sábado, 28 de novembro de 2009

Frutas: por onde elas andam?


No post anterior falei de frutas. Verão, vida saudável. Por conta disso me lembrei de frutas que frequentaram minha boca desde pequenino, quando ainda mal conseguia chegar na janela de meu “sobrado” da infância. Lá, no colo da Maria Joana conseguia ver coisas não muito longe, mas que marcaram minha visão.

Por cima do telhado onde meu pai guardava as madeiras que negociava, conseguia ver umas bolinhas amarelas no meio de uma copa de árvore muito densa. Aprendi seu nome logo que perguntei pra Maria Joana: abiu! Não tardou para que eu pedisse ao Manoel, um empregado da loja de meu pai que me aturava incansavelmente, mas sempre com um sorriso nos lábios. Levou muitas broncas de meu pai pelas “artes” que eu fazia no depósito da loja de materiais de construção que tínhamos. Montes de areia, saibro e terra preta eram destruídos na minha farra infantil e o pobre coitado do Manoel além de levar a bronca ainda arrumava caladinho... Acho que meu pai sempre soube que era eu quem desmoronava os montes que ele gostava de ver...



bacalhaucombatata | foto de abiu

Esse é do abiu que povoou minha infância.
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Lá ia o Manoel subir no telhado com uma vara com um cestinho na ponta para pegar aquela frutinha... Doce, com uma poupa carnuda deixava um “visgo” em minha boca. Mas aquilo, ao invés de me irritar, era mais uma diversão tirá-lo da boca...

Também as uvas povoaram minha infância assim como o tamarindo hoje em dia escasso em sua forma natural de ser.

Um longo caramanchão sombreava uma alameda interna da loja por onde eu exercitava minha prova de corrida de 10 metros que hoje apenas tenho lembranças da disposição. Num dos lados a divisão com o vizinho, no outro, o depósito de madeiras em dois andares que mais tarde aprendi a subir por escadas apesar dos gritos de meu pai para eu descer e não me machucar.

No final do ano esse caramanchão ficava repleto de cachinhos de uvas pretinhas (que até hoje não sei sua variedade e mesmo maduras eram azedinhas) que ainda me fazem salivar só de lembrar. Manoel subia em uma longa escada para recolher o máximo de cachos que conseguia, enchendo baldes delas. Meu pai distribuía entre os empregados da loja e ainda levávamos para casa: uns bagos eram comidos assim mesmo, outros tantos virava suco de uva. Hummmmm delícia que era dividida com cubos de gelo para refrescar nossa sede no verão.

Do tamarineiro, com suas favas de uma fina camada de polpa, também azedinha, apenas fazíamos refresco para aplacar a sede no verão.



bacalhaucombatata | imagem de tamarindo

Esse é do tamarindo que povoou minha infância.
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Um pouco mais adiante na linha do meu tempo, mudamos para uma casa térrea. Lá tinha quintal que antes apenas aproveitava o de meu avô Chico. Nesta nova casa, também uma parreira, desta vez de uvas “brancas” ou verdes, mais doces e carnudas, fazia sombra pra o Chevrolet 37 que meu pai tinha para nos levar para passear e onde eu aprendi minhas primeiras manobras ao volante. Só que em pé, no banco do motorista...

Ainda na parte da frente da casa um soberbo pé de manga “carlotinha”. Aquela árvore era o desespero de minha mãe pois quando ela estava repleta daquelas quase bolinhas amarelas e doces era meu destino ao chegar do colégio. Nem tirava o uniforme de camisa branca: apenas os sapatos e meias para melhor subir em seus galhos e colher as mais madurinhas. Delícias que escorriam pelo canto de minha pequena boca e riscavam de amarelo minha antes branca camisa da escola... Como eram gostosas, mesmo quentes do sol...

