domingo, 28 de junho de 2009

Pirarucu


O sol ainda não havia chegado plenamente. Se espreguiçava lá longe entre a copa das árvores mais altas que perfilavam-se às margens daquele igarapé e nós já estávamos com as tralhas, caminhando em direção à canoa que estava ali amarrada, na beira-rio.

Tião, como era assim chamado pelos ribeirinhos recebera de sua mãe o nome de Sebastião, como tantos no Brasil mas que para facilitar e criar intimidade as pessoas chamam de “tião”.

Mas, combustível com sua mangueira conectada ao pequeno motor de popa, foi dada a partida do motor.

Navegávamos relativamente no meio do leito do igarapé, se assim poderíamos chamar de meio... Bem uma hora calmamente deslizávamos sobre a superfície espelhada e Tião começou a reduzir a velocidade e seus olhares ficaram mais atentos.

Tão logo avistou uma pequena “enseada”, deixou a canoa escorregar até lá, com o motor deligado.

Ficamos ali um bom tempo parado. Não tardou o pipocar de borbulhas chamou a atenção de Tião, seus olhos treinados procuraram a “siriringa”, o quase imperceptível movimento da superfície da água provocado pelo deslocamento das camadas inferiores. Viu-a e, calmamente, sem pressa, pressentiu a direção seguida pelo grande peixe, ergueu o braço forte segurando o arpão com a palma da mão, elevou-o a altura do ombro e num impulso rápido lançou o arpão a alguns palmos à frente da “siriringa” na certeza de ter encontrado seu “alvo”.

Uma revolução até que o arpão pudesse ser puxado e trazido até o costado da canoa mostrava o quanto lutava o gigante amazônico para livrar-se do incômodo. De repente, o grito de satisfação de Tião mostrou-me que ele havia vencido o gigante. Mais um pouco, a atenção redobrada e a orientação para que eu me firmasse na canoa, ele, o gigante nadava em direção à canoa para num gesto de desespero, colidir. Recuou, seguiu no sentido contrário e, Tião, segurava e soltava o peixe ao sabor de uma luta que ele sabia ser vencedor. Durou um tempo até que o peixe percebeu ser em vão sua luta. Deixou-se arrastar até a canoa. Um enorme pirarucu de uns dois metros de comprimento que não cabia na canoa, foi amarrado e levado à reboque até nosso portinho.

Ali mesmo, sobre um pequeno cais feito com pequenos caules de árvores locais ele abriu o peixe e eviscerou o mesmo. Uma leve salga e deitou seu corpo sobre uma vara que passou a fazer as vezes de um varal. Ali aquele enorme peixe seria secado para ser comido por um longo período de tempo: era a forma encontrada para que fosse preservado aquele sabor sem que pudessem ser alterados os desígnios da mãe floresta.

Segundo a mitologia da floresta, Pirarucu era um índio que pertencia a tribo dos uaiás, que habitava as planícies do Sudoeste da Amazônia. Ele era um bravo guerreiro, mas tinha um coração perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um homem de bom coração e também chefe da tribo.

Pirarucu era cheio de vaidades, egoísmo e excessivamente orgulhoso de seu poder. Um dia, enquanto seu pai fazia uma visita amigável a tribos vizinhas, Pirarucu se aproveitou da ocasião para tomar como refém índios da aldeia e executá-los sem nenhuma motivo.

Tupã, o deus dos deuses, observou Pirarucu por um longo tempo, até que cansado daquele comportamento decidiu punir Pirarucu. Tupã chamou Polo e ordenou que ele espalhasse seu mais poderoso relâmpago na área inteira. Ele também chamou Iururaruaçu, a deusa das torrentes, e ordenou que ela provocasse as mais fortes torrentes de chuva sobre Pirarucu, que estava pescando com outros índios as margens do rio Tocantins, não muito longe da aldeia.

O fogo de Tupã foi visto por toda a floresta. Quando Pirarucu percebeu as ondas furiosas do rio e ouviu a voz enraivecida de Tupã, ele somente as ignorou com uma risada e palavras de desprezo. Então Tupã enviou Xandoré, o demônio que odeia os homens, para atirar relâmpagos e trovões sobre Pirarucu, enchendo o ar de luz. Pirarucu tentou escapar, mas enquanto ele corria por entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante enviado por Xandoré, acertou o coração do guerreiro que mesmo assim ainda se recusou a pedir perdão.

Todos aqueles que se encontravam com Pirarucu correram para a selva terrivelmente assustados, enquanto o corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas do rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Pirarucu desapareceu nas águas e nunca mais retornou, mas por um longo tempo foi o terror da região.

Acordado recebi de presente um pedaço desse peixe que muito povoou minha infância trazido de lá pelo meu tio Dário. Mais recentemente podíamos comprar com facilidade num agora inexistente armazém de produtos típicos do norte brasileiro que ficava no Largo de São Francisco carioca. Agora, cada vez mais difícil e, com a pesca controlada e em alguns casos sendo cultivados em cativeiro.

Esse pequeno pedaço seco foi o suficiente para fazer brilhar meus olhos. Era pouco para que pudéssemos ter porcões satisfatórias para cada um de nós diante do desejo alimentado ao longo de tanto tempo. Seria adequado fazer de uma forma que todos pudessem senti-lo. E assim, relembrando uma inusitada comparação com o bacalhau fiz bolinhos de pirarucu seguindo minha receita de bolinho de bacalhau.

Para cada 500g de bacalhau, seiscentas gramas de batata seca (baraka ou asterix) cozidas no vapor, sem cascas e deixadas secar, duas gemas sem pele, duas colheres de farinha de rosca de pão caseiro, cebola em brunoise (os menores quadradinhos que você conseguir cortar, quase cirurgicamente), salsa e cebolinha idem (se desejar) – eu não coloquei – e uma generosa porção de um bom azeite.

Leve o pirarucu (depois de dessalgado por dois dias em água fria) ao vapor apenas até “soltar” a carne da pele. Algo como cinco a 10 minutos. Retire do vapor e numa superfície de trabalho, separe a carne, desprezando a pele e eventual espinha. Com a ajuda de um garfo, desfie a carne. Misture os temperos e depois a batata previamente passada numa peneira.

