhou de cabeça no projeto: chegou a fazer 50 pães de forma, dúzia de ciabattas que montava sanduíches para os feirantes e clientes. No começo uma alegria só. Montou uma forma de facilitar os clientes em seus pedidos: um talão de pedidos na internet. Mandava emails para os cadastrados com as novidades da semana. Muitos encomendavam. Outros compravam durante o passeio na feirinha após almoço. Voltava com os cestos vazios durante um bom tempo.

    Os pedidos foram diminuindo. A produção acompanhando, solidária... A animação do inicio foi caindo até que não haviam encomendas e a venda foi zerada durante a feirinha. A decisão dura mas sensata foi de parar. Mas ele tomou. Voltou triste para casa com o cesto cheio de pães não vendidos. Passou na casa da sua mãe e deixou alguns para ela. Lá, pode deixar cair umas lágrimas pela situação.

    Buscou, nos dias seguintes, novas formas de estimular uma possível clientela. Várias tentativas foram feitas. Passou a fazer, apenas, para consumo próprio.

    Pesquisou a produção do fermento natural quando ninguém ainda falava. Era tudo à boca pequena. Criou seu Tamagoshi. Fazia seus pães mas acabou percebendo que era muito trabalho para fazer um ou dois pães por semana.

    Investiu noutra técnica: a briga e a longa fermentação. No início, 16 horas. Depois 24 horas e até se aventurou em 48 horas e uma vez o de 72 horas baseado na técnica de um velho padeiro francês. Delicioso. Mas a que custo? O cliente pagaria? Não falava francês nem morava em Paris... Só os de casa provaram desta iguaria.

    Os dias foram passando. As mídias sociais chegaram. Nova tentativa. Usava-as para divulgar seus pães e nada acontecia. Ou melhor, acontecia o de sempre, nada! Via diariamente muitos outros novos padeiros "chegando no pedaço" e sentando na janela. Com o dinheiro que tinham compravam equipamentos que estavam na lista de desejos dele. Criaram espaços de produção e vendas semelhantes aos que ele havia imaginado para si.

    Um dia, conversando assim meio descompromissado, com sua melhor terapeuta, ela lhe disse "ainda não é isso que você veio fazer nessa vida!". Reflexões...

    Um padeiro não pode morrer. Um padeiro precisa continuar a conviver com farinha, fermento, sal e água. Isso é como se fosse o ar que ele respira.

    O padeiro desta história está na UTI. Monitorado pelas mídias sociais, pelos amigos e pelos outros padeiros com os quais ele passou a conviver virtualmente. Ele não quer morrer. Ele quer voltar a sentir alegria de fazer.

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    domingo, 2 de junho de 2019

    Um bolo pro Pedro



    De repente uma vontade de fazer um bolo pro menino que tem dado alegrias à minha vida. Fui até a dispensa para separar os ingredientes. Peguei farinha de trigo, fermento químico em pó, açúcar (eu uso demerara passado no liquidificador...), aveia em flocos finos e canela.

    Abri o refrigerador para pegar o iogurte, os ovos e a manteiga sem sal. Faltaram os ovos. Bom, não tinha jeito: tenho que ir ao supermercado comprar.

    Peguei minha sacola que não é descartável e coloquei aquela sandália que não tem cheiro nem solta as tiras... rs. Coloquei o fone no ouvido e ativei minha lista e lá fui eu, calmamente, até para aproveitar um solzinho de outono.

    Pra não variar, estava cheio. Esse mercado vive lotado. Parece até que vamos ter 3 dias e 3 noites de completa escuridão: o povo comprando compulsivamente. Carrinhos lotados. E ai, eu começo a olhar para as compras dos outros e tentar imaginar o que farão com aqueles ingredientes. E assim vou caminhando pelos corredores e tornando mais alegre caminhar ali.

