Já não ia às festas na casa de Maria um bom tempo. Nem sei quantos anos.
E este ano, as lembranças das festas de quando eu era criança me atordoaram por quase todos os últimos quinze dias. As músicas tocadas naquelas festas rondavam meu consciente... As comidinhas também. A farra que fazíamos, minha irmã Véra e meus primos Joaquim e Antônio.
Os anos passaram e não fomos mais. Quando pequenos nossos pais nos levavam até lá. Roupas novas, perfumes, era A FESTA!
Mas esse ano... certamente não foi igual àqueles da minha infância. Como diz dona Diva, fica por conta das modernidades... Sei lá. Só sei que não foi mais igual. Paciência. Então vamos falar das que eram boas...
Na realidade a festa começava na véspera. Maria era levada para dormir na casa de uns primos meio distantes, pessoal meio avesso às festas, mas a tradição da família era para ser respeitada. De noite, todos os convidados iam levá-la lá na casa dos primos. Pessoal meio sério, mas educados e que nos recebiam de braços nem tão abertos, mas conseguiam assim mesmo nos abraçar.
No dia seguinte, cedo, íamos buscar ela lá na casa deles para a festança na sua casa. A gente enfeitava o quintal todo: bandeirinhas de papel e de pano, flores por todos os cantos e muitos fogos de artifício.
O terreno da casa era muito grande e a gente dividia o espaço organizando barraquinhas (como ainda se fazem em algumas festas de criança): comida pra todos os gostos e em todos os cantinhos que poderíamos colocá-las.
Os convidados vinham chegando e nem todos cabiam dentro da casa. Outros preferiam mesmo era ficar do lado de fora aproveitando a comilança (porque será que em festa sempre “rola” disso?). Lá dentro, os mais velhos ficavam ouvindo as histórias dela desde que chegou a esse mundo. Tinha até a história de que uma vez tinha sido responsável por ajudar uns caçadores de caírem num precipício. Nunca soube disso direito, mas não vem ao caso.
Depois dos gritinhos do povo em homenagem à Maria, o povo vinha para o quintal da casa. Lá fora é que a festa “comia” solta até quase o anoitecer.
Os convidados na maior “linha”. As senhoras com seus melhores vestidos, umas até usavam chapéu (coisa que hoje só vemos no Grande Prêmio Brasil de Turfe). Os homens, todos de ternos. Meu pai gostava de vestir um terno de linho branco. Feito com o melhor linha que existia naquela época. Gostava tanto que foi com ele que ele foi pro céu. Minha mãe toda chic usava um perfume que eu adorava. Ainda hoje revejo (sempre que vou na casa dela) uma foto da gente numa dessas festas: eu de calça curta, paletozinho e um boné de feltro. Hoje isto seria muito cafona mas naquele tempo...!
Nas barraquinhas, o povo se aglomerava para aproveitar os quitutes. Como Maria era paraense, as comidas eram da região da floresta: misto de comida de caboclos, índios e portugueses. Isso sem deixar de ter as influências dos holandeses que andaram pelo norte no passado.
Dos índios podíamos comer a maniçoba, um tipo de feijoada, preparada com a folha da mandioca moída e cozida num intervalo de uma semana (para que se retire da planta o acido cianídrico, que é venenoso) e, com carnes secas e defumadas. É um longo preparo que requer cuidados para que não faça mal às pessoas. Eles comiam em cumbucas e com farinha de mandioca. Ainda assim é feito hoje por lá.
Também dos índios, comíamos (ou tomávamos) o tacacá. A preparação envolvia o tucupi, que é o extrato líquido da mandioca ralada. Este líquido colocado em repouso forma um sedimento que é a “goma de tapioca” que também é usado para dar uma textura mais grossa ao caldinho do tucupi. Ainda coloca-se o camarão seco, o jambú (conhecido como “agrião do Pará), sal e pimenta de cheiro. É servido em cuias para facilitar a tomada do caldinho.
O açaí (caldo bem grosso da polpa do fruto da palmeira de açai, servido também nas cuias e com farinha d'água (de mandioca), ou tapioca.
E, por vezes, dona Maria do Rosário preparava um pato no tucupi. Daquela época não lembro direito do gosto mas meus pais adoravam.
Assim, ficávamos uma boa parte da tarde ali, de brincadeiras e comilanças até que chegava a hora de irmos embora para casa. Nas mãos, uma lembrancinha da festa. E lá voltávamos para casa.
F A C I L I D A D E S
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3 comentários:
Certamente uma delicia estas festas...além da comida boa, ainda a reunião de pessoas queridas...
Te confesso que a metade do que descreveu ai como comidas eu nunca provei, mas não perco as esperanças de um dia conhecer o sabor...
bjs e bom feriado!
"dai-nos a benção bondosa, senhora de nazaré!!"
Carlinhos ,
só hoje li o teu texto ...lindo ...tudo a ver com o que vivi semana passada no Cirio de nazaré...
uma festa indiscritível ...
lind texto
abaços
Pedr
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