Bata as claras em neve com uma pitada de sal (de dois dedos). Misture lentamente formando movimentos de baixo para cima.

Coloque óleo de girassol numa panela em altura suficiente para cobrir os bolinhos. Com a ajuda de duas colheres de sobremesa faça bolinhos modelados em movimentos de substituição da massa de uma para outra colher. Deite-os lentamente sobre a gordura e frite até dourar. Coloque sobre uma peneira ou, sobre papel toalha amassado de forma a permitir que os bolinhos não tenham toda a sua superfície em contato com ele. Com isto você evita encharcar o bolinho de gordura...

Depois é só servir...


bacalhaucombatata | Meu bolinho de pirarucu

Um bolinho de pirarucu de dar água na boca!




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Pirarucu


O sol ainda não havia chegado plenamente. Se espreguiçava lá longe entre a copa das árvores mais altas que perfilavam-se às margens daquele igarapé e nós já estávamos com as tralhas, caminhando em direção à canoa que estava ali amarrada, na beira-rio.

Tião, como era assim chamado pelos ribeirinhos recebera de sua mãe o nome de Sebastião, como tantos no Brasil mas que para facilitar e criar intimidade as pessoas chamam de “tião”.

Mas, combustível com sua mangueira conectada ao pequeno motor de popa, foi dada a partida do motor.

Navegávamos relativamente no meio do leito do igarapé, se assim poderíamos chamar de meio... Bem uma hora calmamente deslizávamos sobre a superfície espelhada e Tião começou a reduzir a velocidade e seus olhares ficaram mais atentos.

Tão logo avistou uma pequena “enseada”, deixou a canoa escorregar até lá, com o motor deligado.

Ficamos ali um bom tempo parado. Não tardou o pipocar de borbulhas chamou a atenção de Tião, seus olhos treinados procuraram a “siriringa”, o quase imperceptível movimento da superfície da água provocado pelo deslocamento das camadas inferiores. Viu-a e, calmamente, sem pressa, pressentiu a direção seguida pelo grande peixe, ergueu o braço forte segurando o arpão com a palma da mão, elevou-o a altura do ombro e num impulso rápido lançou o arpão a alguns palmos à frente da “siriringa” na certeza de ter encontrado seu “alvo”.

Uma revolução até que o arpão pudesse ser puxado e trazido até o costado da canoa mostrava o quanto lutava o gigante amazônico para livrar-se do incômodo. De repente, o grito de satisfação de Tião mostrou-me que ele havia vencido o gigante. Mais um pouco, a atenção redobrada e a orientação para que eu me firmasse na canoa, ele, o gigante nadava em direção à canoa para num gesto de desespero, colidir. Recuou, seguiu no sentido contrário e, Tião, segurava e soltava o peixe ao sabor de uma luta que ele sabia ser vencedor. Durou um tempo até que o peixe percebeu ser em vão sua luta. Deixou-se arrastar até a canoa. Um enorme pirarucu de uns dois metros de comprimento que não cabia na canoa, foi amarrado e levado à reboque até nosso portinho.

Ali mesmo, sobre um pequeno cais feito com pequenos caules de árvores locais ele abriu o peixe e eviscerou o mesmo. Uma leve salga e deitou seu corpo sobre uma vara que passou a fazer as vezes de um varal. Ali aquele enorme peixe seria secado para ser comido por um longo período de tempo: era a forma encontrada para que fosse preservado aquele sabor sem que pudessem ser alterados os desígnios da mãe floresta.

Segundo a mitologia da floresta, Pirarucu era um índio que pertencia a tribo dos uaiás, que habitava as planícies do Sudoeste da Amazônia. Ele era um bravo guerreiro, mas tinha um coração perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um homem de bom coração e também chefe da tribo.

Pirarucu era cheio de vaidades, egoísmo e excessivamente orgulhoso de seu poder. Um dia, enquanto seu pai fazia uma visita amigável a tribos vizinhas, Pirarucu se aproveitou da ocasião para tomar como refém índios da aldeia e executá-los sem nenhuma motivo.

Tupã, o deus dos deuses, observou Pirarucu por um longo tempo, até que cansado daquele comportamento decidiu punir Pirarucu. Tupã chamou Polo e ordenou que ele espalhasse seu mais poderoso relâmpago na área inteira. Ele também chamou Iururaruaçu, a deusa das torrentes, e ordenou que ela provocasse as mais fortes torrentes de chuva sobre Pirarucu, que estava pescando com outros índios as margens do rio Tocantins, não muito longe da aldeia.

O fogo de Tupã foi visto por toda a floresta. Quando Pirarucu percebeu as ondas furiosas do rio e ouviu a voz enraivecida de Tupã, ele somente as ignorou com uma risada e palavras de desprezo. Então Tupã enviou Xandoré, o demônio que odeia os homens, para atirar relâmpagos e trovões sobre Pirarucu, enchendo o ar de luz. Pirarucu tentou escapar, mas enquanto ele corria por entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante enviado por Xandoré, acertou o coração do guerreiro que mesmo assim ainda se recusou a pedir perdão.

Todos aqueles que se encontravam com Pirarucu correram para a selva terrivelmente assustados, enquanto o corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas do rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Pirarucu desapareceu nas águas e nunca mais retornou, mas por um longo tempo foi o terror da região.

Acordado recebi de presente um pedaço desse peixe que muito povoou minha infância trazido de lá pelo meu tio Dário. Mais recentemente podíamos comprar com facilidade num agora inexistente armazém de produtos típicos do norte brasileiro que ficava no Largo de São Francisco carioca. Agora, cada vez mais difícil e, com a pesca controlada e em alguns casos sendo cultivados em cativeiro.

Esse pequeno pedaço seco foi o suficiente para fazer brilhar meus olhos. Era pouco para que pudéssemos ter porcões satisfatórias para cada um de nós diante do desejo alimentado ao longo de tanto tempo. Seria adequado fazer de uma forma que todos pudessem senti-lo. E assim, relembrando uma inusitada comparação com o bacalhau fiz bolinhos de pirarucu seguindo minha receita de bolinho de bacalhau.

