domingo, 23 de outubro de 2011

Domingo de primavera

Estava ali, na varandinha, cuidando primeiramente das minhas plantinhas. Essa hortinha começou meio despretensiosa. Talvez uma tentativa de buscar uma outra ocupação pras horas que insistem em ficar vazias na minha vida.

Aliás, para quem ficou muitos anos da vida totalmente em 380v não dá para ficar desenergizado...

O sol saindo, meio maroto, lá da serra, não sei se deixou um pedaço da luminosidade e calor na praia mas a verdade é que chegou do lado de cá, meio morno. Ainda bem.

As tonalidades de verde de minhas plantinhas oscilam ao sabor da luminosidade do sol. Uma em cada vasinho, de tamanho variado por causa de seu tamanho e necessidade, estão salsinha, cebolinha, duas qualidades de hortelã, um promissor pé de louro, cerefólio, as irmãs cidreira (erva e capim), tomilho, alecrim, um pé de romã e outro de ora-pro-nobis. Boldo e sálvia. Orégano e pimentas. Várias pimentas ainda sem frutificarem. E um enigmático limão-cravo.

O sol agora bate nas minhas pernas e aquece meu corpo. Nas mãos, O Ganso Marisco me faz sorrir a alma. Histórias deliciosas e ainda de quebra umas receitas inusitadas desde suas origens como a de uma tapenade que contempla 200 gramas de azeitonas pretas sem caroço (eu usei a variedade AZZAPA), 100 gramas de anchovas em conserva (bem lavadas para retirar o sal), 150 gramas de alcaparras (de banho tomado), 100 gramas de atum em posta, em óleo, bem picado com um garfo, ½ xícara de chá de azeite extra virgem (se não tiveres O&Co, que seja o melhor que o seu dinheiro puder comprar), 1 colhar de sopa de uma boa mostarda (novamente, se não for uma DIJON, que seja a melhor que o seu dinheiro puder comprar), uma pitada de fines herbes(mistura de estragão, salsinha, cebolinha e cerefólio bem picados – preferencialmente colhidas da horta de casa)e, ½ cálice de conhaque...

Pegue um pilão de pedra e coloque os ingredientes ali na seguinte ordem: primeiro as anchovas. Pile-as bem. Depois as azeitonas (já grosseiramente picadas) e as alcaparras. Novamente uma pilada para se juntarem aso ingredientes anteriores.Junte o atum e pile, adicionando lentamente o azeite. Até tudo estar perfeitamente harmônico. Tempere com a mostarda e o conhaque. Misture bem. Salpique as ervas picadas sobre o molho.

Ai entra a fase melhor: comer!

Mas, um manjar desse não pode ser comido assim, de qualquer jeito. É preciso um bom pão italiano ou um francês do campo. Daqueles cascudos por fora mas macios por dentro. Densos em sua textura e saborosos a cada mordida. De comer chorando por não ter nascido nos campos mediterrâneos ou por ter nascido em cidades onde não se encontra desses exemplares.

Coloque fatias numa torradeira ou, melhor, numa grelha não sem antes um fio de azeite sobre seu miolo. Depois de grelhado, uma porção generosa da tapenade e um bom cálice de vinho tinto. Comer e olhar o azul do céu e sentir o calor do sol de primavera.

Olhar as tonalidades do verde da hortinha caseira, sentir o perfume que sai de cada um dos vasinhos. Esperar pacientemente que a terra colocada num desses caixotes de feira, recondicionado, possa se misturar e absorver todos os nutrientes dos restinhos de frutas, legumes e verduras possa melhora a qualidade da terra que dará força para novas mudinhas. Molhar e revirar a terra todos os dias. A cor dela vai mudando com o passar dos tempos, ficando cada vez mais próxima do preto. E mais rica de nitrogênio. Nada que não seja a química da natureza trabalhando a seu favor.

Um gole do vinho. Mas qual vinho? Não importa. Teu bolso e tuas papilas gustativas te ensinarão, com o tempo, o melhor pra você, para suas combinações. Sem traumas, sem proselitismos.

Mais um capítulo do Ganso já se passou, assim, voando como um ganso selvagem, deixando sua graça registrada na minha memória.

Ah, perai que vou ali dar uma olhada num novo pãozinho que está na primeira fermentação ainda. O pré fermento foi feito ontem pela manhã. Dormiu 24 horas no refrigerador. Saiu de lá pra pegar um calorzinho do lado de fora e depois foi amassado (com carinho) junto aos demais ingredientes até ficar uma bola macia e densa. Textura de bundinha de neném, com um véu maravilhoso, úmida. Foi pro primeiro berço, descansar dessa amassada toda. Neste momento, sono de criança. Olhinhos revirando por debaixo das pálpebras semi abertas...

Volto pro sol. Abro novamente o Ganso na página onde estava e continuo... a comer mais uma brusqueta de tapenade e tomar um gole de tinto...

F A C I L I D A D E S
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2 comentários:

Zé Augusto disse...

Muito bom, melhor que isto, dois disso!!!

Anônimo disse...

Ai, Carlinhos, fiquei com água na boca...Vou tentar fazer...
Bjocas, Ira