terça-feira, 28 de agosto de 2007

Um dia frio...

Um bom lugar pra ler um livro...

Ou cozinhar.

Agora estou continuando minhas peripércias na leitura de VIVA ZEN, da monja Cohen. Algo um pouco diferente dos meus últimos dias. Quem sabe, complemento? Afinal, todo instante deveria ser de reflexões sobre o instante e o caminho, não é?

Que tal começar um dia (talvez nem todos como o de hoe), sentados. Apenas sentados, parados, alertas. Esvazie os pulmões, esvazie os pensamentos, esvazie as emoções. Tudo. Não pense em nada. Perceba, apenas. Veja este ar caminhando dentro de ti. Desde lá do mais fundo de ti, subindo, mudando de cor, saindo, ardendo, pelas narinas. Por uma só. Tente! Não desista.

Inspire pela outra narina. Devagar, bem devagar, devagarinho. Sentindo o ar frio entrando e mudando de temperatura e de cor. Voltando para o mundo exterior. Limpando. Acalmando.

Fique assim até começar a sentir a posição incômoda. Pare. Acorde. Volte. Levante-se lentamente. Diga bom dia ao dia! Sorria para si e de si. Mova os músculos da face.

Cozinha! Já pra lá.

Limpe tudo que irá usar: utensílios, área de trabalho. Matéria-prima. Escolha os menores, os mais condensados, os mais novos. Os melhores. Sempre que puder!

Limpe- higienize, descasque, corte, pique, separe-os. Um em cada vasilha. Legumes de um lado; folhas de outro. Cereais.

O que fazer já está programado. Nada de receitas. Deixe o seu corpo comandar. O cérebro agradece.

A água já quase borbulha. Reduz o fogo evitando o desperdício de gás. Do lado, gelo, muita água bem gelada. Primeiro as cenouras em minúsculos quadradinhos. Só o tempo de todos eles sentirem-se bem quentinhos. Retire-os e rapidamente os coloque sob o frio intenso da água gelada. Ouça os gritos deles, os barulos das sua células se fechando e mantendo os ricos ingredientes lá dentro. Sabor, textura...

Agora, as rodinhas de vagens francesas. Ou brasileiras, Ou manteigas, Qualquer uma. Mas novas, recém colhidas. Mesmo processo. Outros sabores. Outras texturas.

Invente. Descubra. Experimente novidades: nabo japonês. O comprido. Não tão grosso e nem tão comprido. É preciso aproveitar tudo que a semente ainda não usou.

E passas claras. Passadas um tempo embriagadas. Só para dar um pouco de forma ao seu corpo murcho. Escorridas. Passadas por uma toalha de papel. Nada de excesso.

Um belo caldo de legumes. Ou de frango caipira. Ou de codornas. Menos quadrados. Menos os em pó. O seu. Apenas ele. Só seu jeito. Com a sua energia.

Um pouco de couscous marroquino. Uma aquecida dos grãos com um pouco de azeite. Sem brnzeá-los. Sá agregar sabor. Não muito quente para não modificar as moléculas do azeite.

O caldo quente vai inchá-los. Mantenha o ambiente acolhedor cobrindo com um filme plástico. Um tempo. Quanto? Não sei: perceba o seu, o deles. Use as mãos, os dedos. Só as pontas para separá-los, divorciá-los. Deixe-os o mais soltos que conseguires.

Misture os legumes, um a um. Com cuidado. Com amor. Carinho. Todos eles. Até as passas rechonchudas. Guarde num cantinho.

Sabe as coxas de frango cozidas lentamente em fogo bem baixo? Aquelas que você dourou com cebolas amolecidas no azeite e manteiga? Depois um dentinho de alho bem picadinho com a faca? Ali, água pingada por muito tempo. Dourada e saindo dos ossos. Essa mesma. Solta. Desgrude as que insistira em ficar. Sem desmanchá-las. Apenas separando-as dos ossos.

Pegue um prato. Não importa muito se redondo, quadrado, retangular, com abas, sem abas, decorado ou branco. De louça ou de vidro. Afinal, gostos são gostos. Indivíduos são indivíduos apesar de quererem padronizar tudo.

Um montinho de couscous. Um montinho de carnes de pernas de frango. Pronto? Claro que não!

E a saladinha? Esqueceste dela? Brotinhos das folhas mais novas, quase prematuras. Coloque um montinho delas à lá ONU (uma mistura saudável de cada uma das que conseguiste) numa vasilha (os chics chamam de bowl). Que tal agora misturar uma porção de suco de limão galego (aqueles alaranjados com cascas nas cascas) e três porções do seu melhor azeite. Misture-os bem até ficar "grossinho" e parecendo uma coisa só. Uma colherada sobre as folhinhas? Claro que não. Todas querem esse néctar. Misture às folinhas na vasilha. Lenta e completamente. Com as pontas dos dedos coloque ali no melhor lugar que sua mão achar. Afinal, o prato é seu!

Olhe. Fotografe se puder.

Como tão devagar quanto uma hora. A cada garfo, procure descobrir tudo que puderes: imagine cada um daqueles ingredientes nascendo. Como foi embalado. Como foi tratado. Como chegou até a seu prato. Como você o tratou. Procure descobrir as suas nuances. As suas energias. Aprenda enquanto come.

Não perca esta oportunidade de relaxar, fazer exercícios, aprender, descobri.

2 comentários:

Anônimo disse...

ei Carlinhos, sou sua confrade la do egogourmet. Hoje tive o prazer de te fazer essa visita, meu dia ficou mais gostoso. Adorei o jeito que escreve suas receitas. Vao muito alem de um procedimento. Ao meu ver, uma licao de vida. Parabens. Estarei sempre por aqui.
Abracos, Lisa.

Carlos Alberto de Lima disse...

Que bom, Lisa, que gostastes. Estou tentando escrever todos os dias. Mas não posso garantir.
Sempre haverá um texto gostoso de ser lido.

Se você "folhear" o blog vai achar muitos recheios gostosos. Aproveite!