Para cada 500g de bacalhau, seiscentas gramas de batata seca (baraka ou asterix) cozidas no vapor, sem cascas e deixadas secar, duas gemas sem pele, duas colheres de farinha de rosca de pão caseiro, cebola em brunoise (os menores quadradinhos que você conseguir cortar, quase cirurgicamente), salsa e cebolinha idem (se desejar) – eu não coloquei – e uma generosa porção de um bom azeite.

Leve o pirarucu (depois de dessalgado por dois dias em água fria) ao vapor apenas até “soltar” a carne da pele. Algo como cinco a 10 minutos. Retire do vapor e numa superfície de trabalho, separe a carne, desprezando a pele e eventual espinha. Com a ajuda de um garfo, desfie a carne. Misture os temperos e depois a batata previamente passada numa peneira.

Bata as claras em neve com uma pitada de sal (de dois dedos). Misture lentamente formando movimentos de baixo para cima.

Coloque óleo de girassol numa panela em altura suficiente para cobrir os bolinhos. Com a ajuda de duas colheres de sobremesa faça bolinhos modelados em movimentos de substituição da massa de uma para outra colher. Deite-os lentamente sobre a gordura e frite até dourar. Coloque sobre uma peneira ou, sobre papel toalha amassado de forma a permitir que os bolinhos não tenham toda a sua superfície em contato com ele. Com isto você evita encharcar o bolinho de gordura...

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Receitas para sua festa junina


Saindo um pouco dos propósitos do blog mas atendendo aos pedidos que tenho recebido, estou disponibilizando, de uma vez só, algumas das receitas que comi ao longo da vida.

Nada tão difícil que você não possa fazer. Nada que você não possa fazer em qualquer uma tarde/noite desse inverno que vem chegando aqui ao sul do equador. Os leitores que vivem acima, podem guardar para quando seu inverno chegar.

Bolo de Tapioca com ameixas e doce de leite
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de açúcar
1 ¼ xícara (chá) de margarina
5 ovos inteiros
1 ½ xícara (chá) de leite de coco
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 ½ colher (sopa) de fermento químico
2 xícaras (chá) de farinha de tapioca

Para decorar
1 lata de doce de leite pastoso (250g)
1 lata de ameixas em calada sem caroços e escorridas (200g)

Preparo:
Bata bem o açúcar com a manteiga, junte os ovos e deixe batendo até obter um creme claro. Adicione o leite e acrescente a farinha de trigo misturada com o fermento e a farinha de tapioca. Bata até obter uma mistura homogênea. Despeje em uma fôrma retangular untada e asse forno médio (180ºC), preaquecido, por 35 minutos ou até que espetando o palito no centro, este saia limpo. Deixe esfriar e desenforme. Espalhe o doce de leite e decore com as ameixas.



Canjica
Ingredientes:
1 xícara de canjica
1 xícara de leite de coco
3 xícaras de leite
1 xícara de açúcar
1 canela em pau

Preparo:
Coloque a canjica de molho em água fria por 8 horas. Escorra e coloque em uma panela juntamente com o leite e metade do açúcar. Adicione o pau de canela e leve à fervura em fogo baixo para que os grãos fiquem macios. Teste e se estiver no ponto adicione à panela o açúcar restante e o leite de coco. Ferva novamente para encorpar o líquido. Sirva quente salpicando com canela em pó.



Bolo de batata doce e coco
Ingredientes:
1 xícara (chá) de açúcar
1 tablete de manteiga (200 g)
1 e 1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
3 ovos
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 vidros pequenos de leite de coco (400 g)
2 colheres (sopa) de raspas de limão
370 g de batata-doce roxa cozida e amassada
1 xícara (chá) de coco em flocos

Preparo:
Bata na batedeira a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o açúcar e as raspas de limão por 3 minutos, ou até obter um creme homogêneo. Sem parar de bater, junte as gemas uma a uma. Adicione a batata-doce, a farinha de trigo, o coco e o leite de coco e bata mais um pouco. Por fim, incorpore as claras batidas em neve e o fermento em pó, misturando delicadamente.

Com a manteiga reservada, unte uma fôrma redonda, de 25 cm de diâmetro, e polvilhe com farinha de trigo. Despeje a massa e leve para assar em forno médio, preaquecido, por 45 minutos, ou até que enfiando um palito, ele saia limpo. Se preferir, salpique coco na superfície para decorar.


Curau de milho
Ingredientes:
12 espigas de milho verde
8 xícaras de leite
2 e 1/2 xícaras de açúcar
pitada de sal

Preparo:
Lave muito bem as espigas de milho, rale-as cuidadosamente em um ralador e raspe bem os sabugos com a ajuda de uma colher. Coloque em uma tigela e acrescente o leite, misture bem e deixe a massa descansar por 10 minutos, coloque em um pano bem limpo ou peneira fina e esprema muito bem. Unte com um pouco de óleo de canola uma forma de bolo (furo no meio). Coloque em uma panela o caldo de milho e acrescente o açúcar, misture bem e leve ao fogo cozinhando lentamente até que o curau engrosse, cerca de 40 minutos. Despeje a mistura na forma untada e deixe esfriar. Leva à geladeira e sirva salpicando com um pouco de canela.


Queijadinha
Ingredientes:
1 prato fundo de açúcar
6 ovos
1 xícara de chá de manteiga
1/2 xícara de chá de leite
1 xícara de chá de farinha de trigo
1 prato de queijo mineiro curado ralado
1 coco ralado
1 colher (sobremesa) de fermento em pó

Preparo:
Coloque em uma batedeira o açúcar e os ovos e bata por 5 minutos, até que fique bem cremoso. Junte a manteiga e bata por mais 5 minutos. Adicione o leite e misture bem. Junte a farinha e bata até obter uma massa lisa. Em seguida, coloque o queijo, o coco e o fermento. Misture bem e coloque as queijadinhas em forminhas de papel. Leve ao forno médio preaquecido por 30 minutos, ou até que enfiando um palito ele saia limpo.