Na parte dos fundos da casa, um pé de carambola. Meio sem graça assim como fruta mas uma gracinha quando era transformada em doce de estrelinhas... Outro pé de manga, mas espada, onde não conseguia subir pela formação de seu caule, reinava no quintal. Um pé de abacate delicioso estava sempre ali para nos oferecer aquele creme amarelo e verde polvilhado de açúcar e amassado com garfo: nada de liquidificador nem de leite condensado. Simples assim: a fruta e o açúcar.



bacalhaucombatata | imagem de carambola

Essa é a lembrança da carambola que fazia as estrelinhas que povoou minha infância.
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Depois de mais “grandinho” conheci uma fazenda no sul de Minas: Benjamin Constant. Lá, mangas, goiabas, mamão, laranjas, jabuticabas, bananas e limões me foram apresentadas em seus pés... Como era gostoso montar num cavalo e , sentado em sua sela, colher e comer goiabas amarelinhas por fora e de um rosado intenso, quase vermelho de seu interior. Não consigo mais encontrar dessas pelos dias atuais. As “carnes” não são tão doces e macias como as daquele tempo. O sabor, também, é meio sem graça.

Lá, os cachos de banana eram retirados do pé quando alguma banana já mostrava o amarelo pálido em alguma delas. Ainda no cacho eram penduradas na ponta do telheiro da “área de serviço” que ficava ao lado da cozinha, local de passagem quase sempre constante da gente. Assim que começavam a pintar de amarelo as nossas mãos eram hábeis para torcê-las e retirar de seu cacho. As que conseguia sobreviver eram transformadas em doce da Teresa. Maduras, cortadas em pequenos discos eram colocadas em uma grande panela com um terço de seu volume de açúcar cristal (sempre era essa a medida dos doces da fazenda). Ali, na ponta da trempe ficava “apurando” até ter uma calda avermelhada e os pequenos discos mais finos. Depois de esfriada eram colocados em potes que somente a Maria Teresa poderia dispor deles, distribuindo para os que com ela dividiam a estadia...

As goiabas que ainda conseguiam sobreviver às nossas passadas pelos pés eram colhidas, lavadas, cortadas ao meio e sua polpa retirada. Essas iam para um tacho de cobre sobre um “forno” entre tijolos e lenha de árvores secas das terras do “tio” Jorge. O Luizinho também colocava açúcar cristal na mesma proporção de 1/3 do volume de goiabas. Fogo acesso e muita paciência, ficava horas ali mexendo com a enorme colher de pau aquele inicialmente líquido até se transformar na melhor goiabada cascão que comi na vida. Apenas goiaba, açúcar e amor do Luizinho...

O tempo passou e a poupança Bamerindus acabou: hoje já não tem mais fogão à lenha nem doce Teresa... Muito menos goiabada do Luizinho. Os mamões, apenas para os pássaros que visitam o que restou da casa e têm seu alimento preferido além de alegrar os dias do “tio” Jorge que ainda vive por lá.

E assim ficam minhas perguntas: por onde andam as frutas maduras nos pés? Por onde andam meninos moleques que subiam nas árvores para pegá-las e sorver seu puro suco? Por onde andam aqueles que pela ganância abandonaram a forma antiga de ser produzir frutas carnudas e deliciosas?



F A C I L I D A D E S

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4 comentários:

Anonymous disse...

Sei onde vc pode encontrar cupuaçu e açaí. Pena que eu não possa desFRUTAR.

Pedro Botelho disse...

Carlinhos,

Você me fez lembrar das frutas da minha infancia lá nos Açores ...

ameixas de todos os tipos , amarelas , pretas , vermelhas ,nesperas, uvas e melancias,uma frutinha vermelha meio azedinha que eu imagino que seja groselha...ananás...e todas como dizes com muita mais polpa que as dos dias de hoje ...

será que a nossa memória está nos traindo ou realmente elas eram todas muito mais carnudas ??

pronto fica a pergunta no ar...

quanto ao cupuaçu e o açaí se tivesse como te mandar... tenho do bom , dos melhores, tirados direto do pe' aqui mesmo ao meu lado ...

abraços

Pedro Rui

carlinhos de lima disse...

É anônima: eu também sei....

Pena que não podemos mais tomar juntos.

Ana de Bruxelas disse...

Mestre Carlinhos,
o que mais sinto falta por aqui é exatamente o sabor das frutas.

Quando chego no Brasil a minha primeira alimentação é um prato de frutas da época.
Elas tem outro sabor!!!

Outro dia paguei uma fortuna por uma carambola e...que decepção!!!
Bisous,

p.s.: eu sinto muita falta desse passeio entre amigos, obrigada por me cututar! ;-)