    Paro diante dos ovos. Um grande desafio para mim nestes tempos. Uma determinada distribuidora vende uma bandeja com 30 ovos por R$ 9,99 neste mercado e num outro, uma embalagem com 1 dúzia de 12 ovos (é, agora existem embalagens de dúzia com apenas 10 ovos e todo mundo acha normal!). Olho primeiro os ovos dentro da embalagem. Depois a data de colheita. Precisa estar bem próxima do dia que estou comprando. Mas, como não consegui achar dos de casca marrom, comprei os de casca branca. Ai me dizem: ovo é tudo ovo. Porque pagar mais pelo de casca escura? Para mim, simples assim: as raças das poedeiras de ovos com casca escura produzem ovos com casca mais densas, resistente enquanto as que colocam os com casca branca, vez por outra, encontro com casca tão fina que só de pegar parece que vai quebrar... Ah, e isso faz diferença... Pelo menos para mim.

    Ovos na cestinha, caminhei para aproveitar o tempo: mais leite, creme de leite e manteiga sem sal. E vamos pra fila.

    Fila de idosos? Cheia! Aliás aquele mercado parece parque de diversões para idosos. Tem até bancos para eles ficarem sentadinhos olhando o povo fazendo compras. A solidão é complicada, meus amigos. Vou para as de "até 20 unidades". Pior ainda... Ai fui para uma que tenho usado com mais frequência: a do caixa 26. Sei lá porque. Fico ali entre biscoitos recheados, rezando para não comprar, e recitando meu mantra "isso não te pertence mais" até que chegue a minha vez de colocar minhas compras na esteira.

    Uma conversinha com um. Um comentário com outro em tempo de descobrir que as pessoas não são mais educadas como eu fui. Ninguém pede licença para atravessar a fila do caixa. Se mete por ali e vai embora... E pedir desculpas por esbarrar em você? Outro dia até dei parabéns a um jovem porque ele me deu um trampaço e voltou-se para pedir desculpas. Pode ser que até tenha feito isto de propósito. Mas eu não pensei assim. Aceitei as desculpas dele.

    Bom, passei minhas compras, paguei e coloquei na minha própria sacola sem usar as descartáveis que poluem o meio ambiente. Ah, também não jogo papel no chão. Quando não tem daquelas cestinhas laranjas eu coloco no bolso e jogo fora em casa.

    Voltando pra casa, ouvindo músicas. E caminhando devagar.

    Bom, os ingredientes já estavam ali com menos frio do que quando eu os deixei para ir ao supermercado. Guardei o que não iria utilizar e comecei os preparativos.

    Peguei a batedeira e coloquei sobre a bancada. Acendi o forno. Untei a forma 20cm de furo no meio (na realidade o furo nem é na forma mas no bolo, não é?). Deixei reservada.

    Bati as claras em neve firme com uma pitada de sal. Coloquei no refrigerador. Porque? Não sei... sempre faço assim... Uma lavada na tigela da batedeira e a secagem.

    Coloquei o açúcar demerara (3/4 de xícara), já previamente passado pelo liquidificador para ficar fininho) e a manteiga (100g) para bater até ficar um creme. Em seguida, uma gema de cada vez seguida de misturada antes da próxima. Depois das 3 gemas, as bananas (2) amassadas. Depois meia maçã gala picada, com casca. Coloquei 1 colher de chá de canela em pó. Depois alternei o trigo (1 3/4 de xícara com 1/4 de flocos finos de aveia (1/4) com um potinho de iogurte (do mais puro que encontrei) de 170g.

    Retirei da batedeira e com uma espátula misturei as claras em neve e, por último o fermento (1 colher de sopa). Coloquei na forma e mexi ela para a massa assentar. Não bato como muita gente faz.

    Foi para o forno por aproximadamente 40 minutos, quando estava dourado e eu fiz o teste do palito. Mas pode ser faca, também.

    Não deu tempo de tirar uma foto. Por ai você vê como estava gostoso. Doçura baixa, textura maravilhosa...

    Faça ai e comente!

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    Até a próxima viagem.

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    domingo, 26 de maio de 2019

    Na feira


    Peguei minha sacola dessas que dizem ser "para sempre" e lá fui eu passear na feira. Vai que me animo a comprar alguma coisa.

    Logo no início, aquela barraquinha que é quase um afronte para muita gente. Pastel com Caldo de Cana! Passo pela outra calçada olhando para o outro lado. Controle para evitar o Diabetes que anda me cercando por todos os cantos.