Pé de moleque
Ingredientes:
1 kg de amendoim descascado, torrado e moído grosseiramente
1 peça de rapadura
1 colher (sopa) de manteiga

Preparo:
Corte a rapadura em pedaços. Coloque-os em uma panela com água suficiente para cobri-los. Deixe ferver até desmanchar bem, formando um melado. Vá mexendo em fogo brando até o ponto de bala. Coe em uma peneira de aço e volte ao fogo. Em seguida, junte o amendoim e a manteiga e desligue o fogo. Mexa bem com uma colher e despeje em mármore ou numa forma untada. Quando já estiver um pouco mais frio e consistente é só cortar em quadradinhos.


Quentão
Ingredientes:
300 ml de água,
10 pedaços de canela em pau
10 cravos da Índia
Canela em pó para polvilhar
Açúcar a gosto

3 litros de vinho tinto

Preparo:
Coloque todos os ingredientes para ferver por 15 minutos para soltar o aroma, só então coloque o vinho e deixe ferver ligeiramente.



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Saindo um pouco dos propósitos do blog mas atendendo aos pedidos que tenho recebido, estou disponibilizando, de uma vez só, algumas das receitas que comi ao longo da vida.

Nada tão difícil que você não possa fazer. Nada que você não possa fazer em qualquer uma tarde/noite desse inverno que vem chegando aqui ao sul do equador. Os leitores que vivem acima, podem guardar para quando seu inverno chegar.

Bolo de Tapioca com ameixas e doce de leite
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de açúcar
1 ¼ xícara (chá) de margarina
5 ovos inteiros
1 ½ xícara (chá) de leite de coco
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 ½ colher (sopa) de fermento químico
2 xícaras (chá) de farinha de tapioca

Para decorar
1 lata de doce de leite pastoso (250g)
1 lata de ameixas em calada sem caroços e escorridas (200g)

Preparo:
Bata bem o açúcar com a manteiga, junte os ovos e deixe batendo até obter um creme claro. Adicione o leite e acrescente a farinha de trigo misturada com o fermento e a farinha de tapioca. Bata até obter uma mistura homogênea. Despeje em uma fôrma retangular untada e asse forno médio (180ºC), preaquecido, por 35 minutos ou até que espetando o palito no centro, este saia limpo. Deixe esfriar e desenforme. Espalhe o doce de leite e decore com as ameixas.



Canjica
Ingredientes:
1 xícara de canjica
1 xícara de leite de coco
3 xícaras de leite
1 xícara de açúcar
1 canela em pau

Preparo:
Coloque a canjica de molho em água fria por 8 horas. Escorra e coloque em uma panela juntamente com o leite e metade do açúcar. Adicione o pau de canela e leve à fervura em fogo baixo para que os grãos fiquem macios. Teste e se estiver no ponto adicione à panela o açúcar restante e o leite de coco. Ferva novamente para encorpar o líquido. Sirva quente salpicando com canela em pó.



Bolo de batata doce e coco
Ingredientes:
1 xícara (chá) de açúcar
1 tablete de manteiga (200 g)
1 e 1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
3 ovos
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 vidros pequenos de leite de coco (400 g)
2 colheres (sopa) de raspas de limão
370 g de batata-doce roxa cozida e amassada
1 xícara (chá) de coco em flocos

Preparo:
Bata na batedeira a manteiga (reserve 1 colher de sopa), o açúcar e as raspas de limão por 3 minutos, ou até obter um creme homogêneo. Sem parar de bater, junte as gemas uma a uma. Adicione a batata-doce, a farinha de trigo, o coco e o leite de coco e bata mais um pouco. Por fim, incorpore as claras batidas em neve e o fermento em pó, misturando delicadamente.

Com a manteiga reservada, unte uma fôrma redonda, de 25 cm de diâmetro, e polvilhe com farinha de trigo. Despeje a massa e leve para assar em forno médio, preaquecido, por 45 minutos, ou até que enfiando um palito, ele saia limpo. Se preferir, salpique coco na superfície para decorar.


Curau de milho
Ingredientes:
12 espigas de milho verde
8 xícaras de leite
2 e 1/2 xícaras de açúcar
pitada de sal

Preparo:
Lave muito bem as espigas de milho, rale-as cuidadosamente em um ralador e raspe bem os sabugos com a ajuda de uma colher. Coloque em uma tigela e acrescente o leite, misture bem e deixe a massa descansar por 10 minutos, coloque em um pano bem limpo ou peneira fina e esprema muito bem. Unte com um pouco de óleo de canola uma forma de bolo (furo no meio). Coloque em uma panela o caldo de milho e acrescente o açúcar, misture bem e leve ao fogo cozinhando lentamente até que o curau engrosse, cerca de 40 minutos. Despeje a mistura na forma untada e deixe esfriar. Leva à geladeira e sirva salpicando com um pouco de canela.


Queijadinha
Ingredientes:
1 prato fundo de açúcar
6 ovos
1 xícara de chá de manteiga
1/2 xícara de chá de leite
1 xícara de chá de farinha de trigo
1 prato de queijo mineiro curado ralado
1 coco ralado
1 colher (sobremesa) de fermento em pó

Preparo:
Coloque em uma batedeira o açúcar e os ovos e bata por 5 minutos, até que fique bem cremoso. Junte a manteiga e bata por mais 5 minutos. Adicione o leite e misture bem. Junte a farinha e bata até obter uma massa lisa. Em seguida, coloque o queijo, o coco e o fermento. Misture bem e coloque as queijadinhas em forminhas de papel. Leve ao forno médio preaquecido por 30 minutos, ou até que enfiando um palito ele saia limpo.



Pé de moleque
Ingredientes:
1 kg de amendoim descascado, torrado e moído grosseiramente
1 peça de rapadura
1 colher (sopa) de manteiga

Preparo:
Corte a rapadura em pedaços. Coloque-os em uma panela com água suficiente para cobri-los. Deixe ferver até desmanchar bem, formando um melado. Vá mexendo em fogo brando até o ponto de bala. Coe em uma peneira de aço e volte ao fogo. Em seguida, junte o amendoim e a manteiga e desligue o fogo. Mexa bem com uma colher e despeje em mármore ou numa forma untada. Quando já estiver um pouco mais frio e consistente é só cortar em quadradinhos.


