segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

É tempo de goiabas!


Das frutas que estamos na safra, três delas me chamam a atenção: a goiaba, a fruta do Conde e mais recentemente a seriguela.

A goiaba remonta os tempos em que eu frequentava a “fazenda” em Benjamim Constant. Foi lá que aprendi a fazer goiabada no tacho. Sem a pompa de outras fazendas, nos reuníamos na cozinha e era uma farra só. Primeiro, lavar bem todas as goiabas que colhíamos nos pés que existiam. Não eram essas goiabas grandonas que os japoneses introduziram em nossa cultura, mas pequenas pérolas amarelas, carnudas e saborosas em sua polpa avermelhada. Assim, sempre uma roubadinha nas goiabas que antes nós as comíamos nos pés, quando passávamos, montados em cavalos da própria fazenda.

Lavadas, eram cortadas ao meio. Depois com a ajuda de uma colher separávamos as sementes e a polpa que as envolve. Estas, depois de adicionado um pouco de água era passada em uma peneira para virarem geléia. Uma deliciosa geléia que tomava forma nos cantos da trempe do fogão à lenha, adoçada pelo açúcar cristal.

A parte externa era amassada com a ajuda das mão, de forma a tornar-se uma pasta disforme e um tanto úmida que era levada para um tacho juntamente com 1/3 de seu volume, de açúcar cristal. Ali, sobre labaredas de lenha catada (o povo nativo tem noção de preservação ambiental) era mexida e remexida até que se evaporassem os líquidos necessários. A pasta ia engrossando lentamente enquanto a bagunça rolava em volta juntamente com as brincadeiras das crianças.

Lá pronta, depois de algumas horas ali no tacho era, então, colocada em formas de madeira forradas com sacos plásticos que antes guardavam arroz nas prateleiras das vendas e mercadinhos de Sapucaia. Era apenas esperada a sua secagem completa. Formas envoltas no plástico eram colocadas em nossas malas na volta...

Lá mesmo, era a briga para a raspagem do tacho. Todos queriam um pouco daquela raspa colida ali mesmo na colher de pau ou mesmo raspada no tacho com uma colher de metal.

Sempre era preciso trazer primeiro, de uma fazenda próxima, depois da cidade de Sapucaia e por fim, de Mar de Espanha onde conhecemos uma queijaria.

A dupla mineira de sucesso fazia parte de nossas refeições, sendo a sobremesa preferida naqueles finais de semana alongados por algum feriado ou, até mesmo pelos carnavais passados lá.

Agora, aqui em casa, fazendo sorvete. Ou tentando encontrar uma forma de fazê-lo sem usar máquina de sorvete. A briga tem sido grande. Ainda não cheguei exatamente onde pretendo chegar, mas estou próximo. Primeiro, sorvete. Depois sorbet. Aquele leva derivados de leite. Este, apenas uma calda é misturada à fruta. Está no freezer uma receita de 1,250 de pura polpa de goiabas compradas no mercado. Apenas perderam a casca e as sementes. Todo o resto virou polpa. Passada no liquidificador e peneirada. Usei apenas uma lata de leite condensado pois não queria tão doce quanto as receitas publicadas pela Nestlé. Mas ainda assim, os mais exigentes poderão sentir que alguns pedaços de cristais de gelo incomodam na boca. Percebi que é necessário acrescentar mais gordura que a fornecida por 250ml de creme de leite fresco. Já está na segunda batida na batedeira usando o acessório “remo”. Antes da publicação e da foto, haverá a terceira batida e a prova final. Senão, a correção da receita será publicada aqui.



bacalhaucombatata | Um sorvete pra chamar de seu.

O sorvete de goiabas,
ainda não no ponto certo.



Sobre as goiabas, ainda é preciso dizer que elas possuem grande valor nutritivo, principalmente pelo alto teor de vitamina C, importante no combate às infecções, hemorragias, fortalecimento dos ossos e dentes, cicatrização de cortes e queimaduras. A maioria das pessoas não sabe, mas a goiaba contém mais vitamina C do que o limão, constituindo-se em uma ótima fonte desta vitamina, sem falar que á mais doce e mais saborosa. Possui também vitamina A, boa à vista, conserva a saúde da pele e das mucosas e auxilia no crescimento e, vitamina B1, que ajuda na regularização do sistema nervoso e aparelho digestivo, tonificando, ainda, o músculo cardíaco. Contém também sais minerais como Cálcio, Fósforo e Ferro que contribuem para a formação dos ossos, dentes e sangue.

A outra fruta, a fruta do Conde pela sua imponência e sabor. Criança ainda admirava como meu pai saboreava estas delícias que só mais tarde pude entender perfeitamente o sua fisionomia. Com uma colher de sobremesa retirava as bagas carnudas e adocicadas. Em sua boca eram separadas e as sementes voltavam para o canto do prato com a ajuda da própria colher que as levava à boca.

Mas, já bem mais recentemente fui apresentado a uma forma inusitada de comê-la, pelas hábeis mãos de minha guru na gastronomia: era o “Mergulho” uma sobremesa preparada pela Roberta Sudbrack no Circuito Rio Show de 2007. Vejam o que eu escrevi naquela época clicando aqui.

E a seriguela, onde entra essa frutinha?

Bem isso foi na última vez que fiz minhas andanças pelo centro do Rio. Passava eu pelas esquinas da rua Buenos Aires quando numa delas, uma senhora com um carrinho de mão, desses usados nas construções civis para carregar material de obra, cheias de uma frutinha de forma alongada, umas amarelas, outras amarelando e ainda uma meio verdes... Cheguei e lhe perguntei que fruta era. Seriguela, senhor! Disse ela prontamente pegando uma das frutinhas e passando um pano como que a limpando das sujeiras que pudesses estas ali em sua casca. Prove! E estendeu-me a mão com a frutinha. Não bastasse, arrematou: é uma delícia! E não é que era mesmo? Mas mesmo assim, não sei ainda porque, não comprei daquela delícia. Mas fiquei com seu gostinho guardado com minhas papilas.

Nesta semana, batendo papo pelo meu twitter com a Camila, do Ceará, falamos sobre seriguela. E dela a promessa de me enviar essas frutinhas. Ainda não sei o que fazer com elas mas já estou pensando em como tirar-lhe a polpa. Me aconselharam a usar peneiras de plástico ou de fibra natural. Vamos ver...

E elas, as três estão na safra por estes meses de verão. É só aproveitar.

E você, que frutas gosta? Como gosta de prepará-las e de comê-las? Conte!



F A C I L I D A D E S

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Um comentário:

Anônimo disse...

E as goiabas brancas da Gastão Taveira, uma delícia e bela recordação da infância.