    Frango e Porco expostos sem proteção. Linguiça de amarrar cachorro, ali do lado. Infelizmente, não tenho coragem de comprar... Ah, agora todos os "ovos vermelhos" ganharam o selo de orgânicos!! Essa senhora (dona Ganância) habita a alma dos homens de negócios (nem todos, é claro). E, se você começa a fazer um monte de perguntas ficam te olhando com cara feia além de não terem a resposta para elas. Tá, vou em frente.

    Agora, legumes ensacados, lotes de 5 por... Mas, moço, posso fazer meus saquinhos? Não, senhor. Mas pode escolher à vontade desses ai. E lá vou eu embora, novamente.

    Chego à barraca do Salvador. Velho conhecido sitiante que vende bananas honestas por preços honestos e ainda ganho desconto pela fidelidade... Banana docinha, sem venenos, nascidas nas encostas das serras do litoral sul do estado. Compro minha "cota semanal". Coloco na minha sacola ecológica e vou em frente.

    Verduras! Sempre boas fornecedoras de fibras. Acelga ou Escarola? Nomes diferentes para a mesma verdura... mas eu gosto mais de chamá-la de Escarola. Graciosidade da língua que herdamos. Separo uma. Também um molho de tomilho e outro de manjericão. Bertalha ou Espinafre? Tanto faz? OK, vou levar Bertalha pra fazer com ovos... Hummm os molhos de Brócolis estão bem verdes. Separo um deles. Faço as contas, pago e coloco na sacola. Sigo em frente.

    Limão Galego. Para mim é esse o nome. Aprendi quando muito criança na casa de meu avô, no Campo da Botija. Um saquinho é pago e vai pra sacola.

    Um feirante que vende Inhame e "ovos de galinha feliz". Caros. Mas compro. Até hoje não tenho me decepcionado com a qualidade deles. Apesar de não saber se são de postura recente...

    Tomates! Preciso. Débora. Gosto deles pela versatilidade: molho, salada... Escolho um a um e coloco num "saco plástico". Ainda não tiveram coragem de levar sacos de papel para pelo menos dar ao cliente a opção... Pago e coloco na sacola. Sigo mais um pouco.

    Chego nas barracas de pescados. Olho todas. Vejo as mesmas ofertas com preços mais ou menos iguais. De um certo tempo para cá não me animo a comprá-los. Prefiro pegar uma Barca e ir ao Mercado São Pedro, na Terra de Araribóia. E ainda aproveito para passear.

    Bom, hora de voltar. Minha sacola já acusa meu limite de peso a carregar. Não sem antes passar na barraca que vende massa Puba. Levo um pacote. E voltamos para casa!

    Até o próximo!




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    sábado, 18 de maio de 2019

    Terapia do Theo


    Era dia de passar o dia com ela. Responsável por eu estar aqui.

    Acordei cedo, como de costume e lá fui eu no transporte público. Tenho gostado de aproveitar os direitos que consegui.

    Ouvindo minhas músicas (trilhas spotify) e deixando a cabeça passear ao longo das paisagens pelo caminho. Um dos momentos que têm me ajudado a controlar a ansiedade por ver o tempo terminando e com uma lista enorme de coisas para fazer...

    Bom vê-la apesar de sentada sobre uma cadeira de rodas. As articulações inferiores já acabaram e as dores andaram acompanhando ela por um bom tempo até que eu pudesse, de alguma forma, amenizar um pouco isto.

    No meio de nossa extensa conversa, como sempre, ela lembrou que deveríamos "limpar" o cupuaçu que havíamos ganho. Minha irmã que tem em casa pés produzindo, trouxe para ela dividir comigo.

    Sentamos e, de posse de tesoura, potes e paciência, conversávamos sobre a vida e suas atribulações enquanto eu ia retirando a polpa de cada semente (ou amêndoa como alguns chamam). Lá pelo andar da conversa, lembrei de cacau, não sei porque, mas falei que, se algum dia tivesse a oportunidade gostaria de aprender a fazer chocolate. Apenas aprender. Nada diferente disto. E, provar do resultado do aprendizado.

    A senhora que ajuda ela na limpeza da casa ouviu. E ficou calada. Nesse dia ela estava lá cuidando da casa pra minha mãe.

    Na volta dela, levou uma dessas bolsas que agora vendem no supermercado cheia de frutos de cacau. Pequenos, é certo, mas frutos maduros.