Quentão
Ingredientes:
300 ml de água,
10 pedaços de canela em pau
10 cravos da Índia
Canela em pó para polvilhar
Açúcar a gosto

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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Festa na roça


Já faz um tempo que não nos reunimos na nossa “roça”, naquele lugar que encheu nossos feriados de alegria e aprendizados.

Ainda jovens, solteiros, os primos-entre-si se misturavam aos amigos e juntos a algazarra chegava à casa-sede de onde outrora era comandada uma bela e enorme fazenda.

Nestes dias de feriados não havia sossego. Quase não se dormia. Muito se comia. Muito barulho...

Daquela vez estávamos ali para passar o são joão. Era minha primeira festa naquele lugar que envolveria mais do que pessoas da sede. Todos os colonos, todos aqueles que viviam nas casas das terras que circundavam aquela sede se reunirão no adro da pequena igrejinha que fora construída pelos seus primeiros donos e, pertinho das janelas da escola municipal mais recentemente construída para levar o saber às crianças que naquela época nasciam ali.

Havíamos chegado ao longo do dia anterior. Uns muito cedo se encontraram nos pontos marcados desde o estacionamento do supermercado na avenida Brasil, ao Alemão que ainda hoje está fincado lá na serra ou, até no bar Brasília que durante muito tempo foi nosso “xixi-break” da viagem. No alemão, ainda cedo, muitos não dispensavam o cachorro de lingüiça. No Brasília os pastéis, que na semana-santa ganhavam o recheio de bacalhau. Também as coalhadas servidas na fazenda Bemposta, quando ainda a Rio-Belo Horizonte não tinha o traçado atual e nos levava a passar pelas suas terras, já pagando pedágio. Hoje seus produtos ganharam o nome Normandia e estão à venda em diversas redes de supermercados.

A cada chegada, aquele alvoroço do reencontro. Malas e sacolas inicialmente largadas ao chão e à verificação inicial dos cachorros da casa, eram logo levadas para os quartos designados para cada um.

Eu sempre corria primeiro para a cozinha para matar as saudades do lendário fogão à lenha e, que recentemente foi desmontado pela chegada do progresso e do pessoal do IBAMA. Depois é que iria cuidar de me acomodar.

Naquela semana estava programada a festa de são joão. E isto demandou preparativos em todas as casas dos envolvidos. Já não havia mais casamento à caipira. Mas tinha sanfoneiro já acertado pra tocar até o sol raiá.

Nos preparamos. Preparamos comidas da época: canjica, bolo de milho, bolo de mandioca, arroz doce, cocada, pé-de-moleque e até galinha assada (lá faziam rifa para ajudar na manutenção da igreja).

Na hora da festa era engraçado (agora percebo) ver os “da cidade” dançar com os “da roça”. Sempre que os casais se misturavam era motivo de grandes gargalhadas entre os dois grupos. Mas, no fundo, o que mais se queria ali era brincar, divertir-se, levantar poeira do chão.

Durante o dia os telhados da redondeza deixavam escapulir uma fumacinha branca o tempo quase todo. Muitos litros de leite produziam doce de leite, ambrosia e canjica. Noutra boca, frutas eram misturadas com açúcar cristal para outros. No forno, tomavam forma os bolos de váris sabores. E o perfume que se espalhava? Inebriante!

Lá fora era um tal de pegar varas de bambus para a ornamentação o que aumentava o borburinho e confusão. As crianças, nas salas da escolinha colavam bandeirinhas de papel fino em barbantes para fazer o colorido do arraiá.

As outras mulheres, que já chegavam para arrumar as coisas traziam toalhas brancas bem passadas e de um branco quase puro não fossem todas as sujeiras que eles tiveram que se livrar ao longo de suas existências.

A noite vai chegando e é hora de começar a festa: o povo correndo para deixar tudo pronto. Inclusive banhos, roupas limpas e perfumes para encantar parceiros de danças. A “quadrilha” certamente será puxada sem prévio ensaio, mas certamente haverá. À sua moda. Afinal festa de são joão sem quadrilha mais parece festa de santo antônio...

Lá fui eu carregando tabuleiros cobertos de doces e de panos. Outros primos, primas e amigos nossos também pegaram suas “entregas”. Descemos escadas, atravessamos a rua, a linha do trem e descemos até que chegamos à mesa para colocar aquele monte de comidas feitas na casa-sede. Lá já haviam algumas que haviam sido trazidas de outras casas. Deixamos um de nossos tomando conta e voltamos para nos “arrumar”.

A fila do único banheiro não deixava outra alternativa a não ser tomar banho frio num cano de calibre avantajado, que trazia água de um gelado córrego. Lá fui eu, de toalha deitada sobre o pescoço e roupa pendurada nas mãos para o “tancão” como chamávamos. Uma tromba d´água lavou meu corpo logo coberto pela toalha e vestido com a roupa. Um perfume aqui completou a arrumação. Passei no meu quarto e joguei a roupa suada no prego atrás da porta e lá fui eu pro terreirão.

Mal cheguei já ouvi os primeiros acordes do sanfoneiro ajustando a afinação do fole e o violeiro ajustando a pressão das cordas de aço.

O povo começava a chegar. Uma assuntada aqui, uma espichada de olhos acolá e todos tomavam pé da situação, verificavam as comilanças e as poucas garrafas de refrigerantes. Mas meus olhos enxergaram umas garrafas com um líquido branco, leitoso que fiquei sabendo ser leite... de onça!



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Festa na roça


Já faz um tempo que não nos reunimos na nossa “roça”, naquele lugar que encheu nossos feriados de alegria e aprendizados.

Ainda jovens, solteiros, os primos-entre-si se misturavam aos amigos e juntos a algazarra chegava à casa-sede de onde outrora era comandada uma bela e enorme fazenda.

Nestes dias de feriados não havia sossego. Quase não se dormia. Muito se comia. Muito barulho...

Daquela vez estávamos ali para passar o são joão. Era minha primeira festa naquele lugar que envolveria mais do que pessoas da sede. Todos os colonos, todos aqueles que viviam nas casas das terras que circundavam aquela sede se reunirão no adro da pequena igrejinha que fora construída pelos seus primeiros donos e, pertinho das janelas da escola municipal mais recentemente construída para levar o saber às crianças que naquela época nasciam ali.

Havíamos chegado ao longo do dia anterior. Uns muito cedo se encontraram nos pontos marcados desde o estacionamento do supermercado na avenida Brasil, ao Alemão que ainda hoje está fincado lá na serra ou, até no bar Brasília que durante muito tempo foi nosso “xixi-break” da viagem. No alemão, ainda cedo, muitos não dispensavam o cachorro de lingüiça. No Brasília os pastéis, que na semana-santa ganhavam o recheio de bacalhau. Também as coalhadas servidas na fazenda Bemposta, quando ainda a Rio-Belo Horizonte não tinha o traçado atual e nos levava a passar pelas suas terras, já pagando pedágio. Hoje seus produtos ganharam o nome Normandia e estão à venda em diversas redes de supermercados.

A cada chegada, aquele alvoroço do reencontro. Malas e sacolas inicialmente largadas ao chão e à verificação inicial dos cachorros da casa, eram logo levadas para os quartos designados para cada um.

Eu sempre corria primeiro para a cozinha para matar as saudades do lendário fogão à lenha e, que recentemente foi desmontado pela chegada do progresso e do pessoal do IBAMA. Depois é que iria cuidar de me acomodar.

Naquela semana estava programada a festa de são joão. E isto demandou preparativos em todas as casas dos envolvidos. Já não havia mais casamento à caipira. Mas tinha sanfoneiro já acertado pra tocar até o sol raiá.

Nos preparamos. Preparamos comidas da época: canjica, bolo de milho, bolo de mandioca, arroz doce, cocada, pé-de-moleque e até galinha assada (lá faziam rifa para ajudar na manutenção da igreja).

Na hora da festa era engraçado (agora percebo) ver os “da cidade” dançar com os “da roça”. Sempre que os casais se misturavam era motivo de grandes gargalhadas entre os dois grupos. Mas, no fundo, o que mais se queria ali era brincar, divertir-se, levantar poeira do chão.

Durante o dia os telhados da redondeza deixavam escapulir uma fumacinha branca o tempo quase todo. Muitos litros de leite produziam doce de leite, ambrosia e canjica. Noutra boca, frutas eram misturadas com açúcar cristal para outros. No forno, tomavam forma os bolos de váris sabores. E o perfume que se espalhava? Inebriante!

Lá fora era um tal de pegar varas de bambus para a ornamentação o que aumentava o borburinho e confusão. As crianças, nas salas da escolinha colavam bandeirinhas de papel fino em barbantes para fazer o colorido do arraiá.

As outras mulheres, que já chegavam para arrumar as coisas traziam toalhas brancas bem passadas e de um branco quase puro não fossem todas as sujeiras que eles tiveram que se livrar ao longo de suas existências.

A noite vai chegando e é hora de começar a festa: o povo correndo para deixar tudo pronto. Inclusive banhos, roupas limpas e perfumes para encantar parceiros de danças. A “quadrilha” certamente será puxada sem prévio ensaio, mas certamente haverá. À sua moda. Afinal festa de são joão sem quadrilha mais parece festa de santo antônio...

Lá fui eu carregando tabuleiros cobertos de doces e de panos. Outros primos, primas e amigos nossos também pegaram suas “entregas”. Descemos escadas, atravessamos a rua, a linha do trem e descemos até que chegamos à mesa para colocar aquele monte de comidas feitas na casa-sede. Lá já haviam algumas que haviam sido trazidas de outras casas. Deixamos um de nossos tomando conta e voltamos para nos “arrumar”.

A fila do único banheiro não deixava outra alternativa a não ser tomar banho frio num cano de calibre avantajado, que trazia água de um gelado córrego. Lá fui eu, de toalha deitada sobre o pescoço e roupa pendurada nas mãos para o “tancão” como chamávamos. Uma tromba d´água lavou meu corpo logo coberto pela toalha e vestido com a roupa. Um perfume aqui completou a arrumação. Passei no meu quarto e joguei a roupa suada no prego atrás da porta e lá fui eu pro terreirão.

Mal cheguei já ouvi os primeiros acordes do sanfoneiro ajustando a afinação do fole e o violeiro ajustando a pressão das cordas de aço.

O povo começava a chegar. Uma assuntada aqui, uma espichada de olhos acolá e todos tomavam pé da situação, verificavam as comilanças e as poucas garrafas de refrigerantes. Mas meus olhos enxergaram umas garrafas com um líquido branco, leitoso que fiquei sabendo ser leite... de onça!



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domingo, 7 de junho de 2009

Chegou a hora da fogueira: é noite de São João...


Desde muito pequeno nós esperávamos as noites frias de junho. Lá na casa do vô Chico – que ficava num terreno bem grande (era assim que eu via naquele tempo) – eu, minha irmã e minhas primas saíamos procurando pedaços de paus, de árvores, o que mais pudesse formar nossa fogueira de S. João.

Naqueles tempos estas festas eram responsáveis: não havia desmatamento para se fazer fogueiras. Os balões, apenas os “japoneses” que muitas vezes nem subiam 20 metros com sua pequena bucha de álcool e parafina.

Naquelas noites quase sem poluição e com a camada de ozônio ainda completa, o céu ficava todo estrelado. As noites frias, sem nuvens, deixavam nossas cabecinhas viajar por aquela imensidão de um azul tão escuro que era quase preto.

Mas ali, numa casinha simples morava meu avô Chico e minha avó Georgina. Hoje em dia sinto saudades de vocês dois. A pequena cozinha tinha apenas um pequeno fogão, uma bancada de pia que tinha um lugar embaixo dela para minha vó guardar suas coisas de cozinha. Uma cortininha de pano todo florido cobria de nossos olhos o que havia ali. Em cima da pia uma pequena prateleira completava os lugares de guarda dos utensílios.