    E, quando voltei para passar o "meu" dia com ela, soube do presente! Os olhos brilharam como ela me disse. E fui logo cuidar deles.

    Com uma faca de lâmina longa, cortei o primeiro fruto: já estava com suas amêndoas germinando. Separei. E fui assim, abrindo todos e separando os já em germinação.

    Guardei no refrigerador (ou geladeira como muitos chamam) até a hora de voltar para meu abrigo.

    No abrigo, coloquei em um pote plástico desses que originalmente guardam os sorvetes industrializados. Seriam seis ou sete dias tensos. Havia aprendido na internet para fazer isto ou numa caixa de madeira ou em um isopor. Vou fazer uma caixa de madeira como vi em alguns vídeos. Em todos estes seis dias eu abria e olhava o processo de maturação das sementes. A partir do terceiro dia, dava uma revirada neles com a mão. E voltavam à sua casinha fechada num cantinho que gosto de fermentar pães.

    No início do sétimo dia, outros tantos para secá-los ao sol. Parecem crianças pois não devem pegar o sol das 12 às 14/15 horas. E, de noite, cobertos para não pegarem o sereno da madrugada. A cada recolhimento, nova mexida com as mãos mesmo. Mas, cadê o sol? Estava chegando uma frente fria por aqui. E ela veio de mala e cuia pra passar uma temporadinha...

    Bom que ainda soprava um ventinho e, aprendi que também poderia "secar" as amêndoas. E foi assim. Apenas no quarto dia elas puderam tomar um sol bem forte. Mas, porque fizeram um passeio junto comigo até a casa de minha mãe. OK. De noite voltando pra caixinha, voltamos para nosso abrigo. As amêndoas já bem mais secas e soltas dentro da caixinha. Já até faziam barulho deslizando de um lado para o outro.

    Chegou o dia da trabalheira. Torrar as sementes (ou amêndoas). Qual temperatura de forno caseiro? Qual o tempo? Cada instrução de dizia de um jeito. Fora as copiadas de um lado para outro... Bem, Nessa primeira vez adotei 200 ºC. Mas fiquei de olho apesar das instruções de quando estivesse no "ponto" começariam a estalar a fina película que cobre cada agora "grão" de cacau. No primeiro, o coração disparou... Sentei no chão em frente ao fogão com a luz acesa. Seriam como pipocas? Não, não eram. Apenas um estalido e uma pequena movimentação. Retirei o tabuleiro do forno e mexi-as com uma espátula de bambu. Voltei até os próximos estalos e a coloração mais escura. Não demorou muito. Acho que por volta de 15 minutos. Mas, isso não é científico: forno caseiro é emoção pura...

    Ok. Tentativa de retirar a película com as mãos, ainda quentes. Não deu muito certo. Usei a instrução de dona Diva: coloquei algumas sobre um pano de prato. Nada! E, com o tempo passando elas foram esfriando e o elas foram ficando mais fáceis de retirar pois "descolavam" da amêndoa". Sentei. Amigos, depois dos setenta muitas coisas já não fazemos das formas ditas convencionais..

    E lá fui eu, amêndoa por amêndoa, tirando a película e ouvindo músicas. O tempo passou e eu só percebi isto quando faltavam três ou duas amêndoas para terminar. Se eu tivesse uma terapêuta ela se orgulharia desta terapia que achei...

    Algumas quebraram-se. Outras permaneceram integrais. Novamente a dúvida: o que fazer? Decidi que processaria tudo junto. Afinal, pouca quantidade. Se separasse umas das outras ficaria com duas porções que não me dariam alternativas.

    Primeira tentativa foi no processador de alimentos. Não ficaram moídas com grãos pequenos... Então, fui tentar no liquidificador. Melhor! Grânulos mais finos! Depois passei numa peneira. Ai, sim, para separar em duas porções. O mais fino, rendeu aproximadamente 90 gramas! Apenas isto! Mas uma alegria enorme. Coloquei no cofre do Banco até que eu me decida o que fazer com este pó de um cheiro diferente e intenso. Os granulados maiores dei para a filha usar nos seus cookies surradebrownie

    Então, foi assim essa minha "primeira vez". Como em todas, é preciso melhorar. Mas, como a do sutiã, a gente não esquece...

    O vídeo de divulgação...




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