Ali naquela bancada tinha um filtro de barro que estava sempre cheio de uma água fresquinha que ainda hoje sinto seu frescor em minha boca. Tanto que recentemente comprei um para mim. Num dos lados, um armário servia de guarda das comidas e da louça do dia-a-dia. Em frente à pia, do outro lado, uma mesa e as cadeiras usadas para a gente fazer nossas refeições.

Ali, muitas, mas muitas vezes ficava com meu vô catando migalhas do pão que ainda sinto falta, juntados com a faca para eu pegá-los com meus pequenos dedinhos. Ouvir suas histórias. O carinho dele era contar histórias...

Naquela cozinha, no dia de São João era um fervilhão de gentes: minha tia, meus tios, vizinhas e amigas passavam por ali a todo o tempo.

Lá fora, tio Durval já montara juntamente com meu vô a fogueira no centro do quintal. Grandiosa ela começava com toras mais grossas e terminavam com galhos finos. Garbosa, reinava ali no centro. Ninguém poderia chegar perto dela. Apenas seu calor aqueceria nossos corpos naquela noite. Ao final da queima, quando só restassem brasas, os adultos começavam a colocar batatas doces para depois comermos elas assadinhas... As crianças precisavam de ajuda dos adultos para comê-las.

E lá tinha, sobre a enorme mesa colocada na parte de fora muitas coisas gostosas: bolos de milho, bolos de mandioca, milho cozido e tantas outras guloseimas.

Para que vocês possam, também, curtir a noite de São João, se não com uma fogueira para esquentar os corações, que possam preparar algumas das receitas que comíamos naqueles anos...

Um bolo de fubá com a receita já adaptada aos ingredientes que hoje usamos:
2 xícaras de fubá, ½ xícara de farinha de trigo branco, 2 xícaras de açúcar mascavo, 3 ovos caipiras, 1 ½ xícara de leite, 1 colher de café de canela em pó, 1 colher de sopa de fermento químico, 1 pitada de sal e erva-doce à vontade.

Primeiro, minha avó colocava as gemas dos ovos, a manteiga numa tijela. Misturava bastante com a colher de pau até que começasse a formar um creme. Ai colocava o açúcar peneirado. Continuava a misturar até formar um creme esbranquiçado. Depois ela peneirava a farinha de trigo e o fubá numa outra vasilha e com a ajuda de uma colher ia colocando aos poucos no creme. Misturava. Quando começava a ficar mais grosso, colocava o leite, também aos poucos. Alternava o leite e as farinhas até que eles acabassem. Depois, a pitada de sal, a canela em um punhado de sementes de erva-doce.

Pegava uma outra vasilha e batia as claras em neve firme (como ela dizia). Antes de colocar as claras no massa, colocava o fermento e a seguir, a clara em neve. Mexia calma e cuidadosamente enquanto a gente ficava ali da mesa só olhando ela fazer as coisas.

Passava manteiga numa forma de furo no meio e depois colocava uma colher de fubá ali na forma. Batia pra cá e pra lá. Depois colocava a massa crua dentro da forma e colocava no forno que já tinha sido aceso.

Mais um tempo e o cheirinho corria pelos nossos cérebros e ainda hoje moram lá. Ah, ela tinha mania de enfiar um desses palitos de dentes no bolo. Dizia que era pra ver se estava pronto. Mas eu gostava mesmo era quando podia comer...

Outra coisa gostosa que ela fazia era um bolo de mandioca que eu consegui recuperar da cabeça dos que ainda estão vivos.

Um quilo de mandioca (aipim) descascada e ralada no ralo fino, 3/4 xícara de manteiga derretida, 2 xícaras de açúcar cristal, 3 ovos caipiras, 1 coco seco, ralado, 1 colher de sobremesa de fermento e uma pitada de sal.

Ela lavava a mandioca e descascava todas elas. Depois pegava um ralador que parecia uma tela e ralava todo o aipim numa tijela. Depois era a hora do coco. Fazia um furo naqueles três olhos que existem no coco seco. Ai escorria a água num copo de vidro. É claro que a gente bebia essa água... Depois dava uma aquecida no coco sobre o fogo do fogão e batia ele em cima da bancada. O bichinho não resistia... Ai ela soltava todo ele daquela casca dura e com uma faquinha vinha se sentar na mesa para descascar o coco. Depois ralava ele naquele mesmo ralador que usou para ralar a mandioca (ou aipim, tá bem?). Derretia a manteiga que já estava amolecida e separava o açúcar que iria usar. Os ovos a gente já havia pego lá no ninho das galinhas. Fresquinhos, do dia! Colocava todos os ingredientes na tijela e mexia com a colher de pau. As claras eram batidas em neve e depois incorporadas lentamente à massa. Depois, passava mais manteiga num tabuleiro e com a ajuda de uma colher, colocava um pouco de farinha de trigo. E de novo aquela bateção pra cá e pra lá para espalhar a farinha de trigo dentro do tabuleiro. Depois aquela massa cremosa ia para o tabuleiro e depois para o forno.

Ah, claro, o palito ia dar a sua furadinha...

De noite, na hora da fogueira a gente cantava: “Chegou a hora da fogueira; É noite de São João; O céu fica todo iluminado;O céu fica todo estrelado; Pintadinho de balão; Pensando no caboclo a noite inteira; Também fica uma fogueira; Dentro do meu coração.

Quando eu era pequenino; De pé no chão; Eu cortava papel fino; Pra fazer balão; E o balão ia subindo; Para o azul da imensidão...”


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Chegou a hora da fogueira: é noite de São João...


Desde muito pequeno nós esperávamos as noites frias de junho. Lá na casa do vô Chico – que ficava num terreno bem grande (era assim que eu via naquele tempo) – eu, minha irmã e minhas primas saíamos procurando pedaços de paus, de árvores, o que mais pudesse formar nossa fogueira de S. João.

Naqueles tempos estas festas eram responsáveis: não havia desmatamento para se fazer fogueiras. Os balões, apenas os “japoneses” que muitas vezes nem subiam 20 metros com sua pequena bucha de álcool e parafina.

Naquelas noites quase sem poluição e com a camada de ozônio ainda completa, o céu ficava todo estrelado. As noites frias, sem nuvens, deixavam nossas cabecinhas viajar por aquela imensidão de um azul tão escuro que era quase preto.

Mas ali, numa casinha simples morava meu avô Chico e minha avó Georgina. Hoje em dia sinto saudades de vocês dois. A pequena cozinha tinha apenas um pequeno fogão, uma bancada de pia que tinha um lugar embaixo dela para minha vó guardar suas coisas de cozinha. Uma cortininha de pano todo florido cobria de nossos olhos o que havia ali. Em cima da pia uma pequena prateleira completava os lugares de guarda dos utensílios.

Ali naquela bancada tinha um filtro de barro que estava sempre cheio de uma água fresquinha que ainda hoje sinto seu frescor em minha boca. Tanto que recentemente comprei um para mim. Num dos lados, um armário servia de guarda das comidas e da louça do dia-a-dia. Em frente à pia, do outro lado, uma mesa e as cadeiras usadas para a gente fazer nossas refeições.

Ali, muitas, mas muitas vezes ficava com meu vô catando migalhas do pão que ainda sinto falta, juntados com a faca para eu pegá-los com meus pequenos dedinhos. Ouvir suas histórias. O carinho dele era contar histórias...

Naquela cozinha, no dia de São João era um fervilhão de gentes: minha tia, meus tios, vizinhas e amigas passavam por ali a todo o tempo.

Lá fora, tio Durval já montara juntamente com meu vô a fogueira no centro do quintal. Grandiosa ela começava com toras mais grossas e terminavam com galhos finos. Garbosa, reinava ali no centro. Ninguém poderia chegar perto dela. Apenas seu calor aqueceria nossos corpos naquela noite. Ao final da queima, quando só restassem brasas, os adultos começavam a colocar batatas doces para depois comermos elas assadinhas... As crianças precisavam de ajuda dos adultos para comê-las.

E lá tinha, sobre a enorme mesa colocada na parte de fora muitas coisas gostosas: bolos de milho, bolos de mandioca, milho cozido e tantas outras guloseimas.

Para que vocês possam, também, curtir a noite de São João, se não com uma fogueira para esquentar os corações, que possam preparar algumas das receitas que comíamos naqueles anos...

Um bolo de fubá com a receita já adaptada aos ingredientes que hoje usamos:
2 xícaras de fubá, ½ xícara de farinha de trigo branco, 2 xícaras de açúcar mascavo, 3 ovos caipiras, 1 ½ xícara de leite, 1 colher de café de canela em pó, 1 colher de sopa de fermento químico, 1 pitada de sal e erva-doce à vontade.

Primeiro, minha avó colocava as gemas dos ovos, a manteiga numa tijela. Misturava bastante com a colher de pau até que começasse a formar um creme. Ai colocava o açúcar peneirado. Continuava a misturar até formar um creme esbranquiçado. Depois ela peneirava a farinha de trigo e o fubá numa outra vasilha e com a ajuda de uma colher ia colocando aos poucos no creme. Misturava. Quando começava a ficar mais grosso, colocava o leite, também aos poucos. Alternava o leite e as farinhas até que eles acabassem. Depois, a pitada de sal, a canela em um punhado de sementes de erva-doce.

Pegava uma outra vasilha e batia as claras em neve firme (como ela dizia). Antes de colocar as claras no massa, colocava o fermento e a seguir, a clara em neve. Mexia calma e cuidadosamente enquanto a gente ficava ali da mesa só olhando ela fazer as coisas.

Passava manteiga numa forma de furo no meio e depois colocava uma colher de fubá ali na forma. Batia pra cá e pra lá. Depois colocava a massa crua dentro da forma e colocava no forno que já tinha sido aceso.

Mais um tempo e o cheirinho corria pelos nossos cérebros e ainda hoje moram lá. Ah, ela tinha mania de enfiar um desses palitos de dentes no bolo. Dizia que era pra ver se estava pronto. Mas eu gostava mesmo era quando podia comer...

Outra coisa gostosa que ela fazia era um bolo de mandioca que eu consegui recuperar da cabeça dos que ainda estão vivos.

Um quilo de mandioca (aipim) descascada e ralada no ralo fino, 3/4 xícara de manteiga derretida, 2 xícaras de açúcar cristal, 3 ovos caipiras, 1 coco seco, ralado, 1 colher de sobremesa de fermento e uma pitada de sal.

Ela lavava a mandioca e descascava todas elas. Depois pegava um ralador que parecia uma tela e ralava todo o aipim numa tijela. Depois era a hora do coco. Fazia um furo naqueles três olhos que existem no coco seco. Ai escorria a água num copo de vidro. É claro que a gente bebia essa água... Depois dava uma aquecida no coco sobre o fogo do fogão e batia ele em cima da bancada. O bichinho não resistia... Ai ela soltava todo ele daquela casca dura e com uma faquinha vinha se sentar na mesa para descascar o coco. Depois ralava ele naquele mesmo ralador que usou para ralar a mandioca (ou aipim, tá bem?). Derretia a manteiga que já estava amolecida e separava o açúcar que iria usar. Os ovos a gente já havia pego lá no ninho das galinhas. Fresquinhos, do dia! Colocava todos os ingredientes na tijela e mexia com a colher de pau. As claras eram batidas em neve e depois incorporadas lentamente à massa. Depois, passava mais manteiga num tabuleiro e com a ajuda de uma colher, colocava um pouco de farinha de trigo. E de novo aquela bateção pra cá e pra lá para espalhar a farinha de trigo dentro do tabuleiro. Depois aquela massa cremosa ia para o tabuleiro e depois para o forno.

Ah, claro, o palito ia dar a sua furadinha...

De noite, na hora da fogueira a gente cantava: “Chegou a hora da fogueira; É noite de São João; O céu fica todo iluminado;O céu fica todo estrelado; Pintadinho de balão; Pensando no caboclo a noite inteira; Também fica uma fogueira; Dentro do meu coração.

Quando eu era pequenino; De pé no chão; Eu cortava papel fino; Pra fazer balão; E o balão ia subindo; Para o azul da imensidão...”


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